Entrevista com Angela Emi Yanai e sua pesquisa sobre a geração e proteção do conhecimento científico sobre as plantas amazônicas
Entrevista com Angela Emi Yanai e sua pesquisa sobre a geração e proteção do conhecimento científico sobre as plantas amazônicas
Angela Emi Yanai
emi.aey@gmail.com
Sobre a entrevistada
Em 2022, a doutora Angela Emi Yanai defendeu sua tese pelo Programa de Doutoramento em Ciência da Informação da Universidade de Coimba, em Portugal, sob orientação da Profª. Drª. Maria Manuel Lopes de Figueiredo Costa Marques Borges.
Natural do Pará, Angela tem como hobbies ler, assistir séries, animes e conhecer novos lugares. Atualmente, é bibliotecária na Universidade Federal do Amazonas.
Sua tese, intitulada “Análise bibliométrica da geração e proteção do conhecimento científico e tecnológico sobre espécies de plantas amazônicas” teve como objetivo analisar a geração, proteção e comercialização do conhecimento científico e tecnológico sobre as espécies de plantas presentes na Amazônia, por meio da produção científica e do patenteamento.
Para alcançar o objetivo proposto, foram analisadas 10.674 espécies de plantas presentes na Amazônia brasileira por meio da bibliometria, a fim de quantificar a produção científica e os documentos de patentes referentes às espécies analisadas.
A diversidade de espécies de plantas na Amazônia é de grande importância para o Brasil se destacar em termos de produção, proteção e comercialização do conhecimento científico e tecnológico. Entretanto, ainda é necessário o desenvolvimento de iniciativas que promovam a quantidade e a qualidade das atividades de investigação.
Convidamos Angela para nos contar sobre sua experiência com o doutorado fora do Brasil.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o doutorado e o que te inspirou na escolha do tema da tese?
Angela Yanai (AY): As atividades de pesquisa sempre me encantaram desde a graduação e participar da iniciação científica e da mobilidade acadêmica, na qual tive a oportunidade de conhecer e interagir com o grupo de pesquisa do NIT-Materiais da UFSCar e trabalhar mais de perto com a bibliometria contribuíram ainda mais para o meu desejo de fazer mestrado e doutorado. A pesquisa do doutorado de certa forma partiu das pesquisas realizadas durante o mestrado, assim como da necessidade de aprofundar o conhecimento na temática e com um grupo maior de espécies de plantas.
DC: Em qual momento de seu tempo no doutorado você teve certeza que tinha uma “tese” e que chegaria aos resultados e conclusões alcançados?
AY: Em muitos momentos me questionei se estava no caminho certo ou sobre qual direção trilhar… Acredito que todos passam por isso em sua trajetória de pesquisa no mestrado e doutorado, mas passar pela qualificação e ter o feedback da banca contribuiu significativamente para ajustar algumas questões e me deu mais segurança sobre a pesquisa que estava desenvolvendo.
DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua tese? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?
AY: Eu já estava procurando há um tempo, uma lista de espécies de plantas amazônicas para usar em minha pesquisa e o trabalho desenvolvido por Cardoso et al. (2017) atendeu maravilhosamente esta lacuna da pesquisa. A lista foi organizada por um grupo de pesquisadores, abrangendo todos os países amazônicos, totalizando 14.003 espécies de plantas do bioma Amazônia, sendo que 10.674 espécies estavam presentes no Brasil, sendo estas utilizadas na minha pesquisa. O trabalho de Oldham, Barnes e Hall (2015) indicando o uso do nome científico como a melhor forma de identificar os recursos genéticos e o conhecimento tradicional associado dentro do sistema de patentes, assim como suas limitações, também, contribuiu com a metodologia adotada na pesquisa.
DC: Por que sua tese é um trabalho de doutorado, o que você aponta como ineditismo?
AY: Há poucos trabalhos envolvendo um grande número de espécies de plantas da Amazônia brasileira, sobretudo, comparando a produção científica e os documentos de patentes destas espécies. Sendo possível identificar as espécies de maior interesse no desenvolvimento de PD&I e a participação do Brasil neste contexto.
DC: Em que sua tese pode ser útil à sociedade?
AY: A região amazônica carece de pesquisas e estudos. Poucas espécies de plantas são muito estudadas enquanto um grande número de espécies com grande potencial estão praticamente esquecidas. Neste sentido, a investigação permitiu identificar as espécies que necessitam de mais P&D e fomento.
DC: Quais são as contribuições de sua tese? Por quê?
AY: Acredito que a tese permitiu mostrar como andam as pesquisas e o desenvolvimento tecnológico relacionado às espécies de plantas da Amazônia brasileira, tendo em vista, a importância de muitas espécies para o desenvolvimento de medicamentos, fármacos, cosméticos, produtos alimentícios, entre outros. Assim como, mostrar os países, empresas e instituições com maior interesse nestas espécies, podendo contribuir para a formação de parcerias estratégicas.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
AY: Conseguir identificar as espécies de plantas da Amazônia brasileira, não foi uma tarefa fácil. Existem algumas bases como a Flora do Brasil 2020 do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, World Flora Online, todavia, obter uma lista apenas das espécies da região amazônica, não era possível. Neste sentido, isto foi possível apenas a partir do trabalho desenvolvido e publicado por Cardoso et al. (2017). Outro grande desafio foi recuperar, tratar e analisar um grande volume de dados de produção científica e documentos de patentes. A última etapa da pesquisa que envolvia a análise da relação entre as universidades e instituições de ciência e tecnologia (ICT) brasileiras com o setor produtivo, também foi desafiadora, tendo em vista que as informações não são de fácil acesso.
DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a tese?
AY: É um pouco difícil definir… Mas acredito que 90% de muita transpiração e 10% de inspiração. Há muito trabalho mas às vezes é necessário parar e buscar inspiração para o trabalho caminhar bem.
DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da tese?
AY: A jornada é árdua e cansativa. Muitas vezes nos perguntamos se vamos conseguir chegar ao final. Mas persevere, não desista, não é fácil para ninguém. Depois que passamos pela defesa e olhamos para trás, acho que vem um alívio, alegria por termos superado tantos desafios.
DC: Como foi o relacionamento com a família durante o doutorado?
AY: Minha família me deu muito apoio e foram compreensivos desde o início do doutorado quando decidi fazer fora do país.
DC: Qual foi a maior dificuldade de sua tese? Por quê?
AY: Acredito que definir as etapas da pesquisa foi um momento crítico. Eu tinha uma ideia, mas, até conseguir realmente definir cada etapa da pesquisa, levou um tempinho. Reuni com as orientadoras, me voltei para literatura, conversei com colegas e amigos de pesquisa que me ajudaram bastante com suas experiências.
DC: Que temas de mestrado citaria como pesquisas futuras possíveis sobre sua tese?
AY: Há muitas possibilidades e desdobramentos. Uma delas seria realizar a pesquisa utilizando o nome comum e/ou o nome do composto originado a partir da espécie. No estudo de Oldham et al. (2015), eles verificaram que pode ocorrer a perda do nome da espécie em alguns casos. Seria possível, também, realizar a pesquisa das espécies em outras bases de dados com maior produção científica nacional.
DC: Quais suas pretensões profissionais agora que você se doutorou?
AY: Tenho participado do grupo de pesquisa Gestão da Informação e do Conhecimento na Amazônia (GICA) e gostaria de continuar contribuindo com as pesquisas relacionadas à Amazônia.
DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
AY: Talvez buscado começar o doutorado sabendo programar. Mas nada que trabalhos em parcerias e em colaboração com outros especialistas não resolvessem.
DC: Como você avalia sua a produção científica durante o doutorado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
AY: Realizei alguns trabalhos em colaboração, participei do grupo de pesquisa GICA, tive oportunidade de participar de alguns congressos e eventos científicos ao longo do doutorado e foi muito enriquecedor. Ainda estou trabalhando para publicar os artigos relacionados diretamente com a tese.
DC: Agora que concluiu a tese, o que mais recomendaria a outros doutorandos e mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
AY: A Amazônia tem se tornado cada vez mais importante no contexto internacional, contudo, ainda temos poucas PD&I sendo realizadas na região. Há muito trabalho a ser feito e muitos caminhos a serem desbravados, portanto, a contribuição de cada um será muito valiosa para o conhecimento e desenvolvimento da região.
DC: Como acha que deve ser a relação orientador-orientando?
AY: Acredito que o orientador é aquele que pode nos fazer ver além, nos ajudar a abrir a mente e a novas possibilidades, mas também, nos ajudar a colocar os pés no chão e manter o foco quando estamos querendo abraçar o mundo. Nesse sentido, acho que ter uma boa relação, comunicação e cumplicidade entre orientador e orientando é muito importante.
DC: Sua tese gerou algum novo projeto de pesquisa? Quais suas perspectivas de estudo e pesquisa daqui em diante?
AY: É um pouco complicado conseguir conciliar as atividades de pesquisa com as atividades profissionais do dia a dia. Mas gostaria de desenvolver mais para frente outros estudos e projetos relacionados à temática em cooperação com profissionais de outras áreas do conhecimento.
DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de doutorado?
AY: Acredito que o Programa tenha feito por mim muito mais do que fui capaz de fazer por ele. O doutorado em Ciência da Informação na Universidade de Coimbra possibilitou a concretização do sonho de um dia estudar fora do país, foi uma experiência inesquecível e valiosa mesmo que parte dela tenha sido impactada pela pandemia.
DC: Você por você:
AY: Iniciei a graduação pensando em ser pesquisadora e tive oportunidade de fazer iniciação científica, mobilidade acadêmica, participar de um projeto de extensão e do Projeto Rondon, todas essas experiências foram enriquecedoras e sem dúvida contribuíram para minha formação acadêmica e profissional. Duas coisa que eu aprendi ao longo desses anos entre altos e baixos, calmarias e turbulências da vida… A primeira é que temos que ter paciência, muita paciência.. nem tudo ocorre como o planejado, algumas portas se fecham e ficamos tristes, mas logo em seguida outra pode se abrir e você vê que foi muito melhor. Nem sempre receber um “não” é ruim, as vezes só precisamos esperar mais um pouco e tudo ocorre na hora certa, vejo isso com muita clareza olhando para trás. A segunda é que, fazer diferença no mundo exige muito esforço, muitas horas de dedicação, abrir mão de algumas horas de sono ou muitas (risos), momentos com a família, amigos, pessoas queridas. Então, não é fácil para ninguém, mas se é algo que faz nossos olhos brilharem, se nos encanta e anima, não hesite em ir além.
Entrevistado: Angela Emi Yanai
Entrevista concedida em: 30 abr. 2023 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
Fotografia: Angela Emi Yanai
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro