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v. 1, n. 1, mar. 2023
Entrevista com Carlos Alexandre de Oliveira sobre a pesquisa com a Genealogia Acadêmica da Ciência da Informação

Entrevista com Carlos Alexandre de Oliveira sobre a pesquisa com a Genealogia Acadêmica da Ciência da Informação

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Entrevista com Carlos Alexandre de Oliveira sobre a pesquisa com a Genealogia Acadêmica da Ciência da Informação

Carlos Alexandre de Oliveira
carlos.oliveira@ifnmg.edu.br

Sobre o entrevistado

Em 2016, o bibliotecário do  Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Carlos Alexandre de Oliveira, deu mais um passo em seus estudos e iniciou o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento na Universidade Federal de Minas Gerais. Assim, o paulista, criado em Minas Gerais, abriu mão de atividades como ler, assistir filmes, séries, jogar futebol e principalmente do tempo na companhia de sua esposa e filho, para se dedicar ao seu projeto, sob orientação da Profa. Dra. Marlene Oliveira.

Mesmo com a pandemia, Carlos desenvolveu um trabalho brilhante, defendido em 2021, intitulado: “A genealogia acadêmica da ciência da informação brasileira: análise dos currículos dos pesquisadores/docentes”, sob a avaliação de sua orientadora e dos docentes Dra. Kátia de Oliveira Rodrigues, Dra. Marynice de Medeiros Matos Autran, Dr. Ronaldo Ferreira de Araújo, Dr. Thiago Magela Rodrigues Dias e Dra. Marília de Abreu Martins de Paiva. 

Em sua tese, Carlos buscou evidenciar o legado acadêmico dos pesquisadores na formação de novas gerações de pesquisadores e no desenvolvimento científico do campo da Ciência da Informação. Como resultado, identificou os mais ilustres ancestrais acadêmicos da Ciência da Informação brasileira e as linhagens acadêmicas dos atuais pesquisadores desse campo científico. Um trabalho de fôlego, pelo qual foi condecorado no Prêmio UFMG de Teses.

Convidamos o Carlos para relatar sua experiência no doutorado e sua experiência enquanto pesquisador, que prontamente aceitou!

Divulga-CI: O que te levou a fazer o doutorado e o que te inspirou na escolha do tema da tese?

Carlos Alexandre (CA): A realização do doutorado foi consequência das escolhas que fiz ao longo da minha trajetória acadêmica e profissional. Na parte acadêmica, contribuiu ter identificado uma área de pesquisa desde a graduação e na parte profissional atuar na área de educação e contar com incentivos para a verticalização da formação fez toda a diferença. A inspiração para pesquisar a genealogia acadêmica na ciência da informação no Brasil veio da possibilidade de contar a história dessa ciência a partir de outra perspectiva, além de colocar luz sobre aqueles ilustres pesquisadores que muito contribuíram para a formação de gerações de pesquisadores para esse campo do saber no Brasil.

DC: Em qual momento de seu tempo no doutorado você teve certeza que tinha uma “tese” e que chegaria aos resultados e  conclusões alcançados?

CA: Essa é uma pergunta de difícil resposta, pois o processo de doutoramento é cheio de momentos de incertezas e dúvidas. Como exemplo, após o 1º semestre de doutorado abandonei o projeto que tinha inicialmente proposto. Somente a partir do 2º ano do doutorado que me decidir sobre a temática de pesquisa. Pensando em um marco temporal, acredito que a qualificação, ocorrida no final de 2019, foi aquele momento de confirmação que estávamos no caminho certo.                                                                                                                

DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua tese? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

CA: Com o risco de cometer injustiças, vou mencionar dois eventos fundamentais que resultaram em outros que determinaram a condução da pesquisa:

1) Uma apresentação do professor Alberto Henrique Frade Laender (Ciência da Computação, da UFMG) no evento Escola de Verão em Computação de 2017 intitulada “O projeto árvore da ciência: um passeio pela genealogia acadêmica” disponível no Youtube no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=KgLIzpF2eBo&t=425s, pois foi a partir dela que me despertou o interesse pelos estudos de genealogia acadêmica. A dissertação de Wellington José das Dores orientando do professor Laender e a tese de Thiago Magela Rodrigues Dias (orientando do professor Laender no mestrado) além de outros artigos de autoria deles sobre o tema contribuíram decisivamente para a pesquisa. O Wellington e o Thiago (atualmente professor do CEFET-MG) contribuíram pessoalmente em alguns momentos da tese, inclusive, o Thiago participou das bancas de qualificação e de defesa da tese.

