Entrevista com Pamela Assis sobre sua pesquisa que analisou a relação da biblioterapia com a mediação da informação e a mediação da leitura
Entrevista com Pamela Assis sobre sua pesquisa que analisou a relação da biblioterapia com a mediação da informação e a mediação da leitura
Pamela Oliveira Assis
pamela.oliveiira@outlook.com
Sobre a entrevistada
Em 2022, a bibliotecária Pamela Oliveira Assis concluiu seu mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia, sob orientação da Profa. Dra. Raquel do Rosário Santos.
Pamela é natural de Salvador, Bahia, e tem como hobbies ler, assistir filmes e séries. Atualmente, é doutoranda pelo mesmo programa e se dedica às atividades de pesquisa e extensão.
Sua dissertação, intitulada “Biblioterapia: entrelaces da mediação da informação com a mediação da leitura”, analisou como vem sendo tratada a biblioterapia na produção científica da Ciência da Informação e identificou as contribuições e as perspectivas teóricas e práticas. Para analisar os dados, foi empregada a técnica de análise de conteúdo, e o instrumento adotado foi a ficha de leitura. Ao analisar as produções que compuseram a amostra deste trabalho, notou-se que a biblioterapia, a mediação da informação e a mediação da leitura se entrelaçam por meio de características que são fundamentais para efetivar as atividades, no entanto essa inter-relação é implícita, porquanto não está diretamente indicada nos estudos pelos autores da Ciência da Informação.
Pamela nos conta, nesta entrevista, como desenvolveu sua pesquisa e suas considerações sobre a experiência no programa de mestrado.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?
Pamela Assis (PA): A profa. Raquel foi minha orientadora ainda na graduação e sempre me incentivou a fazer a seleção para o mestrado assim que concluísse o curso. Inicialmente, fiquei receosa, não tive muito contato com a pesquisa durante a graduação, porém, frente a uma necessidade do mercado de trabalho, como também para os concursos, decidi tentar a seleção de 2019 e consegui ser aprovada para a turma de 2020. Me apaixonei pela biblioterapia ainda na graduação, pesquisando temas que tivessem relação com a psicologia, mas que pudessem ser trabalhados na Biblioteconomia. Desde então me dedico a pesquisar mais sobre a temática, aprofundando meus estudos.
DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?
PA: Acredito que todos que pesquisam sobre a biblioterapia podem se beneficiar dos resultados que alcancei na minha dissertação. Estreitar a relação da biblioterapia com a mediação da leitura e mostrar que apesar de possuírem pontos em comum, as práticas também possuem aspectos divergentes que necessitam de clareza e consciência do mediador que está desenvolvendo a atividade.
DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade?
PA: Para a Ciência: Nos meus estudos compreendo a biblioterapia como uma mediação especializada da leitura que possui objetivos terapêuticos e, para isso, requer ações conscientes e sistematizadas em prol da mudança de percepção das pessoas. Deste modo, esclarecer como a biblioterapia possui características da mediação da leitura e da mediação da informação como princípio para a efetividade das ações, é essencial para entender como a biblioterapia contribui para as mudanças sociais e emocionais que as pessoas possam ter. Com relação às contribuições para a tecnologia, confesso que nunca pensei nos impactos nessa perspectiva. Mas trazendo o conceito de mediação indireta do Prof. Oswaldo, que diz que duas pessoas não precisam estar no mesmo local para que a mediação ocorra, com a biblioterapia não é diferente. É possível utilizar a tecnologia para que sejam desenvolvidas atividades biblioterapêuticas com pessoas de locais diferentes, contribuindo nas mudanças de perspectiva de diferentes pessoas, independentemente de sua localização. Já para a sociedade, considero que a biblioterapia é uma prática que cuida do bem-estar do outro e em um momento de amparo, a biblioterapia pode ser essencial para que a pessoa se restabeleça. Entender como se dá a relação da biblioterapia com a mediação da leitura e mediação da informação, permite que os profissionais saibam quais os pilares essenciais na prática para que a ação seja desenvolvida de forma consciente e efetiva para ajudar quem precisa.
DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?
PA: Minha pesquisa está incluída na linha 2, Produção, circulação e mediação da informação. A escolha dessa linha é porque a biblioterapia é compreendida como um tipo de mediação da leitura, no entanto, requer outros profissionais além do bibliotecário no desenvolvimento de uma ação efetiva.
DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?
PA: Um trabalho que utilizei bastante no início da minha pesquisa foi a dissertação do prof. João Arlindo, que trata de maneira mais profunda sobre a mediação implícita da informação. Além disso, como referência da temática, também li textos da Clarice Caldin. Dentre esses, posso destacar o livro “Biblioterapia: um cuidado com o ser”.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
PA: Minha pesquisa foi bibliográfica, isso quer dizer que selecionei e organizei trabalhos de diferentes tipos que tratassem sobre a biblioterapia, mediação da leitura e mediação da informação. Depois de organizados, realizei uma leitura cuidadosa de cada um dos textos, separando trechos que fossem importantes em uma ficha de leitura. Por fim, analisei esse conteúdo, encontrando os pontos de convergência e divergência entre os temas.
DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?
PA: Pouco tempo depois de começar o mestrado, foi confirmada a pandemia de covid-19 e ficamos isolados. Apesar de conseguir tirar proveito desse tempo para escrever, não era fácil vencer a “onda” de informação a qual tivemos acesso naquele período para se concentrar no meu próprio estudo. Então, acredito que a incerteza e a ansiedade que o período trazia foram as maiores dificuldades.
DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?
PA: Durante minha escrita, sou muito mais movida pela inspiração do que pela transpiração. Querer fazer, eu sempre quero. Porém, nem sempre estou pronta para fazer. Por isso, se tiver de colocar em percentuais, eu diria que foi 70% de inspiração e 30% de transpiração.
DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?
PA: Acredito que a própria caminhada do mestrado tenha o seu peso. No meu caso, tive a somatória de estar em uma pandemia. Então, acredito que exista um embaraço na minha perspectiva sobre essa caminhada. O que foi pesado por conta do mestrado? O que se tornou pesado por fazer o mestrado durante uma pandemia? Não consigo diferenciar. Mas se pudesse colocar um ponto como sucesso para a dissertação, seria a dedicação em fazer o que deveria ser feito para a conclusão da minha pesquisa.
DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?
PA: Minha mãe é minha maior incentivadora. Não lembro de nenhuma vez ter pensado em fazer algo que não contasse com o apoio dela. Então, minha relação com ela foi a parte mais leve de todo o processo, sem dúvidas.
DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
PA: Acredito que minha recomendação seria: faça da sua pesquisa um momento de prazer, para além da obrigação. Se chegou até a biblioterapia, já percebeu o quanto ela pode ser abrangente. Encontre o que acredita dentro da temática e se dedique. Existem muitas percepções sobre a biblioterapia que merecem atenção, descubra uma e defenda seu ponto de vista.
DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
PA: Minha orientadora é uma das docentes que mais produz dentro do programa, então acompanhá-la nessa jornada foi fácil. Durante o mestrado consegui escrever não só sobre minha pesquisa, como também temas correlatos a partir dos estudos em grupo de extensão e de pesquisa que fiz parte. O trabalho mais importante para mim foi o texto “O ato de ler e a mediação da leitura conscientes: perspectivas fundamentadas nas dimensões da mediação da informação”, foi o primeiro artigo que publiquei sobre minha pesquisa.
DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?
PA: Depois que concluí a dissertação, me dediquei a estudar e fazer o projeto para a seleção do doutorado.
DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?
PA: Sim, ingressei na turma de 2024 no doutorado. Sigo na mesma área e ainda estou pesquisando sobre biblioterapia.
DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
PA: Normalmente não gosto de pensar no que faria de diferente sobre as coisas, já que acredito que cada tropeço nos traz um aprendizado. Mas, talvez, eu tivesse vivenciado com mais calma o mestrado. O tempo de curso é muito curto, quando nosso olhar também é acelerado, podemos perder a beleza da evolução.
DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?
PA: Eu fui bolsista CAPES por todo o mestrado, então acredito que o melhor benefício que eu possa ter dado ao Programa nesse período foram as minhas produções de artigo e trabalho de evento com a minha orientadora, bem como a participação em grupos de pesquisa e extensão.
DC: Você por você:
PA: Costumo dizer que sou a bibliotecária do barulho, nada me incomoda mais do que o eterno “shhhh”. A biblioteca é um espaço que pressupõe o silêncio e não o silenciamento. E ser silenciada nunca foi algo que gostei. Minha relação com a leitura vem desde pequena, por incentivo de minha mãe. Nas escolas em que frequentei, a biblioteca não era o espaço mais importante ou valorizado. Mas cá estou, bibliotecária e aprendiz de pesquisadora. Meu encontro ao acaso com a Biblioteconomia foi motivado pelo simples fato de gostar de ler. Quando me vi frente à decisão do tema de TCC, procurei algo que tivesse relação com a psicologia porque além de ler livros, eu gostava de tentar ler pessoas. A biblioterapia chegou como um presente, no qual pude unir duas paixões: ler o mundo e contribuir para que o outro também possa ler e se entender melhor nesse processo. Isso é o que a biblioterapia significa para mim, é colaborar para que o outro não seja ou se sinta silenciado. Afinal, “talvez um livro não mude o mundo, mas ele ainda pode deixar algo de bom no coração de alguém” (Frase do K-drama Romance is a bonus book).
Entrevistada: Pamela Oliveira Assis
Entrevista concedida em: 14 maio 2024 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
Fotografia: Pamela Oliveira Assis
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro