
Entrevista com Eliane Jovanovich e sua pesquisa sobre a mediação da informação jurídica na rede social Jusbrasil

Entrevista com Eliane Jovanovich e sua pesquisa sobre a mediação da informação jurídica na rede social Jusbrasil
Eliane Maria da Silva Jovanovich
emsjovanovich@yahoo.com.br
Sobre a entrevistada
Em 2021, a bibliotecária Eliane Maria da Silva Jovanovich defendeu sua tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de São Paulo “Júlio de Mesquita Filho”, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Lídia Eugenio Cavalcante.
Natural de Londrina, Paraná, Eliane gosta de dançar, viajar, reunir sua família e amigos, além de desenvolver suas atividades como bibliotecária e como pesquisadora. Atualmente, é bibliotecária da Biblioteca Central, na Divisão de Processos Técnicos da Universidade Estadual de Londrina.
Sua tese, intitulada “A mediação da informação jurídica: estudo na rede social Jusbrasil” tratou das relações interdisciplinares entre a Ciência da Informação e as Ciências Jurídicas, destacando contribuições oriundas dos estudos de usuários para a mediação da informação jurídica nas redes sociais virtuais.
O objetivo geral foi verificar como ocorrem a mediação da informação e o comportamento informacional dos advogados que atuam com Direito de Família e interagem, buscam e compartilham informação jurídica na rede social virtual especializada Jusbrasil.
Nesta entrevista, Eliane nos relata o desenvolvimento de sua pesquisa e sua experiência pessoal e profissional no programa de doutorado.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o doutorado e o que te inspirou na escolha do tema da tese?
Eliane Jovanovich (EJ): Bom, pra falar do doutorado preciso voltar para as minhas raízes. Desde que me graduei (1999), eu sempre quis contribuir na área da docência, porém, a área prática da biblioteconomia era muito forte visto que antes de entrar na faculdade eu trabalhava como auxiliar de biblioteca na biblioteca da UNOPAR. Todos os ensinamentos que obtive por parte das bibliotecárias Maria Augusta Pimentel e Lia Hiroko Ubukata que foram as responsáveis pelo amor que eu tenho pela minha profissão e quando eu entrei na graduação (1996), eu atuava com técnica de biblioteca na Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A paixão pela profissão é tão antiga que assim que me formei, fiz concurso para bibliotecário na Universidade Estadual de Maringá, passei e mudei de cidade com filhos pequenos e marido. Fiz duas especializações (Gerência de Unidades de Informação e Gestão Pública), posteriormente transferi para a UEL e fiz o mestrado em Ciência da Informação (2015). Na busca em contribuir com a UEL, instituição que me acolheu e me transformou como pessoa, como profissional e com a certeza de que alunos de graduação precisam ser encantados pelo curso e com os anos de prática exercida eu sempre acreditei que poderia devolver pra UEL o que eu recebi dela por intermédio dos professores que forma responsáveis pelo meu aprendizado. Quanto a inspiração para o tema da tese, posso falar com muito orgulho que veio do mestrado, pois eu trabalhava na Biblioteca Setorial do Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos da UEL (BSEAAJ), uma biblioteca especializada em Direito e eu percebia que aquela biblioteca justamente por ser especializada precisava de uma atenção especializada também e esse foi o foco da dissertação, no doutorado eu avancei com o tema, porém fui buscar num âmbito maior, decidi sair do ambiente físico que era o escritório e sua rede social e fui pesquisar uma instituição consolidada e suas redes sociais, porém, no ambiente virtual.
Divulga-CI: Em qual momento de seu tempo no doutorado você teve certeza que tinha uma “tese” e que chegaria aos resultados e conclusões alcançados?
EJ: Desde o momento inicial do meu projeto para a seleção do doutorado, o que culminou com a aprovação da banca, porém eu não contava com a Pandemia da COVID.
Divulga-CI: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua tese? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?
EJ: Eu acredito que vários trabalhos e artigos contribuíram para o desenvolvimento da tese, meu foco sempre foi a mediação da informação, informação jurídica, acesso, uso e compartilhamento e utilizadores, acrescido de autores de redes sociais, etnografia, comportamento informacional, mas decisivo mesmo foram os resultados da minha dissertação. Creio que os autores referenciados na tese contribuíram muito, principalmente os que fizeram parte da banca.
Divulga-CI: Por que sua tese é um trabalho de doutorado, o que você aponta como ineditismo?
EJ: Justamente pelo ineditismo naquele determinado momento, trabalhar a mediação numa rede social especializada importante na área jurídica num ambiente virtual e que não possuía um profissional bibliotecário engajado para auxiliar no processo.
Divulga-CI: Em que sua tese pode ser útil à sociedade?
EJ: Compreender o papel das informações jurídicas compartilhadas nas redes sociais especializadas e de credibilidade e a necessidade de profissionais da CI assessorando nesses ambientes.
Divulga-CI: Quais são as contribuições de sua tese? Por quê?
EJ: Contribui na melhoria do tratamento das informações jurídicas, no conhecer os indivíduos que fazem uso delas, como desejam se apropriar das informações.
Divulga-CI: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
EJ: Inicialmente tinha uma metodologia definida, porém conforme foi se desenhando a pesquisa e passando por situações adversas no decorrer, a metodologia precisou ser reestruturada para dar conta do que realmente poderia e conseguiria pesquisar
Divulga-CI: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a tese?
EJ: Inspirada 100%, transpirei bem mais de 100% justamente por causa dos impasses causados pela Pandemia da Covid-19.
Divulga-CI: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da tese?
