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v. 3, n. 2, fev. 2025
Entrevista com Sofia Frahlich sobre sua pesquisa que abordou a presença de mulheres na Ciência da Informação

Entrevista com Sofia Frahlich sobre sua pesquisa que abordou a presença de mulheres na Ciência da Informação

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Entrevista com Sofia Frahlich sobre sua pesquisa que abordou a presença de mulheres na Ciência da Informação

Sofia Frahlich Cavalleiro
sofiafrahlich@id.uff.br

Sobre a entrevistada

A bibliotecária Sofia Frahlich Cavalleiro defendeu, em 2023, sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense, sob orientação da Profa. Dra. Michely Jabala Mamede Vogel.

Natural do Rio de Janeiro, Sofia tem como hobbies ler, assistir filmes e apreciar jogos. Já no âmbito profissional, atua como bibliotecária na Biblioteca Municipal Genebaldo Rosa, localizada em São Gonçalo/RJ. 

Sua dissertação, intitulada “Presença de mulheres na Ciência da Informação: análise de citações por gênero em teses e dissertações do PPGCI/UFF”, aborda a temática da participação feminina nas ciências, com foco na Ciência da Informação, uma área predominantemente composta por mulheres. O objetivo do estudo é mapear o comportamento das citações. Para isso, a pesquisadora analisou 13.871 citações e revelou uma desigualdade de gênero na Ciência da Informação, constatando que a equidade começou a ser alcançada após 2001, impulsionada por trabalhos de autorias mistas.

Sofia nos conta, nesta entrevista, sobre sua experiência com o programa de mestrado, além do desenvolvimento de sua pesquisa e projetos futuros.

Divulga-CI (DC): O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?

Sofia Frahlich Cavalleiro (SFC): Sendo bem sincera, eu sempre falei ao longo da graduação que não faria nem mestrado, nem doutorado (e aqui estou enquanto mestra e doutoranda escrevendo isso!), mas o ano era 2020 e eu não aguentava mais ficar parada (me formei na graduação no final de 2019). Foi quando me inscrevi no processo seletivo do PPGCI/UFF. 

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

SFC: Os resultados da minha dissertação beneficiam diretamente o programa onde concluí, por trazerem dados específicos sobre ele, mas também podem beneficiar a Ciência da Informação (CI), pois acredito que o fenômeno observado (área de maioria feminina, porém, com maior citação a homens) seja algo que acontece na área como um todo. 

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

SFC: É importante pesquisar sobre mulheres nas ciências e feminismo para que o assunto esteja presente na sociedade e seja constantemente discutido. 

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

SFC: Linha de pesquisa 2: Fluxos e mediações sócio-técnicas da informação, focada em tecnologia e gestão, que abrange diversos temas, dentre eles a comunicação científica e os estudos métricos da informação (no qual minha dissertação está inserida).

DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

SFC: Sem dúvida foram os livros “Teoria feminista: da margem ao centro”, de bell hooks e “Sejamos todos feministas”, de Chimamanda Ngozi Adichie que me inspiraram e me ajudaram a dar o primeiro passo na pesquisa. 

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

SFC: Em geral, primeiro foi realizada pesquisa bibliográfica, ou seja, uma busca de trabalhos sobre o tema para eu embasar minha dissertação seguindo determinadas teorias. Posteriormente, apliquei a análise das citações que colhi das teses e dissertações, dispostas no Excel.

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

SFC: O maior desafio com certeza foi a parte da análise de citações, pois foi realizada praticamente de maneira manual, da coleta dos dados (feita no Google Forms) até a análise de quase 14 mil linhas de planilha no Excel. E isso não foi uma escolha minha, já que há falta de softwares gratuitos e também de treinamentos para usá-los. Depois que sistematizei todo o material para análise (levou bastante tempo), o processo de escrita foi mais tranquilo, exceto que não me sobrou muito tempo para tal. 

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação? 

SFC: Levando em consideração o que respondi na pergunta anterior, 70% de transpiração e 30% de inspiração. 

