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v. 3, n. 3, mar. 2025
Mulheres na ciência e na pesquisa: perspectivas das realidades, a necessidade de maior participação para empoderar e derrubar barreiras, por Florence Amaka Nwofor

Mulheres na ciência e na pesquisa: perspectivas das realidades, a necessidade de maior participação para empoderar e derrubar barreiras, por Florence Amaka Nwofor

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Mulheres na ciência e na pesquisa: perspectivas das realidades, a necessidade de maior participação para empoderar e derrubar barreiras

Florence Amaka Nwofor

fa.nwofor@unizik.edu.ng

Desde o momento em que uma menina nasce, as expectativas sociais começam a limitar seu potencial, independentemente de seus talentos e habilidades (Abiola, citado em Philip, Adeboye e Obakeni, 2016). As mulheres há muito tempo enfrentam subjugação, degradação, opressão e diversas formas de tratamento desumano simplesmente por causa de seu gênero. Ao longo da história, a busca da humanidade por melhores condições de vida tem sido impulsionada por uma abordagem sistemática conhecida como pesquisa científica — um campo no qual as mulheres também têm participado ativamente. Mulheres na ciência e na pesquisa referem-se a profissionais que atuam na geração de novos conhecimentos. Essas mulheres realizam pesquisas e contribuem para o desenvolvimento ou aprimoramento de conceitos, teorias, modelos, técnicas, instrumentos, softwares ou métodos operacionais no contexto de projetos de pesquisa e desenvolvimento.

No entanto, os dados indicam que as mulheres ainda representam menos de 30% dos pesquisadores no mundo (Global Research Council [GRC], 2019). Isso representa uma leve melhora em relação ao índice de 28,8% em 2018 (Elsevier Gender Report, 2017) e às porcentagens anteriores de 28% registradas pela UNESCO (2015) e pela OMS (2015). De acordo com dados do Instituto de Estatística da UNESCO (UIS) citados por Zimu-Biyela (2020), as mulheres representam menos de 30% dos pesquisadores globais e apenas cerca de 35% dos estudantes matriculados em cursos superiores relacionados a STEM são do sexo feminino. As disciplinas mais enfatizadas nas ciências—Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM)—são amplamente reconhecidas como a base da inovação, do desenvolvimento social e econômico. Muitos desafios enfrentados pelos países podem ser resolvidos por meio da aplicação do conhecimento STEM. No entanto, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2030, especialmente os Objetivos 4 e 5, enfatizam a importância da educação de qualidade e da igualdade de gênero. Fica evidente que as questões de gênero continuam sendo uma preocupação global e um tema crucial no discurso sobre desenvolvimento, abrangendo esferas sociais, econômicas, políticas, científicas, educacionais e de pesquisa. A igualdade de gênero na educação, especialmente em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática, é uma prioridade para diversas organizações nacionais e internacionais (Adesulu-Dahunsi, 2024).

O Manual de Frascati, citado em um relatório da UNESCO (2019), apresenta perfis globais e regionais sobre a representação feminina em diferentes setores. A porcentagem de pesquisadoras mulheres é a seguinte:

  • 48,2% na África Central,
  • 45,1% na América Latina e Caribe,
  • 45% nos Estados Árabes,
  • 39,3% na Europa Central e Oriental,
  • 32,7% na América do Norte e Europa Ocidental,
  • 31,8% na África Subsaariana,
  • 29,3% no mundo,
  • 23,9% no Leste Asiático e Pacífico,
  • 18,5% no Sul e Oeste Asiático.

Esses dados mostram um crescimento gradual na participação feminina na pesquisa, especialmente na Europa e nas Américas, entre 1999 e 2017. No entanto, as mulheres ainda são minoria no quadro global de pesquisadores. Apesar da crescente demanda por estatísticas comparáveis entre países e por dados nacionais sobre mulheres na ciência, a influência dessas informações na formulação de políticas públicas ainda é limitada. A desigualdade de gênero nas ciências é evidente: o Elsevier Gender Report (2017) aponta que há uma representação desproporcional de mulheres em áreas STEM, com maior participação feminina nas ciências da vida e da saúde. Na Bolívia e na Venezuela, por exemplo, as mulheres representam 56% e 63% dos pesquisadores, respectivamente, enquanto na Coreia do Sul e no Japão, essa proporção cai para 18% e 15%. Na França, Alemanha e Holanda, apenas 25% dos pesquisadores são mulheres.

Sob uma perspectiva africana, Lidia Brito (2024) observa que cientistas africanas estão moldando um futuro mais justo e sustentável para suas comunidades e além. Uma lista com 50 cientistas africanas influentes pode ser encontrada em Tunga. Ao promover inovação, as sociedades africanas podem empoderar as próximas gerações, impulsionar o crescimento econômico, criar empregos e enfrentar desafios ambientais urgentes.

Na Nigéria, as mulheres também estão avançando na ciência e quebrando barreiras. Uma lista de cientistas nigerianas notáveis, muitas das quais receberam prêmios L’Oréal-UNESCO, pode ser encontrada na Wikipedia. No entanto, apenas 25% dos graduados em STEM na Nigéria são mulheres, contra 52% de homens (Adesulu-Dahunsi, 2024). Em 2019, a matrícula feminina nas ciências de Engenharia e Tecnologia foi de apenas 12,06%, em comparação com 87,4% de homens, enquanto na área de Ciências os índices foram 27,6% de mulheres e 72,4% de homens (NUC, 2019). Entre os professores universitários, apenas 15,43% são mulheres, contra 84,5% de homens. Essa disparidade é evidente e reflete a sub-representação feminina em STEM, resultando em potenciais não aproveitados e sonhos não realizados.

Na Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), no entanto, a desigualdade de gênero diminuiu significativamente, e mais mulheres estão ocupando cargos de liderança em bibliotecas acadêmicas, de pesquisa e públicas. O registro da Associação de Mulheres Bibliotecárias da Nigéria (AWLIN) mostra um aumento expressivo na presença feminina na área. Por exemplo, Dr. Victoria Okojie foi a primeira Registradora do Conselho de Bibliotecários da Nigéria (LRCN), enquanto Dr. Ngozi Osuchukwu atualmente preside a Associação Nigeriana de Biblioteconomia (NLA) no Estado de Anambra. Na minha universidade, quatro mulheres já atuaram como chefes de departamento (HOD), contra três homens. Eu mesma fui chefe de departamento entre 2021 e 2023. Além disso, a bibliotecária da universidade, Prof. Stella Anasi, e a bibliotecária nacional, Prof. Chinwe Anunobi, são mulheres.

Numerosos desafios continuam a impedir que mulheres e meninas sigam carreiras em STEM, especialmente na África Subsaariana. Esses desafios incluem acesso limitado à educação e ao financiamento devido à pobreza, falta de reconhecimento e oportunidades de progressão na carreira e crenças sociais enraizadas de que as mulheres são inerentemente inadequadas para o trabalho científico. Em muitas sociedades africanas, as normas culturais ainda consideram as meninas inferiores aos meninos. No entanto, a ciência já demonstrou que não existem diferenças cognitivas inatas entre cérebros masculinos e femininos. Muitas jovens são desencorajadas a seguir carreiras em STEM devido a estereótipos que classificam essas áreas como dominadas por homens e excessivamente difíceis.

Outros desafios incluem violência de gênero, acesso restrito a serviços públicos e casamentos precoces, que comprometem as aspirações educacionais. Além disso, em regiões onde crenças religiosas desencorajam a educação feminina, muitas meninas que abraçam a educação formal enfrentam ameaças, incluindo sequestros. O conhecido caso do sequestro das meninas de Chibok é um exemplo trágico dessa realidade.

