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v. 2, n. 7, jul. 2024
Entrevista com Suelen Camilo sobre sua pesquisa que analisou regras internacionais para a representação do conhecimento na Web

Entrevista com Suelen Camilo sobre sua pesquisa que analisou regras internacionais para a representação do conhecimento na Web

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Entrevista com Suelen Camilo sobre sua pesquisa que analisou regras internacionais para a representação do conhecimento na Web

Suelen Camilo Ferreira

suelencamiloferreira@gmail.com

Sobre a entrevistada

A recém mestra Suelen Camilo Ferreira defendeu, em 2023, sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos sob orientação da Prof. Dra. Paula Regina Dal’Evedove.

Natural de São Carlos (SP), Suelen tem como hobbies brincar com seu filho, conversar com seu companheiro, escrever, ler, estudar, pesquisar, cantar, viajar e criar canções, projetos e poesias. Profissionalmente atua como Analista de Informações, Cultura e Desporto – Bibliotecária, no Centro Educacional Unificado – Heliópolis.

Sua dissertação, intitulada “Modelo SKOS e ISO 25964: similaridades das recomendações para representação de tesauros”, analisa  regras internacionais para estruturar conjuntos de termos para a representação da informação. Na Web, o uso dessas regras permite que informações e documentos sejam organizados e encontrados rapidamente de acordo com os assuntos que abordam.

Suelen nos conta, nesta entrevista, como se deu o desenvolvimento de sua pesquisa, suas perspectivas e experiências no mestrado.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?

Suelen Camilo: O que mais me inspirou a fazer o mestrado foi a chance de investigar, na literatura científica, possibilidades de atualização de um tipo de ferramenta biblioteconômica tradicional (o tesauro) para o contexto digital na Web. Acredito ser fundamental estudar as semelhanças e aplicações entre as atuais regras (modelo e norma) para estruturar linguagens que são utilizadas para organizar informações e documentos que não estejam apenas em formato impresso ou eletrônico. Em tempos de Inteligência Artificial, os catálogos e usuários de biblioteca podem se beneficiar muito de regras que tornam os assuntos dos documentos compreensíveis por programas de busca online. 

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

SC:  Pesquisadores e profissionais que poderão encontrar, nos resultados, novas formas de elaborar e teorizar linguagens documentárias (em especial, os tesauros) em benefício do público que se utiliza de bibliotecas físicas, digitais e virtuais.

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

Suelen Camilo: A análise das semelhanças entre a norma ISO 25964 e o Modelo SKOS pode ajudar em pesquisas futuras e no desenvolvimento de tesauros que funcionem bem juntos e em diferentes temas e áreas na internet. Isso é importante porque, na nossa sociedade cada vez mais conectada virtualmente, esses tesauros ajudam a organizar e encontrar informações de forma precisa, beneficiando o desenvolvimento social, científico e profissional. Além disso, o estudo apresentado na minha dissertação oferece orientações teóricas e práticas para criar, atualizar e gerenciar esses tesauros na Web.

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

SC: Meu trabalho está inserido na linha de pesquisa 2 (Tecnologia, Informação e Representação) do PPGCI/UFSCar, porque trata da representação temática da informação em contexto tecnológico. Com a crescente influência da tecnologia, é essencial garantir a recuperação de informações. Minha pesquisa se enquadra no desenvolvimento e uso das TIC para gerar, armazenar, organizar e compartilhar informações digitais. Meu estudo realizado sob a orientação da Professora Doutora Paula Regina Dal’Evedove explorou teoria e prática na Ciência da Informação para impulsionar a inovação de tesauros enquanto linguagens que apoiam a organização e encontro de informações.

DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

SC: Há vários trabalhos que foram decisivos para a minha dissertação, mas um artigo científico que tive de ler diversas vezes é intitulado “Representación de tesauros en SKOS: tendencias y desafíos para su integración en la web semántica”, de autoria de María-Luisa Alvite-Díez e Mercedes Martínez-González, publicado em 2021 pela revista Scire: Representación y Organización del Conocimiento. Esse artigo analisa e contrasta os conceitos e regras de integridade da norma ISO 25964 e do modelo SKOS (Simple Knowledge Organization System). Compreender regras de integridade a partir da literatura científica, juntamente com a leitura da documentação desses padrões foi fundamental para a detecção de similaridades entre a norma e o modelo.

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

SC: Com o apoio da minha orientadora, enquadrei minha pesquisa no Modelo Metodológico Quadripolar, onde trabalhei quatro polos simultaneamente, ao longo de toda a investigação até a entrega da dissertação, sendo eles: polo epistemológico, polo teórico, polo técnico e polo morfológico. No primeiro polo está a visão de ciência, de mundo, de vida. No segundo, a apresentação dos conceitos (definição dos termos principais da pesquisa). No terceiro polo se encontram as ferramentas e métodos utilizados, tais como planilhas, levantamento bibliográfico e análise de conteúdo. E, por fim, no pólo morfológico estão os modelos e estruturação da pesquisa.

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

SC: As principais dificuldades foram: 1) acesso à norma ISO 25964: O acesso foi difícil porque a biblioteca da UFSCar não tinha a norma completa, então foi preciso procurá-la em outras bibliotecas, até conseguir na Biblioteca da ECA/USP; 2) escassez de publicações: houve poucas publicações nacionais e internacionais sobre as similaridades entre o modelo SKOS e a norma ISO 25964, o que dificultou a análise; 3) diferenças linguísticas: alguns termos em inglês e espanhol não tinham traduções exatas em português, dificultando a compreensão. As publicações nacionais foram essenciais para ajudar nisso; e, por último e não menos importante, 4) Meu filho nasceu enquanto eu ainda estava escrevendo a dissertação, mas o apoio da minha família foi fundamental nesse processo.

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?

SC: Hoje percebo que inspiração e transpiração caminharam lado a lado para que eu concluísse a dissertação. Porém, quando meu filho nasceu, praticamente no meio do meu curso no mestrado, eu tive que virar algumas noites segurando e amamentando meu bebê de um lado e escrevendo a dissertação de outro, com uma das mãos, ou seja, muita transpiração e inspiração ao mesmo tempo (risos). 

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

SC: Com muita fé e oração, de um modo especial, me deparar com tantas mulheres autoras de trabalhos fundamentais para a minha pesquisa, bem como conhecer outras mulheres mães estudantes e pesquisadoras, principalmente tendo a minha orientadora como exemplo, fez com que eu enxergasse a possibilidade concreta de finalizar a dissertação.

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

SC: Digamos que o tempo de qualidade com a minha família diminuiu muito, se resumindo, durante meses, apenas ao contato com meu filho e meu companheiro.

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

SC: Eu recomendaria a eles principalmente que leiam a minha dissertação com toda criticidade, sem perder de vista as referências nas quais me pautei; que atentem também às sugestões de pesquisas futuras e complementares que faço no Capítulo 6; que não deixem de cuidar da saúde mental e, se possível, pratiquem exercícios físicos e espiritualidade regularmente, pois isso ajuda muito a manter a calma, mesmo nos momentos mais caóticos da investigação científica.

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

SC: Acredito que minha produção científica durante o mestrado foi interessante: mediei e colaborei na organização de uma live de palestras denominada Ciência da Informação como esteio para uma atuação profissional multidisciplinar: Dados, Gestão e Cultura, organizada pela Turma 6 do PPGCI/UFSCar; participei do ISKO Portugal-Espanha, pelo qual também publiquei resultados parciais da minha pesquisa; tive um artigo científico publicado, porém relacionado a uma das disciplinas que cursei; publiquei um capítulo de livro relacionado a projetos de mediação de dados; realizei estágio docente, pelo qual tive a oportunidade de organizar palestras e discussões sobre informação e movimentos sociais; escrevi um artigo no contexto de uma disciplina optativa, que ainda não foi submetido; e ainda tenho outro artigo submetido e escrito juntamente com minha orientadora em processo de avaliação, diretamente relacionado aos resultados finais da pesquisa. Este último aponto como o mais importante. Também participei e ainda participo do grupo de pesquisa Organização do Conhecimento e Humanidades Digitais; linha de pesquisa: Representação e Humanidades Digitais. Também tive a oportunidade de ministrar uma oficina de contação de histórias para o Grupo PET BCI UFSCar enquanto ainda finalizava o mestrado.

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

SC: Após a conclusão da dissertação iniciei uma disciplina como aluna especial no PPGCI/ECA/USP e, na sequência, participei do processo seletivo para o doutorado acadêmico e fui aprovada na linha de pesquisa Apropriação Social da Informação. Assim como no mestrado, o meu objeto de pesquisa está em torno da linguagem especializada, mas agora com o enfoque em Biblioeducação, área de pesquisa que se relaciona muito com meu trabalho em uma biblioteca pública pertencente a um complexo educacional paulistano e, também, com a minha colaboração em projetos sociais relacionados a mediação da leitura e sistematização da memória social e digital. 

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

SC: Sim. Pretendo concluir o doutorado que iniciei no PPGCI/ECA/USP, na área Biblioeducação, relativamente diferente da área de Representação Temática da Informação em que pesquisei no mestrado. Ainda não consigo separar a atuação no mercado de trabalho com a atuação em pesquisa, vejo ambas em termos profissionais. Tenho perseguido a práxis em ambas, porém tenho percebido sim que as dinâmicas de trabalho são bem distintas, embora, ao meu ver, necessitem se complementar em benefício de um olhar epistêmico e político sobre as funções e significados do que produzimos para a sociedade.  DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

SC: Eu teria seguido à risca o cronograma de pesquisa que minha orientadora elaborou para mim, de modo que eu teria abdicado de todos os projetos profissionais que não estivessem relacionados ao mestrado. Mas como eu não tinha condições financeiras de assumir uma bolsa de pesquisa, continuar trabalhando fora da academia me expôs a outras demandas de trabalho.

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

SC: O PPGCI contribuiu muito para a minha atuação profissional e acadêmica. O corpo docente sempre foi bastante acolhedor, instigando novas formas de pensar e aprender, bem como a valorização das boas práticas de investigação científica e profissional. Os conteúdos, recursos e métodos de ensino também favoreceram bastante para que eu concluísse o mestrado no PPGCI/UFSCar. Além de tudo, sou muito grata à minha orientadora durante o mestrado, que me concedeu a oportunidade de contribuir com o programa por meio da participação em diversas atividades, como estágio docente, organização de palestras, ministração de oficina, escrita e submissão de trabalhos. Agradeço a ela pela compreensão e incentivo mesmo após eu ter me tornando mãe durante o mestrado. Continuo como Analista de Informações Cultura e Desporto (Bibliotecária) na Prefeitura Municipal de São Paulo – Secretaria Municipal de Educação, em um Centro Educacional Unificado (CEU), colaborando com projetos de organização de acervo e mediação de leitura. Porém, percebo que a performance da minha atuação profissional acadêmica mudou para melhor após concluir o mestrado. Mesmo a linha de pesquisa do mestrado em Ciência da Informação (Tecnologia, Informação e Representação) ser diferente da linha de pesquisa do doutorado em Ciência da Informação (Apropriação Social da Informação) – e ambos os programas serem de áreas de concentração diferentes, o primeiro em Conhecimento, Tecnologia e Inovação e o segundo em Cultura e Informação -, me surpreende muito o tanto de vezes em que preciso revisitar a minha dissertação para trabalhar com o meu atual objeto de pesquisa: linguagem especializada na área de Biblioeducação. Dentre tantas coisas, esse fato me revela o quanto o PPGCI/UFSCar continuará a contribuir com a minha trajetória acadêmica e profissional.

 DC: Você por você:

SC: Sou uma pessoa muito sonhadora, sensível, reservada, detalhista e metódica. Muitos sabem da minha existência, mas pouquíssimas pessoas conhecem o meu “universo particular”, meu “mundo da Lua”, como dizem alguns. Estou sempre em busca do autoconhecimento como forma de conviver de forma saudável com todos e todas. E é principalmente pela escrita acadêmica ou não que mais me sinto livre. Pesquisar me faz flutuar, assim como estar conectada com a natureza e junto dos meus amores. Como filha de uma mulher preta que aos sete anos teve que substituir os cadernos pela enxadinha de capinar nas lavouras, e que trabalhou em casas de família, seja como babá, cuidadora, “empregada doméstica” ou diarista desde os dez anos de idade, e de um homem “pardo” que começou a trabalhar aos cinco anos de idade engraxando sapatos e vendendo “gelinhos”, fui a primeira pessoa da minha família a concluir o Ensino Médio. Sou muito grata a todo amor e incentivo que recebi e recebo principalmente dos meus pais, do meu filho e do meu companheiro. O amor me move. Deus é amor.


Entrevistada: Suelen Camilo Ferreira 

Entrevista concedida em: 13 jun. 2024 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Ana Julia de Souza

Fotografia: Suelen Camilo Ferreira

Diagramação: Ana Júlia de Souza

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