Entrevista com Elisio Custodio Brentan Junior sobre sua pesquisa que investigou o potencial da biblioteca pública na promoção da ciência cidadã
Entrevista com Elisio Custodio Brentan Junior sobre sua pesquisa que investigou o potencial da biblioteca pública na promoção da ciência cidadã
Elisio Custodio Brentan Junior
elisio.brentan@uenp.edu.br
Sobre o entrevistado
Em 2023, Elisio Custodio Brentan Junior concluiu seu mestrado em Ciência da Informação pela Universidade Estadual de Londrina, sob orientação da Profa. Dra. Terezinha Elisabeth da Silva.
Elisio é natural do Paraná, e tem como hobby viajar. Atualmente, é bibliotecário na Universidade Estadual do Norte do Paraná.
Sua dissertação, intitulada “O potencial da biblioteca pública na promoção da ciência cidadã”, investigou como as bibliotecas públicas podem contribuir para a promoção da cidadania e da ciência cidadã. As ações levantadas pela pesquisa evidenciaram a importância de estabelecer parcerias entre as bibliotecas e instituições de pesquisa, tanto para capacitar suas equipes quanto para oferecer suporte às suas atividades. Concluiu-se que, além de promoverem diretamente a ciência cidadã, as bibliotecas públicas podem contribuir de diversas formas, como na constituição de seus acervos e no desenvolvimento de atividades em seus espaços.
Elisio nos conta, nesta entrevista, como desenvolveu sua pesquisa e a experiência no programa de mestrado.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?
Elisio Brentan Junior (EBJ): O desejo de cursar o mestrado surgiu para mim ainda na graduação. Durante os quatro anos do curso de Biblioteconomia na Universidade Estadual de Londrina (UEL), fui bolsista de Iniciação Científica (IC). Inicialmente, o que me atraiu foi a bolsa oferecida. No entanto, a partir do meu segundo subprojeto, eu já estava profundamente envolvido com a pesquisa. Sendo uma pessoa curiosa e questionadora, a pesquisa sempre foi um caminho que fez muito sentido para minha trajetória acadêmica e profissional. A escolha do tema da minha dissertação ocorreu por ele combinar dois elementos que considero centrais: a ciência e as pessoas, a população de modo geral.
DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?
EBJ: As pessoas não cientistas. Uma das minhas maiores motivações ao escolher o tema da dissertação foi justamente a possibilidade de ampliação da participação de pessoas que não são cientistas no processo de construção de novos conhecimentos. Para mim, as pessoas tendem a defender a ciência a partir do momento em que a compreendem. Temos uma tendência a nos distanciarmos daquilo que nos é desconhecido, por isso busquei, de modo geral, que as ideias defendidas em minha dissertação encurtassem a lacuna entre quem produz conhecimento científico e quem é beneficiado por ele.
DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade?
EBJ: Acredito que a principal contribuição da minha pesquisa foi a tentativa de estabelecer um diálogo entre ciência e sociedade. Para fomentar esse diálogo, optei por utilizar um dispositivo informacional de grande valor: a biblioteca pública. A ideia é que a biblioteca atue como ponto de encontro entre a população e os pesquisadores, oferecendo métodos e, se possível, ferramentas. Às pessoas bibliotecárias cabe o papel de mediadoras entre esses dois agentes.
DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?
EBJ: Minha pesquisa foi desenvolvida na linha de Compartilhamento da Informação e do Conhecimento. Acredito que isso se deve ao fato de meus objetivos estarem mais vinculados à participação social na ciência, com um viés mais voltado para a construção e apropriação do conhecimento científico.
DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?
EBJ: Tem um artigo que eu conheci na época que escrevia um artigo para a minha especialização em Tecnologias na Aprendizagem. Este artigo foi publicado no volume 2, número 6 da Revista CTS, de autoria da Dra. Maria Eduarda Vaz Moniz dos Santos, que foi uma pesquisadora vinculada ao Centro de Investigação em Educação da Universidade de Lisboa, Portugal. O artigo, intitulado Cidadania, conhecimento, ciência e educação CTS: rumo a “novas” dimensões epistemológicas, é para mim um trabalho muito especial, que já revisitei diversas vezes e ao qual sempre retornarei quando precisar de inspiração para minhas pesquisas.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
EBJ: Em minha pesquisa, utilizei uma abordagem qualitativa, com base em fontes bibliográficas e documentais. Organizei a análise dos dados em três categorias: a primeira focada em órgãos de orientação, como a IFLA e a Unesco; a segunda baseada nos achados da literatura da área; e a terceira, que denominei de “olhares confluentes”, por destacar pontos de convergência entre as duas primeiras categorias.
DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?
EBJ: Na minha opinião, minha produção é extremamente influenciada por fatores externos à academia. Situações do meu cotidiano costumam afetar bastante a qualidade do que escrevo. Digo isso porque, durante o período em que escrevia minha dissertação, enfrentei questões pessoais que exigiram muito do meu emocional, o que impactou diretamente minha escrita. Olho para minha dissertação com carinho, mas consigo ver algumas cicatrizes em sua estrutura.
DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?
EBJ: Foi 30% inspiração e 70% transpiração. Isso se deve ao fato de que, na maior parte do processo de escrita da minha pesquisa, precisei lidar com minha rotina profissional. Acredito que essa seja, inclusive, uma questão que deveríamos conversar mais a respeito e atenção. O desenvolvimento de qualquer pesquisa exige uma grande dedicação, e para nossos colegas que têm a pesquisa como segunda ou até mesmo terceira jornada diária, esse exercício, que já é desafiador por natureza, torna-se ainda mais difícil.
DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?
EBJ: Não sei se seria exatamente um desabafo, mas gostaria de reiterar meu agradecimento à minha orientadora, a Profa. Dra. Terezinha E. Silva. Durante o meu mestrado, parte do qual cursei durante a pandemia, passamos por momentos muito difíceis, e a Profa. Terezinha foi extremamente humana em todos esses momentos. É muito bom poder contar com uma parceria assim.
DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?
EBJ: Engraçado que o meu conceito de família mudou um pouco ao longo do período em que desenvolvi minha pesquisa de mestrado. No entanto, acredito que, para mim, meus pais sempre foram e sempre serão a melhor versão de família. Felizmente, minha relação com eles é fantástica, e minha mãe, por exemplo, é minha melhor amiga. Me sinto muito privilegiado por tê-los comigo [além da Bil e da Amora, claro].
DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
EBJ: Eu diria que buscassem outras fontes além da minha dissertação. Quando propus minha pesquisa, eu a considerava, de certo modo, como pioneira na temática no cenário brasileiro da Ciência da Informação. Se levarmos em conta a tipologia bibliográfica “dissertação”, ela ainda mantém, até certo ponto, um caráter inédito. No entanto, a pesquisa em ciência cidadã é bastante dinâmica, e, a cada dia, surgem novos relatórios e projetos sendo desenvolvidos. Felizmente, mais pesquisadoras e pesquisadores têm trabalhado o potencial das bibliotecas como propulsoras da participação social na construção do conhecimento científico.
DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
EBJ: Sinceramente? Acho que é um ponto em que preciso melhorar. Desde que concluí minha dissertação, confesso que me afastei um pouco de um dos temas centrais da minha pesquisa, a ciência cidadã. Nesse período, me aproximei mais de temas relacionados, como a comunicação e divulgação científica, além das discussões sobre o método científico, até porque minha atuação se voltou para o contexto universitário.
DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?
EBJ: Desde que concluí minha dissertação, tenho focado bastante em minha atuação profissional. Cerca de dois meses após a defesa, passei por uma drástica mudança de local de trabalho, pela qual acredito que serei sempre grato. A partir de agora, pretendo refletir sobre quais áreas devo me aprimorar para atender, de forma cada vez mais eficaz, à minha comunidade.
DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?
EBJ: Sim. Pretendo continuar explorando áreas adjacentes à ciência cidadã, como a própria ciência aberta [que é um conceito guarda-chuva] e sua contribuição para a apropriação social da ciência.
DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
EBJ: Tanta coisa. Mas, em especial, eu olharia com mais carinho para a minha dissertação desde o início do mestrado. Acredito que acabei me apegando a ela apenas quando estava quase concluindo, sem tempo suficiente para explorar com maior profundidade alguns dos temas abordados.
DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?
EBJ: Acredito que o Programa confiou em mim, e sou muito grato por isso. Quanto a mim, espero ter contribuído da melhor maneira possível, utilizando as ferramentas que estavam à minha disposição naquele período da minha vida.
DC: Você por você:
EBJ: Bom, de modo geral, acredito que fiz o melhor que pude. Gostaria de ter realizado mais, mas procuro ser gentil comigo mesmo e entender que precisamos respeitar nossas limitações. O que mais importa para mim é meu compromisso com a ciência, com a ética e com as pessoas. As pessoas não cientistas, longe de estarem apartadas da produção científica, precisam entender melhor como as engrenagens da ciência funcionam para poderem validar e também multiplicar os achados científicos. Este é o compromisso que assumi há alguns anos, sempre me baseando na “liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa humana”, princípios que considero basilares para minha atuação em qualquer contexto.
Entrevistado: Elisio Custodio Brentan Junior
Entrevista concedida em: 11 de setembro de 2024 aos Editores
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Larissa Alves
Fotografia: Elisio Custodio Brentan Junior
Diagramação: Larissa Alves