Para enfrentar esses desafios e apoiar mulheres na ciência, iniciativas regionais foram desenvolvidas para inspirar jovens cientistas e romper barreiras de gênero. Desde sua criação em 2009, o Programa L’Oréal-UNESCO para Mulheres na Ciência já apoiou mais de 240 jovens pesquisadoras talentosas de 34 países africanos, fornecendo assistência financeira e recursos essenciais para impulsionar suas carreiras. Em 2023, mulheres notáveis foram selecionadas entre quase 800 candidatas, devido às suas pesquisas pioneiras para solucionar desafios críticos do continente. O programa oferece prêmios regionais para estudantes de doutorado e pós-doutorado da África Subsaariana, aumentando sua visibilidade e reconhecendo suas contribuições.

Além disso, a Organização para Mulheres na Ciência para o Mundo em Desenvolvimento (OWSD) apoia cientistas mulheres por meio de financiamento para pesquisas, treinamentos e oportunidades de networking. Organizações locais, ONGs e instituições como UNICEF e UNICIST também lançaram iniciativas para aumentar a consciência sobre STEM no ensino secundário. Destaca-se ainda que o Capítulo de Anambra do African Women Summit (AWS) e do Girl Child Summit (GCS) será oficialmente inaugurado em 13 de fevereiro, com o tema: “Liberando o Poder das Mulheres Africanas e das Meninas: Rompendo Barreiras e Alcançando a Grandeza.”

Recomendações

  • Aumentar o suporte financeiro para mulheres na ciência, por meio de bolsas e subsídios.
  • Fortalecer parcerias entre organizações internacionais e locais para promover a inclusão feminina em STEM.
  • Mobilizar escolas e comunidades para conscientização sobre a importância da diversidade em STEM.
  • Promover campanhas de mentoria lideradas por cientistas mulheres.
  • Desmistificar estereótipos sobre o papel das mulheres na ciência, começando desde a infância.

Referências

ADESULU-DAHUNSI, A. T. Breaking barriers and enhancing visibility among Nigerian women in STEM fields. Thomas Adewunmi University: Centre for Gender and Social Policy Studies, 2024.

UNESCO. Celebrating Africa most talented young female scientists. Foundation L’Oreal-UNESCO For Women in Science Young Talents-Sub-Saharan African Program, 2024. Disponível em: https://www.unesco.org. Acesso em: 6 mar. 2025.

UNESCO. Women in science 2019: UIS Factsheet no. 55. FS/2019/SCI/55. 2019. Disponível em: http://uis.unesco.org. Acesso em: 6 mar. 2025.

UNESCO. Encouraging young women scientists in Nigeria. 2013. Disponível em: https://www.unesco.org. Acesso em: 6 mar. 2025.

PHILIP, F.; ADEBOYE, K. M.; OBAKEMI, R. S. Status, characteristics and contribution of women librarians to development in Nigeria. International Scholars Journal, v. 2, n. 2, p. 175-180, 2016. Disponível em: <www.internationalscholarsjournals.org>. Acesso em: 6 mar. 2025.

ZIMU-BIYELA, N. Inhibitors and promoters of quality research outputs for women in LIS profession in Africa. In: COOPERATION AND COLLABORATION INITIATIVES FOR LIBRARIES AND RELATED INSTITUTIONS. Hershey: IGI Global Scientific Publishing, 2020.

Sobre a autora:

Florence Amaka Nwofor

Professora do Departamento de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Faculdade de Educação da Universidade Nnamdi Azikiwe Awka. Possui experiência como Bibliotecária Sênior e chefe da Seção de Periódicos na Biblioteca Professor Festus Aghagbo Nwako.

Doutora em Ciência da Informação pela University of Nigeria Nsukka. Mestra em Ciência da Informação pela University of Nigeria Nsukka. Bacharela em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela University of Nigeria Nsukka.


Redação e Foto: Florence Amaka Nwofor

Tradução: Pedro Ivo Silveira Andretta

Diagramação: Marcos Leandro Freitas Hübner

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