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v. 3, n. 2, fev. 2025
Entrevista com Regina Garcia sobre sua pesquisa que investigou as relações entre clubes de leitura, literatura e bibliotecas

Entrevista com Regina Garcia sobre sua pesquisa que investigou as relações entre clubes de leitura, literatura e bibliotecas

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Entrevista com Regina Garcia sobre sua pesquisa que investigou as relações entre clubes de leitura, literatura e bibliotecas

Regina Garcia Brito
regina.re@gmail.com

Sobre a entrevistada

Em 2022, Regina Garcia Brito concluiu seu mestrado em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Edmir Perrotti.

Regina é natural de São Paulo e tem como hobbies a participação em clubes de leitura, o gosto por artesanato, o cultivo de plantas em sua pequena varanda, além de amar viajar e conversar com amigos. Atualmente, é Bibliotecária na Universidade Federal de São Paulo – Campus Zona Leste.

Sua dissertação, intitulada “Clubes de leitura, Literatura e Biblioteca: perspectivas da mediação cultural na era da informação“, investigou as relações entre literatura e biblioteca, a partir de reflexões sobre clubes de leitura desenvolvidos em bibliotecas da cidade de São Paulo (SP) e de Floriano, no Piauí, destacando as especificidades dos clubes de leitura organizados em bibliotecas. 

Em sua pesquisa, ela aborda a literatura e a leitura literária, tomadas como fenômenos humanizadores, as relações de poder na mediação da leitura literária nas bibliotecas e as impressões sobre a migração dos encontros presenciais para plataformas virtuais durante o período pandêmico.

Regina nos conta, nesta entrevista, como desenvolveu sua pesquisa e relata a experiência no  mestrado.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?

Regina Garcia (RG): Quando iniciei a pesquisa de mestrado, trabalhava na Biblioteca do CEU Azul da Cor do Mar – Professor Josei Toda, que fica na Zona Leste de São Paulo. Os Centros Educacionais Unificados (CEUs) contam com bibliotecas abertas a todo o público e meu desejo, ao voltar para a área acadêmica, era aproximar-me das teorias com as quais eu tinha afinidade a fim de ter uma prática reflexiva. Ao longo do primeiro ano de pesquisa, ao cursar uma disciplina sobre ensino de literatura, percebi que estudar os clubes de leitura poderia ser a oportunidade de unir as minhas duas formações (Letras e Biblioteconomia) e contribuir para a nossa área com uma pesquisa focada na mediação da leitura literária.

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

RG: Creio que profissionais (tanto dos diferentes tipos de bibliotecas quanto de outras áreas) que tenham um projeto de clube/círculo de leitura ou que desejem criar um. 

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade?

RG: Talvez a principal contribuição seja levar a repensar práticas de mediação de leitura literária para além do utilitarismo e ver a literatura como um direito humano e as bibliotecas como potenciais espaços para a fruição da leitura.

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

RG: Linha de pesquisa Apropriação Social da Informação por ser uma pesquisa exploratória que reflete sobre a relação do público das bibliotecas, a literatura e a atuação dos mediadores de leitura.

DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

RG: Desde o início da graduação, tive afinidade com as aulas dos professores Edmir Perrotti e Ivete Pieruccini. Dessa forma, todos os trabalhos deles acabaram me influenciando. Os livros da Michèle Petit foram muito inspiradores para mim também. Outras influências, que acabaram não sendo foco da minha dissertação, mas vale muito mencionar pois tratam de literatura, foram os estudos sobre Biblioterapia da Cristiana Seixas e a formação de grupos de leitura na Unifesp do professor Dante Gallian.

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

RG: Inicialmente a proposta da metodologia seria observar e avaliar os encontros dos clubes de leitura. Em 2020, quando seria feita a pesquisa de campo, fomos todos surpreendidos com o fechamento das instituições culturais devido à pandemia da covid-19. Em acordo com o orientador, definimos que além da pesquisa teórica, faríamos entrevistas com os mediadores, pois poderiam ser online. 

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

RG: Analisar a pesquisa de campo e relacioná-la à pesquisa teórica foi um grande desafio porque nessa etapa final eu já estava bem cansada.

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação? 

RG: É difícil mensurar, mas creio que uns 20% de inspiração e 80% de transpiração. Às vezes é complicado manter a inspiração, mas ela é o combustível para os momentos em que há muita transpiração.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

RG: Eu teria muitos desabafos, mas para resumir, posso mencionar como comecei os agradecimentos da minha dissertação: “Essa dissertação foi iniciada em um momento em que eu acreditava estar em estabilidade pessoal e profissional. Mas o destino trouxe intempéries de diferentes ordens, no âmbito mundial, nacional e – muitas – no pessoal. A pesquisa e escrita não foram feitas em linha reta, foram muitas pausas e retomadas, muitos altos e baixos”. Passei por momentos desafiadores até a conclusão da dissertação: pandemia, divórcio, luto pelo falecimento do meu pai e mudança de emprego. Meu orientador me apoiou muito nos momentos necessários, mas acho que fazer terapia foi o suporte essencial.

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

RG: Durante a segunda metade da pesquisa morei sozinha, então a questão principal não foi o relacionamento com a família e sim conciliar o trabalho (porque continuei trabalhando 40 horas semanais) e a pesquisa.

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

RG: Meu desejo é que as pessoas se apaixonem pelas possibilidades que a literatura pode nos dar. É claro que um trabalho tem mais transpiração do que inspiração, mas ter o gosto pelo tema acho um passo fundamental.

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

RG: Durante a pesquisa tive um capítulo de livro selecionado em um edital da Editora Malê para o livro Mediação da leitura literária em bibliotecas, organizado por Jorge do Prado e um artigo publicado na Revista Entreletras (v. 11, n. 3, 2020). Participei do CBBD de 2019, em Vitória, Espírito Santo. Como continuei trabalhando, não pude participar de outros eventos, mas aproveitei ao máximo os encontros do grupo de pesquisa. Tive a alegria, no ano de 2024, de ter meu artigo da Entreletras indicado como leitura para o concurso de bibliotecário da Prefeitura de São Bernardo do Campo, São Paulo, o que foi para mim um grande reconhecimento.

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

RG: Nesses dois anos me dediquei ao meu trabalho na Unifesp, me envolvi com tarefas técnicas da área como a catalogação, aquisição, pesquisa bibliográfica e a gestão da biblioteca, mas também consegui colocar em prática um projeto de ação cultural denominado Círculos de leitura em Biblioteca Universitária: aproximações entre literatura e experiência urbana que se relaciona à minha dissertação.

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado? 

RG: Ainda estou tomando fôlego, mas certamente seria relacionando mediação de leitura e bibliotecas. Fiz uma disciplina como aluna especial no segundo semestre de 2024 para aquecer de novo os motores. Quem sabe tenho novidades para o próximo ano.

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

RG: Organizaria melhor minhas leituras, fichamentos e resenhas, o que facilitaria muito no momento da escrita. Durante a dissertação, me aproximei de alguns estudos sobre os ciclos femininos e ter a consciência disso me ajudaria a respeitar melhor as minhas fases, as mudanças de humor e como isso pode impactar na produtividade e nas relações. Em resumo, seria mais compassiva comigo mesma, me cobraria menos.

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

RG: Cresci muito durante a pesquisa e creio que as exigências do programa e sua seriedade me trouxeram bases sólidas para prosseguir como pesquisadora e profissional. Contribui (e creio que continuo contribuindo) ao pensar na área, de certa forma, com um olhar mais humano e poético, vendo a biblioteca não como depósito e sim como espaço de trocas e aprendizagens diversas. Retomar estudos que relacionam literatura e bibliotecas creio que foi uma boa contribuição.

DC: Você por você: 

RG: Tenho pensado muito em como me apresentar para além da profissão e acho que isso é relevante porque a sociedade nos cobra produtividade intensa. Então, gosto de lembrar das origens: morei em Osasco durante a infância e até boa parte da fase adulta, fui uma criança de certa forma tímida, mas também bem curiosa, que gostava das aulas de educação artística, de brincar na rua, de ver desenhos na TV e ouvir histórias. Hoje busco apreciar pelo caminho as belezas que posso encontrar: as plantinhas, os animais, a arte, os gestos bonitos dos seres humanos, entre outros. Essa busca não é uma forma de alienar-se dos problemas de nossa sociedade e sim de resistir e de esperançar. Como na cena do filme Ainda estou aqui, apesar de nos quererem tristes, vamos sorrir! 


Entrevistada: Regina Garcia Brito

Entrevista concedida em: 09 de janeiro de 2025 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Larissa Alves

Fotografia: Regina Garcia Brito

Diagramação: Larissa Alves

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