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v. 2, n. 9, set. 2024
Entrevista com Ramon Ferreira sobre sua pesquisa que analisou as boas práticas para a acessibilidade digital em Instituições Federais de Ensino

Entrevista com Ramon Ferreira sobre sua pesquisa que analisou as boas práticas para a acessibilidade digital em Instituições Federais de Ensino

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Entrevista com Ramon Ferreira sobre sua pesquisa que analisou as boas práticas para a acessibilidade digital em Instituições Federais de Ensino

Ramon Maciel Ferreira

ramonferreirajf@gmail.com

Sobre o entrevistado

O doutor Ramon Maciel Ferreira defendeu em 2023, sua tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais da Fundação Getúlio Vargas, sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Jordao de Achilles Mello.

Natural de Juiz de Fora, Minas Gerais, o arquivista tem como hobbie a natação. Inclusive é atleta máster de natação desportiva em águas abertas.

Sua tese, intitulada “Projeto de Acessibilidade Informacional (PAI): boas práticas para a cultura de acessibilidade digital em informação pública”, visa melhorar a acessibilidade digital de informações públicas nos websites das Instituições Federais de Ensino Superior do Brasil. Para alcançar esse objetivo, o pesquisador analisou websites das Universidades e Institutos Federais para identificar barreiras de acessibilidade e desenvolveu diretrizes, ferramentas e um modelo de referência que orienta as práticas de acessibilidade digital. A pesquisa incluiu a capacitação das equipes e incentivou o debate e a participação comunitária para garantir o acesso à informação pública.  

Convidamos Ramon para nos contar, nesta entrevista, como se deu o percurso de sua pesquisa e sua experiência no programa de doutorado.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o doutorado e o que te inspirou na escolha do tema da tese?

RF:  Cursar o doutorado era um plano de vida, algo que eu almejava antes mesmo de me formar na faculdade, eu seria um Doutor. O tema escolhido é um aprofundamento da minha dissertação de curso no Mestrado Profissional em Sistemas de Gestão MSG, da Universidade Federal Fluminense MSG / UFF. Eu avaliei se as instituições federais de ensino cumpriam algumas legislações, dentre elas a Portaria nº 3, de 7 de maio de 2007, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que institucionalizou o Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (e-MAG).

 DC: Em qual momento de seu tempo no doutorado você teve certeza que tinha uma “tese” e que chegaria aos resultados e conclusões alcançados?

RF: A tese sempre existiu. Programas profissionais tendem a solicitar um pré-projeto já alinhado ao que pode ser elaborado, realmente visando sua aplicação profissional, muitas mudanças e estruturas são alteradas e melhoradas, mas entender o panorama dos websites em relação a sua adequação ou não às regras já obrigatórias de acessibilidade digital. No entanto, alcançar este resultado não proporcionaria uma aplicação profissional da pesquisa, o que nos levou a construir um Programa Público de gestão por inovação e um Projeto piloto, PROJETO DE ACESSIBILIDADE INFORMACIONAL (PAI), focado nas Instituições federais, com nome homenageando meu pai de ensino e que dá nome à tese.

DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua tese? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

RF: Sem sombra de dúvidas o Centro Tecnológico de Acessibilidade (CTA), vinculado à Pró-Reitoria de Ensino do IFRS ( https://cta.ifrs.edu.br ), eles são incríveis, um oásis de conhecimento, mas infelizmente como todo oásis, ainda é uma ação com pouca visibilidade, em referência à importância do trabalho, inclusive na elaboração do Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (eMAG). Outra ação muito importante é o Vlibras, um resultado incrível de parcerias entre Ministérios e o Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (LAVID). Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

DC: Por que sua tese é um trabalho de doutorado, o que você aponta como ineditismo?

RF: Três fatores de importância são: O panorama construído, uma coleta de dados de um ano analisando os websites das instituições, são dados muito interessantes, assim como o relatório gerado no procedimento. O segundo, a construção de um programa de gestão por inovação replicável e gratuito, voltado para a fortificação e disseminação da cultura acessível nas instituições; e por fim, o PAI, o projeto em si. Ele tem todas as características do programa base, mas foi construído pensando nas instituições pesquisadas, tendo como foco a valorização e capacitação dos SERVIDORES PÚBLICOS, como a ferramenta necessária para a mudança.

DC: Em que sua tese pode ser útil à sociedade?

RF: Como mencionado é um programa profissional, então ele é voltado para a resolução de algo ou para a melhoria, uma pesquisa intervencionista. A ideia do PAI é proporcionar um fluxo de operações e metas simples a serem desenvolvidas na instituição na busca de uma cultura de acessibilidade. Acredito que seja um projeto possível de ser aplicado, principalmente pelos custos. Custo zero, tudo pensado com o que o Governo tem disponível.

DC: Quais são as contribuições de sua tese? Por quê?

RF: Proporcionar meios e formas de garantir a efetivação do direito, para que ninguém seja coagido, dificultado ou impedido de usar as informações públicas no Brasil. Infelizmente, ações e orçamentos para inclusão e diversidade ainda são baixos o que impede muitas vezes o desenvolvimento institucional, assim, propondo um programa de baixo ou nenhum custo orçamentário, pode ser uma saída, porque é um fato a alta qualificação e a excelência dos nossos servidores, mas ainda é preciso que o tema acessibilidade digital seja parte integrada à cultura da instituição.

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

RF: Levantamento bibliográfico, atrelados a conhecimentos e dados prévios para a construção e o desenvolvimento da pesquisa. Também fiquei atento ao desenvolvimento de outros trabalhos na temática ou relacionado, sempre tem um artigo ou outro nos congressos. É muito bom poder conversar e trocar impressões sobre o tema.

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a tese?

RF: Não me atreveria a apontar números, mas foi muito equilibrado, com momentos de tensão e outros de muita tranquilidade. Felizmente tive a “sorte de um amor tranquilo” ao longo do curso, a construção dos textos, trabalhos e tese sempre foram apoiadas por colegas e professores do programa. Enquanto orientador, professor Eduardo foi INCRÍVEL, todas as reuniões rendiam risadas e muito trabalho, orientação primordial para o equilíbrio. Acredito que após a qualificação foi necessário repensar detalhes e buscar estratégias extras de coleta de informação, mas tudo correu bem.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da tese?

RF: Não, só posso agradecer ao Programa e aos professores do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), Fundação Getulio Vargas.

DC: Como foi o relacionamento com a família durante o doutorado?

RF: Não tive nenhuma alteração social ao longo da trajetória, alguns momentos de falta por choque de agendas, mas nada mais grave.

DC: Qual foi a maior dificuldade de sua tese? Por quê?

RF: Sem dúvidas o levantamento de dados sobre setores, comitês ou núcleos voltados para acessibilidade dentro das instituições. Algumas instituições simplesmente não tinham os dados de fácil acesso, outras não tinham dados (solicitei por email), algumas não tinham realmente o setor. E uma me pediu para entrar com uma solicitação de acesso à informação porque só assim responderia, vai entender. No entanto, acredito que levantar todos os dados sobre estes núcleos ou setores das 103 instituições federais de ensino tenha sido muito válido.

DC: Que temas de mestrado citaria como pesquisas futuras possíveis  sobre sua tese?

RF: Acredito que cada conjunto de dados, ou seja, cada instituição estudada, proporcionaria um tema ou um aprofundamento incrível, podendo buscar características particulares da instituição garantindo uma representatividade das ações e uma integração entre os servidores.

DC: Quais suas pretensões profissionais agora que você se doutorou?

RF: O doutorado foi algo pessoal, óbvio que me garantiu um aumento salarial, mas apenas isso. Sobre pretensões eu construí um pré-projeto de pós-doutoramento, mas acabei abandonando a ideia por estar finalizando este tipo de atividades na minha vida. Logo, não tenho pretensões futuras.

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

RF: Faria uma reserva financeira para fazer a revisão, não é barato.

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o doutorado ? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

RF: Muito boa, acredito que os mais importantes são o artigo apresentado no Mercosul de Arquivologia, no Paraguai, e no BOBCATSSS, em Portugal. Ainda em 2024 um trabalho será publicado no The Canadian Journal of Information and Library Science.

DC: Exerceu alguma monitoria / estágio docência durante o doutorado? Como foi a experiência?

RF: Não, mesmo porque continuei exercendo minhas 40 horas semanais.

DC: Agora que concluiu a tese, o que mais recomendaria a outros doutorandos e mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

RF: Espero que tenham compreendido a necessidade de se proporcionar melhorias na informação digital pública. O usuário PCD (Pessoa com deficiência) tem o direito de consumir aquela informação. E esta deve estar completa, para que ele tenha a mesma experiência do que alguém que não precisa de auxílio ou tecnologias assistivas.

DC: Como acha que deve ser a relação orientador-orientando?

RF: Deve ser baseada no respeito, ninguém ali é criança.  E aproveitando deixo um recado ao leitor. Um Orientador que te rebaixa não serve para uma trajetória tão significativa para sua vida, não seja assediado. Ter um amigo professor, faz toda a diferença.

DC: Sua tese gerou algum novo projeto de pesquisa? Quais suas perspectivas de estudo e pesquisa daqui em diante?

RF: Sim, na verdade dois. trabalho de final de curso em uma especialização, na qual trabalhei métodos formativos e instrutivos para alunos dos cursos técnicos de arquivo, consigam ao se formar, analisar a informação digital e indicar meios de adequação aos parâmetros de acessibilidade. O segundo é um projeto de pós-doutoramento, ampliando a pesquisa e direcionando aos websites e páginas componentes do Plano Nacional de Dados Abertos.

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de doutorado?

RF: Eu confesso que me dediquei ao programa para obter notas máximas. Para além disto, eu sou da primeira turma do primeiro do programa de doutoramento profissional. A interação social e as aulas eram muito motivantes e instigantes o que tornou nossa relação uma troca justa e gratificante, acabei sendo o primeiro da turma e o primeiro a me formar, com pouco mais de dois anos e meio.

DC: Você por você:

RF: Sou mineiro de Juiz de Fora, servidor público, homem gay, atleta de natação e águas abertas, fui campeão da Copa Brasil de maratonas aquáticas em 2019 e possuo mais de 20 conquistas em campeonatos nacionais de categoria, inúmeros estaduais e com participação em competições internacionais. Já me mudei 11 vezes de cidade até encontrar meu lar. Sou uma pessoa tranquila, sem muitos luxos e com uma vida privilegiada morando em João Pessoa/Paraíba. Hoje posso afirmar que todas as metas que tracei em 2010 foram alcançadas e realizadas, incluindo o doutorado, estabilidade, carreira e afetividade, sendo este ano o último ano no qual planejo me manter dedicado a pesquisas e vida acadêmica em geral. Agradeço a oportunidade, é um privilégio participar desta edição.


Entrevistado: Ramon Maciel Ferreira

Entrevista concedida em: 04 set. 2024 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Jônatas Silva dos Santos

Fotografia: Ramon Maciel Ferreira

Diagramação: Jônatas Silva dos Santos

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