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v. 2, n. 7, jul. 2024
As bibliotecas públicas como lugares de memória e sociabilidade, por Maurício Costa, Bruno Luce e Maria Cleide Bernardino

As bibliotecas públicas como lugares de memória e sociabilidade, por Maurício Costa, Bruno Luce e Maria Cleide Bernardino

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As bibliotecas públicas como lugares de memória e sociabilidade: as experiências do público da Biblioteca Pública Benedito Leite em São Luís, Maranhão

Maurício José Morais Costa | Bruno Fortes Luce | Maria Cleide Rodrigues Bernardino
mauriciojosemorais@gmail.com | brunofluce@gmail.com | cleide.rodrigues@ufca.edu.br

A Biblioteca Pública Benedito Leite, segundo alguns historiadores, é a segunda biblioteca pública mais antiga do Brasil, tendo sido criada em 08 de julho de 1826, ainda no Maranhão provincial, e aberta oficialmente em 03 de maio de 18311. Ao longo de seus 198 anos de história, esteve associada a diferentes fatos importantes desde o século XIX, se faz presente na historiografia da capital ludovicense e da biografia dos indivíduos que vivem na cidade.

Desde sua criação, a Biblioteca Benedito Leite enfrentou incontáveis mudanças de endereço, fato comum se tratando de bibliotecas públicas, as quais são desafiadas com questões orçamentárias, carência e extinção de políticas. Atualmente, ela está instalada no centro de São Luís, em uma região chamada de Complexo Deodoro, local de confluência de escolas, instituições de diferentes naturezas, do comércio local, ou seja, todo e qualquer morador da cidade passa pelo local.

Frente da Biblioteca Pública Benedito Leite. – Foto: Maurício Costa

A BPBL detém um acervo extenso, composto por obras literárias, técnicas e uma coleção rara com mais de 120.000 volumes. No tocante ao acervo raro, este é composto por cerca de 1.000 mil manuscritos do século XVI, XVII, XVIII e XIX, além de aproximadamente 558 títulos de jornais maranhenses publicados entre os anos de 1821 e 2015.

Além disso, a Benedito Leite é uma unidade de informação que oferta produtos e serviços a uma comunidade diversificada, visto se tratar de uma biblioteca pública e mantida pelo Estado, especificamente a Secretaria de Estado da Cultura, deve atender às distintas necessidades de todo e qualquer usuário ou visitante. 

Nesse sentido, a pesquisa buscou discutir as relações que a Biblioteca Pública Benedito Leite tem com a memória, o patrimônio cultural e a sociabilidade em São Luís, a partir do que aduzem os usuários participantes dos serviços educativos da instituição.

Portanto, o elo dos usuários com a BPBL analisado neste estudo foi justamente os serviços educativos, por exemplo, o uso dos espaços, a consulta ao acervo, o apoio que utilizam da equipe de técnicos que trabalham na instituição, as visitas guiadas, dentre outros. Para realizar a pesquisa, a BPBL assumiu o papel de segunda casa, pois para se compreender os usos e sentidos dos usuários no âmbito da instituição e a forma como se apropriam do acervo e demais serviços, se faz necessária uma imersão no cotidiano da biblioteca.

A Biblioteca Benedito Leite oferece serviços de informação e, ao mesmo tempo, é local que favorece diversas vivências e permite que cada pessoa consiga delinear a imagem que tem de si mesmo e como isso é posto na sua relação com a sociedade. Esse é um dos pontos altos da pesquisa, pois as pessoas ressaltaram lembranças a respeito de suas trajetórias individuais, da história local, da identidade e da memória de São Luís.

Dessa forma, o estudo constata que a BPBL permite a construção, reconstrução, definição, redefinição, mistificação e requalificação do passado, evitando que este desapareça. Portanto, a instituição consegue reunir artefatos, obras, vestígios históricos que também são em si um lócus memorial – como, por exemplo, os periódicos raros consultados diariamente pelos usuários, os quais permitem voltar ao Maranhão dos séculos XVIII e XIX – que permite os indivíduos reviverem os movimentos da época, fatos que marcaram o desenvolvimento do Estado, dentre outros eventos mencionados pelas pessoas que colaboraram com a pesquisa.

Maria Cleide Bernardino orienta pesquisas na pós-graduação na Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal do Cariri

São estes os elementos responsáveis por constituir a memória, tais como os acontecimentos vividos individualmente, pelo grupo ou coletividade, por pessoas ou personalidades, bem como aqueles que fazem referência ao lugar, tal como explicitado na fala dos participantes dos serviços educativos. Destaca-se que na Praça do Pantheon, local em que se encontra instalada a Biblioteca Pública Benedito Leite, é recorrente a realização de atos políticos por distintas entidades de classe (sindicatos, conselhos, entre outros), eventos políticos (comícios de governadores, prefeitos, além de candidatos que fazem uso da praça para esses fins).

Registro da greve dos bancários em 1990. – Foto: Acervo raro da Biblioteca Pública Benedito Leite
Registro da greve dos professores em 2022. – Foto: Divulgação/Sindeducação

Ao ser colocada como ponto de encontro desses movimentos, a instituição evidencia sua relevância enquanto território de sociabilidades e a sua perspectiva simbólica, pois entende-se que há uma intencionalidade na escolha de sua entrada principal como lugar de lutas populares, busca por melhores condições de trabalho, dentre outros anseios. 

As bibliotecas públicas revelam essa capacidade de transformação social, acredita-se que os indivíduos as enxergam como caminho para esse empoderamento social. Esses marcadores simbólicos compõem os patrimônios memoriais, cujas unidades significativas materiais e ideais endossam os interesses da população, os quais contribuem para a historiografia ludovicense, portanto, refletem a “vontade de memória” dos indivíduos.

Com isso, afirmamos no estudo que a BPBL, enquanto lugar de memória, se constitui em um necessário caminho para que os indivíduos se identifiquem, se reconheçam, se apropriem da cultura maranhense, despertem para a necessidade de preservarem o que lhes pertence e evitem que a história e a memórias locais desapareçam, sofram abusos e que seus vestígios se extingam.

Bruno Luce conclui o doutorado em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba
Primeira página do artigo: .Las bibliotecas públicas como lugares de memoria y sociabilidad: un estudio de las experiencias de los usuarios de la Biblioteca Pública Benedito Leite de São Luís, Maranhão, Brasil”

Defendemos a importância que as bibliotecas públicas, em especial a Biblioteca Pública Benedito Leite, têm ao se tornarem lugares de encontros, diálogos e convívio, portanto um lugar de memória, ao passo em que esta assume uma dupla responsabilidade, memorial e histórica, atuando como território de comunicação, transmissão cultural, mediação sociocultural e fomentadora de práticas rememorativas. Por fim, acreditamos que a instituição age tanto como território de preservação da memória, de histórias e de cultura, quanto como espaço para que cada sujeito se sinta membro de uma comunidade cujas memórias estão seguras e são coletivamente compartilhadas.

A pesquisa tem sua continuidade no projeto de tese de Maurício José Morais Costa no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, sob orientação da Profa. Dra. Maria Cleide Rodrigues Bernardino. Na oportunidade, convidamos a leitura do artigo publicado na Revista Interamericana de Bibliotecología, da Universidad de Antioquia, Colômbia.

Artigo disponível em:

COSTA, M. J. M.; LUCE, B. F.; BERNARDINO, M. C. R. As bibliotecas públicas como lugares de memória e sociabilidade: as experiências dos usuários da Biblioteca Pública Benedito Leite em São Luís, Maranhão, Brasil. Revista Interamericana de Bibliotecología, v. 46, n. 1, 2023. Disponível em: https://revistas.udea.edu.co/index.php/RIB/article/view/353768 . Acesso em: 08 jul. 2024.

Notas dos autores:

[1] Há relatos que indicam que a Biblioteca Pública de Maranhão foi criada em 1829 e teve a sua aprovação em 3 de maio de 1831 (Galves, 2019) e indicações que ainda em 1825 foi criada a Biblioteca Pública Oficial de São Paulo, em São Paulo (SP), segundo pesquisa de Ellis (1957). 

ELLIS, Myrian. Documentos sobre a primeira biblioteca pública oficial de São Paulo. Revista de História, São Paulo, v. 14, n. 30, p. 387–447, 1957. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/105391 . Acesso em: 9 jul. 2024.

GALVES, Marcelo Cheche. A criação da Biblioteca Pública em 1831: política e cultura escrita na província do Maranhão. Revista de História, São Paulo, n. 178, p. 1–30, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/142515 . Acesso em: 9 jul. 2024.

Sobre os autores:

Maurício José Morais Costa

Docente, Gestor das Unidades de Informação e Sistema de Bibliotecas do Centro Universitário UNDB. Editor da Revista de Estudos Multidisciplinares. Coordenador do Núcleo de Mídias Científicas da UNDB. Avaliador de Cursos Superiores do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Líder do Grupo de Estudo e Pesquisas Interdisciplinares em Cultura, Informação, Política e Sociedade do Centro Universitário UNDB.

Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Cultura e Sociedade e Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Maranhão. 

Bruno Fortes Luce

Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Informática na Educação pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul. Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário Metodista. Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Maria Cleide Rodrigues Bernardino

Professora do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri e do Mestrado Profissional em Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri; Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba. Líder do Grupo de Pesquisa: Biblioteca, Informação e Sociedade da Universidade Federal do Cariri e Pesquisadora do Laboratório de Tecnologias Informacionais e Inclusão Sóciodigital da Universidade Federal da Bahia.

Pós-doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Bahia. Doutora em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília. Mestra em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba. Bacharela em Biblioteconomia, pela Universidade Federal do Ceará.


Redação: Maurício José Morais Costa, Bruno Fortes Luce e Maria Cleide Rodrigues Bernardino

Fotos: Maurício José Morais Costa, Bruno Fortes Luce,  Maria Cleide Rodrigues Bernardino, Acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite de São Luís e Sindeducação – Sindicato dos Profissionais do Magistério da Rede Municipal de São Luís.

Revisão: Alex Sandro Lourenço da Silva

Diagramação: Jônatas Silva dos Santos

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