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

SFC: Entrei no mestrado sem bolsa, pois, no ano que entrei, foram ofertadas poucas. Além disso, eu ainda não trabalhava. Por isso, ao longo do curso, precisei procurar outros projetos para conseguir uma fonte de renda. Consegui uma bolsa temporária na Fiocruz e depois um projeto na biblioteca do Museu de Arte do Rio. Adorei a experiência que adquiri em ambos, mas as atividades que eu realizava me tomavam tempo precioso que eu poderia me dedicar à minha dissertação. Isso me desanimou bastante em relação à carreira acadêmica, porém, a virada de chave foi quando tive a oportunidade de ir ao Enancib em 2022. Lá, eu pude falar sobre minha pesquisa e conhecer as pesquisas de outros, e também conhecer a histórias de diversos pesquisadores que me inspiraram a seguir em frente e tentar o doutorado. Gostei bastante das trocas em eventos presenciais. 

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

SFC: Minha família sempre me apoiou nas escolhas que faço e nos meus estudos, portanto, não teve nenhuma mudança nesse sentido. Mas eu sempre procurei separar um dia da semana (pelo menos) para não fazer nada da pesquisa, e me dedicar aos amigos e família. Acredito que faz muito bem para a saúde mental, pois refresca a mente. Ficar sentado de frente para o computador escrevendo 7 dias da semana sem parar pode ser bastante solitário. 

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

SFC: Antes de tudo, vai ser preciso separar bastante tempo para realizar as análises, a não ser que consigam acesso a algum software que sistematize os resultados rapidamente. Além disso, ainda há muito a ser feito na pesquisa sobre mulheres nas ciências, sobretudo na CI. Coloquei na conclusão da dissertação que analisei o comportamento do PPGCI/UFF, mas que poderia ser interessante avaliar em outros grupos, para que possamos, com uma visão mais ampla, aprofundar as discussões sobre gênero na nossa área. Outra pesquisa que pode ser interessante é avaliar se há divisão por gênero nas subáreas da CI, isto é, se existe alguma tendência na escolha de temáticas estudadas pelas mulheres. Por exemplo: estariam as mulheres mais inclinadas a questões sociais e da Biblioteconomia, enquanto os homens estariam abordando a tecnologia?  

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

SFC: Até agora, saíram três publicações relacionadas com minha dissertação: “Análise de citações por gênero em teses e dissertações: panorama de publicações” (no Enancib); “Análise de citações por gênero em teses e dissertações: levantamento” (trabalho para o evento Seminário de Estudos da Informação, que virou capítulo de livro); e “Mulheres na ciência e Ciência da Informação: em busca de subsídios para seu estudo” (no COAIC). Estamos também elaborando um artigo para publicarmos em breve. 

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

SFC: Alguns meses depois da defesa da dissertação, em 2023, fui convocada no concurso que tinha feito em 2021 para atuar como bibliotecária em biblioteca pública. Agora, com o doutorado, penso também em seguir carreira acadêmica. 

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

SFC: Já estou cursando o doutorado desde o início de 2024, também no PPGCI/UFF e com a mesma orientadora. Porém, ao invés de tratar sobre mulheres na CI, decidi escolher uma em específico para abordar a comunicação científica na área de Literatura: a autora inglesa Jane Austen. Ao longo do ano, pude apresentar os estágios iniciais da pesquisa em dois eventos: no EBBC (“Literatura como objeto bibliométrico em bases de dados: o caso da produção científica sobre Jane Austen”) e no Enancib (Análise de citações dos prefácios e posfácios em livros de Jane Austen – ainda não disponível). 

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

SFC: Eu organizaria melhor o meu tempo para fazer a análise, para que sobrasse mais para a escrita da dissertação.

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

SFC: Como eu já mencionei antes, infelizmente não consegui bolsa, mas não foi culpa do Programa, mas sim dos cortes que a Educação sofreu. No entanto, consegui auxílio para ir ao Enancib 2022, e eles também organizam diversos eventos para os alunos participarem, como o Seminário de Estudos da Informação e Seminário de Produção Discente, criando um ambiente de troca bem interessante. A minha contribuição foram as publicações mencionadas antes, bem como o próprio resultado da dissertação.

DC: Você por você:

SFC: Acho que nesse momento eu estou muito na minha fase de bibliotecária na luta pela valorização das bibliotecas públicas. Não tem sido fácil. 


Entrevistado: Sofia Frahlich Cavalleiro

Entrevista concedida em: 17 de janeiro de 2025 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

Fotografia: Sofia Frahlich Cavalleiro

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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