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v. 2, n. 9, set. 2024
Educação e inclusão de estudantes público-alvo da Educação Especial: aprendizados com ensino, pesquisa e extensão na formação de uma professora-pesquisadora e mãe, por Marlene Rodrigues

Educação e inclusão de estudantes público-alvo da Educação Especial: aprendizados com ensino, pesquisa e extensão na formação de uma professora-pesquisadora e mãe, por Marlene Rodrigues

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Educação e inclusão de estudantes público-alvo da Educação Especial: aprendizados com ensino, pesquisa e extensão na formação de uma professora-pesquisadora e mãe

Marlene Rodrigues

marlene.rodrigues@unir.br

Sinto-me honrada por participar com a edição de setembro, na sessão Perspectiva, apresentando algumas contribuições resultantes dos trabalhos de ensino, pesquisa e extensão que desenvolvi nos últimos anos acerca do público-alvo da Educação Especial – EPAEE. Esse gesto se faz ainda mais importante neste mês de setembro, quando a campanha nacional “Setembro Verde” visa à conscientização sobre os direitos, as necessidades e as conquistas das pessoas com deficiência, além de sensibilizar a sociedade para a inclusão e seus desafios na busca por igualdade de oportunidades e condições, que só serão dadas a esse público se as formas de acessibilidade lhe forem garantidas.

O estabelecimento de uma Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) reforça que é preciso superar velhos paradigmas excludentes e encaminha para a superação de discursos capacitistas.

Cabe destacar que a mudança de postura que altera a visão de normalidade/anormalidade decorre, sobremaneira, da ampliação de direitos a todos os indivíduos, inclusive às minorias que, historicamente, sempre estiveram à margem da sociedade, ou seja, essas pessoas saem da condição de anormalidade, de inativos, para pessoas com deficiência ativas e sujeitas de sua própria aprendizagem (Rodrigues, 2018).

Nesse contexto, o meu lugar de fala é de mulher, professora, pesquisadora sobre o tema e mãe de um estudante universitário com TEA.

Posso dizer que minha formação como professora pesquisadora se ampliou significativamente a partir do dia em que, ainda muito jovem, ingressei como funcionária da APAE na cidade de Vilhena (Rondônia), onde vivi as primeiras experiências educacionais junto às pessoas com deficiência. Durante essa fase e no contato com esses estudantes, aprendi muito sobre as relações e sobre a subjetividade implícita na concepção de homem, sociedade, educação, normalidade, anormalidade e deficiência; compreendi, a partir de estudos e pesquisas, que normal é ser diferente

A minha trajetória como profissional da educação e pesquisadora tem me dado oportunidades importantes de contribuir para a formação de professores no estado de Rondônia. É nesse sentido que destaco a minha pesquisa intitulada “Formação docente para inclusão de estudantes público-alvo da educação especial em cursos de licenciaturas da Universidade Federal de Rondônia” – realizada no Doutorado em Educação Escolar, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) –, cujos colaboradores foram professores da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), tendo como objeto de estudo os cursos de licenciaturas. 

Os dados trouxeram muitas dúvidas e poucas certezas. Contudo, entre as certezas, destaco que não há uma “receita” para a escolarização dos EPAEE, justamente por suas singularidades. Os dados conclusivos trouxeram afirmativas para se pensar o presente e repensar o futuro, e, nesse contexto, afirmamos que “sem as garantias da acessibilidade atitudinal, nenhuma outra forma de acessibilidade acontece” (Rodrigues, 2018, p. 30) e que não basta trazer modelos prontos para professores, mas é preciso encorajá-los a refletir sobre como pensam, como agem e como ensinam no contexto da inclusão.

Pautamos nossa prática na ideia de que a inclusão pressupõe “uma mudança em nós, em nosso trabalho, nas estratégias que utilizamos, nos objetos na sala de aula, no modo como organizamos o espaço e o tempo na sala de aula” (Macedo, 2005, p. 22). Isto é, “pode-se dizer que a inclusão se constitui como um processo que depende mais de nós do que do outro para se concretizar” (Rodrigues, 2018, p. 17), e que é preciso fazer com que a escola se torne aberta às diferenças e competente para trabalhar com todos os educandos.

De fato, não apenas escolas e universidades devem se engajar com uma cultura inclusiva, mas também outras instituições consolidadas. Como se sabe, instituições de educação são espaços oportunos para se consolidar a cultura inclusiva, mas essa postura não deve ser exclusividade delas (Rodrigues, 2018, p. 30).

No exercício da docência na graduação de Pedagogia da UNIR, fiquei frente a frente com os desafios da inclusão de Surdos na Educação Superior. Um desses desafios foi a orientação e o acompanhamento de uma estudante Surda nas atividades de estágio na Educação Infantil em uma escola comum. Essa atividade de inclusão, às avessas, resultou na publicação, em periódico, de um artigo intitulado “A professora é surda, e agora?” e, em seguida, na orientação do TCC da referida aluna durante a pandemia da Covid-19. 

Por sua vez, a experiência na docência da pós-graduação no Programa de Pós-graduação em Educação Escolar – Mestrado e Doutorado Profissional (PPGEEProf) da UNIR trouxe para minha prática a pesquisa aplicada, com destaque para a pesquisa-ação e para a pesquisa colaborativa. Entre as ações afirmativas asseguradas pelo PPGEEProf, tive a oportunidade de co-orientar um estudante cego e orientar outro com a mesma condição.

Nesse contexto, a pesquisa desenvolvida por Bernardino (2021), sob minha orientação, focou na pertinência do uso do sorobã para os processos de ensino e aprendizagem de estudantes com deficiência visual ou com queixa escolar de discalculia indicando a competência indiscutível de um professor-pesquisador cego  para o universo da pesquisa e do ensino. Desse modo, os pressupostos teóricos apresentados por Sassaki (2007) entrou definitivamente na vida dele e na minha, pois, ao se pautar no lema “nada sobre nós, sem nós”, traz a referência à participação plena das pessoas com deficiência em tudo o que se refere a elas. 

Ainda na orientação de pesquisas relacionadas aos estudantes surdos, destaco também a tese de Moret (2023), que abordou a questão do protagonismo surdo no processo educacional, dando destaque à base teórica para as autoras surdas.

Orientei também, no programa de Mestrado, uma pesquisa-ação sobre tecnologias assistivas para EPAEE, tendo como objetivo desenvolver um processo de “Infobetização” (letramento digital) dos profissionais da educação direcionado ao uso de Tecnologias Assistivas, por meio de um curso de Formação Continuada em Serviço para professores e profissionais da educação que atuam com pessoas com deficiência (Fausto, 2021). A partir dessa pesquisa, criamos um curso de extensão sobre Tecnologias Assistivas, atingindo cerca de 340 profissionais da educação. 

Nesse sentido, também criamos o curso de extensão para cuidadores escolares da rede municipal de Porto Velho, e, a partir dele, sob minha orientação, Roselaine Kokkonen tem realizado a pesquisa colaborativa que visa compreender, problematizar e ressignificar os principais desafios oriundos da falta de qualificação para o exercício da profissão dos cuidadores de EPAEE. A partir da execução de uma pesquisa-ação do tipo colaborativa, o intuito é construir uma proposta de formação para e com o cuidador escolar.

Nas orientações do Mestrado Profissional em Educação Escolar, as pesquisas aplicadas discutem e investigam sempre os processos de ensino e aprendizagem dos estudantes com deficiência ou TEA, bem como a prática docente, com destaque para as pesquisas sobre o Desenho Universal de Aprendizagem na prática educacional desenvolvidas junto ao estudante com TEA na educação infantil, além de outras pesquisas sobre adaptações curriculares. 

Por fim, no que diz respeito à inclusão, defendemos que não se retire nenhum direito da pessoa com deficiência e que se mantenha a educação escolar como parte fundamental e insubstituível desse processo de inclusão. Essas conquistas legais são resultantes da luta incessante de grupos sociais liderados ou não por pessoas com deficiência, ou familiares e outros que, como eu, engajaram-se na luta.

Referências:

BERNARDINO, José Lourione Freitas. A pertinência do uso do sorobã para os processos de ensino e aprendizagem de estudantes com deficiência visual ou com queixa escolar de discalculia. 2021. 99 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Escolar) – Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2021. 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

FAUSTO, Ilma Rodrigues de Souza. A Infobetização dos profissionais da educação para o uso das tecnologias assistivas em sala de aula: uma abordagem formativa. 2021. 267 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Escolar) – Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2021.

MORET, Márcia Cristina Florêncio Fernandes. O Protagonismo dos Estudantes Surdos no Processo Educacional do Instituto Federal de Rondônia: entre realidades e as possibilidades. 2023. 291 f. Tese (Doutorado em Educação Escolar) – Universidade Federal de Rondônia – UNIR.

RODRIGUES, Marlene. Formação docente para inclusão de estudantes público alvo da educação especial em cursos de licenciaturas da Universidade Federal de Rondônia. (Tese de Doutorado). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, 2018.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Nada sobre nós, sem nós: Da integração à inclusão – Parte 1. Revista Nacional de Reabilitação, ano X, n. 58, p. 08-16, set./out. 2007. 

Sobre a autora:

Marlene Rodrigues

É professora no Departamento Acadêmico de Educação e no Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Universidade Federal de Rondônia, atuando também no Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional. Participa dos grupos de pesquisa Educa e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Infantil, Infância e Educação Especial e Inclusiva da Universidade Federal de Rondônia.

Doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista. Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Barão de Mauá.


Redação e Foto: Marlene Rodrigues

Diagramação: Larissa Alves

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