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v. 2, n. 6, jun. 2024
historiatransviada.com – um projeto de historiografia pública digital, por Ronald Canabarro

historiatransviada.com – um projeto de historiografia pública digital, por Ronald Canabarro

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historiatransviada.com – um projeto de historiografia pública digital

Ronald Canabarro

historiatransviada@gmail.com

Foi com grande alegria que recebi o convite de Pedro Andretta para escrever um texto sobre meu projeto para a Revista Divulga CI. “Que chique esse convite!”, eu lhe disse em resposta. Confesso a vocês, que agora me leem, que escrever textos fora dos perfis acadêmicos são sempre um desafio. Começo me apresentando, me chamo Ronald Canabarro, historiador, Técnico em Assuntos Educacionais no Núcleo de Rádio e TV da UFRJ, e doutor em História, Política e Bens Culturais, pela Fundação Getúlio Vargas, com um projeto de Historiografia Pública Digital, localizado no endereço www.historiatransviada.com . Mas o que um perfil de formação como a minha está fazendo por aqui, numa Revista de Divulgação Científica em Ciência da Informação?

Meu interesse de pesquisa desde 2012, época de início de preparação para o mestrado, tem sido as temáticas que envolvem a história das populações de dissidentes sexuais e desobedientes de gênero. Uso esses dois termos para ser o mais abrangente possível, longe de realizar apagamentos, uma vez que, quando olhamos para o passado, para a história das pessoas cujas identidades hoje denominamos numa sigla com várias letras que reúnem identidades de gênero e orientações sexuais, o nosso LGBTQIAPN+, temos vários nomes, termos e identificações diferentes ao longo da história. As histórias de pederastas, sodomitas, timbiras, muxes, travestis, transviados, invertidos e tantos outros nomes são só alguns dos exemplos de como as mudanças históricas se dão em se tratando de identidades e identificações dissidentes das normas morais e sexuais de cada época ou região.

Ronald Canabarro é historiador e doutor em História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas

Entrei no doutorado em 2019. Quando iniciei minhas pesquisas para encontrar um certo estado da arte sobre o que vinha sendo pesquisado na pós-graduação em História na temática, recorri ao Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, na área de História. Foi então que, para minha surpresa, comecei a encontrar muitas teses e dissertações das quais não tinha conhecimento, nem sequer ouvia falar. Mas como podia isso se frequentemente se ouve ou lê por aí que “temos poucas pesquisas que abordam a história da população LGBTQIAPN+”? Poucas quantas, afinal? Bom, talvez realmente ainda não seja um número expressivo e, por certo, há diversas lacunas a serem sanadas, mas por que quase não se ouve falar das que já existem? Foi então que resolvi buscar todas as teses e dissertações que falassem sobre o assunto, ou pelo menos o maior número que eu conseguisse encontrar. Após rastrear entre as mais de 30 mil teses e dissertações existentes no banco de dados da Capes (dados de 2023), na área de avaliação em História, me utilizando dos descritores sobre essas identidades e orientações sexuais, além daqueles que ligam essas às questões de movimentos sociais e mesmo de seus estigmas, cheguei, atualmente, em 240 teses e dissertações, com um recorte entre 1994 e 2022. O ano de início indica o primeiro ano que tivemos uma defesa de tese e uma dissertação que abordaram a temática em questão, e o último o mais recentemente atualizado. Foi aí que tive a ideia de criar um projeto que não só se utilizasse das teses e dissertações para minha análise, mas que concentrasse em um só lugar todas elas, facilitando o encontro a quem se interessa pelo assunto, e divulgando esse conteúdo para além da academia. Nasceu então o projeto História Transviada.

Apesar da possível decomposição de “trans+viada”, ou mesmo a definição de algumas pessoas como a socióloga Berenice Bento, professora da UnB, sobre o uso da palavra como uma espécie de tradução cultural para o queer estadunidense, meu uso segue um caminho um pouco diferente. Me utilizo de “transviada” a partir de seu significado nos dicionários: aquela que se perdeu do bom caminho, que se desviou das regras, transviou. Proponho, portanto, uma produção de conhecimento historiográfico que foge um pouco as regras da área, produzindo uma tese/produto que se utiliza das ferramentas do digital para dar a ver uma parte da história da historiografia e ao mesmo tempo divulgar as pesquisas em outros espaços além da pós-graduação.

Logotipo do Projeto História Transviada

O projeto História Transviada é composto por um sítio de internet  (www.historiatransviada.com), um canal do YouTube (www.youtube.com/@historiatransviada), um perfil no Instagram (www.instagram.com/historiatransviada), e um perfil pessoal no Github (www.github.com/ronaldcanabarro).

Página principal do Portal História Transviada

No sítio realizei uma curadoria de conhecimento, permitindo que as pessoas interessadas em buscar as teses e dissertações da área possam encontrá-las a partir de uma nuvem de palavras chaves, das linhas do tempo pelas datas de defesa, dos locais de defesa no mapa do Brasil, pelas instituições ou mesmo acessarem a tabela com todos os dados levantados. Estruturei ainda, como forma de dar a ver alguns dos caminhos que essa historiografia vem percorrendo na pós-graduação em História, visualizações de dados textuais partir do Voyant Tools, índices de crescimento da área, mapas de identificação de quais cidades/estados e países têm pesquisas especificamente sobre elas, e duas visualizações de redes, uma sobre as orientações e bancas, e outra sobre as autorias citadas nas pesquisas. 

No Youtube disponibilizei dez entrevistas realizadas com historiadoras e historiadores que escreveram suas pesquisas na temática, onde conversamos sobre suas trajetórias de pesquisa e profissional. No Instagram, compartilhei todas as informações existentes no sítio, os convites para assistir as entrevistas, bem como as teses e dissertações que encontrei sobre a temática. Realizando, assim, uma divulgação dessas pesquisas em outros espaços e fazendo circular alguns dos conhecimentos produzidos para fora das “torres de marfim”. E, por último, no perfil pessoal do Github, disponibilizei os scripts que foram construídos para extração de dados textuais e que ajudaram na elaboração de algumas das visualizações. Compartilhando, dessa forma, não só o produto dos dados, mas as próprias estratégias de geração desses.

Perfil do Canal História Transviada no YouTube
Perfil da História Transviada no Instagram

Com essa apresentação geral, espero que vocês que estão me lendo tenham conseguido visualizar a proposta do projeto e de como ele vem sendo gestado. Uma questão importante: até aqui esse projeto vem sendo construído sem financiamentos externos ou apoios financeiros específicos, salvo por uma bolsa de doutorado sanduíche realizado na Colômbia entre 2021 e 2022 e que, como todas vocês sabem, tem a intenção apenas de cobrir os custos de viagem e sobrevivência do período. Meu trabalho tem sido de investimento próprio e tem a intenção de construir uma maior popularização das pesquisas na pós-graduação em História, no Brasil, sobre a temática das dissidências sexuais e desobediências de gênero. Bem como, explorar as intersecções no trabalho da pessoa historiadora profissional, com a curadoria de conhecimento e a divulgação historiográfica/científica.

De maneira a encerrar, e como parte daquilo que venho criando como um processo híbrido entre o escrever, divulgar e interagir sobre a historiografia das dissidências sexuais e desobediências de gênero, gostaria de convidar a você que descobriu o projeto através dessas linhas a ir em algum dos conteúdos, seja no Instagram, no Youtube ou no sítio de internet e comentar em algum conteúdo, informando que chegou até lá a partir daqui e, caso queira, deixe alguma opinião, crítica ou sugestão sobre o tópico que você escolheu. Topa o convite?

Conheça o Portal História Transviada:

CANABARRO, Ronald. História Transviada – Historiografia das dissidências sexuais e desobediências de gênero no Brasil (1994-2022). Rio de Janeiro, 2022. Disponível em: https://www.historiotransviada.com . Acesso em: 31 de maio de 2024

O texto é parte das ações e reflexões teóricas advindas de pesquisa de doutorado em História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, parcialmente financiada pelo Programa de internacionalização CAPES/Print da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

Sobre o autor

Ronald Canabarro

Técnico em Assuntos Educacionais no Núcleo de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Faz parte da Rede de Historiadoras e Historiadores LGBTQIA+ do Brasil e da Rede Latino-americana de Arquivos, Museus, Acervos e Investigadores LGBTQIA+ (AMAI-LGBTQIA+). Criador e responsável pelo projeto História Transviada – Historiografia das Dissidências Sexuais e Desobediências de Gênero no Brasil.

Doutor em História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas. Mestre em História Regional, pela Universidade de Passo Fundo, com Diplomatura en Humanidades Digitales pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – Argentina. Licenciado em História pela Universidade de Passo Fundo. Especialista em Gestão Escolar pela Universidade Castelo Branco. 


Redação e Foto: Ronald Canabarro

Revisão e Diagramação: Larissa Alves

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