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v. 3, n. 1, jan. 2025
Editorial: Da Informação ao Conhecimento, por Yves-François Le Coadic

Editorial: Da Informação ao Conhecimento, por Yves-François Le Coadic

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Da Informação ao Conhecimento

Yves-François Le Coadic

yvesfrancois.lecoadic@gmail.com

Há 30 anos, publicamos na França, na coleção Que-Sais-Je? da Presses Universitaires de France (PUF), a obra intitulada “La Science de l’information“. Dois anos depois, ela teve sua primeira tradução no Brasil pela Briquet de Lemos Livros, sob o título “A Ciência da Informação“.

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Como preâmbulo, note-se que algumas das tendências então estudadas foram confirmadas. Entre elas, certamente a mais impressionante é a explosão da informação e a implosão do tempo de sua comunicação, favorecida, no campo da ciência e da tecnologia, pela Ciência Aberta. 

Interessante em muitos aspectos, essa abertura também gera práticas desviantes, que são causas de má informação.

Primeira transformação:

A transição da informação para o conhecimento

Da mesma forma que vivenciamos a transição da ciência do livro, do objeto e da mídia para a Ciência da Informação, devemos considerar a transição para a Ciência do Conhecimento, que não deve ser confundida com a Ciência Cognitiva nem com a Ciência da Comunicação. Sofremos, na França, com uma coabitação entre Ciência da Informação e Ciência da Comunicação que dá origem a uma bi-ciência, a chamada “Ciência da Informação e Comunicação” (SIC), considerada uma Ciência regional e uma anomalia no concerto científico global.

A informação é, na verdade, conhecimento registrado de forma escrita (impressa ou digital), oral ou audiovisual em um meio espaço-temporal. Demos muita atenção à técnica e aos suportes, negligenciando o conhecimento. Um exemplo flagrante é a educação informacional na França, que é mais uma “Educação Midiática”, onde a natureza dos meios de comunicação e as técnicas de comunicação contam mais do que o significado ou o conteúdo da mensagem.

Capa do livro: “A Ciência da Informação” publicado pela Presses Universitaires de France em 1994

Certamente, estamos interessados na gestão do conhecimento e na sua utilização nos processos de tomada de decisão. Mas, quando se utilizam técnicas de inteligência artificial, o que dizer da criação de conhecimento, que apresenta problemas éticos significativos?

Por último, não nos esqueçamos, como nos alertam a informação  incorreta e a desinformação, de que o conhecimento que devemos transmitir em nossos sistemas de informação deve afirmar-se contra duas realidades: por um lado, o conhecimento comum, as opiniões e as ideias preconcebidas; por outro, o falso conhecimento científico e a pseudociência. Durante a pandemia da COVID-19, testemunhamos uma política desastrosa de publicação científica que levou duas importantes revistas médicas globais a retirarem artigos relacionados à COVID-19. Somemos a isso operações desastrosas de comunicação científica, mesmo oriundas de meios acadêmicos, e uma epidemia de desinformação, ou seja, uma infodemia. Os meios de comunicação de massa e uma imprensa mais ou menos especializada deram ao público em geral uma forte audiência para a pseudociência e o falso conhecimento.

Há algo ainda mais preocupante, que deve mobilizar nossa atenção: o desejo de saber, que está na origem da necessidade de informação, é desafiado pelos excessos populistas, que ganham cada vez mais força e encorajam a recusa de saber. Embora o desejo de conhecer seja compartilhado por muitos, o desejo de não saber — de se afastar do conhecimento — também é amplamente disseminado. Isso resulta na rejeição de argumentos racionais em favor da adesão a opiniões errôneas e conhecimentos falsos. Na era dos demagogos, triunfa a paixão pela ignorância (Mark Lilla).

Os trabalhadores do conhecimento, que são profissionais da informação confrontados com essas febres irracionais, devem ser capazes de contribuir significativamente, ajudando os usuários a explorar o conhecimento apropriado e oportuno resultante de suas pesquisas. Não podemos esquecer, também, as questões éticas ligadas à gestão da informação privada.

Capa do livro: “A Ciência da Informação” publicado por Briquet de Lemos em 1996

Segunda transformação:

A transição acelerada do offline para o online

Na década de 1990, continuamos o desenvolvimento de bancos de informações iniciados nos anos 1960, nos Estados Unidos. Como resultado da informatização dos arquivos bibliográficos, surgiram no Brasil o SciELO (1997) e o Redalyc (2002), voltados para a América Latina. Em 1998, a Biblioteca Nacional do Brasil começou a publicar seus catálogos online, disponibilizando bancos de dados de livros, cartografia e material visual. Para abrigar esses arquivos, foram criados depósitos de dados chamados servidores. Esses depósitos foram disponibilizados para profissionais e pesquisadores graças à construção de redes de telecomunicações, inicialmente nacionais e depois internacionais. O mais famoso é a rede global INTERNET.

Desde então, graças a essas infraestruturas informáticas (hardware e software) e de rede, há poucos produtos e serviços de informação que não migram de suas formas offline para formatos online. Um dos desenvolvimentos mais significativos é a mudança generalizada das revistas científicas de papel para o formato eletrônico, as chamadas revistas eletrônicas.

O que fazer, então, com os reservatórios tradicionais de informação, como bibliotecas, museus, arquivos e mídias, uma vez que estão sendo progressivamente transformados em bibliotecas, museus, arquivos e mídias eletrônicas? Atribuímos a eles o papel de guardiões dos patrimônios da era pré-eletrônica.

O trabalho em si também se transforma em teletrabalho. Este breve artigo, que entrego a vocês, teria sido produzido, há 30 anos, em uma biblioteca e em um escritório. Hoje, foi completamente realizado online, em diferentes locais e momentos.

Em conclusão, duas transformações no campo da Ciência da Informação chamaram minha atenção. Uma transformação em seu objeto científico, a informação, certamente, mas sobretudo o conhecimento, e uma transformação em sua tecnologia e técnicas, em particular a transição acelerada do suporte em papel para o suporte eletrônico.

Sobre o autor:

Yves-François Le Coadic

Professor honorário de Science de l’Information no Conservatoire National des Arts et Métiers.


Redação: Yves-François Le Coadic

Tradução: Yves-François Le Coadic e Pedro Ivo Silveira Andretta

Diagramação: Marcos Leandro Freitas Hübner

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