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v. 2, n. 11, nov. 2024
Entrevista com Jean Sena sobre sua pesquisa que apresentou boas práticas de educação em direitos humanos na docência do quilombo de Pedras Negras em Rondônia

Entrevista com Jean Sena sobre sua pesquisa que apresentou boas práticas de educação em direitos humanos na docência do quilombo de Pedras Negras em Rondônia

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Entrevista com Jean Sena sobre sua pesquisa que apresentou boas práticas de educação em direitos humanos na docência do quilombo de Pedras Negras em Rondônia

Jean Carlos Sena de Oliveira

senna.jean13@seduc.ro.gov.br

Sobre o entrevistado

Em 2023, Jean Carlos Sena de Oliveira concluiu seu mestrado profissional em Direitos Humanos e Desenvolvimento da Justiça pela Universidade Federal de Rondônia, sob orientação da Profa. Dra. Aparecida Luzia Alzira Zuin.

Jean é natural de Rondônia, e tem como hobbies ir à academia e dançar. Atualmente, é professor municipal efetivo da Rede Municipal de Educação na cidade de Costa Marques, Rondônia. 

Sua dissertação, intitulada “Boas Práticas de Educação em Direitos Humanos na Docência do Quilombo de Pedras Negras em Rondônia”, examinou a promoção da Educação em Direitos Humanos na escola do Quilombo de Pedras Negras, em Rondônia, através de práticas pedagógicas da professora local. Sua pesquisa, com observações de sala de aula e entrevistas, mostrou que a docente aplica os direitos humanos em sua prática diária, estimulando o pensamento crítico e a participação dos alunos e, embora não siga uma metodologia específica, suas atitudes demonstram um ensino integrado que impacta a visão dos alunos sobre sua realidade. Na dissertação são apresentadas boas práticas e conceitos de direitos humanos, fortalecendo o ensino na comunidade quilombola.

Jean nos conta, nesta entrevista, como desenvolveu sua pesquisa e a  experiência no programa de mestrado.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?

Jean Sena (JS): Por ser quilombola e morar literalmente às margens da zona urbana, minha comunidade cotidianamente enfrenta alguns conflitos que em algumas vezes violam seus direitos, em uma de suas visitas à comunidade o historiador Dr. Marco Teixeira em uma roda de conversa me incentivou, dizendo que a comunidade precisava de um mestre em direitos humanos a fim de entender melhor onde esses direitos são violados. Dito isto, fiquei interessado em fazer a fim de aprimorar meus conhecimentos e poder contribuir ainda mais com a minha comunidade. A grande inspiração do tema do meu trabalho, foi uma professora que não era do quilombo, mas desde quando chegou a comunidade fez a diferença, cumprindo mais do que seu papel de professora, mas com práticas simples se tornou uma verdadeira promotora dos direitos humanos. 

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

JS: Os principais beneficiados serão os professores de todas as comunidades quilombolas da região do Vale do Guaporé vale do Guaporé, uma vez que o trabalho visou na elaboração de uma cartilha para orientar professores em boas práticas e conceitos de direitos humanos, fortalecendo o ensino na comunidade quilombola.

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

JS: As principais contribuições desta dissertação para a ciência e a tecnologia estão no desenvolvimento de práticas pedagógicas que integram os Direitos Humanos e a interdisciplinaridade, propondo novas abordagens educacionais em comunidades quilombolas. Já para a sociedade, eu diria que a valorização da cultura local e o fortalecimento do pensamento crítico dos alunos, capacitando-os para se tornarem agentes de mudança em suas comunidades. Além disso, a proposta de um manual didático com boas práticas serve como um recurso acessível para professores interessados em promover a educação em direitos humanos em contextos similares. 