EJ: Por ter sido um momento de pesquisa atípico que de certa forma foi preciso traçar uma outra estratégia para dar continuidade e finalizar em tempo hábil, acho que meu maior desabafo e gratidão são para a orientadora e a banca e entenderam a questão da minha saúde emocional quando meus familiares (mãe, pai, irmã e filha) pegaram a Covid e ainda sem a vacinação perder o meu pai para a Covid e não encontrar motivos para continuar. Quanto ao sucesso da terra, creio que ela já me trouxe bons frutos e acredito que o sucesso dela depende dos que virão.
Divulga-CI: Como foi o relacionamento com a família durante o doutorado?
EJ: Tranquilo no início, eles sempre souberam do meu desejo de continuar os estudos, mas depois tumultuado pela pandemia.
Divulga-CI: Qual foi a maior dificuldade de sua tese? Por quê?
EJ: Conseguir coletar os dados no final após diversas mudanças de estratégias para que lograsse êxito nos resultados.
Divulga-CI: Que temas de mestrado citaria como pesquisas futuras possíveis sobre sua tese?
EJ: Estudos que dessem continuidades em outras plataformas de informação jurídicas especializadas, em outros tipos de mídias sociais.
Divulga-CI: Quais suas pretensões profissionais agora que você se doutorou?
EJ: Estou num processo ainda dolorido, meio que procrastinada, já tive meu ano sabático, e aos poucos estou reencontrando o meu ânimo para recomeçar. Quem sabe um pós-doutorado no Brasil, estou me aproximando da aposentadoria como Bibliotecária e quero muito ir para a carreira docente, uma forma de devolver o que a Universidade Estadual de Londrina me oportunizou.
Divulga-CI: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
EJ: Diferente eu não sei, mas acredito que se o meu tempo hábil de pesquisa fosse outro, os dados seriam muito mais robustos e densos e os resultados seriam muito satisfatórios.
Divulga-CI: Como você avalia sua a produção científica durante o doutorado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
EJ: Publiquei sim, como todo o meu relato, a Pandemia alterou o modo de fazer dos cursos de Pós Graduação, muitos eventos, reuniões de grupos de pesquisa, muitos foram virtuais, mas mesmo assim tive publicações que podem ser verificados no meu Currículo Lattes:
O acesso à informação jurídica: compartilhamento nas mídias sociais.
Interdisciplinaridade entre a ciência da informação e a ciência jurídica.
A interdisciplinaridade na constituição e evolução da ciência da informação.
Redes e mídias sociais como comunicadoras do direito.
O uso das TICS no grupo redes e mídias sociais.
As redes de colaboração científica na pós-graduação de direito da UEL.
A mediação da informação: enfoque nas redes sociais virtuais especializadas.
Divulga-CI: Exerceu alguma monitoria/estágio docência durante o doutorado? Como foi a experiência?
EJ: Optei por não fazer, considerando que dava palestras, acompanhava alunos nos seus estágios obrigatórios de Biblioteconomia e a minha licença para o doutorado por ser em outra cidade foi um pouco tumultuada.
Divulga-CI: Agora que concluiu a tese, o que mais recomendaria a outros doutorandos e mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
EJ: Aqueles que são assim como eu apaixonados pela mediação, pelas mídias sociais, por comunidades especializadas, diferenciadas e por que não dizer por desafios que surgem durante o trajeto da pesquisa, ofereço a minha tese como ponto de partida.
Divulga-CI: Como acha que deve ser a relação orientador-orientando?
EJ: A melhor possível, relação de respeito, acolhimento, de amizade e de muita gratidão.
Divulga-CI: Sua tese gerou algum novo projeto de pesquisa? Quais suas perspectivas de estudo e pesquisa daqui em diante?
EJ: Gerou o convite para continuar em projetos do escritório. Gostaria de continuar a pesquisar nessa seara e aplicar os conhecimentos biblioteconômicos da práxis referente a representação descritiva e temática dos estoques informacionais da área jurídica.
Divulga-CI: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de doutorado?
EJ: O Programa de Pós Graduação em CI da UNESP me trouxe uma outra visão de pesquisa, agregou aos meus conhecimentos e me ensinou que nessa vida vale muito a pena estudar, adquirir conhecimento para poder ajudar no ensino e na aprendizagem de outros alunos, profissionais e cidadãos.
Divulga-CI: Você por você:
EJ: Eu sou uma pessoa muito persistente, batalhadora, corro em busca do que acredito ser justo, corro por mim, corro pelos outros, sou empática. Se estou correta dentro das minhas convicções eu batalho até o final, mas sou muito humilde para reconhecer que estou errada, equivocada, peço perdão. Como pesquisadora quero muito que os cidadãos tenham acesso às informações, possam ler, criticar, colaborar, gosto da máxima “Não façam com os outros o que não querem que façam com você”, procuro me colocar no lugar do outro. Enquanto bibliotecária exerço minhas atividades com muito prazer, não consigo ver injustiças, e as veladas então essas me irritam a ponto de estudar mais, de procurar saber mais para entender a maldade do ser humano. Não sou a pessoa mais correta, tenho muitas falhas, mas procuro escutar, deixo que tentem me convencer com argumentos, apesar de ouvir que “contra fatos não existem argumentos” está relacionada à aceitabilidade de resultados que precisam ser comprovados a partir de experimentações de muita fundamentação.
Entrevistado: Eliane Maria da Silva Jovanovich
Entrevista concedida em: 25 abr. 2023 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
Fotografia: Eliane Maria da Silva Jovanovich
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro