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v. 3, n. 5, maio 2025
A Formação de Mediadores para o Atendimento do Público Autista em Museus e Centros de Ciências – Entrevista com Emanoel Santos

A Formação de Mediadores para o Atendimento do Público Autista em Museus e Centros de Ciências – Entrevista com Emanoel Santos

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A Formação de Mediadores para o Atendimento do Público Autista em Museus e Centros de Ciências – Entrevista com Emanoel Santos

Emanoel do Nascimento Santos
emanoelns@id.uff.br

Sobre o entrevistado

Em 2024, Emanoel do Nascimento Santos defendeu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, sob a orientação da Profa. Dra. Michele Waltz Comarú e coorientação do Prof. Dr. Gustavo Henrique Varela Saturnino Alves.

Carioca, Emanoel tem como área de origem as Ciências Biológicas e atua na Divulgação Científica/Inclusão – Ciências Sob Tendas (CST), um centro de ciências itinerante que pertence ao programa de extensão da Universidade Federal Fluminense. Em seu tempo livre, aprecia fotografia, música e arte.

Sua dissertação, intitulada “A Formação de Mediadores para o Atendimento do Público Autista em Museus e Centros de Ciências”, investigou em que medida uma formação, destinada a mediadores de museus e centros de ciências, contribui para que esses profissionais se sintam mais preparados para atender ao público com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em espaços científico-culturais. A Aprendizagem Baseada em Problemas foi utilizada pelo curso como metodologia instrucional das aulas, abordando temas como estratégias para o atendimento ao público com TEA em museus e centros de ciências, bem como políticas públicas voltadas para o público com TEA no contexto de museus.

Nesta entrevista, Emanoel compartilha sua trajetória durante o mestrado.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?

Emanoel Santos (ES): Ao fim da graduação, eu não me sentia exatamente pronto profissionalmente então decidi buscar uma especialização. Com os resultados do meu projeto de monografia, as portas da pós-graduação se abriram para mim. Durante minha pesquisa de monografia eu investiguei as expectativas e experiências na participação dos mediadores do Ciências Sob Tendas, centro de ciências itinerante da Universidade Federal Fluminense que eu faço parte até hoje, na 9° Caminhada do Dia Mundial para a Conscientização do Autismo. Então, essa temática me inspirou a seguir por esse caminho no mestrado. Além disso, logo depois da minha defesa da monografia, meu sobrinho, hoje afilhado, foi diagnosticado com o TEA, o que também serve de inspiração a nível pessoal. 

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

ES: Os mediadores de museus e centros de ciências e o público com TEA que serão atendidos por eles. Os mediadores ganham uma formação continuada para atender esse público em seus respectivos espaços científico-culturais e esse público ganha a oportunidade de serem melhores atendidos nesses mesmos espaços.

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

ES: Eu diria que a formação desses mediadores, mesmo que realizada num curto período de tempo, já é uma das principais contribuições  que esse trabalho trouxe para a sociedade. Existem relatos registrados na dissertação que a participação dos mediadores no curso online promovido como parte da pesquisa motivou mudanças nos ambientes dos espaços científicos culturais para melhor atender o público com TEA e também na prática desses profissionais. Além disso, todo processo de construção do curso foi registrado na dissertação, o que torna ele facilmente reproduzível para que outras pessoas tentem experiências parecidas. 

Também posso dizer que minha pesquisa oferece contribuições no campo teórico, pois a formação dos mediadores foi avalizada sob a luz do conceito criado por Queiroz e colaboradores em 2002, chamado de saberes da mediação. Minha pesquisa traz para o campo dos mediadores de museus e centros de ciências quais desses saberes seriam úteis em um atendimento ao público com TEA nos espaços científico-culturais. 

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

ES: Meu projeto de pesquisa está inserido na linha de Ensino-Aprendizagem em Biociências e Saúde, pois promove a formação continuada de profissionais da área da educação em Biociências, neste caso mediadores de museus e centros de ciências. Apesar de ser voltada para educadores que se encontram no campo do ensino não formal, a estratégia desenvolvida para formar esses educadores se encaixa dentro da perspectiva do ensino formal. 

DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

ES: Dois trabalhos serviram de inspiração em momentos diferentes da escrita da dissertação. O primeiro, o trabalho realizado pela professora Glória Queiroz e colaboradores ( QUEIRÓZ, G et al, 2002), que ajudou a teorizar o meu trabalho com os intitulados saberes da mediação e o segundo trabalho foi FLETCHER, T. et al, 2023 durante o processo de análise de dados e discussão com a bibliografia, esses autores me ajudaram a enxergar a relação entre a formação realizada com os mediadores de museus e centros de ciências e as mudanças que eles podem realizar nestes espaços para melhor atender o público com TEA. 

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

ES: Segui o caminho tradicional de definir quais seriam meus referenciais teóricos e objetivos geral e específicos. A partir daí, a escolha da metodologia foi definida de acordo com a que melhor se encaixava com o que estabelecido nas etapas descritas anteriormente. Exemplificando,um dos objetivos específicos foi criar o curso de formação de mediadores com foco na inclusão do público autista em museus e centros de ciências. Para cumprir esse objetivo, foi criado um diário de bordo, como se fosse um diário para uso pessoal, onde foram documentadas todas as fases do processo de criação do curso e depois este diário foi transcrito na dissertação de forma que o público em geral e colegas que tivessem interesses em repetir essa estratégia pudessem acessar isso de forma acessível.

