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v. 2, n. 11, nov. 2024
Entrevista com Gabriela Costa sobre sua pesquisa que investigou a presença de autores negros no mercado editorial brasileiro

Entrevista com Gabriela Costa sobre sua pesquisa que investigou a presença de autores negros no mercado editorial brasileiro

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Entrevista com Gabriela Costa sobre sua pesquisa que investigou a presença de autores negros no mercado editorial brasileiro

Gabriela da Costa Silva

gabrielacostasilva19@gmail.com

Sobre a entrevistada

Em 2023, a recém mestre e socióloga Gabriela da Costa Silva defendeu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília, sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Dimitrov.

Natural de São Paulo, Gabriela tem como hobbies ler, praticar corrida, visitar exposições, ir ao cinema e encontrar novos lugares para comer. Graduada em Sociologia pela UnB, Gabriela atua como assessora de comunicação na Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo do Ministério da Igualdade Racial.

Sua dissertação, intitulada “Autor negro, catálogo branco: a presença de autores negros no mercado editorial brasileiro” investiga a presença de autores negros no catálogo de 15 editoras brancas e tradicionais, localizadas no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, entre os anos de 2011 e 2021. A partir de um levantamento quantitativo e da realização de entrevistas com cinco editores, a pesquisadora abordou as transformações vivenciadas pelo mercado literário na questão racial. Trazendo em discussão as nuances e os impactos da raça na institucionalização das práticas da branquitude brasileira no mercado literário.

Nesta entrevista, Gabriela nos conta um pouco sobre sua experiência no mestrado e como se deu o desenvolvimento de sua pesquisa.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?

Gabriela Costa (GC): Quando estava na graduação me deparei com um texto inspirador de bell hooks, o artigo “Intelectuais Negras” e compreendi que a carreira como pesquisadora seria um caminho importante a ser trilhado e algo que tinha relação com meus sonhos profissionais. Nesse sentido, o mestrado pareceu então o primeiro passo a seguir. Quanto ao tema, ao longo dos últimos 5 anos estava trabalhando com divulgação científica de literatura negra através da @leia_preta no Instagram, o anseio por estudar literatura com enfoque em mercado editorial surgiu a partir disso. 

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

GC:  Todos interessados no universo literário que desejam construir um ambiente mais diverso de publicações, sejam profissionais envolvidos na cadeia do livro, pesquisadores, leitores e/ou ativistas. 

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

GC: Eu diria que os dados produzidos denunciam a desigualdade de oportunidade e representatividade negra no mercado editorial brasileiro. Eles apontam para a urgência de mudanças significativas na publicação no país. As entrevistas se somam aos dados para mostrar um pouco dos bastidores do mercado editorial, demonstrando o impacto que as relações pessoais têm no acesso e oportunidade de publicação. 

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós-Graduação? Por quê?

GC: Na linha de Cultura, como a literatura está no guarda-chuva da sociologia da cultura, me vinculei a essa linha e aos debates proporcionados por intelectuais que investigam o tema. 

DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

GC: Alguns trabalhos foram fundamentais e inspiradores para essa pesquisa, o primeiro deles é a pesquisa da profª. Regina Dalcastagnè intitulada “Entre silêncios e estereótipos: relações raciais na literatura brasileira contemporâneo”. Além da pesquisa desenvolvida pelos professores Luiz Henrique de Oliveira e da Fabiane Cristine “Trajetórias editoriais da literatura de autoria negra brasileira: poesia, conto, romance e não ficção”. Ambos levantam dados sobre a publicação de autoria negra no país e contribuíram muito na bibliografia da pesquisa. 

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

GC: A metodologia foi construída ao longo da disciplina de métodos do mestrado e fortalecida com os comentários durante a qualificação. Como trabalhei com dados quanti e quali organizei o desenho da pesquisa pensando cada etapa. Desde o levantamento bibliográfico, passando pela análise dos catálogos das editoras, através dos sites oficiais das empresas, e também na construção dos roteiros das entrevistas. A metodologia de pesquisa dialoga muito com o referencial teórico e foi constantemente debatida coletivamente com o grupo de pesquisa que fiz parte. 

