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v. 2, n. 12, dez. 2024
Entrevista com Clotilde Andrade sobre sua pesquisa que investigou a percepção dos editores de periódicos científicos sobre a revisão por pares aberta

Entrevista com Clotilde Andrade sobre sua pesquisa que investigou a percepção dos editores de periódicos científicos sobre a revisão por pares aberta

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Entrevista com Clotilde Andrade sobre sua pesquisa que investigou a percepção dos editores de periódicos científicos sobre a revisão por pares aberta

Francisca Clotilde de Andrade Maia

clotildeoth@gmail.com

Sobre a entrevistada

Em 2023, a recém mestre e bibliotecária Francisca Clotilde de Andrade Maia, defendeu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará, sob orientação da Profª Drª Maria Giovanna Guedes Farias.

Natural do Ceará, Clotilde tem como hobbies experimentar novas comidas, sair com os amigos, ir à praia, explorar novos lugares, além de passar um tempo de qualidade com seus familiares e animais de estimação.

Sua dissertação, intitulada “Revisão por pares aberta: percepção dos editores de periódicos científicos indexados no Directory of Open Access Journals”, mapeou e analisou propostas e percepções de editores de periódicos adeptos da revisão aberta. Os editores investigados acreditam que o modelo aberto melhora a qualidade do trabalho e promove a transparência. Por fim, o estudo propôs diretrizes para implementação da revisão aberta destacando a importância da mediação editorial.

Convidamos Clotilde para nos relatar, nesta entrevista, como foi sua experiência no programa de mestrado e seus projetos para o futuro.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?

Clotilde Andrade (CA): A decisão de cursar o mestrado surgiu da experiência no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). Durante o Pibic, trabalhei com comunicação científica, um tema que me chamou a atenção pela sua amplitude e transversalidade na ciência. Essa conexão se refletiu no meu TCC e se expandiu até a pós-graduação, de modo que continuei a explorar a revisão por pares aberta em ambos os níveis.

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

CA:  Minha pesquisa oferece resultados relevantes para alguns diferentes segmentos da ciência, com destaque para editores de periódicos científicos, avaliadores e pesquisadores envolvidos com a revisão por pares. Em especial,  para aqueles que estudam esse processo sob a perspectiva da ciência aberta. Além disso, leitores, entusiastas da comunicação científica e da sociedade em geral também se beneficiarão, uma vez que o aprimoramento dos mecanismos de revisão por pares reforça a confiança e a validade dos resultados científicos.

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

CA: Acredito que minha pesquisa contribui para desmistificar certos paradigmas em torno da revisão por pares aberta, muitos dos quais são perpetuados sem comprovação. Um exemplo é a ideia de que a adoção da revisão aberta intimidaria os avaliadores, algo que pode não ser regra geral. Além disso, o estudo mostra que a revisão aberta não é tão complexa quanto parece e não exige soluções tecnológicas sofisticadas. Muitos periódicos que adotam a revisão aberta modelo utilizam ferramentas já conhecidas no dia a dia editorial. No entanto, a maior contribuição da pesquisa é apresentar a experiência de periódicos já adeptos, ajudando a validar se há, de fato, benefícios em sua aplicação. E posso adiantar que sim, há vantagens, pois já temos exemplos de revistas brasileiras da área de Ciência da Informação que estão implementando recursos de revisão por pares aberta com sucesso.   

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

CA: Durante o mestrado, minha pesquisa esteve vinculada à Linha 2 – “Mediação e Gestão da Informação e do Conhecimento”, já que a mediação, especialmente a mediação editorial, foi um dos aspectos centrais analisados ​​ao longo do estudo. No entanto, o programa de pós-graduação passou recentemente por mudanças em suas linhas de pesquisa, e atualmente meu trabalho se insere na Linha 1 – “Informação, organização, comunicação e tecnologia”, devido ao forte foco na comunicação científica presente na pesquisa.

DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

CA: Seria impossível mencionar apenas um trabalho, pois vários estudos foram fontes de inspiração e desenvolvimento significativo para minha pesquisa. No âmbito internacional, destaco especialmente as pesquisas de Tony Ross-Hellauer, Emily Ford e Edit Görögh, que são referências na investigação sobre a revisão por pares abertos. No Brasil, menciono Maria das Graças Targino, Joana Coeli Ribeiro Garcia, Ronaldo Ferreira de Araújo, Milton Shintaku, Kleisson Lainnon e Patrícia Pedri, cujas contribuições foram fundamentais para o desenvolvimento do meu trabalho.

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

CA: A pesquisa foi dividida em três etapas: a primeira foi a busca na literatura para verificar se havia diretrizes de implementação da revisão por pares aberta. A segunda foi o contato com os editores, por meio de questionário, para indagá-los sobre as suas experiências com a revisão aberta, e por fim, com os resultados da busca na literatura aliada às vivências dos editores propomos diretrizes para implementação da revisão aberta.

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

CA: Acredito que a maior dificuldade foi a gestão do tempo para conciliar a escrita da dissertação com o trabalho. Fui bolsista pela maior parte do curso, mas ao final do mestrado tomei posse em um cargo público, em outro estado, e tive que mudar de residência e me adaptar à nova rotina. Não foi fácil!

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação? 

CA: Pergunta difícil, viu. Foi preciso muita inspiração e muita transpiração também. Eu diria que talvez, 40% de inspiração e 60% de transpiração. Grande parte da inspiração veio por já ter familiaridade com o tema desde a graduação, mas a transpiração tomou de conta nos momentos de explorar a literatura internacional e de fazer fichamentos para tentar fazer uma ampla revisão de literatura.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

CA: É preciso reconhecer que o processo do mestrado não é fácil. O desenvolvimento da pesquisa exige profundos momentos de reflexão, ponderação e avaliação, além de uma busca constante por compreender o real objetivo de estar ali. Ter clareza sobre o seu propósito pode ser a força motriz que te ajudará a seguir em frente, superando os desafios e, no final, contribuindo para o avanço científico e tecnológico da sociedade.

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

CA: Minha relação com a família durante o mestrado foi muito tranquila e harmoniosa. Eles sempre me apoiaram e incentivaram fortemente nos estudos, o que tornou todo o processo mais leve. Entendiam que, em alguns momentos, eu precisava de espaço para me dedicar à pesquisa e sempre estavam prontos para me ajudar no que fosse necessário. Esse suporte me trouxe muita tranquilidade, permitindo que o processo fluísse com menos dificuldades nesse aspecto.

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

Eu recomendaria que adotassem uma abordagem mais sistemática e holística. Nem sempre há uma única resolução para um problema, e encontrar um meio termo pode ser uma resposta mais eficaz para muita coisa na vida. Por exemplo, a adoção de um modelo de avaliação híbrido, que combine aspectos da revisão cega e aberta, pode oferecer benefícios superiores em comparação a modelos totalmente cegos ou totalmente abertos.

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

CA: Como fui bolsista durante o mestrado, pude me dedicar integralmente às atividades e consegui participar de eventos, projetos e grupos de pesquisa. Dessa forma, consegui publicar resultados e comunicações de pesquisas que estavam em andamento àquela época, algumas são:

1) Contribuição das dimensões dialógica e ética da mediação da informação para a revisão por pares aberta; 2) Percepção sobre o compartilhamento de conhecimento entre avaliadores sob a ótica dos editores científicos; 3) Panorama das pesquisas brasileiras da área de Ciência da Informação sobre revisão por pares aberta; Já os trabalhos derivados da dissertação estão em processo de avaliação por pares em periódicos da área de Ciência da Informação, e um já está no processo de realização das correções solicitadas pelos avaliadores.

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

CA: Sou cearense e, um pouco antes da defesa da dissertação, fui convocada para assumir um cargo público em Pernambuco. Na época da defesa, eu já estava em Recife. No entanto, pouco tempo depois, fui convocada para outro cargo no meu estado natal e retornei ao Ceará. Desde então, atuo em uma biblioteca do campus do interior da UFC. 

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

CA: Pretendo sim, na mesma área, Ciência da Informação, mas não agora. Quero conseguir um pouco mais de experiência profissional, amadurecer algumas ideias e refletir sobre uma proposta de pesquisa que possa trazer contribuições para a CI. 

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

CA: Eu teria me envolvido ainda mais, questionado mais, me exposto mais e buscado maior participação e interação, pois agora sei da importância das trocas de experiências e do networking para o crescimento pessoal e profissional.

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

CA: O programa de pós-graduação ofereceu uma bolsa, o que me permitiu ter dedicação exclusiva e integral aos estudos e aproveitar diversas oportunidades de formação. Além de proporcionar ricas trocas de aprendizado e experiências com colegas, professores e pesquisadores, tanto nacionais quanto internacionais, o programa me ofereceu um ambiente de crescimento constante. Por isso, durante esse período, procurei aproveitar ao máximo e contribuir de diversas formas, participando e organizando eventos, integrando mesas, submetendo pesquisas e representando o programa em diversos eventos.

DC: Você por você:

CA: Desde criança, sempre fui curiosa, apaixonada por aprender, ler e descobrir como as coisas funcionam e de onde vêm. Foi esse interesse que me levou a seguir a Biblioteconomia, uma área em que o conhecimento guardado nos livros é uma fonte infinita de descobertas. Sou cearense, vegana e profundamente conectada à minha terra, mas também adoro explorar novos lugares e culturas. Hoje, realizo um dos meus maiores sonhos: ser servidora pública na universidade em que me formei. Sou filha de uma costureira e de um funileiro, que desde cedo trabalharam duro para sustentar nossa família. Eles e toda a minha família são minha maior inspiração e, se cheguei até aqui, foi com o apoio e incentivo deles e de muitas outras pessoas fantásticas que encontrei ao longo do caminho. A mensagem que carrego é: nunca desistam, porque o caminho é difícil, mas vale a pena.


Entrevistada: Francisca Clotilde de Andrade Maia

Entrevista concedida em: 15 de outubro de 2024 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

Fotografia: Francisca Clotilde de Andrade Maia

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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