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

ES: Chegou um determinado momento que eu enfrentei um processo de esgotamento mental do meu próprio texto. As ideias já não fluiam mais como no começo, onde tudo é mais fácil e o sentimento era que eu nunca iria terminar. As palavras pareciam se misturar sempre que eu me sentava para escrever a dissertação. Isso aconteceu logo após realizar o curso e apresentar a minha qualificação, processo que marca o meio da jornada acadêmica na minha pós graduação. Tudo a partir disso foi um pouco complicado, porém no final tudo se ajeitou. 

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação? 

ES: 50% de cada um. A vida infelizmente não para enquanto estamos fazendo pesquisa. Achar um equilíbrio entre todas as coisas para fazer um bom trabalho é a parte mais difícil. 

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

ES: No meio do processo de escrita da dissertação eu perdi uma irmã mais velha. Ela era a pessoa que mais se orgulhava do meu trabalho. Logo, a continuidade deste trabalho também é uma forma de homenageá-la. Espero que ela esteja orgulhosa do que eu alcancei até aqui. Gostaria também de deixar um agradecimento aos meus orientadores Gustavo e Michele por terem me apoiado nos momentos fáceis e difíceis. Sem o apoio deles de forma bem presente dificilmente eu teria chegado até aqui. 

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

ES: Foi ótimo. Minha família apoia muito essa jornada, sei que sou privilegiado por isso. Na defesa da dissertação tinha vários membros presentes para me prestigiar e parabenizar. 

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

ES: Que comecem o processo de escrita o mais breve possível (brincadeira rs). Acho que o conselho que eu deixaria é se dedicar e se organizar o máximo possível e entender os seus limites. É uma jornada longa, mas pode ser prazerosa se conseguirmos alcançar um certo equilíbrio entre o que deve ser feito. Por exemplo, eu demorei muito para iniciar o processo de análise de dados e isso quase prejudicou a conclusão da minha dissertação, pois temos um prazo para tudo e essa demora encurtou esse prazo. Achei que tinha mais tempo do que realmente tinha. 

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

ES: Participei de muitos eventos da minha área durante esse período. Também tive capítulos publicados em dois livros:

Produção de conhecimentos em práticas educativas em Biociências e Saúde” e 

Contribuições das pesquisas realizadas no Programa de pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde para a Educação Científica no Brasil: relatos de experiências dos participantes do encontro de Egressos (Alumni) na Semana Paulo Freire de 2023.

Entre os eventos eu destaco a participação no EREBIO e ENECIÊNCIAS, eventos importantes para a área do ensino como um todo.

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

ES: Depois da conclusão da dissertação eu fiz um breve trabalho como professor substituto de uma turma de laboratório em uma escola particular na região onde eu resido e continuo a minha jornada como divulgador científico no Ciências Sob Tendas, pretendo continuar explorando o cenário acadêmico por um tempo enquanto invisto na minha carreira como educador. 

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

ES: Eu iniciei em junho do ano passado o doutorado na mesma área do mestrado. Para mim, era o momento perfeito de dar continuidade a essa jornada acadêmica que comecei em 2022.

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

ES: Bom, primeiramente eu organizaria melhor meu tempo. Definir prioridades de forma que eu pudesse aproveitar melhor o tempo de leituras, execução de trabalhos e escrita do trabalho de pesquisa. Acredito que ser um pouco desorganizado me atrapalhou principalmente durante o período de escrita da dissertação, pois senti que havia uma avalanche de coisas para ainda serem feitas. Ao mesmo tempo, eu gostaria de ter ampliado as conexões que eu poderia ter feito ao longo do mestrado. Quando eu entrei ainda estávamos saindo do período pandêmico. Nisso, fiquei um ano fazendo matérias a distância o que dificultou aproximação com colegas que tinham pesquisas que conversavam com a minha. No ano restante, eu e a galera já estávamos mais preocupados em finalizar a pesquisa para defendê-la. Agora realizando outra pós na mesma área espero que eu tenha a oportunidade de desfazer esses pequenos “erros” durante a caminhada. 

DC: Você por você:

ES: Eu sinto que entrei nessa jornada muito novo. Não falo isso como algo ruim. Eu tinha 24 anos quando terminei a graduação, 25 e 10 meses quando terminei o mestrado e a previsão é que eu termine o doutorado antes dos 30. Não sei o quanto essa juventude influencia na minha visão das coisas e do mundo. Porém, me vejo fazendo o que sempre quis fazer. Eu era uma criança apaixonada por Animal Planet, dinossauros e ficção científica. Agora, fazendo divulgação científica por meio do meu trabalho com o Ciências Sob Tendas, com minha pesquisa e com outras ações que eu estou trabalhando para trazer o brilho dos olhos de outras crianças e adolescentes para as mesmas coisas que me encantaram num passado não tão distante assim. Por meio disso, meus olhos também brilham e eu acho que essa é a melhor forma de me definir. Uma pessoa focada em fazer brilhar aquilo que outrora me encantou. 


Entrevistado: Emanoel Santos

Entrevista concedida em: 24 de abril de 2025 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Larissa Alves

Fotografia: Emanoel Santos

Diagramação: Larissa Alves

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