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v. 2, n. 8, ago. 2024
Editorial: Os atletas, os cientistas e a trombeta de Clio, por Pedro Andretta e Marcos Hübner

Editorial: Os atletas, os cientistas e a trombeta de Clio, por Pedro Andretta e Marcos Hübner

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Os atletas, os cientistas e a trombeta de Clio

Pedro Ivo Silveira Andretta e Marcos Leandro Freitas Hübner

pedro.andretta@unir.br | marcos.hubner@unirio.br

As Olimpíadas 2024 chegaram ao seu fim! Tom Cruise, eternizado em nossas memórias pelos filmes de ação, levou agora a bandeira Olímpica para Los Angeles, onde, em quatro anos, chegará também a Chama Olímpica, em referência ao fogo roubado por Prometeu. Nos arredores de Hollywood, os atletas do mundo inteiro se encontrarão novamente para protagonizar sua própria missão impossível, superarem seus limites. E, assim, demonstrarem, também, os avanços das técnicas, das tecnologias, das capacidades humanas físicas e criativas.

Por pouco mais de duas semanas, torcemos por todos nossos atletas. Vibramos pelas conquistas, pelas medalhas de ouro, prata e bronze. E sentimos pela onda que não veio, pelo gol que não chegou, pela cãibra que veio em má hora e também por aqueles “quase” que nos deixaram fora do pódio. Apesar dos infortúnios, estamos ainda em êxtase pelas conquistas de Beatriz Souza, Rebeca Andrade, e a dupla Ana Patrícia e Duda.

É bastante emocionante ver nossas atletas subindo ao pódio, colocando o mundo para ver nossa bandeira, ouvir nosso hino. Suas conquistas representam a força de nosso País, que, diga-se de passagem, tão pouco investiu nesse segmento nos últimos anos – inclusive deixou extinto o Ministério dos Esportes, entre 2019 a 2022. É bonito ver a recompensa pela disciplina, resiliência e esforço dedicado para demonstrar a excelência em uma atividade treinada por uma vida. E principalmente, não podemos deixar de destacar a representatividade, que serve de inspiração em um país marcado pela desigualdade e preconceito racial. “Uma vida por um dia”, resume a judoca Beatriz Souza.

Beatriz Souza e Rebeca Andrade foram destaques nos Jogos Olímpicos de Paris. Foto: Comitê Olímpico Brasileiro / Alma Preta

As medalhas e avanços olímpicos, apesar aparentemente  particulares, são também coletivos. Ainda que – e merecidamente – apenas alguns nomes fiquem gravados na História, por trás de cada atleta há uma família e uma equipe de apoio especializada e multidisciplinar para dar todo suporte e proporcionar condições de sucesso na competição.

Há um esforço técnico-científico  que, por exemplo, projeta e prepara aos atletas seus trajes e equipamentos, suas expectativas e saúde mental, suas oportunidades baseadas em projeções estatísticas, sua alimentação e rotina de treinos para o melhor desempenho. E além disso, pessoas que estão atentas na gestão dos fluxo de pessoas, segurança e comunicação de todo evento. Cientistas e profissionais que, estudaram, analisaram e desenvolveram tecnologia para o design e composição das medalhas olímpicas ou ainda que trabalharam para despoluir e dar qualidade às águas do Rio Sena – alguns, evidentemente, com mais sucesso que outros.

Assistir as Olimpíadas e a jornada dos atletas, nos fez pensar também – e é sobre isso que tratamos na Divulga-CI, nas jornadas dos cientistas. Cientistas que, cada um em seu campo, e em sua especialidade, percorrem e maratonam bibliografias, levantam hipóteses, saltam – com barreiras – pelo ainda desconhecido, realizam um triatlo entre: ver o mundo, pôr em questão o que parece invisível e apresentar suas visões ao mundo. E tão mais, que disciplinam por anos seus corpos e mentes para dar conta dos mais variados objetos concretos (empíricos), científicos (teóricos) e de pesquisa, e que por tantas e quantas vezes pensam em desistir… mas fixam seus objetivos e seguem avançando.

No mundo dos esportes e na Ciência, o encontro intergeracional, a ação colaborativa e cooperativa e as pessoas inspiradoras constroem as possibilidades de renovação e inovação. Se não fosse Daiane dos Santos, Marta ou Thaisa não teríamos as seleções que temos hoje; igual, no mundo da Ciência, sem Bertha Lutz, Cesar Lattes ou Lélia Gonzalez, o cenário científico nacional seria completamente distinto.

Apesar de ser uma atividade colaborativa e cooperativa, fazer Ciência não é “simples” como jogar Frescobol. Não demanda apenas ter boa técnica e treinamento, instrumentos apropriados, bons parceiros e não deixar a bola cair. Pierre Bourdieu, Bruno Latour e Karin Knorr-Cetina têm mostrado a complexidade da atividade científica e o quanto esse jogo tem de peculiar e competitivo. Tão competitivo que vemos hoje os “doping” no contexto acadêmico / científico, as formas de burlar o jogo aumentando a performance de maneira irregular: as fábricas de papers, as formas de plágio, as manipulações de citações, o uso das inteligências artificiais generativas de maneira inapropriada. Se por um lado é “no pain, no gain”, de outro “publish or perish” e nisso seus perigos…

Assim como nos esportes, na Ciência há regras! Robert Merton há tempo definiu os “imperativos institucionais” da Ciência, Rubem Alves nos introduz ao jogo e em suas regras e, antes deles e até hoje, associações e organizações vêm definindo políticas e boas práticas para o exercício científico em cada campo. Se nos esportes, nas jogadas polêmicas o VAR entra em ação, do outro lado, sinaliza-se a retratação. 

Tanto atletas como cientistas buscam tensionar limites, seja por exemplo, batendo um novo recorde ou explicando o que ainda é desconhecido e, todos eles, a seu modo, tentam  proporcionar algum impacto social ou inspiração para outros e novos avanços. Para cada um, os prêmios por seus êxitos: uma medalha, um troféu, uma publicação, um título, o reconhecimento de seus pares e da comunidade, um toque na trombeta de Clio, a musa da História, a Proclamadora e também, para os gregos, a “Rainha” da Ciência.

É ainda em alegria pelos feitos olímpicos, que anunciamos a edição de agosto da Divulga-CI, com mais uma grande seleção de cientistas do campo da Ciência da Informação, Artes e História!

Referências:

ALVES, R. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e as suas regras. São Paulo: Brasiliense, 1981.
HOCHMAN, G. A Ciência entre a Comunidade e o Mercado: leituras de Kuhn, Bourdieu, Latour e Knorr-Cetina. PORTOCARRERO, V. (Org). Filosofia, história e sociologia das ciências I: abordagens contemporâneas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. p. 199-232. Disponível em:https://static.scielo.org/scielobooks/rnn6q/pdf/portocarrero-9788575414095.pdf . Acesso em 15 ago. 2024.
MERTON, R. Os imperativos institucionais da Ciência. In: DEUS, J. D. (Org.) A Crítica da ciência: sociologia e ideologia da ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974. p. 37-52.


Diagramação: Pedro Ivo Silveira

Andretta

Foto: Comitê Olímpico Brasileiro / Alma Preta

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