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v. 2, n. 12, dez. 2024
Mediação da Informação e da Leitura: uma análise do livro: O Diário de Anne Frank, por Alessandra Oliveira, Jetur Castro e Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

Mediação da Informação e da Leitura: uma análise do livro: O Diário de Anne Frank, por Alessandra Oliveira, Jetur Castro e Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

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Mediação da Informação e da Leitura: uma análise do livro: O Diário de Anne Frank

Alessandra Nunes de Oliveira | Jetur Castro | Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

alessandra.nunes@unesp.br | jetur.castro@unesp.br | ofaj@ofaj.com.br

O Diário de Anne Frank destaca-se não apenas como um registro histórico, mas também como uma obra significativa para a mediação da leitura e a sensibilização sobre os direitos humanos. O interesse por relatos históricos, especialmente os diários de guerra, relaciona-se ao seu valor documental e à capacidade de capturar a vivência cotidiana em meio à perseguição e ao confinamento, como no caso de Anne Frank e sua família. Desde o início deste estudo, que explora a mediação literária e da informação, nota-se um interesse pelo poder transformador da literatura, especialmente em contextos educativos. Especificamente, o diário tornou-se uma obra de importância atemporal, fomentando discussões profundas sobre direitos fundamentais, discriminação e opressão. Isso nos motivou a investigar como os profissionais da informação, especialmente os bibliotecários, podem utilizar essa narrativa em suas práticas de mediação, promovendo uma reflexão crítica em defesa dos direitos sociais.

No entanto, a relevância do diário vai além de um simples relato pessoal de Anne. A obra tornou-se um símbolo de luta pelos direitos humanos, especialmente em relação aos direitos das crianças, adolescentes e outras minorias. Otto Frank, pai de Anne, reconheceu esse potencial e decidiu publicar o diário não apenas como uma memória de sua filha, mas também como uma contribuição para a conscientização sobre os direitos das pessoas mais vulneráveis. A leitura do diário, portanto, incita reflexões sobre a exclusão de minorias e a importância de proteger esses direitos.

Manuscritos originais de Anne Frank. Imagem: Anne Frank House

O processo de pesquisa sobre o Diário de Anne Frank incluiu uma leitura minuciosa e aprofundada, além de uma análise das questões geopolíticas da época. Foi necessário situar-se no contexto da Europa em guerra para compreender plenamente a marginalização dos judeus, tratados como “cidadãos de segunda classe”. Cada trecho do diário proporcionou a oportunidade de explorar as implicações sociais e culturais do período histórico. Ou seja, a pesquisa foi composta por etapas variadas, desde a revisão de literatura até a análise discursiva do diário, estabelecendo-o como uma prática de mediação viável para bibliotecas e escolas.

Em outros momentos, foi possível encontrar uma maneira de conectar o Diário de Anne Frank às realidades contemporâneas, com foco no combate à discriminação e na promoção da empatia. Durante esse processo, ficou evidente que o diário não é apenas um documento histórico; é uma ferramenta mediadora que os bibliotecários podem utilizar para sensibilizar a comunidade sobre questões sociais e direitos humanos. Por meio da mediação, essa obra tem o potencial de abrir discussões sobre preconceitos, diversidade e inclusão, temas que permanecem relevantes nos dias de hoje.

Uma das principais descobertas foi a forma como as experiências narradas no diário podem ser aplicadas a diferentes contextos de leitura crítica. A capacidade do texto de tocar os leitores em um nível profundo é notável; ao relatar as angústias de uma jovem vivendo sob o regime nazista, Anne Frank humaniza as vítimas da opressão, facilitando a identificação dos leitores com suas emoções. Essa identificação revelou-se importante ao tratar de direitos humanos, pois desperta empatia e uma consciência crítica sobre as injustiças que ainda persistem na sociedade.

Seleções de edições do diário publicadas em diferentes línguas. Imagem: Anne Frank House

Além disso, o Diário de Anne Frank revela-se uma ferramenta valiosa para a mediação de leitura e conscientização, especialmente em relação aos direitos humanos de crianças e adolescentes. Isso é particularmente relevante nos dias de hoje, em que guerras e conflitos continuam a afetar a infância de muitas crianças, como ocorre atualmente no Oriente Médio. No entanto, o diário também levanta discussões mais amplas sobre os direitos de todas as pessoas marginalizadas por suas escolhas, identidades culturais ou condições sociais. A obra de Anne Frank nos mostra como o poder pode ser utilizado para oprimir, segregar e marginalizar indivíduos, assim como os judeus foram oprimidos pelo regime nazista.