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

JS: Meu trabalho está inserido na linha de pesquisa “Direitos Humanos e Fundamentos da Justiça”. Essa linha busca entender e propor soluções para a efetivação dos direitos humanos em contextos de justiça, especialmente em relação às comunidades tradicionais e vulneráveis. O foco da minha pesquisa é em aplicar metodologias interdisciplinares na docência do Quilombo de Pedras Negras, com o objetivo de promover uma educação que valorize os direitos humanos, reflete diretamente o compromisso com a justiça social e a compreensão das necessidades de grupos específicos, como as comunidades quilombolas. 

DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

JS: Sim, eu citaria os diversos trabalhos publicados pelo Dr. Marco Teixeira voltados para as comunidades tradicionais, que me inspiraram nos estudos, a postura desse professor diante dos vários conflitos indígenas e quilombolas no vale do Guaporé, me servem hoje de inspiração para galgar voos mais altos. E claro, não poderia deixar de citar o objeto de estudo da minha pesquisa, a Professora Erineide Rodrigues, suas ações diárias na comunidade como professora são um marco na educação quilombola e na educação em Direitos Humanos. 

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

JS: Para realizar a pesquisa, seguimos alguns passos para entender melhor como a educação e os direitos humanos são aplicados na escola do Quilombo de Pedras Negras. Primeiro, escolhemos uma abordagem chamada “etnográfica,” que nos permitiu observar de perto a realidade dos professores e alunos na comunidade, buscando registrar como os direitos humanos aparecem nas atividades escolares do dia a dia. Reunimos dados por meio de anotações detalhadas e observações em sala de aula, além de entrevistas com uma professora com quem eu trabalhava no quilombo. Também usamos livros e documentos importantes sobre educação e direitos humanos para entender melhor o que vimos. Depois, analisamos as informações, buscando padrões e exemplos práticos. Por fim, sugerimos algumas “boas práticas” que podem ajudar os professores a incluir direitos humanos de forma natural nas aulas e preparamos um modelo de guia para apoiar a educação sobre esses temas na comunidade.

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

JS: As principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação incluíram a falta de internet no quilombo, onde eu morava, o que limitava o acesso a materiais de pesquisa e comunicação com orientadores e colegas. Além disso, o ensino remoto, imposto pela pandemia, exigiu uma adaptação complicada, já que era desafiador manter as aulas e atender às demandas do mestrado sem uma infraestrutura digital adequada. Conciliar o trabalho como professor com os estudos de mestrado foi particularmente difícil, pois a rotina intensa, junto com as limitações de viver em uma comunidade de difícil acesso, muitas vezes tornava o progresso na pesquisa mais lento. 

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação? 

JS: Em termos percentuais, eu diria que minha dissertação teve cerca de 20% de inspiração e 80% de transpiração. A inspiração foi crucial para dar início ao projeto, escolher o tema e manter uma visão clara sobre a importância do trabalho. Mas o verdadeiro desafio foi a execução: a pesquisa, a coleta de dados no quilombo, a adaptação às condições limitadas e o equilíbrio com as demandas de professor e mestrando. Esse esforço constante foi a maior parte do processo, exigindo dedicação e persistência para superar as dificuldades e concluir o trabalho.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

JS:  Durante minha jornada até a defesa da dissertação, enfrentei muitos desafios que testaram minha resiliência e determinação. Uma das minhas principais dificuldades foi a falta de acesso à internet, já que morava em um quilombo, o que dificultava a pesquisa e a comunicação. Além disso, o ensino remoto durante a pandemia trouxe desafios adicionais, pois conciliar meu trabalho como professor e as demandas do mestrado em uma comunidade de difícil acesso era complicado. Ao fazer a prova do mestrado na EMERON, a sensação de não pertencer àquele ambiente me marcou profundamente. Eu era uma das poucas pessoas negras na sala, rodeado por colegas bem vestidos, de terno e gravata. Com uma calça jeans e uma camisa polo simples, senti que não estava à altura, que aquele não era meu lugar. Esse sentimento de inferioridade em relação à sociedade me acompanhou, mas também se tornou uma motivação para eu continuar e provar meu valor e da minha comunidade. Acredito que essas experiências moldaram não apenas minha dissertação, mas também minha identidade e determinação como educador e pesquisador. 

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

JS: Durante minha jornada no mestrado, o apoio da minha família foi fundamental, mesmo que eles não compreendessem completamente o que isso significava. Eles sempre reconheceram a importância desse desafio para mim e, por isso, se tornaram um pilar de apoio e encorajamento. Nos momentos mais difíceis, quando as pressões da pesquisa e da docência pareciam esmagadoras, minha família foi uma fonte de tranquilidade e confiança. O amor e a compreensão que recebi deles me ajudaram a enfrentar os desafios, reforçando a ideia de que, independentemente das dificuldades, sempre poderia contar com eles. 

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

JS: Diria pra eles que primeiramente, é fundamental escolher um tema que tenha significado pessoal e social. A pesquisa deve ressoar com suas experiências e aspirações, assim como foi o meu caso no contexto do Quilombo de Pedras Negras do Guaporé. Valorizar o contexto local é essencial; o impacto de sua pesquisa nas comunidades pode enriquecer suas análises e resultados. Além disso, busquem apoio de familiares, colegas e orientadores. Um sistema de apoio sólido oferece motivação e alívio em momentos realmente desafiadores. Gerenciar o tempo de forma eficiente é crucial para equilibrar trabalho, estudo e vida pessoal, permitindo que você lide com as demandas de maneira organizada. Também é importante abraçar a interdisciplinaridade, colaborando e trocando ideias com outras disciplinas para trazer novos olhares à sua pesquisa. Outro fator muito importante, seria documentar sua jornada, mantendo um diário de bordo ou registros sobre suas experiências, pode ajudar a refletir sobre seu progresso e ajustar sua metodologia. Esteja preparado para desafios, para recomeçar tudo do zero se for preciso. A jornada será repleta de desafios, mas cada obstáculo pode se transformar em uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Reconhecer e celebrar suas conquistas, mesmo as pequenas, ajudará a manter a motivação e uma perspectiva positiva.

Por fim, e não menos importante, pense em como sua pesquisa pode beneficiar a sociedade e, especialmente, as comunidades que você estuda. O impacto social deve ser uma parte central do seu trabalho. A resiliência é fundamental; mantenha-se firme em seus objetivos e lembre-se de que cada passo, por menor que seja, faz parte de uma jornada maior. Espero que essas dicas possam inspirar e guiar futuros mestrandos em suas trajetórias acadêmicas, e lembrem-se, desistir nunca é uma opção. 

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

JS: Durante o meu mestrado, minha produção científica foi bastante significativa e enriquecedora. Participei de diversos projetos, eventos e grupos de pesquisa, o que ampliou minha visão acadêmica e prática. Já publiquei alguns artigos que considero importantes, sendo que a participação no IV Encuentro Internacional de Investigadores y Estudiantes de Reoalcei, em 2020, foi especialmente marcante para mim. Esse evento internacional, que visa conectar investigadores, docentes e estudantes da América Latina, Caribe e Região Ibérica, proporcionou uma oportunidade única de compartilhar minhas experiências e metodologias interdisciplinares aplicadas ao Quilombo de Pedras Negras, em Rondônia. Contudo, enfrentei desafios significativos, como a dificuldade de acesso à internet na minha comunidade, onde o sinal era frequentemente interrompido. Em algumas ocasiões, isso me impediu de participar de eventos importantes. Apesar desses obstáculos, a troca de conhecimentos e a interação com outros pesquisadores ampliaram minhas perspectivas e contribuíram para a validade e relevância do meu trabalho na comunidade acadêmica. Essa experiência não apenas validou minha pesquisa, mas também reforçou a importância da colaboração e do diálogo entre diferentes culturas e contextos na produção do conhecimento.

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

JS: Desde a conclusão da minha dissertação, tenho trabalhado intensamente em várias frentes. Participo de eventos de pesquisa, encontros e congressos que abordam temáticas quilombolas, buscando sempre contribuir para o fortalecimento das identidades culturais e direitos humanos das comunidades que represento. Além disso, estou me dedicando aos estudos para concursos, visando ampliar minhas oportunidades profissionais. Minha pesquisa sobre cultura e identidades na Amazônia também se intensificou. Estou comprometido em entender mais profundamente as realidades e desafios enfrentados por essas comunidades, e em como a educação e a pesquisa podem ser ferramentas para promover mudanças significativas. Essa combinação de trabalho e estudo tem sido essencial para meu desenvolvimento profissional e para a continuidade da minha contribuição à sociedade. Recentemente, ingressei na carreira política como presidente municipal do partido AGIR, a fim de oportunizar pessoas para fazerem parte de processos democráticos, especialmente os quilombolas e indígenas.

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

JS: Sim, pretendo fazer doutorado e pretendo continuar na mesma vertente de pesquisa do meu mestrado. No entanto, estou buscando uma oportunidade que me permita conhecer outras realidades, especialmente as do continente africano. Acredito que essa experiência será fundamental para enriquecer minha pesquisa e ampliar minha compreensão sobre as questões de direitos humanos e identidades culturais, além de me conectar com as minhas raízes.  Além disso, estou me dedicando à produção de publicações que possam servir como base para o meu doutorado no futuro. Quero contribuir com novos conhecimentos e perspectivas que possam impactar positivamente a academia e a sociedade, especialmente em relação às comunidades quilombolas e afrodescendentes. 

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

JS: Se eu tivesse a chance de recomeçar a minha trajetória acadêmica com o conhecimento que adquiri até agora, uma das principais coisas que faria diferente seria registrar muito mais. Tudo o que aprendi e conheci ao longo do caminho é valioso. Como diria minha orientadora, Cidinha, “tudo é material, tudo são dados”. Essa perspectiva me fez perceber que cada experiência, cada reflexão e cada aprendizado podem servir como base para pesquisas futuras e enriquecer minha trajetória acadêmica. Portanto, dedicaria mais tempo para documentar essas vivências, pois sei agora que elas podem ser fundamentais para o desenvolvimento de novas pesquisas e para a construção do conhecimento. Ao longo do meu percurso acadêmico, os erros se tornaram valiosas oportunidades de aprendizado. Uma das lições mais importantes que retirei deles foi a importância da resiliência. Cada desafio enfrentado me ensinou a não desistir diante das dificuldades. Aprendi que errar faz parte do processo de crescimento e que, muitas vezes, as falhas nos oferecem insights que os sucessos não conseguem proporcionar. Além disso, os erros me mostraram a necessidade de planejamento e organização. Em várias ocasiões, percebi que a falta de um planejamento adequado poderia ter sido evitada, economizando tempo e energia. Aprendi a importância de estabelecer metas claras e realistas, o que me ajudou a manter o foco e a direção em minha jornada. Por último, aprendi que buscar ajuda e orientação é fundamental. Não hesitei em procurar conselhos e apoio de colegas e professores quando encontrei dificuldades. Isso não só enriqueceu minha perspectiva, mas também me lembrou que o aprendizado é uma jornada coletiva, e que compartilhar experiências pode levar a soluções mais criativas e eficazes.

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

JS: Durante meu tempo no Programa de Pós-Graduação, recebi uma formação rica e diversificada que ampliou significativamente meus horizontes acadêmicos e profissionais. O programa me proporcionou acesso a um corpo docente qualificado e a um ambiente de pesquisa estimulante, onde pude aprofundar meus conhecimentos sobre direitos humanos, cultura e identidade, especialmente no contexto das comunidades quilombolas. A estrutura do programa, com suas disciplinas e atividades de pesquisa, foi fundamental para desenvolver minhas habilidades críticas e analíticas, permitindo-me abordar questões complexas de maneira interdisciplinar.

Em contrapartida, procurei contribuir ativamente para o Programa, compartilhando minha perspectiva e experiências como membro da comunidade quilombola de Pedras Negras. Minha participação em eventos acadêmicos e na elaboração de artigos permitiu trazer à tona temas relevantes que frequentemente são marginalizados nas discussões acadêmicas. Além disso, ao compartilhar minha pesquisa e metodologias interdisciplinares, espero ter contribuído para enriquecer o conhecimento coletivo do grupo e incentivar debates sobre a importância da inclusão das vozes de comunidades tradicionais na academia. Acredito que essa troca foi mutuamente benéfica, pois, enquanto o Programa me forneceu as ferramentas necessárias para meu desenvolvimento, também pude contribuir para a construção de um espaço de aprendizado mais inclusivo e representativo.

DC: Você por você:

JS: Eu sou Jean, um homem de 29 anos que cresceu imerso nas tradições e desafios das comunidades quilombolas do vale do Guaporé, em Rondônia. Minha história é marcada por uma busca incessante por conhecimento e justiça, sempre guiado pela consciência da minha identidade e das lutas de minha comunidade. Desde cedo, aprendi que ser negro em um país como o Brasil traz à tona não apenas a beleza da minha cultura, mas também a necessidade de lutar contra preconceitos e desigualdades. A jornada acadêmica foi um caminho repleto de obstáculos. Quando ingressei no mestrado na EMERON, me senti como um peixe fora d’água. Em uma sala cheia de pessoas brancas, bem vestidas, eu estava lá, tentando me encaixar, ou encaixar o meu universo no mundo deles. A pesquisa sobre direitos humanos e a educação nas comunidades quilombolas se tornou meu refúgio. Através dela, consegui dar voz a uma realidade que muitas vezes é ignorada. Minha experiência como professor me ensinou a importância de educar com empatia e a necessidade de integrar a teoria à prática. Contudo, os desafios eram grandes. Morar em um quilombo de difícil acesso e enfrentar a falta de internet durante a pandemia tornou a pesquisa um ato de resistência. Muitas vezes, o sinal falhava, e a conexão que deveria ser um portal para o mundo se tornava um obstáculo. Em eventos importantes, eu não conseguia participar por causa dessas limitações. Isso me fez sentir que, mesmo quando o conhecimento está disponível, o acesso nem sempre é garantido. Minhas críticas se estendem ao sistema educacional, que muitas vezes desconsidera as particularidades das comunidades tradicionais. A educação precisa ser mais inclusiva e respeitar a diversidade cultural, em vez de impor um modelo único. Isso deve ser um compromisso coletivo, que exige empenho de educadores, pesquisadores e formuladores de políticas. Desabafar sobre essas experiências é fundamental para mim. A luta pela inclusão e pelos direitos humanos é um caminho que trilho com orgulho, mesmo diante das dificuldades. Acredito que a pesquisa é uma ferramenta poderosa para transformar realidades. Ao final, não se trata apenas de obter um título ou reconhecimento; é sobre impactar vidas e contribuir para um futuro mais justo. Estou em busca de novas experiências, de expandir meus horizontes e, quem sabe, levar a pesquisa a outros lugares, como o continente africano, para entender as conexões entre nossas histórias e lutas. Em cada passo, em cada artigo publicado, em cada apresentação em congressos, busco não apenas meu crescimento pessoal, mas também abrir espaço para que as vozes das comunidades quilombolas sejam ouvidas e respeitadas. Essa é a minha jornada e minha missão, e estou apenas começando.


Entrevistado: Jean Sena

Entrevista concedida em: 01 de novembro de 2024 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Larissa Alves

Fotografia: Jean Sena

Diagramação: Larissa Alves

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