2) A implantação da Plataforma Acácia (http://plataforma-acacia.org/) pelo professor Jesús P. Mena-Chalco e sua equipe na UFABC, além de inúmeros trabalhos na temática da genealogia acadêmica produzidos por eles foram determinantes para a pesquisa.

DC: Por que sua tese é um trabalho de doutorado, o que você aponta como ineditismo?

CA: São poucas as iniciativas que exploram a genealogia acadêmica como ferramenta e técnica de pesquisa para estudar a ciência brasileira. Em especial, no campo da Ciência da Informação. E nessa área a minha tese foi a primeira a ter essa iniciativa.

DC: Em que sua tese pode ser útil à sociedade?

CA: Na minha visão, a minha tese está mais direcionada ao meio acadêmico, aos pesquisadores da Ciência da Informação no Brasil. E a sua utilidade a sociedade pode ser notada a partir da influência que ela vier a exercer sobre esse meio.

DC: Quais são as contribuições de sua tese? Por quê?

CA: As contribuições de um trabalho acadêmico são diversas. Para receber o título de doutor é obrigatório a confecção de um trabalho acadêmico, a tese. Então, a própria tese em si contribuiu para a formação de mais um doutor para a área da Ciência da Informação no Brasil. Pensando em sua contribuição prática, em relação aos seus resultados de pesquisa, percebo que ela pode ser um bom referencial teórico para estudantes de graduação em biblioteconomia e da pós-graduação na área de Ciência da Informação, uma vez que apresenta dados relevantes sobre os percursores dessa área no Brasil.

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

CA: A obtenção de informações acadêmico-genealógicas sobre a comunidade científica da Ciência da Informação brasileira não é trivial. Então, pensar as fontes de coleta de dados foi uma das etapas mais importantes. Trabalhar com uma quantidade excessiva de dados exigiu que buscássemos soluções computacionais para a extração dos dados, tratamento e análises das informações coletadas.

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a tese?

CA: Entendo que a construção de uma tese tem pouco de inspiração e muito de transpiração. Diria que 90% do processo é transpiração.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da tese?

CA: Parafraseando o cantor Almir Sater eu diria que “o caminho da tese é uma estrada longa”. Do aspirante a doutor será exigido muita resiliência, paciência e dedicação, então, eu recomendaria não deixe de cuidar de você: faça exercícios físicos, não se cobre tanto, tire um tempo para se divertir e não deixe de se comunicar com o seu orientador.

DC: Como foi o relacionamento com a família durante o doutorado?

CA: Foi bem desafiador, confesso. Quando entrei no doutorado meu filho tinha apenas três meses. Fiz o doutorado em Belo Horizonte que fica a quase 500 quilômetros da minha residência, para gerar menos impacto na rotina da minha esposa e filho optei por não me mudar pra BH, então, tive que viajar toda a semana, bem cansativo. Foram quase 5 anos até o término do doutorado, é um período longo, e por mais que sua esposa, por exemplo, esteja comprometida com o seu processo de doutoramento, em algum momento, cansa e gera conflitos. E ai é muito diálogo e companheirismo para superar.

DC: Qual foi a maior dificuldade de sua tese? Por quê?

CA: Ao longo da jornada enfrentei algumas dificuldades, já mencionei sobre a questão de ter que viajar semanalmente e dividir o tempo de estudo com os cuidados com um bebê, por exemplo. Todavia, a parte final do doutorado, lembrando que estávamos numa pandemia, foi a mais desafiadora. Foi o momento em a parte da escrita da tese ficou mais densa e foi o momento em que eu estava mais debilitado psicologicamente. Soma com isso a relação já desgastada com a orientadora.

DC: Que temas de mestrado citaria como pesquisas futuras possíveis sobre sua tese?

CA: Por ser um tema pouco explorado na área, tem muitas possibilidades de estudos. Desde estudar, especificamente, a genealogia acadêmica de um pesquisador influente na área e as suas contribuições para o desenvolvimento de determinada linha de pesquisa. Ou ainda, mapear a influência de ancestrais acadêmicos nas temáticas de pesquisas dos seus descendentes, bem como analisar o impacto da relação orientador-orientando para a produtividade científica dos pesquisadores da área. E também analisar as contribuições da Ciência da Informação em outras áreas, temos muitos pesquisadores da área orientando em outros programas, seria interessante mensurar isso, entre outras possibilidades.

DC: Quais suas pretensões profissionais agora que você se doutorou?

CA: O processo de doutoramento deixa marcas físicas e psicológicas. Desde que me doutorei optei por cuidar da minha saúde, me afastei um pouco do mundo da pesquisa. Espero retornar em 2023 a esse mundo, publicar alguns artigos que ficaram para trás, etc. Com o doutorado, pleitear a uma vaga na docência universitária sempre será uma possibilidade. Mas, pensando em um curto espaço de tempo, espero poder continuar contribuindo com o IFNMG, atuando na pesquisa, no ensino e na extensão e melhorando a cada dia a minha atuação enquanto profissional bibliotecário.                                                           

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

CA: Sem dúvidas, cuidado de mim, da minha saúde física e psicológica e exigiria menos de mim.

DC: Como você avalia sua a produção científica durante o doutorado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

CA: Esse é o lado mais divertido do doutorado, escrevendo artigos com os colegas, participando dos congressos, etc. Não tive um número expressivo de produção científica no decorrer do doutorado e não pude participar de muitos congressos, faltava recursos financeiros para isso. Mas, conseguir produzir alguns, veja abaixo. Como já falei, quero publicar alguns artigos resultantes da tese em 2023. O artigo sobre a genealogia acadêmica dos pesquisadores produtividade em pesquisa da área de Ciência da Informação é o mais importante.

1) Análise de redes sociais no campo de pesquisa da Ciência da Informação: desenvolvimento da produção científica mundial (https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1354)

2) Genealogia acadêmica dos pesquisadores da área de Ciência da Informação: um estudo sobre os bolsistas de produtividade em pesquisa (PQ-CNPq) (https://www.seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/86929)

3) Estudo dos egressos do Programa de Iniciação Científica PIBIC/CNPQ na área da Ciência da Informacão (https://periodicos.furg.br/biblos/article/view/11124)

DC: Exerceu alguma monitoria durante o doutorado? Como foi a experiência?

CA: Não tive essa oportunidade.

DC: Agora que concluiu a tese, o que mais recomendaria a outros doutorandos e mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

CA: Primeiro, me sentiria muito orgulhoso se o meu trabalho, de alguma forma, colaborasse com a formação de novos pesquisadores para a Ciência da Informação. Depois eu me colocaria a disposição para trocarmos umas ideias e quem sabe produzir algum texto (risos). 

DC: Como acha que deve ser a relação orientador-orientando?

CA: Essa é uma pergunta importante. A relação orientador-orientando nem sempre é saudável para as partes envolvidas. Que eu saiba a formação acadêmica não nos capacita para sermos orientadores, simplesmente vamos nos tornando orientadores e replicando boas e más práticas adquiridas. O tema orientação acadêmica pela sua importância para o processo de formação acadêmica deveria ter mais espaço nas discussões que ocorrem na academia.

DC: Sua tese gerou algum novo projeto de pesquisa? Quais suas perspectivas de estudo e pesquisa daqui em diante?

CA: Como já mencionado, tirei um período pós-doutorado para cuidar da minha saúde, pretendo retomar a pesquisa e aos desdobramento que dela vier em 2023.

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de doutorado?

CA: Difícil essa. Para mim, o programa de pós-graduação em Gestão & Organização do Conhecimento da UFMG me possibilitou realizar um sonho que parecia impossível, tornar-me o primeiro doutor da família. Espero ter contribuído, não sei exatamente como. Mas, sempre que possível divulgo o programa, etc.