Para os bibliotecários, o Diário de Anne Frank é um recurso essencial para propor diálogos reflexivos sobre essas questões. Ele permite trabalhar conceitos como liberdade suprimida e direitos humanos, proporcionando uma leitura didática e acessível, especialmente para jovens. Além de ser uma narrativa juvenil sobre o nazismo e a Segunda Guerra Mundial, a obra oferece uma perspectiva mais ampla sobre o impacto das violações de direitos humanos e as lições que podemos aprender com isso.

Entretanto, enfrentamos o desafio de mobilizar essa obra de forma que transcenda um mero relato histórico, aprofundando-se em suas implicações sociais e humanas. A mediação de leitura deve ir além da simples recomendação de um livro. O bibliotecário, como mediador, precisa criar espaços de diálogo onde os leitores possam refletir sobre as questões levantadas por Anne Frank, conectando essas discussões aos problemas atuais, como racismo, xenofobia e outras formas de opressão. Nesse sentido, a atuação do bibliotecário expande-se para um papel educativo, funcionando como facilitador de discussões que podem transformar a percepção dos leitores sobre o mundo ao seu redor.

Primeira página do artigo: “Mediação da Informação e da Leitura: uma análise do livro ‘O Diário de Anne Frank’”

A partir das leituras críticas realizadas, identificamos que o Diário de Anne Frank apresenta diversos temas que podem ser explorados em projetos educativos e de inclusão social. Um dos temas mais poderosos é a ideia de resistência. Mesmo isolada e vivendo sob condições de extrema opressão, Anne Frank mantinha viva a esperança de liberdade e justiça. Esse espírito de resistência pode ser utilizado pelos bibliotecários em suas ações de mediação, incentivando jovens e adultos a refletirem sobre sua própria capacidade de resistir às injustiças e se tornarem agentes de mudança social.

Além disso, a experiência de Anne Frank pode servir como ponto de partida para discussões sobre a importância da memória histórica. A mediação pode promover atividades que incentivem os leitores não apenas a conhecer a história, mas também a refletir sobre como eventos passados, como o Holocausto, ainda ressoam na forma de preconceitos e políticas de exclusão em nossas sociedades. Outro aspecto identificado no estudo foi a necessidade de adaptar as ações de mediação para diferentes públicos.

O Diário de Anne Frank pode ser utilizado em projetos com jovens, adultos e até mesmo crianças, desde que a mediação seja ajustada ao nível de compreensão e às experiências vividas por cada grupo. Para o público jovem, por exemplo, a leitura do diário pode ser associada a debates sobre bullying, intolerância e violência nas escolas. Para adultos, pode ser um espaço de reflexão sobre políticas públicas de inclusão e direitos civis. A versatilidade da obra permite que o bibliotecário crie diferentes estratégias de mediação, sempre com foco em promover uma leitura crítica e transformadora.

Por isso, o Diário de Anne Frank demonstra ser um recurso valioso para bibliotecas e seus profissionais, não apenas como um documento histórico. O papel dos bibliotecários vai muito além da organização e disponibilização de informações; eles se tornam mediadores da consciência, capazes de utilizar a literatura para fomentar o debate sobre temas importantes para o desenvolvimento de uma cidadania consciente. O diário nos convida a uma leitura do mundo, apresentando uma narrativa que abre espaço para múltiplas interpretações e reflexões. Otto Frank, ao publicá-lo, ressaltou que não se trata apenas de uma obra para ser lida, mas para ser debatida. É esse caráter de abertura e diálogo que a torna tão relevante na mediação de leitura e na luta pelos direitos humanos.

Sobre os autores:

Alessandra Nunes de Oliveira

Atuou como professora substituta da Faculdade de Biblioteconomia da Universidade Federal do Pará. Participa dos Grupos de Pesquisa “Organização e Representação do Conhecimento” da Universidade Estadual Paulista (GEORC-UNESP) e “Propaganda e Publicidade”  da Universidade Federal do Pará (GRUPPU-UFPA).

Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Mestra em Ciências da Comunicação pela Universidade Federal do Pará. Bacharela em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará.

Jetur Castro

Atuou como Professor no Instituto de Educação Estadual do Pará (IEEP), Educação Profissional e Tecnológica, Curso Técnico em Biblioteconomia. Participa dos Grupos de Pesquisa: “Informação: Mediação, Cultura, Leitura e Sociedade” da Universidade Estadual Paulista, “Comunicação Política e Amazônia” da Universidade Federal do Pará (Compoa/UFPA) e “Estudos e Práticas de Preservação Digital’ do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.

Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Federal do Pará. Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará.

Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

Professor da Universidade Estadual de Londrina, Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/Marília) e Professor Colaborador do Mestrado Profissional da Universidade Federal do Cariri.

Doutor e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e bacharel em Biblioteconomia e Documentação pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.


Redação: Alessandra Nunes de Oliveira, Jetur Castro e Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

Diagramação: Naiara Raíssa da Silva Passos

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