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v. 3, n. 4, abr. 2025
Narrativas em disputa: desinformação, pós-verdade e o desafio informacional na pandemia

Narrativas em disputa: desinformação, pós-verdade e o desafio informacional na pandemia

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Narrativas em disputa: desinformação, pós-verdade e o desafio informacional na pandemia

Pesquisa da Universidade Federal do Ceará revela como as redes sociais, em meio à pandemia, amplificaram conteúdos enganosos e desafiaram os limites entre verdade, crença e manipulação ideológica

Estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC) analisou a desinformação e a infodemia no contexto da pandemia de Covid-19. A pesquisa investigou como as redes sociais, como espaços de representação da vida cotidiana, amplificaram a disseminação de notícias falsas e distorcidas devido à cultura do compartilhamento. A desinformação nas redes sociais durante a pandemia alterou comportamentos e impactou a organização social. O trabalho examinou a ocorrência e evidência da desinformação e discutiu medidas para combatê-la.

“A pandemia da Covid-19 destacou de forma evidente o perigo que a disseminação de informações falsas representa para a sociedade, especialmente em situações caóticas e imprevisíveis, como uma pandemia global. As notícias falsas emergiram como protagonistas neste cenário, tornando-se ferramentas de poder e influência, capazes de se disseminarem rapidamente pelas redes sociais, onde a cultura de compartilhamento de informações entre as pessoas era altamente ativa. Isso ressalta a importância de lidar com a desinformação de maneira eficaz, a fim de mitigar seus efeitos prejudiciais”, explica Daiana Almeida, egressa do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFC e autora do estudo.

A desinformação resultou das interações entre indivíduos e dos temas discutidos em ambientes virtuais, formando uma complexa rede de fatores ligados aos contextos onde se propagou. A interpretação do que é desinformação variou entre indivíduos e foi influenciada pelo nível de educação. A desinformação, enraizada desde os primórdios das sociedades humanas, evoluiu com os avanços tecnológicos, transformando-se em um fenômeno de impacto ampliado no ambiente virtual.

“As notícias falsas acabaram servindo e influenciando grupos que disputavam ideologias e narrativas do mundo. Existiam milhares de pessoas que defendiam determinados tipos de comportamentos, crenças e valores e foi justamente para esses grupos que os produtores de fake news se empenharam em disseminar informações. Todos esses aspectos mencionados contribuíram para que a desinformação se tornasse um fenômeno de difícil combate que se projetava na nossa realidade de forma tão potente”, destacou a autora.

A análise das ações dos indivíduos nas redes sociais revelou que a falta de hábito de leitura, interpretação e compreensão de informações amplificou a desinformação. Durante a pandemia de Covid-19, a desinformação tornou-se ainda mais evidente, impactando todas as esferas da sociedade. O isolamento social agravou a situação, aumentando o tempo das pessoas nas redes sociais e, consequentemente, o fluxo de desinformação.

O objetivo foi mapear as desinformações sobre a pandemia no Brasil, usando conteúdos verificados pela agência de notícias Lupa, para identificar as principais temáticas dessas desinformações e investigar como o fenômeno se desenvolveu no contexto pandêmico. Além disso, explorou como a amplificação da desinformação, especialmente as fake news, decorria do comportamento informacional dos indivíduos nas redes sociais.

A pesquisa investigou também a influência das notícias falsas no cenário político brasileiro, destacando seu uso para manipulação, persuasão e controle. E abordou a cultura da pós-verdade, apresentando suas definições e evolução na sociedade e seus impactos.

A investigação se concentrou na desinformação relacionada à pandemia da Covid-19, verificando a credibilidade das informações através da Agência Lupa. O mapeamento dos dados coletados permitiu identificar as principais temáticas dos conteúdos desinformativos que circularam de 2020 a 2022.

Volume mensal de checagens dos anos 2020, 2021 e 2022 / Fonte: Almeida (2021, p. 77)

“Identificamos que a Agência de Notícias Lupa empregou uma metodologia estratégica para a verificação de notícias. Nesse sentido, quando uma notícia potencialmente falsa chegava à agência, era filtrada por um dos monitores de informação ou era submetida aos critérios de revisão. Na Lupa, alguns desses critérios envolviam números, comparações e dados históricos. Informações que faziam referência ao futuro geralmente não eram verificadas, pois estavam sujeitas a mudanças”, explicou a pesquisadora.

A Agência Lupa verificava informações usando estudos, jornais, revistas, Leis de Acesso à Informação (LAI) e assessorias de imprensa. Trabalhando em parceria com plataformas como Twitter, WhatsApp e TikTok, a Lupa redigia textos que indicavam se uma informação era falsa ou verdadeira, fornecendo evidências confiáveis.

A pesquisa mapeou desinformações sobre a Covid-19, apresentando esses conteúdos de forma estruturada com tabelas que mostravam a trajetória cronológica e as principais temáticas. Os dados permitiram refletir sobre o impacto da desinformação na sociedade, evidenciando como ela poderia afetar esferas políticas, econômicas, culturais e sociais. A desinformação ameaçava ainda mais o sistema democrático do país.

“O presente estudo pretendeu contribuir no combate e enfrentamento à cultura de disseminação de desinformação que tem se alastrado no Brasil. Ele surgiu como uma resposta diante do cenário caótico de proliferação de informações nas redes sociais, buscando destacar a importância do envolvimento ativo de profissionais da área da Ciência da Informação, autoridades políticas, instituições públicas e privadas, bem como todos aqueles genuinamente interessados em combater a desinformação”, finalizou Daiana.

Acesse a dissertação em:

ALMEIDA, Daiana. Riscos da desinformação: uma análise sobre a atuação da Agência Lupa no contexto da Covid-19 de 2020 a 2022. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/75409 . Acesso em: 23 de dezembro de 2024.


Redação: Vanessa Forte

Revisão: Pedro Ivo Silveira Andretta

Diagramação: Marcos Leandro Freitas Hübner

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