DC: Você por você:

CA:

Minha mãe tinha um sonho

         Carlos Alexandre de Oliveira, 38 anos, esposo, pai, Bibliotecário documentalista no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, IFNMG. Sua infância e a adolescência vivida na zona rural do município de São João das Missões, Minas Gerais. Criado por “mãe solo”, sua maior incentivadora e entusiasta do poder transformador da educação, ainda que a ela somente foi permitido concluir o ensino fundamental, e já com os filhos crescidos.

         Acreditou no sonho da sua mãe, que sua história de vida seria transformada pela educação. Com uma trajetória de formação realizada integralmente em instituições de ensino públicas, saiu de São João das Missões, município mineiro com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), para se tornar doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG.

         A sua história de vida se confunde com a sua trajetória de formação escolar e acadêmica. Concluiu o ensino médio em 2001 e no ano seguinte migrou para São Paulo para trabalhar, como era o costume dos jovens da região. Em um golpe de sorte, em 2004, conseguiu fazer o pré-vestibular em um cursinho popular na cidade de Itapevi, SP, onde morava com a tia. Após um ano intenso de estudos, realizou o sonho da sua mãe, foi aprovado no vestibular. Em 2005, com 21 anos, iniciou a graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação na Universidade Federal de São Carlos, UFSCar. Sendo o primeiro da sua família a cursar o ensino superior.

         Na UFSCar foi bolsista de moradia, de alimentação, de atividades, de extensão, de monitoria, etc. No decorrer do curso, com o objetivo de aprender técnicas e metodologias relacionadas ao campo de Estudos Métricos da Informação voluntariou-se como bolsista no Núcleo de Informação Tecnológica em Materiais (NIT/Materiais). Sob a orientação do professor Leandro Innocentini Lopes de Faria colaborou em diversos projetos de pesquisas sobre a produção científica e tecnológica do país, de instituições e de pesquisadores. Isso influenciou toda a sua trajetória de pesquisa.

         Em 2010, retornou ao Norte de Minas Gerais para atuar como bibliotecário documentalista no IFNMG. Após a conclusão de duas pós-graduação lato sensu, nas quais estudou a produção científica por meio técnicas bibliométricas foi selecionado para cursar no Mestrado Interinstitucional do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, PPGSP, da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, realizado em parceria com o IFNMG. Sua pesquisa analisou as controvérsias relacionadas a produção e comercialização dos alimentos transgênicos. Mantendo, de certa maneira, aproximação com o interesse em estudar as ciências e os produtos por ela gerados. Em 2015, tornou-se mestre em Sociologia Política.

         Como se o destino conspirasse a seu favor, em menos de um ano, exatamente em agosto de 2016, iniciava-se na sua mais longa jornada acadêmica, o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento, PPGGOC, na UFMG. Desta vez, na área de formação e de atuação, sob a orientação da professora Marlene Oliveira.

         Inicialmente, a proposta de pesquisa de doutoramento seria a realização de um estudo bibliométrico amplo sobre a produção científica e acadêmica no campo da Educação a Distância. Contudo, com a realização das disciplinas e aproximação com as leituras da área e com as pesquisas realizadas pela orientadora, sentiu-se a necessidade repensar o seu tema de pesquisa.

         Optou-se por estudar a área de Ciência da Informação no Brasil. Sua constituição, seus atores mais significativos, a sua história enquanto campo científico. Foi, então, que conheceu uma nova abordagem para os estudos métricos da informação, a genealogia acadêmica. Sob a orientação da professora Marlene Oliveira, pesquisadora reconhecida no campo da Ciência da Informação brasileira, e com a assídua colaboração do professor Thiago Magela Rodrigues Dias do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, CEFET-MG, aceitou o desafio de explorar, de forma inédita para a área, a genealogia acadêmica da Ciência da Informação do Brasil. Após inúmeros desafios superados, inclusive uma pandemia, alcançou, em 2021, o que parecia ser improvável o título de Doutor.


Entrevistado: Carlos Alexandre de Oliveira
Entrevista concedida em: 26 jan. 2023 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Pedro Ivo Silveira Andretta
Fotografia: Carlos Alexandre de Oliveira
Diagramação: Marcos Leandro Freitas Hübner

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