Entrevista com Jonatan Cândido sobre sua pesquisa que avaliou os recursos de acessibilidade das Editoras Universitárias Federais do Brasil
Sobre o entrevistado
Em 2023, o mestre Jonatan Cândido defendeu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco, sob a orientação da Profa. Dra. Sandra de Albuquerque Siebra.
Natural de Recife (PE), Jonatan atualmente atua como Bibliotecário / Documentalista na Universidade Federal de Pernambuco. Entre seus hobbies estão: assistir a jogos de futebol, passeios à praia e escutar samba acompanhado de uma boa cerveja.
Em sua dissertação, intitulada “Acesso à informação para pessoa com deficiência: um estudo em Editoras Universitárias Federais do Brasil”, Jonatan avaliou a acessibilidade oferecida pelas Editoras Universitárias Públicas Federais do Brasil, visando garantir o direito de leitura, informação e comunicação para Pessoas com Deficiência. Os resultados de sua pesquisa indicaram que a maioria das editoras pesquisadas ainda enfrenta desafios na promoção de materiais informacionais digitais acessíveis, em especial, o livro digital acessível.
Jonatan nos conta, nesta entrevista, os encaminhamentos para o desenvolvimento de sua pesquisa, suas perspectivas e experiências no mestrado.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?
Jonatan Cândido (JC): Antes de tudo, deixe-me fazer a minha autodescrição: sou um homem de cor branca, 38 anos, com 1,62 de altura e porte físico pequeno, olhos castanhos, nariz um pouco afilado, com cabelos curtos e castanho-claros, usando uma camiseta branca e bermuda preta.
É uma história um pouco comprida, mas vamos lá, rs.
Após a minha adolescência, compreendi que a educação é transformadora, abre portas para novas oportunidades e contribui para o desenvolvimento social. Além disso, promove a igualdade/equidade, empodera indivíduos e fortalece a capacidade de enfrentar os diversos desafios do mundo contemporâneo (e eu já enfrentei muitos, rs). Ela se tornou, para mim, uma ferramenta essencial para alcançar meus objetivos e para atuar de maneira positiva nessa sociedade dicotômica.
A partir disso, desde o início da graduação em Biblioteconomia, quando fui monitor de algumas disciplinas, percebi que eu, também, poderia ser docente. Mas, antes, eu precisaria ter uma experiência como bibliotecário para ampliar os meus conhecimentos (na prática).
Logo, assim que me formei em biblioteconomia, passei em alguns concursos e tomei posse numa Universidade Federal no Norte do Brasil. Infelizmente, no Estado, os programas de pós-graduação eram na capital, a 410km de distância da cidade em que trabalhei, e não havia pós-graduação em Ciência da Informação (CI). E foram longos 7 anos, mais ou menos.
Após retornar, definitivamente, para o meu estado, em 2020, para trabalhar na UFPE, meu companheiro me fez um desafio: passar numa seleção de mestrado. Fiz duas seleções: UFPB e UFPE. Passei em ambas, e escolhi a UFPE por trabalhar na instituição. Aposta paga, rs!
A escolha do tema surgiu de uma conversa com uma grande amiga, que também é bibliotecária e estuda a mesma temática, e da minha experiência profissional. Daí, percebi que muitos alunos, que tinham alguma deficiência, enfrentavam grandes dificuldades na encontrabilidade (e usabilidade) de obras em formatos acessíveis.
DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?
JC: Acredito que são dois beneficiados, mas cada um na sua proporção: as editoras universitárias e as Pessoas com Deficiência (PcD). O primeiro, pois as editoras universitárias federais poderão desenvolver estratégias e ações para garantir o acesso equitativo à informação, também, para PcD. Assim, elas podem contribuir para o avanço da CI ao promover melhores práticas de inclusão e acessibilidade. Isso resulta em uma disseminação mais eficaz e abrangente do conhecimento, o que enriquece a área ao fornecer dados e insights sobre como melhorar a acessibilidade e a usabilidade das informações em ambientes informacionais digitais. Já o segundo, dentro desse contexto, são as PcD. Pois, garantir o acesso equitativo à informação e promover a inclusão e acessibilidade nas publicações, ajuda a assegurar que essas pessoas tenham igual acesso ao conhecimento e às informações disponibilizadas pelas editoras universitárias federais do Brasil.
DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade?
JC: Para a Ciência e a Tecnologia, pode contribuir para a inclusão digital com novas práticas e tecnologias voltadas para acessibilidade informacional, bem como para a criação de políticas e diretrizes para editoras e instituições acadêmicas, ajudando a moldar o desenvolvimento de práticas mais inclusivas e acessíveis.
Para a Sociedade, pode contribuir na promoção da inclusão social e equidade de oportunidades no ensino superior.
DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?
JC: Enquadra-se na linha de pesquisa 2 – Comunicação e Visualização da Memória, pois se relaciona com a acessibilidade da informação científica nas universidades, por meio das suas editoras.
DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?
JC: Poderia citar muitos, mas vou citar dois: uma das ações, que não faz parte de um artigo, dissertação ou tese, mas que foi muito importante para a minha pesquisa, foi a Lei 13.146 de 2015, que promoveu importantes avanços na inclusão de PcD, inclusive o deve adotar mecanismos de incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à comercialização de livros em formatos acessíveis e o impedimento à participação de editoras que não ofertem sua produção também em formatos acessíveis.