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

GC: Como fiz o mestrado durante a pandemia, sinto que isso impactou significativamente na minha experiência. O período de isolamento, as cobranças por produtividade em meio a uma crise mundial tornam tudo mais difícil. Tive todas as disciplinas online, isso afetou significativamente no desenvolvimento das disciplinas. A pandemia impactou diretamente os prazos, as condições socioeconômicas e psicológicas de todos os alunos do programa. 

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação? 

GC: Eu diria que metade para cada, a inspiração é parte fundamental para manter o ritmo e engajamento na pesquisa. Sem transpiração a pesquisa também não caminha, então precisei equilibrar muito bem esses dois aspectos. 

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

GC: Eu diria que o pior momento foi a qualificação, é uma etapa importante, mas a experiência minou boa parte da minha inspiração com a pesquisa. Foi nessa etapa que o trabalho duro e a dedicação precisaram prevalecer em equilíbrio com minha saúde mental. Além disso, eu diria que os desafios da saúde mental foram muito grandes, trabalhei lado a lado com minha terapeuta para conseguir me manter sã e aproveitar todo processo. 

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

GC: Minha família é meu maior núcleo de apoio, eles foram fundamentais nesse processo desde a seleção do mestrado me incentivando, assistindo a qualificação, a banca e vivendo comigo todas as etapas. Dedico a eles essa conquista!

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

GC: Eu recomendaria de forma geral que se inspirassem, construíssem pontes e me coloco a disposição para dialogar com todos. Acredito que a pesquisa tem muitos aspectos para serem explorados coletivamente por vários pesquisadores. 

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

GC: Eu fui muito produtiva durante o primeiro ano do mestrado, apresentei trabalhos, publiquei artigos, participei de grupo de pesquisa entre outras atividades. Desde que defendi, optei por descansar um pouco e deixar a pesquisa “respirar”. Daqui para frente espero disseminar a pesquisa com outras produções. 

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

GC: Assumi um cargo no Ministério da Igualdade Racial e tenho me dedicado a construir e apoiar as políticas públicas desenvolvidas no MIR.

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

GC: Sim, pretendo seguir na sociologia e ampliar ainda mais a pesquisa de mestrado. 

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

GC: Eu teria me cobrado menos, acredito que o mestrado tem um peso e uma cobrança maior em curto tempo. Teria sido mais gentil comigo. 

DC: O que o Programa de Pós-Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

GC: Foi uma parceria de ambas as partes, fui muito ativa e dedicada em inúmeras atividades do Programa construindo no dia a dia. Também fui bolsista e recebi auxílios quando foi necessário, o Programa se mostrou aberto a dar prorrogação para os alunos que foram afetados pela pandemia. Isso foi importante. 

DC: Você por você: 

GC: Quando defendi a dissertação passou um filme pela minha cabeça. Sai de casa aos 18 anos, do interior de São Paulo, fui para Brasília sozinha realizar o sonho de fazer uma graduação em ciências sociais. Sou a primeira pessoa da minha família a fazer Universidade pública, a fazer uma graduação sanduíche e um mestrado. Sinto que nada disso seria possível sem o total apoio deles. Toda a saudade motivou minhas conquistas e novos sonhos que surgiram. Hoje, enquanto mulher negra e mestra em sociologia, sinto que pude contribuir com minha área de pesquisa e com produções mais diversas nas ciências sociais. Tem sido desafiador e estimulante dar continuidade a esse trabalho e honrar minha família sempre com sorriso no rosto. 


Entrevistada: Gabriela da Costa Silva

Entrevista concedida em: 28 de junho de 2024 aos Editores

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

Fotografia: Gabriela da Costa Silva

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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