Os Quadrinhos da Turma da Mônica como fonte de informação social, por Keitty Vieira
Os Quadrinhos da Turma da Mônica como fonte de informação social
Keitty Vieira
keitty.rv@ufsc.br
No mês de Janeiro comemora-se o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos, uma literatura que geralmente remete os adultos à infância, às bancas de jornais, aos caixas de supermercados.. É incrível como simples diálogos e ilustrações muito próximas da nossa realidade do dia a dia são capazes de fazer as pessoas se alegrarem, refletir, informar e se deliciar com uma leitura leve.
A literatura infantil muitas vezes, pelo senso comum, é fortemente atrelada ao incentivo à leitura por meio do lazer, da diversão, do encantamento, o que não está totalmente errado. Afinal, a atividade de leitura para uma criança precisa trazer elementos que despertem o interesse desse futuro leitor.
Todavia, o conteúdo das histórias em quadrinhos voltadas ao público infantil pode sim conter informações que auxiliem na formação do cidadão com noções sobre meio ambiente, leis, direitos e deveres, saúde e inclusão, por exemplo. E é isso o que está presente em parte das publicações da Turma da Mônica.
As autoras do artigo “Os Quadrinhos da Turma da Mônica e sua contribuição para as reflexões sobre o bem-estar social, pessoal e político da sociedade” possuem o gosto particular por este tipo de literatura. E, quando surgiu a chamada para apresentação de trabalhos no 39 Painel Biblioteconomia em Santa Catarina, promovido pela Associação Catarinense de Bibliotecários (ACB), surgiu também a ideia de se debruçar sobre a temática da literatura infantil.
No entanto, as autoras desse artigo pensaram em realizar uma pesquisa “diferente”, leve. A proposta veio das alunas Erica de Lima Käfer e Vitoria Gizela de Oliveira Grott (ambas estudantes do curso de Graduação em Biblioteconomia da UFSC) ao relatarem o interesse de pesquisar algo relacionado a literatura infantil mas que fugisse um pouco do “mais do mesmo” (quantitativo de autores, ou de publicações, ou discussão teórica sobre o tema).
Com isso a pergunta que deu origem a ideia do artigo foi: “Será possível fazer uma análise científica dos gibis da Turma da Mônica para apresentarmos no painel da ACB?” E a resposta não foi só “sim, é possível”, como também, o trabalho apresentado foi considerado um dos melhores de sua seção e encaminhado para a publicação na íntegra. (Além de ter sido uma delícia fazer análise de dados por meio da leitura de gibis).
O tema do evento era “bibliotecas inclusivas: promovendo a inclusão social, econômica e política de todas as pessoas” e, com isso, as autoras viram uma oportunidade de trazer os quadrinhos para discussão no evento utilizando-os como fonte de informação para a sociedade. E não somente na perspectiva do incentivo à leitura afinal, queríamos apresentar algo diferente.
Há muitas publicações relacionadas à Turma da Mônica, o que torna o universo de pesquisa gigantesco. Por isso, optou-se por analisar somente os gibis relacionados às publicações especiais, que estão disponíveis ao público de forma gratuita no site Maurício de Sousa Produções.
Com isso, se iniciou a (prazerosa) tarefa de leitura dos 35 quadrinhos selecionados com o intuito de buscar os seguintes temas no conteúdo dos mesmos: informações de interesse pessoal; social; econômico; e político. A partir disso, verificou-se que todas essas temáticas são tratadas nos quadrinhos da série de forma lúdica, educativa, e com a colaboração de instituições importantes na produção deste conteúdo, a exemplo do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde.
O que foi mais curioso na análise dos quadrinhos foi a profundidade de alguns temas e das explicações próximas da realidade. Por exemplo, a mãe da personagem Magali, teve seus dados pessoais coletados por lojas comerciais que se utilizaram disso para oferecer novos produtos, ou seja, um caso clássico que envolve a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Outro exemplo são as discussões sobre as fake news relacionadas à vacinação, onde é informado o que acontece quando várias pessoas deixam de se vacinar para determinadas doenças muitas vezes já erradicadas.
Ou seja, há um grande esforço dos cartunistas e produtores de conteúdo envolvidos nesta série para abordar temas de relevância social em uma linguagem focada diretamente no público infantil. Com isso, além do incentivo à leitura, houve a disseminação de informação de qualidade da forma mais natural possível, com exemplos do cotidiano, linguagem simples, por vezes divertida, próxima à realidade conhecida daquele leitor.
Esse é um perfeito exemplo de que podemos alcançar a sociedade sem precisar falar difícil. E é essa a mensagem que gostaríamos de passar ao fazer essa pesquisa. Também gostaríamos de deixar a mensagem de que para fazer ciência nós podemos sim ir para o “simples”, porque no simples também há conhecimento que possa ser compartilhado e discutido entre os pares da área. Afinal, por que não analisar gibis? Ou literatura de cordel? Ou fanfics? Sinta-se convidado a ler o artigo na íntegra e dialogar conosco. Por último, apenas uma reflexão: Quando e qual foi o último Quadrinho que você leu? “Bola ler gibi, galela!”
Acesse o artigo na íntegra:
VIEIRA, K.; GROTT, V. G. de O.; KÄFER, E. de L. Os quadrinhos da Turma da Mônica e sua contribuição para as reflexões sobre o bem-estar social, pessoal e político da sociedade. Revista ACB, Florianópolis, v. 28, n. 2, p. 1–13, 2023. Disponível em: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/2055 . Acesso em 04 jan. 2024.
Sobre a autora
Keitty Rodrigues Vieira Mattos
Professora do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina. É membra do Grupo de Pesquisa Organização do Conhecimento e Gestão Documental – KOD e vice líder do Grupo de Pesquisa Laboratório de Estudos em Tecnologia Assistiva, Inclusão Digital e Bibliotecas Escolares – BETA da Universidade Federal de Santa Catarina.
Doutora e Mestra em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Bacharela em Biblioteconomia com habilitação em Gestão da Informação pela Universidade do Estado de Santa Catarina.
Redação: Keitty Vieira
Foto: Keitty Vieira
Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta