Identidade negra e mediações da informação étnico-racial em blogs de funk, por Jobson Francisco da Silva Júnior
Identidade negra e mediações da informação étnico-racial em blogs de funk
Jobson Francisco da Silva Júnior
jobsonminduim@gmail.com
Como eu posso contribuir para a luta antirracista no Brasil? Esta pergunta foi o motor principal para o desenvolvimento de todas as minhas pesquisas. A publicação do livro que ora apresento se trata da conclusão de uma longa caminhada, que começou na iniciação científica no curso de Biblioteconomia, passou pela monografia da graduação, pela dissertação do mestrado até que à tese de doutorado, onde sempre tratei da temática étnico-racial.
Para delimitar a minha área de pesquisa fiz junção da temática étnico-racial, uma vez compreendida a urgência desse tema o tomei como uma missão, mais a questão da música, uma paixão e área onde também tenho formação. Vi tanto na área da Biblioteconomia quanto da Ciência da Informação um terreno fértil para investigação da informação musical enquanto objeto de estudo, a qual balizou esta publicação: quais são os processos de mediação da informação envolvidos nos blogs que funk que pode ajudar a construir uma identidade negra, identidade esta ligada a luta antirracista?
Aqui se faz necessária uma explicação a respeito da escolha dos blogs de funk, a pesquisa teve início no ano de 2015 com a duração de quatro anos, conforme os prazos de uma pesquisa de doutorado, o número de usuários de blogs no início da pesquisa era significativamente maior. Uma das observações que puderam ser feitas na pesquisa foi exatamente a migração dos usuários para outras plataformas, redes sociais como Instagram ou Spotify, quem além de streaming é também uma rede social online.
Aceitamos que o critério de raça foi adotado de maneira errônea para o ser humano, uma vez que a variabilidade genética do ser humano não seria grande o suficiente para utilizarmos as categorias de raça, por exemplo, para diferenciar pessoas negras e pessoas brancas, então se identificar como pessoa negra passa a ter uma dimensão política maior do que sua dimensão biológica.
Aceitamos também que o Brasil ainda vive o mito da democracia racial, a ideia que no país existe sempre uma relação cordial entre negros, brancos e indígenas, aquele famoso discurso que no Brasil ninguém é branco nem negro é todo mundo misturado, essa ideologia minimiza o racismo, pela lógica de que o racismo seria a discriminação contra pessoa preta e como no Brasil a maioria seria de pessoas morenas, claras ou escuras, morenas jambo, marrom bombom, marrom limite e incontáveis outras variações de pessoas não pretas o racismo seria algo atípicos, casos isolados.
Quando falamos de uma identidade negra formada por pessoas pretas e pardas a visão do fenômeno do racismo muda, ele passa a incidir uma população que no Brasil, segundo o IBGE, é maioria. Se identificar enquanto pessoa negra é também aceitar que o racismo é algo estrutural e estruturante da sociedade brasileira e é se posicionar contra isso. Aqui soma-se o funk, mas poderia ser outros gêneros musicais criados pela população negra, esta música, e no contexto da pesquisa a informação gerada por essa música, pode ser utilizada como instrumento de consciência política, através de plataformas como os blogs.
Nesse ponto, a pesquisa se debruçou sobre a noção de mediação da informação nos blogs de funk, entendo que pode acontecer de maneira consciente ou inconsciente. Passou a identificar como a informação disseminada nestes blogs poderia ser subsídios para a construção da identidade negra, identificando a informação de cunho étnico-racial e sua frequência para concluir que as mesmas ajudariam a criar uma consciência política no tocante ao pertencimento identitário.
Para contrapor a visão dos blogs de funk, que estava intimamente ligada a quem produzia e consumia a música, foi analisado também um portal de informação da mídia hegemônica, com o objetivo de entender o funk num contexto maior. Observou-se então que no portal G1 as informações produzidas e disseminadas eram, eu sua maioria, completamente conflitantes a visão tecida pelos blogs de funk, e aqui chamo à atenção para questão da hegemonia, o poder e a força do portal G1 é muito maior do que a de qualquer blog, longo seu alcance para disseminação de uma visão reducionista e preconceituosa também.
Embora tenhamos chegado a essa ideia como uma das conclusões da pesquisa, a descoberta mais importante foi no tocante ao processo de mediação da informação nestes blogs, ao lançamos sobre o fenômeno a luz da Análise Crítica do Discurso, passamos a entender que a informação musical sobre os blogs é um dispositivo tecnológico, logo, esta tecnologia apresenta uma grande potencialidade para a construção da identidade negra. Olhando especificamente sobre a mediação da informação em sua dimensão inconsciente, o funk e a informação musical podem através do lazer e do divertimento ser subsídio para a construção de uma identidade negra ativa na luta contra o racismo, que denuncia uma clico vicioso de exclusão ao qual a população negra é sujeitada no Brasil, principalmente através de padrões estéticos.
A obra se estrutura em sete capítulos, uma Introdução, onde é apresentada a justificativa epistêmica e ético-política da pesquisa. O segundo capítulo com uma fundamentação sobre o pertencimento e a questão étnico-racial. O terceiro capítulo trata das questões da Ciência da Informação e dos Estudos Culturais para o embasamento da pesquisa. No quarto capítulo é apresentada a noção de mediação e os estudos dos blogs de funk. A análise Crítica do Discurso e o desenho metodológico é apresentado no quinto capítulo. O “mão na massa” acontece no sexto capítulo, onde é feita a análise dos dados coletados nos blogs de funk e no portal G1. O trabalho se encerra no sétimo capítulo com as conclusões da pesquisa e possibilidades de pesquisas futuras a partir deste estudo.
A obra que convido à leitura se propõem repensar as potencialidades do funk, “mexer a raba” ao som do funk tem um propósito de divertimento, pode ter um propósito de sexualização, mas também pode ser entendido como um ato político, um grito de uma juventude negra insubmissa que denuncia o racismo, que causa incômodo no status quo da sociedade, que celebra suas culturas, seus corpos e suas identidades.
O livro encontra-se disponível para download gratuito no site da editora, Selo Nyota, e o exemplar impresso pode ser adquirido diretamente com o autor, pelo e-mail.
Acesse a versão digital em:
SILVA JÚNIOR, Jobson Francisco da. Identidade negra e mediações da informação étnico-racial em blogs de funk. Florianópolis: Rocha Gráfica e Editora; Selo Nyota, 2022. Disponível em: https://www.nyota.com.br/_files/ugd/c3c80a_89e727a5239c465b8490ad3d6fa3103e.pdf Acesso em: 05 jan. 2024.
Sobre o autor
Jobson Francisco da Silva Júnior
Professor substituto no Curso de Arquivologia na Universidade Estatual da Paraíba. Foi chefe da Seção de Documentação e Procedimentos Superintedência Executiva de Mobilidade Urbana de João Pessoa.
Doutor em Ciência da Informação pelo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Instituto Brasileiro de Informação. Mestre em Ciência da Informação e Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba. Participa do grupos de pesquisa Perfil-i e do Grupo de Estudos Integrando Competências, Construindo Saberes, Formando Cientistas – GEINCOS – é membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Informação, Educação e Relações Étnico-raciais – NEPIERE.
Redação: Jobson Francisco da Silva Júnior
Foto: Jobson Francisco da Silva Júnior
Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta