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v. 2, n. 7, jul. 2024
A Arquitetura da Informação no cenário da transformação digital e da inovação, por Januário Nhacuongue

A Arquitetura da Informação no cenário da transformação digital e da inovação, por Januário Nhacuongue

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A Arquitetura da Informação no cenário da transformação digital e da inovação

Januário Albino Nhacuongue

januario@ufscar.br

Vivemos num mundo em constante mudança e superconectado por fluxos globais de bens, serviços, capital, pessoas, dados e ideias. Cada vez mais, esses fluxos encontram-se fragmentados e dispersos em cadeias de valor globais, impulsionados pelas tecnologias de informação e de comunicação. Nesse contexto, a competitividade de qualquer organização pública ou privada e sua relevância no contexto político, econômico e social requerem o comprometimento com a inovação baseada no desenvolvimento científico e tecnológico e na capacidade de explorar oportunidades da economia digital.

O potencial de transformação de modelos de negócios, da economia e da sociedade em geral através da estratégia de digitalização é reconhecido por entidades como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Movimento Brasil Competitivo, Federação Brasileira de Bancos, entre outros. O Decreto nº 9.319, de 21 de março de 2018 reforça a importância da digitalização da economia, ao instituir o Sistema Nacional para a Transformação Digital e estabelecer a estrutura de governança para a implantação da Estratégia Brasileira para a Transformação Digital.

Com a revolução digital, a demanda dos clientes ou usuários por boas experiências ao interagirem com produtos, serviços ou processos em qualquer setor se tornou mais poderosa e complexa. Por isso, a digitalização impulsiona a inovação através de vários fatores, como o reconhecimento das atividades de desenvolvimento de dados e da função da informação nos negócios. 

Um mapa de jornada permite visualizar a experiência de um cliente ou usuário em relação a um produto, serviço ou marca ao longo do tempo, evidenciando os seus estados cognitivos e emocionais, incluindo momentos de verdade e satisfação, para explorar potenciais soluções. As informações e os dados gerados a partir da jornada do cliente ou do usuário são utilizados por organizações, para melhorar os serviços que oferecem e desenvolver novas propostas de valor através da inovação.

O papel do conhecimento na criação de cadeias de valor em produtos, serviços e processos inovadores aumenta os desafios da universidade pública no que tange à necessidade, celeridade, qualidade e consolidação dos mecanismos de produção, comunicação e divulgação científica. Os pilares de ensino, pesquisa e extensão colocam a universidade pública na posição de vanguarda dos processos de mudança tecnológica que ocorrem em organizações, a partir da conversão do conhecimento e da transferência da tecnologia. 

O marco da inovação (Lei nº 13.243/2016) é um dos elementos importantes para o fortalecimento do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) no geral e da atuação das Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs) e dos seus Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) em particular. As atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade Federal de São Carlos e de outras ICTs, enquadradas na promoção das atividades científicas e tecnológicas como estratégicas para o crescimento e desenvolvimento econômico e social, são sustentadas por esta e outras políticas de inovação do país.

A área de estudos sobre Arquitetura da Informação no campo da Ciência da Informação contribui para as práticas que lidam com a organização da informação e do conhecimento, para a promoção do conhecimento científico e da inovação tecnológica em setores produtivos. Desde o seu surgimento em meados da década de 1960, a área vem se notabilizando na organização de produtos e serviços de informação para viabilizar tanto a acessibilidade e usabilidade, como os processos de gestão de organizações. 

A Arquitetura da Informação é uma disciplina de design de interação, focada em tornar a informação localizável, compreensível e utilizável. O design de interação consiste em colocar a usabilidade no centro de desenvolvimento de produtos e serviços que sejam fáceis (em termos da capacidade de aprendizado do usuário), agradáveis (em termos da experiência do usuário) e eficazes (em termos da facilidade de uso ou operação). Estes requisitos de design fazem com que a Arquitetura da Informação tenha relações interdisciplinares, por exemplo, com as seguintes áreas: Ergonomia – para o desenvolvimento de produtos e serviços interativos que sejam adaptados aos usuários e adequados às tarefas; Interação Humano-Computador – para o desenvolvimento de produtos e serviços baseados em diretrizes da ergonomia perceptual e cognitiva e em modelos de processamento sensorial humano e comportamento; Psicologia/Ciências cognitivas – para o desenvolvimento de produtos e serviços interativos que explorem modelos mentais de usuários ou clientes ao longo da realização de tarefas.

Nos campos da Biblioteconomia e Ciência da Informação, a área de estudos ou a disciplina de Arquitetura da Informação contribui na formação de profissionais e pesquisadores com conhecimento, competências e habilidades para discutir e solucionar questões relacionadas ao design de produtos e serviços de informação. 

Em outras palavras, a disciplina fornece subsídios para atuação em projetos de inovação de organizações, se não, vejamos. A complexidade dos problemas que assolam a sociedade atualmente, como mudanças climáticas e escassez de alimentos, ao lado da revolução produtiva introduzida pelos avanços nas tecnologias de informação e de comunicação, requerem agilidade e colaboração multigeracional na busca de soluções. A experiência de criação de soluções com base no diálogo de diferentes stakeholders, utilizando os princípios wiser together, da The World Café Community Foundation, o Design Thinking e o User Experience se destacam nesse processo.

Curiosamente, essas estratégias de design adotadas em processos de inovação de organizações na atualidade misturam métodos e práticas antigas. Tal como a Arquitetura da Informação, o Design Thinking, por exemplo, é um processo criativo, colaborativo, interativo e centrado no ser humano para o desenvolvimento ou melhoria de produtos e serviços de valor. Os dois processos envolvem as mesmas fases de design de soluções (pesquisa, ideação, prototipação, implementação e administração/gestão) e utilizam ferramentas semelhantes (grupos focais, etnografia, estudos de usuários, protocolo verbal, personas, blueprints, etc.). Por isso, a Ciência da Informação e os profissionais de informação têm muito a contribuir com os ciclos de inovação e, consequentemente, com o desenvolvimento.

A transformação digital impõe muitos desafios nas suas quatro principais alavancas-chaves de valor: interação ubíqua e em tempo real entre organizações e stakeholders; capacidade de processamento e análise de dados para gerar insights de inovação; capacidade de alinhamento de valor em negócios a partir da experiência do usuário e de métodos ágeis; e desenvolvimento de novos modelos negócios na economia digital. As quatro alavancas-chaves de valor dependem da capacidade de desenvolvimento de produtos e serviços com uma boa usabilidade e acessibilidade.

Os fluxos de bens intangíveis e tangíveis vêm impulsionando cada vez mais a integração global e acirrando a concorrência no mercado. Nesse contexto, na economia digital, as cadeias de valor de produtos e serviços inovadores devem incluir a usabilidade e acessibilidade, para corresponder às necessidades de clientes ou usuários empoderados e exigentes. As vendas ou a utilização de algum produto ou serviço na economia digital (por exemplo, venda de Software como Serviço) podem ser prejudicadas pela péssima experiência de interação com os clientes e não pelos atributos comuns, como preço, qualidade ou pós-venda. 

A Arquitetura da Informação pode auxiliar as organizações a entender, acompanhar e gerenciar seus ativos de negócios na economia digital dentro dos seus silos, a partir da perspectiva do cliente e não da empresa. Os estudos na área continuam evoluindo no intuito de proporcionar uma melhor compreensão das suas teorias e práticas. Uma breve busca no periódico Journal of Information Architecture e na Base de Dados em Ciência da Informação (BRAPCI) localiza temas emergentes, como serendipidade – experiência de descoberta ocasional de uma informação útil; princípios e definições para a Arquitetura da Informação e instrumentos formais para o seu estudo; avaliação da usabilidade e acessibilidade de produtos e serviços de informação, etc. 

A área continuará proporcionando abordagens para melhores experiências de interação em produtos e serviços inovadores, para gerar valor competitivo na economia digital.

Sobre o autor:

Januário Albino Nhacuongue

Professor do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos. Membro dos Grupos de Pesquisa: Intelligence, Technology and Information Research Group – ITI RG/UFSC e Núcleo de Estudos em Informação, Tecnologia e Inovação NEITI/UFSCar. 

Pós-doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutor e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho e Licenciado em Ciências Policiais pela Academia de Ciências Policiais de Moçambique.  


Redação e Foto: Januário Albino Nhacuongue

Diagramação: Larissa Alves

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