Como também, a tese, intitulada “Perspectivas da publicação de livros em formato digital pelas editoras universitárias na América Latina”, da Profa. Dra. Robéria de Lourdes de Vasconcelos Andrade, desenvolvida na Universidade Federal da Paraíba. Uma das ações é a utilização de ferramentas para auxiliar o processo editorial na elaboração da estrutura do livro em formato digital nas editoras universitárias na América Latina.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
JC: Inicialmente, eu delimitei a temática e a problemática para, então, tentar responder os objetivos e os pressupostos. A partir disso, fiz uma pesquisa bibliográfica e análise documental. Após, seguiram-se as etapas: 1. um mapeamento e caracterização das Editoras Universitárias Federais do Brasil. 2. Definição do universo e do corpus da análise. 3. Elaboração e Aplicação de Questionário. 4. Análise de conteúdo e apresentação dos resultados.
DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?
JC: Conciliar as obrigações da vida adulta: trabalhar, estudar e vida pessoal.
DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?
JC: Se fosse possível quantificar, diria que meio a meio. Medir, nesse contexto, é algo muito subjetivo. Afinal, a inspiração não surge do nada; é um trabalho invisível do nosso cérebro com base no que absorvemos. É preciso ler e refletir bastante para que a inspiração apareça.
DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?
JC: Apesar de todas as adversidades e surpresas encontradas nessa caminhada, tive o apoio e compreensão das pessoas mais próximas durante o processo.
DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?
JC: Como todas as disciplinas foram na modalidade remota, devido a pandemia, não tive muito contato físico com a minha família, exceto com o meu companheiro, que sempre me deu todo espaço e apoio necessário para que eu pudesse desenvolver os trabalhos acadêmicos. Após a flexibilização das restrições sociais, tive a oportunidade de ter um convívio que me deu, além do meu companheiro, um suporte emocional.
DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
JC: Sem dúvidas, recomendaria que tudo que for produzir, dentro ou fora da universidade, pense, também, nas PcD. Precisamos olhar para essas pessoas com mais dignidade e inclusão. A acessibilidade informacional deve ser uma preocupação constante. Considere sempre como suas pesquisas e trabalhos podem impactar positivamente a vida dessas pessoas.
DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
JC: O mestrado é um tiro curto e seco! Tudo é muito rápido e intenso. Como estávamos ainda na pandemia da COVID-19, era necessário conciliar diferentes demandas, além das atividades acadêmicas. Participei do grupo de pesquisa, eventos on-line e cursos relacionados ao tema. Também, submeti um artigo, com parte da pesquisa, que ainda está em processo de análise por parte do periódico.
DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?
JC: Primeiro, retornei 100% ao trabalho, pois sou bibliotecário da UFPE. Além disso, estou focado em outros projetos pessoais (segredo, rs).
DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?
JC: Sim! Continuarei dentro da Ciência da Informação, pois pretendo continuar estudando as Editoras Universitárias, Acesso à informação, Acessibilidade e Inclusão Digital, sobretudo para Pessoas com Deficiência.
DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
JC: Literalmente, nada! Pois foi uma das melhores experiências, do ponto de vista acadêmico, que tive a oportunidade de mergulhar (de cabeça) em tudo que fiz. Cada erro foi um aprendizado. Cada aprendizado foi uma conquista.
DC: O que o Programa de Pós-Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?
JC: O Programa (docentes, discentes e técnico-administrativos) me proporcionou uma oportunidade única, pois diante de uma conjuntura adversa, que foi a pandemia, ofereceu todo o suporte necessário para a continuidade e conclusão da pesquisa. Este apoio foi fundamental para superar os desafios impostos pelas restrições sanitárias e pela necessidade de adaptação às novas formas de trabalho e estudo remoto, demonstrando comprometimento e resiliência em tempos difíceis. Em contrapartida, contribui para o Programa com a realização de atividades de pesquisa e participando de seminários, que ajudaram a disseminar o conhecimento produzido. Além disso, atuei em grupo de pesquisa, de estudo e projetos colaborativos, fortalecendo o ecossistema da comunidade acadêmica e promovendo o intercâmbio de ideias e experiências entre meus colegas e docentes.
DC: Você por você:
JC: Eu sou Jonatan Cândido, bibliotecário, neto de dona Raminha, que é costureira de profissão. Minha voinha, que por meio dos retalhos da vida cotidiana, proporcionou-me tudo que estava ao seu alcance, sempre com sorriso no rosto, muito comunicativa e disposta a ajudar as pessoas. Assim, cresci e desenvolvi todos os valores que ela transmitiu: a importância da generosidade, da empatia, da resiliência e da busca constante pelo conhecimento, apesar de ela não ter tido a oportunidade, que eu tive, de estudar. Sua dedicação e amor moldaram a minha forma de ver o mundo e a minha carreira como bibliotecário, onde procuro, assim como ela, fazer a diferença na vida das pessoas. E foi por isso que eu escolhi trabalhar a temática de acessibilidade com foco na PcD, pois acredito que todos devem ter a oportunidade de acessar e se beneficiar do conhecimento, independentemente de suas limitações. Inspirado pela determinação e espírito acolhedor da minha voinha, minha missão é criar um ambiente inclusivo e acessível para todos, promovendo a igualdade e a dignidade que cada indivíduo merece.
Entrevistado: Jonatan Cândido
Entrevista concedida em: 26 jun. 2024 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Larissa Alves
Fotografia: Jonatan Cândido
Diagramação: Larissa Alves