• contato@labci.online
  • revista.divulgaci@gmail.com
  • Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho - RO
v. 3, n. 4, abr. 2025
As práticas informacionais das pessoas idosas na pandemia – Entrevista com Andreza de Morais Batista

As práticas informacionais das pessoas idosas na pandemia – Entrevista com Andreza de Morais Batista

Abrir versão para impressão

As práticas informacionais das pessoas idosas na pandemia – Entrevista com Andreza de Morais Batista

Andreza de Morais Batista

aandreza@live.com

Sobre a entrevistada

Em 2023, Andreza de Morais Batista concluiu seu mestrado em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação da Profa. Dra. Eliane Bezerra Paiva.

Natural de Campina Grande (PB), Andreza tem 36 anos, é casada e madrasta de um menino. Atua como arquivista da Universidade Estadual da Paraíba desde 2013. Em seu tempo livre, gosta de jogar cartas, dominó, ping-pong, dardos e sair para dançar.

Sua dissertação, intitulada “Práticas Informacionais: um estudo com pessoas idosas no contexto da pandemia da Covid-19”, foi desenvolvida em meio a pandemia, um período marcado por intensas transformações na forma como as pessoas acessavam, utilizavam e compartilhavam informações, tão mais, diante do fenômeno da infodemia e da proliferação de fake news. O estudo revelou que as práticas informacionais, sejam analógicas ou digitais, são moldadas pelas necessidades, preferências, valores, interpretações e conhecimentos cotidianos de cada indivíduo, destacando a heterogeneidade do universo idoso e a multiplicidade de papéis sociais que essas pessoas assumem.

Nesta entrevista, Andreza compartilha sua experiência na pós-graduação e suas reflexões sobre o impacto social de seu trabalho.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação

Andreza Moraes (AM): Por ser servidora pública em uma Instituição de Ensino Superior, o tema qualificação é diariamente compartilhado entre colegas. Buscar a qualificação, no meu caso, partiu de uma inquietação particular, pois não me bastava apenas trabalhar, trabalhar e trabalhar, eu sentia falta de movimentar minhas energias de forma que investisse em mim de alguma maneira, algo que mexesse com meu intelecto. Assim, com o incentivo da IES onde trabalho, decidi ingressar em um mestrado, pois especialização eu já havia feito. 

A escolha do tema de minha dissertação se deu logo no primeiro semestre, durante as aulas de Práticas Informacionais. Fiquei encantada pela temática a ponto de conversar com minha orientadora pedindo a troca do tema, a qual aceitou de pronto meu pedido, sendo também um desafio para ela, que até então não havia orientado nenhum discente com esse tema. 

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alcançados?

AM: Em primeiro lugar, eu diria que os discentes que se interessarem pela temática e tiverem oportunidade de lerem o trabalho serão os beneficiados. Assim como eu também fui ao ter contato com trabalhos sobre Práticas Informacionais. Em segundo lugar, diria que todos nós somos beneficiados com os resultados apresentados, haja vista que sempre temos algo a aprender. 

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

AM: A principal e afetiva contribuição que destaco é a inclusão de pessoas idosas em pesquisas científicas. Vemos muito esse grupo sendo estudado nas ciências da saúde, mas quase sempre relacionado às questões de doenças e afins. É um grupo muito pouco estudado pela Ciência da Informação e, acredito, que pela Tecnológica também. O quantitativo de trabalhos na CI que incluem pessoas idosas é ínfimo. Particularmente, acredito que o conhecimento que as pessoas idosas detêm são luzes sobre o futuro de um presente adoecido pela infodemia. É lastimável saber que os mecanismos capitalistas de opressão, dentre eles, está o científico, marginaliza aqueles e aquelas que muitos contribuíram para o progresso econômico e social.

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

AM: Está inserido na linha de pesquisa Memória, Mediação e Apropriação da Informação, porque aborda as práticas informacionais dos sujeitos informacionais, conceito este que se insere no paradigma social da informação e no PPGCI da UFPB se insere nesta linha.

DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

AM: Sim. Citaria estes:

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Dos estudos de usuários da informação aos estudos em práticas informacionais e cultura: uma trajetória de pesquisa. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 4, n. esp., p. 121-135, maio 2019. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/informacaoempauta/article/view/41209 .

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que são “práticas informacionais”? Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, n. esp., p.218-236, out. 2017. Disponível em: http://periodicos.ufc.br/informacaoempauta/article/view/20655/31068 .

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Estudos de usuários conforme o paradigma social da ciência da informação: desafios teóricos e práticos de pesquisa. Informação & Informação, Londrina, v. 15, n. 2, p. 23 – 39, jul./dez. 2010. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/43724 .

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O sujeito informacional no cruzamento da ciência da informação com as ciências humanas e sociais. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 14, 2013 Florianópolis. Anais eletrônicos […] Florianópolis: ENANCIB, 2013. Disponível em: http://gtancib.fci.unb.br/index.php/gt-03/2-uncategorised/161-gt03-anais-digitais-xiii-enancib .

BOSI, Ecléa. Memória & sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: T.A. Editor, 1979.

TANUS, Gabrielle Francinne de Souza Carvalho. Enlace entre os estudos de usuários e os paradigmas da ciência da informação: de usuário a sujeitos pós-modernos. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 10, n. 2, p. 144-173, 2014. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/206 .

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

AM: Se for colocar em ordem, o primeiro passo foi a escolha da temática, que por si só já descartou alguns métodos e técnicas, por não se adequarem à proposta. O segundo passo foi a questão de pesquisa que eu quis responder, o modo como se pergunta também interfere na escolha metodológica. A terceira e principal, sem dúvidas, foram os objetivos, pois para alcançá-los eu precisaria está sob posse dos métodos, técnicas e instrumentos apropriados.

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

AM: As dificuldades, por incrível que pareça, foram de ordem psicológica. A escrita demanda muita atenção, concentração, criatividade e leitura e, passada a qualificação, o cansaço faz morada. Por eu gostar muito de escrever, achei que o período dedicado à dissertação seria o mais agradável, mas constatei o contrário, foi bem tedioso. Contudo, tentei fazer o melhor que pude.

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação? 

AM: Com toda certeza tive 100% de ambos. Houve alguns dias em que passei 12 horas ininterruptas no computador redigindo a dissertação.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

AM: Sim. Eu gostaria de destacar a importância da minha orientadora neste processo. Desde as primeiras disciplinas até o “pós-defesa” ela foi extremamente presente, atenta, cuidadosa, esclarecedora, profissional e amiga. O que eu tive de dúvidas durante os dois anos de dedicação foi ela que tratou de elucidar. Eu gostaria que todos os orientadores e orientadoras fossem para seus e suas orientandas um terço do que ela foi para mim. Atribuo à ela minha motivação, empenho e compromisso.

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

AM: Como estávamos no auge da pandemia da Covid-19, poucas vezes pude visitar meus pais, irmã e sobrinhos. O contato era mais virtual, assim como as aulas do mestrado. O relacionamento com a família durante esse tempo ficou mais intenso, pois o contexto era de muita incerteza e agonia. Minha ausência presencial foi compreendida muito mais por esse fator. Mesmo assim, após tomarmos as vacinas, o contato ficou menos frequente, pois eu precisava me dedicar ao mestrado.

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

AM: Recomendo disciplina, não há nenhum segredo. Mesmo trabalhando e estudando fui capaz de concluir o mestrado um mês antes do fim do prazo, podendo participar do processo de seleção de doutorado, no qual ingressei de imediato.

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

AM: Minha produção se deu mais no âmbito das disciplinas. A maioria das pesquisas que eu fazia já objetivava integrar à dissertação. Como eu também trabalhava durante o mestrado e, por motivos particulares, não queria me afastar, não tinha tempo para participações em eventos, projetos e etc., até fui convidada por um professor a participar do seu grupo de pesquisa, aceitei, mas por motivo escuso não se efetivou. Ainda não publiquei trabalhos resultantes da pesquisa. 

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

AM: Assim que concluí a dissertação já ingressei no Doutorado, continuei trabalhando por mais um ano. Atualmente estou no 2ª ano do doutorado, estou membro do Grupo de Pesquisa: Renovatio – Estudos sobre Disrupção, Interação e Aspectos Jurídicos da Informação. Pedi licença do trabalho para me capacitar e em paralelo retomei os estudos para realizar novos concursos. 

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

AM: Sim, já faço. É na mesma área e no mesmo programa – PPGCI da UFPB. 

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

AM: Não faria nada de diferente. O fato de ter me dedicado 100% e de ter sido disciplinada como nunca fui me faz pensar e sentir que fiz o melhor que pude, com o tempo e as condições que tinha, aproveitando ao máximo. Se há algo que eu poderia ter feito diferente, considerando o que sei agora, seria não ter protelado tanto a realização do mestrado. Mesmo assim, sinto que foi no momento certo.

DC: O que o Programa de Pós- Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

AM: O PPGCI-UFPB realizava reuniões periódicas e respondia a todas as dúvidas dos discentes. Atendia prontamente às demandas burocráticas, sempre respondendo aos e-mails. Para mim, foi muito tranquilo nas vezes em que precisei. Dúvidas alheias, eu primeiro compartilhava com minha orientadora, profa. Eliane B. Paiva, a qual me orientava sobre como proceder e evitava que eu fizesse como muitos: encher a caixa de entrada da secretaria do PPGCI. Fui uma discente discreta, comprometida, não dei dores de cabeça ao PPGCI (risos). Cumpri os prazos de entrega dos relatórios, da qualificação e ainda defendi poucos dias antes do prazo final. Acredito que o que fiz não foi mais do que minha obrigação. Ter contribuído com o bom andamento do Programa foi apenas uma consequência.

DC: Você por você:

AM: Sempre gostei de praticar e assistir esportes. Embora fosse boa aluna ao longo da vida, nunca me dediquei espontaneamente aos estudos e em muitos momentos isso era sacrificante. Contudo, no mestrado conheci um lado meu que até então nunca havia se mostrado com os estudos. Deparei-me com uma Andreza aplicada, concentrada, atenta, disciplinada, que diariamente assistia às aulas e digitava sem parar coisas relevantes ditas pelos profs. Foi um prazer ter vivido isto. Realizava as tarefas uma a uma sem protelar, fazia fichamentos semanais, atividades, leituras, escrevia o projeto da dissertação, tudo ao mesmo tempo e com afinco. E ao fim das disciplinas ainda “respirava” os artigos para poder concluir as disciplinas. Sem medo de errar, posso dizer que empenhei todas as minhas energias no mestrado. Dois anos de muita adrenalina. Talvez por isso eu tenha buscado, agora no Doutorado, um pouco menos de celeridade. Exaustão bateu à porta, mas resisto! Conhecendo-me um pouco melhor agora e dos trâmites da pesquisa posso me abraçar e pedir calma, porque nossa mente e corpo não são máquinas. A disciplina continua, mas agora está sedenta e permeia o solo da paciência e compreensão. Percebo que gosto e sinto falta de estudar e entendo que é cansativo. E agora, após já ter pago todos os créditos das disciplinas do Doutorado, pelos próximos dois anos e meio estou ciente de viver “entre tapas e beijos” com minha tese (risos).


Entrevistada: Andreza de Morais Batista

Entrevista concedida em: 18 de junho de 2024 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Pedro Ivo Silveira Andretta

Fotografia: Andreza de Morais Batista

Diagramação: Naiara Raíssa da Silva Passos

0

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »
Pular para o conteúdo