Entrevista com Claudio de Souza sobre sua pesquisa que investigou os oratórios religiosos na Bahia
Entrevista com Claudio de Souza sobre sua pesquisa que investigou os oratórios religiosos na Bahia
Claudio Rafael Almeida de Souza
claudiorafael.almeidadesouza@gmail.com
Sobre o entrevistado
Em 2022, o mestre Claudio Rafael Almeida de Souza defendeu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia, orientado pelo Prof. Dr. Luiz Alberto Ribeiro Freire.
Soteropolitano, Claudio tem como hobbies ir ao cinema, à praia, ao teatro, navegar nas redes sociais, além de ler e escrever livros. Bacharel em Museologia pela Universidade Federal da Bahia, o museólogo atua na área de História e Teoria das Artes Visuais.
Sua dissertação, intitulada “Oratórios em Salvador, Bahia: materialidade, visualidade e devoção”, explorou os oratórios que, principalmente, são ou foram utilizados no exercício religioso privado no contexto baiano. O intuito foi investigar a tipologia, estilística, possíveis autorias, comercialização, os santos de devoção a eles atrelados e analisá-los iconograficamente e iconologicamente. Para isso, o pesquisador percorreu residências, antiquários, museus, asilos, capelas, fez entrevistas e se debruçou entre inventários, anúncios em jornais dos séculos XVIII, XIX e XX, documentos administrativos da Prefeitura e do Estado e muitos outros documentos.
Claudio de Souza nos relata, nesta entrevista, como se deu o desenvolvimento de sua pesquisa e a sua experiência pessoal no programa de mestrado e perspectivas.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?
Claudio de Souza (CS): Bom, a priori foi preciso ingressar no mestrado, portanto, foi de suma importância a escolha do programa de pós-graduação em artes visuais. Desde pequeno sempre tive veia artística, contudo, foi na graduação que pude desenvolver atividades correlatas às artes visuais e com isso, adquiri conhecimento e paixão pelas artes, principalmente nas aulas de história da arte. Por isso, ingressei no mestrado através de processo seletivo e fiquei como 2° colocado na linha de pesquisa em história e teoria da arte.
DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?
CS: O principal beneficiado com os resultados alcançados foi eu, pois preenchi meu conhecimento sobre as teorias e história dos oratórios domésticos baianos, consequentemente, segue a comunidade acadêmica, a sociedade civil e religiosos que assim quiserem conhecer sobre a estética e o decoro ornamental dos oratórios domésticos baianos.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
A metodologia empregada na pesquisa teve como ponto norteador o delineamento que a pesquisa se desenhava. Deste modo, utilizei roteiro pré – concebido em entrevistas para buscar dados corretos que me proporcionasse chegar a um resultado preciso. Ou, que algumas vezes, que me proporcionasse dados e resultados não tão precisos, mas que com a ajuda de embasamento teórico pudesse desenhar certos referenciais. Assim sendo, utilizei como metodologia a pesquisa em inventários, testamentos e autos de partilha, além das entrevistas. E com ajuda de preenchimento de fichas catalográficas pude criar um inventário dos oratórios domésticos existentes na cidade de Salvador-BA, no universo que havia determinado. Foi a junção de métodos de pesquisa que me proporcionou alcançar o resultado final.
DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade?
CS: O que destaco na minha dissertação é o conhecimento sobre a tipologia e ornamentação dos oratórios domésticos baianos encontrados, os santos votivos e a origem formal e simbólica do oratório doméstico tipo baldaquino e seus derivados na Bahia.
DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?
CS: História e Teoria da Arte. Ele se enquadra na linha devido a metodologia empregada na pesquisa e os resultados alcançados.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
CS: O que me norteou na pesquisa, de modo metodológico, foi como se deu o desenho e os caminhos que a pesquisa alinhou durante seu percurso e também das referências de dados encontrados.
DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?
CS: Como a metodologia aplicada se inclina para a utilização de entrevista com roteiro pré-concebido, foi difícil encontrar proprietários de oratórios que forneceriam entrevista. Afinal, muitas portas não se abriram, talvez por conta da violência que assola a sociedade contemporânea e o preconceito pela cor da tez.
DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?
CS: Posso dizer que 50% de inspiração e 50% de transpiração, por conta do percurso realizado e como se desenhou a pesquisa, escrita de artigos e dissertação.
DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?
CS: Não. Apenas alguns problemas técnicos em relação, como a perda de cartão de memória e também de HD de notebooks.
DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?
CS: Sempre me apoiaram, não me deixaram sozinho na caminhada.
DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
CS: O meu trabalho de dissertação e artigos já estão sendo tomados como ponto de partida, ou melhor, como referências para estudantes de mestrado escreverem suas dissertações, de acordo com a área defendida.
DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
CS: Sempre busco, na maioria das vezes, periódicos com Qualis A1 ou A2, dado a possibilidade de selo de excelência para publicar o resultado das minhas pesquisas. Desde 2019, venho publicando artigos, que ao todo em relação a temática são seis artigos.
As publicações foram:
SOUZA, C. R. A. Origem formal e simbólica do oratório doméstico tipo baldaquino e seus derivados na Bahia. Revista Museu, v. 01, p. 1-1, 2024;
SOUZA, C. R. A. Decolonizing Afro-Brazilian oratories. Cadernos de Sociomuseologia, p. 77-85, 2023.;
SOUZA, C. R. A. Oratórios Domésticos: um objeto de Memória. Mouseion (UNILASALLE), v. 42, p. 01-18, 2022.;
SOUZA, C. R. A. Oratórios Públicos: Monumentos Erigidos para o Exercício Religioso nas Ruas da Cidade do Salvador da Bahia nos Séculos XVIII e XX. Revista PosFAUUSP, v. 29, p. 01-10, 2022.;
SOUZA, C. R. A. Receptáculos da fé: gêneses, tipologia, usos e estilística dos oratórios baianos. Revista Porto Arte, v. 26, p. 01-20, 2021.;
SOUZA, C. R. A. Origens, tipos e estilística da ornamentação dos oratórios domésticos baianos oito-novecentistas. 19&20 (Rio de Janeiro), v. XIV, p. np-np, 2019.
DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?
CS: Desde que finalizei, tenho participado de processos seletivos, bem como ganhado prêmio literário, passado em processo seletivo, criado artigos científicos.
DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?
CS: Sim. Consegui ficar colocado no doutoramento em Sociomuseologia no Programa de Doutoramento da ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Lisboa – Portugal (2023/2026). Contudo, devido a questões financeiras ficarei impossibilitado de ingressar.
DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
CS: Principalmente na escrita de artigos científicos, possivelmente muito mais artigos seriam produzidos.
DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?
CS: Foi disponibilizada bolsa de pesquisa e eu contribui desenvolvendo-a e também produzindo artigos acadêmicos para aumentar o conceito do programa de pós-graduação.
DC: Você por você:
CS: Escritor premiado pelo Selo João Ubaldo Ribeiro de Literatura, na categoria Bicentenário do Dois de Julho, Ano IV, com o livro “Caboclos Símbolos: Manifestações e Representações Cívico – Artístico – Cultural da Independência do Brasil na Bahia”. Autor de artigos em revistas e periódicos nacionais e internacionais de relevância, como Revista 19e20, Revista PÓSFAU USP, Revista Porto Arte, Revista Museu, Cadernos de Sociomuseologia, dentre outros.
Investigador e curador independente de móveis, objetos e obras de arte, com especialidade em mobiliário, arte sacra, popular e decorativa.
Contemplado com a Premiação Aldir Blanc Bahia – Prêmio Fundação Pedro Calmon, na categoria Memória, em 2020/21, com a pesquisa “Comparação entre a Iconografia das esculturas do Caboclo do Dois de Julho,a pintura da vitória do Archanjo Miguel de Rafael Sanzio e a pintura de São Miguel Archanjo de Guido Reni” que produziu o livro “Caboclos símbolos: Precursores Iconográficos da Escultura do Caboclo do 2 de Julho” com prefácio do Professor Doutor em História da Arte Luiz Alberto Ribeiro Freire.
Membro sócio da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA. Membro do Conselho Internacional de Museus – ICOM no Comitê Internacional para Museus e Coleções de Belas Artes.
Parecerista na Comissão de Seleção do Edital 015/2023 – PROIEX/UNEB; em revistas científicas, como exemplo Revista Palíndromo, Revista Educação em Foco e Revista da FUNDARTE. Avaliador técnico na categoria museus e memória do Ministério da Cultura do Governo Federal do Brasil no âmbito do Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC (Lei n 8.313/1991 _ Lei Rouanet).
Bacharel em Museologia pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, com habilitação em Museus de História e Museus de Arte. É mestre em Artes Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia, com concentração em História, Teoria e Processos. É Especialista em Educação, Cultura e Diversidade pelo Centro Universitário Uniasselvi. Detém o Aperfeiçoamento na área de Educação no curso “Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio” pela Fundação Demócrito Rocha.
Entrevistado: Claudio Rafael Almeida de Souza
Entrevista concedida em: 03 maio 2024 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
Fotografia: Claudio Rafael Almeida de SouzaDiagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro