
De São Luís do Maranhão para o IBICT: trajetória de uma bibliotecária, por Clara Duarte

De São Luís do Maranhão para o IBICT: trajetória de uma bibliotecária
Clara Duarte Coelho
duarte.clara.coelho@gmail.com
De São Luís do Maranhão a Brasília, com uma breve passagem por Londrina, no Paraná, essa tem sido a minha trajetória como bibliotecária e pesquisadora. Iniciei a graduação em 2007 na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e, desde então, compreendi que havia encontrado a profissão que realmente desejava seguir. Escolhi o curso porque, ao analisar a grade curricular, percebi que ele reunia tudo o que eu gostava: comunicação, editoração, leitura e formação de leitores, marketing e atendimento ao público.
Segui o conselho de um aluno veterano que recepcionava os calouros com um discurso motivacional sobre a importância do curso e decidi viver intensamente a universidade. Fui integrante do Programa de Educação Tutorial (PET), envolvi-me com projetos de pesquisa e extensão, participei da organização de eventos científicos e culturais como a Primeira Calourada de Biblioteconomia da UFMA e de encontros de estudantes em outros estados, apresentando trabalhos científicos. Passei por grandes instituições como estagiária e conheci muitos estudantes e bibliotecários engajados pela valorização da profissão, que moldaram o meu perfil profissional.
Ao concluir a graduação, ingressei em uma biblioteca escolar de educação profissional, onde permaneci por seis anos. Nesse período, aprendi muito sobre a rotina dos serviços bibliotecários e vivenciei os desafios da profissão, como a desvalorização da categoria e a falta de estrutura. Atuei como gestora do Núcleo de Informação Tecnológica e Documentação, realizando atendimento aos usuários, palestras e orientações de normalização de trabalhos acadêmicos.
Após essa primeira experiência, candidatei-me ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (UEL/PR) e fui aprovada. Mudei de estado e morei no Paraná por dois anos, sendo bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Durante esse tempo, tive a oportunidade de estagiar na Informação & Informação e aprender com grandes nomes da Biblioteconomia e da Ciência da Informação.
As práticas de leitura e a biblioteca social sempre despertaram meu interesse, e percebi que poderia seguir por esse caminho acadêmico por acreditar que o acesso à leitura, tão debatido, ainda é uma realidade distante para muitos brasileiros. O contato com a leitura permanece atrelado, muitas vezes, ao que é oferecido pela educação formal no processo de escolarização, em virtude do número insuficiente de bibliotecas e projetos de incentivo à leitura que trabalhem o desenvolvimento intelectual da população.
Desenvolvi pesquisas na área da mediação da leitura literária e investiguei as ações das bibliotecas comunitárias de São Luís. Na dissertação, analisei as atividades desenvolvidas pela Rede Terra das Palmeiras, tendo como campo as bibliotecas Monteiro Lobato e Portal da Sabedoria, localizadas em áreas periféricas, onde as políticas públicas raramente chegam. Busquei compreender a mediação da leitura nelas presente e identificar a percepção da comunidade sobre a contribuição dessas iniciativas para a formação de leitores. Constatei que, apesar do impacto positivo da mediação da leitura promovida pelos atores envolvidos, as dificuldades relacionadas à sustentabilidade ainda limitam a ampliação e a continuidade das ações, tanto internas quanto externas.
Ao concluir o mestrado, voltei para São Luís e fui convidada para atuar em parceria com a Rede Leitora Terra das Palmeiras em um projeto de incentivo à leitura chamado Tecendo Sonhos, financiado pelo Itaú Social. O projeto tinha como objetivo reduzir o índice de evasão e repetência escolar por meio de ações de leitura voltadas a crianças e adolescentes de baixa renda e com baixo nível de desempenho escolar em uma Unidade de Ensino Básico Municipal.
Nos seis meses de atuação no projeto, tive a oportunidade de vivenciar, na prática, a mobilização da sociedade civil para intervir de forma propositiva por meio do acesso à leitura e, consequentemente, aos bens culturais em comunidades periféricas — em uma realidade em que apenas duas bibliotecas públicas são encarregadas de atender toda a demanda da cidade de São Luís e as políticas culturais são descontinuadas a cada mudança de governo.
Após a pandemia, decidi me desafiar e migrei para a gestão escolar. Aceitei uma proposta para ser diretora de uma escola de idiomas, onde atuei por cinco anos. Nesse período, concluí uma segunda graduação, em Ciência de Dados, por entender que a Biblioteconomia está interligada a várias áreas do conhecimento.
Mesmo trabalhando em outra área, mantive-me conectada à Biblioteconomia, acompanhando as movimentações da área e os concursos públicos — pois meu objetivo sempre foi integrar, como servidora pública, uma grande instituição ligada à informação e à pesquisa.
Dediquei-me aos estudos e, entre reprovações e boas colocações, comecei a prestar concursos em outros estados, até que, em 2024, alcancei a tão sonhada aprovação. Em julho de 2025, fui nomeada servidora pública federal do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) no cargo de bibliotecária.
A mudança para Brasília tem sido desafiadora, mas acredito que a vida é feita de ciclos, e cada fase traz oportunidades de crescimento. A cada início tem sido um aprendizado, não só profissional, mas também pessoal. Está sendo uma experiência incrível trabalhar no Ibict e contribuir para a ciência do país. Ser bibliotecária é acreditar no poder transformador da sociedade por meio da informação — e é justamente essa transformação, percebida nos pequenos gestos e nas grandes conquistas, que dá sentido à minha caminhada.
Sobre o autor
Tecnologista – Bibliotecária do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
Mestra em Ciência da Informação pela Universidade Estadual de Londrina. Bacharela em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Maranhão e em Ciência de Dados pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Redação: Clara Duarte Coelho
Fotografia: Clara Duarte Coelho
Diagramação: Iasmim Farias Campos Lima









