Desinformação e Fake News: Impactos nas Eleições e na Democracia Brasileira
Desinformação e Fake News: Impactos nas Eleições e na Democracia Brasileira
Estudo destaca o impacto da pós-verdade na redes sociais de adolescentes
Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) investigou o impacto da pós-verdade e da desinformação nas redes sociais digitais, especificamente em relação às urnas eletrônicas. O objetivo foi entender como os adolescentes constroem e reafirmam suas posições em relação à credibilidade e aceitação no processo eleitoral.
Nas eleições de 2018 no Brasil, houve uma ampla propagação de desinformação e fake news por meio das redes sociais. Essa campanha de desinformação teve como objetivo confundir os eleitores e prejudicar candidaturas.
Durante o processo eleitoral de 2022, as mídias sociais e os aplicativos de mensagens foram novamente utilizados como meios para a circulação de informações enganosas. Nesse contexto, as falas do então presidente Jair Bolsonaro e seus aliados ganharam destaque, questionando a confiabilidade das urnas eletrônicas. Inclusive, houve uma reunião no Palácio da Alvorada com embaixadores com o intuito de descredibilizar as urnas eletrônicas.
Após as eleições, ocorreram atos violentos, como bloqueios ilegais de estradas e acampamentos com pautas antidemocráticas em frente a quarteis. Houve também atos de vandalismo e uma tentativa de instalação de um artefato explosivo próximo ao aeroporto de Brasília.
O ponto culminante foi em 8 de janeiro de 2023, quando ocorreu o ataque às sedes dos três poderes, resultando em destruição do patrimônio público. Esses eventos foram motivados pela campanha de desinformação ao longo do governo Bolsonaro e refletiram a polarização política intensa no país.
“A disseminação de desinformação e fake news nas redes sociais tem graves consequências, como a polarização política, o enfraquecimento das instituições democráticas e o potencial de incitar atos de violência por grupos extremistas. É essencial combater a desinformação e promover a educação digital para fortalecer a democracia e garantir a integridade do processo eleitoral”, destacou Simone Santos, egressa do curso de mestrado do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação da UFBA e autora do estudo.
Os termos “pós-verdade” e “desinformação” estão relacionados ao atual regime de informação, especialmente nas mídias sociais, onde esses fenômenos ocorrem e se disseminam amplamente. Eles refletem um quadro de desordem informacional, no qual a produção, circulação e uso da informação são afetados. Esse contexto pode explicar como decisões baseadas em desinformação podem levar a atitudes hediondas. A pós-verdade ganhou destaque quando foi escolhida como a palavra do ano de 2016 pelo dicionário Oxford. Ela se refere a circunstâncias em que os fatos têm menos influência na opinião pública do que apelos emocionais ou crenças pessoais.
Por sua vez, a desinformação é o oposto do ato de informar. Ela envolve a produção intencional de informações falsas ou que não atendem ao critério de veracidade. O conceito de desinformação pode ser usado para compreender as técnicas sofisticadas de produção de mentiras e os efeitos caóticos e confusos que isso gera nas pessoas que usam informações para tomar decisões.
Em 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou um recorde de novos eleitores na faixa etária entre 16 e 18 anos. Especialistas atribuem esse sucesso à estratégia da justiça eleitoral de se comunicar com esses jovens por meio de meios virtuais, como as redes sociais do TSE e dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), além de estabelecer parcerias com influenciadores digitais, organizações da sociedade civil e instituições públicas e privadas. Essas ações visavam mobilizar e incentivar a juventude a compreender a importância do voto.
Dado o engajamento significativo desses adolescentes no processo de alistamento eleitoral, é relevante conhecer e compreender sua percepção sobre a segurança e a confiabilidade das urnas eletrônicas, bem como suas práticas informacionais nas mídias sociais diante do contexto de desinformação e pós-verdade, no qual informações falsas, manipuladas ou imprecisas sobre a integridade do processo eleitoral são difundidas.
“O uso intenso das redes sociais digitais entre os adolescentes abrange diversas finalidades, como entretenimento, comunicação, estudo, compras e exposição pessoal. Nas interações nesse ambiente, surgem diferentes práticas informacionais, desde a seleção de perfis e redes a serem seguidos até a validação dessas fontes como confiáveis”, explicou Simone.
Os critérios para considerar um perfil ou rede como fonte confiável de informação baseiam-se na confiança em autoridades epistêmicas, como professores, portais de notícias, perfis verificados de autoridades e fontes embasadas em conhecimento científico.
Embora uma parcela significativa dos adolescentes tenha dificuldade em distinguir informações de desinformação, aqueles que demonstram maior facilidade nessa habilidade geralmente recebem instrução e educação adequadas na escola. A escola desempenha um papel importante na promoção de práticas de investigação crítica e no reconhecimento de critérios adequados para identificar informações válidas.
O estudo teve como objetivo principal investigar a confiança dos adolescentes nas urnas eletrônicas e como suas práticas informacionais nas mídias sociais influenciaram essa confiança. Apesar da presença de conteúdos desinformativos sobre as urnas eletrônicas em diferentes perfis e redes sociais, todos os adolescentes mostraram confiar totalmente nesse equipamento, destacando especialmente a questão da segurança.
Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas com entrevistas com 15 adolescentes eleitores, entre 17 e 18 anos, que utilizam as redes sociais para estudar, se informar e se divertir.
A pesquisa ressalta a importância da educação formal na promoção do pensamento crítico e da competência em informação. É urgente e necessário implementar práticas diárias e efetivas no ambiente escolar para desenvolver um ambiente de pensamento crítico. Isso teria um impacto positivo na formação de crianças e adolescentes, além de influenciar as decisões informadas dos adultos em relação às suas necessidades de informação.
Embora não seja possível generalizar além dos resultados do estudo, os dados apresentados e a análise de conteúdo realizada ajudaram a compreender a relação entre as mídias sociais e as práticas informacionais adotadas pelos adolescentes em um contexto de disseminação generalizada de desinformação direcionada ao processo eleitoral. Além disso, contribuíram para as pesquisas no campo da Ciência da Informação.
“A desinformação representa uma ameaça à democracia, exigindo estudos e investigações para combater os impactos das fake news e da cultura da pós-verdade. É necessário desenvolver estratégias que evitem o caos no ambiente informacional, que gera insegurança, desconfiança e desestabiliza os regimes democráticos em todo o mundo”, finalizou a pesquisadora.
Acesse a dissertação em:
SANTOS, Simone. Práticas informacionais de adolescentes no contexto de pós verdade e desinformação e a confiança nas urnas eletrônicas. 2023. 132 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/62048 . Acesso em: 05 de fevereiro de 2024.
Redação: Vanessa Forte
Revisão: Pedro Ivo Silveira Andretta
Diagramação: Naiara Raissa da Silva Passos