
Roda de capoeira do Chafariz da Redenção: inclusão social e valorização da cultura negra

Roda de capoeira do Chafariz da Redenção: inclusão social e valorização da cultura negra
Roda de Capoeira do Chafariz: 20 anos de resistência e preservação da cultura afro-brasileira
Estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) divulgou a relevância da Roda de Capoeira do Chafariz, que ocorre há 20 anos, desde 2003, no Parque da Redenção, aos domingos, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
“Nosso trabalho homenageia o Mestre Moa do Katendê, que sempre estará vivo em nossas lembranças. A covardia daqueles que propagam o ódio e matam os nossos nunca apagará a capacidade da Capoeira, do Afoxé, das Culturas Africana e Afro-brasileira de continuarem revolucionando”, explicou Rafael Bortoli, egresso do curso de mestrado do Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio da UFRGS e autor do estudo.
Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Mestre Moa do Katendê, foi um compositor, artesão, educador e mestre de capoeira brasileiro. Ele desempenhou um papel significativo no fortalecimento dos afoxés nos anos 1970. O Mestre Moa do Katendê foi vítima de um assassinato em 8 de outubro de 2018, um triste episódio que evidencia a intolerância contra o Mestre.
“Inicialmente, abordamos os conceitos de patrimônio, com ênfase no patrimônio cultural, que se refere aos bens culturais de diferentes coletividades reconhecidos e registrados por elas, como é o caso da Capoeira, que foi reconhecida pelo IPHAN em 2008 e pela UNESCO em 2014”, explica Rafael.

De acordo com o pesquisador, é de extrema importância registrar esses patrimônios, para que as gerações futuras possam ter acesso seguro a eles, compreendendo sua importância e a necessidade de preservá-los. Portanto, é essencial respeitar, cultivar e valorizar o patrimônio cultural.
A Capoeira tem sua origem na África, como um ritual, uma dança, chegando ao Brasil na época da escravidão, quando escravizados africanos foram trazidos em navios negreiros. A Capoeira tem, na sua essência, a resistência do povo negro africano, afro-brasileiro, afro-indígena. A luta pela libertação é uma característica dessa forma de expressão popular, ainda mais, em um período em que as liberdades eram tomadas pelas mãos de escravocratas.
A Roda de Capoeira realizada no Chafariz da Redenção foi objeto de investigação com a finalidade de compreender e analisar sua memória e significado para os participantes, no contexto da promoção da inclusão social, valorização da cultura popular, garantia dos direitos humanos e preservação desse importante patrimônio cultural brasileiro.
A análise da Capoeira neste trabalho concentrou-se em duas perspectivas principais: a branquitude e o racismo estrutural. O debate em torno da branquitude examina os privilégios que certas pessoas possuem em uma sociedade marcada pelo racismo.
“Saliento que o medo de perder privilégios é atitude covarde e racista. E o racismo estrutural está imerso, ao mesmo tempo em que engloba, toda essa problemática social criada por pessoas brancas”, enfatiza o autor.
A pesquisa estabeleceu uma conexão entre a defesa dos direitos humanos, a luta contra o racismo e um patrimônio cultural: a Capoeira. Além dos elementos de luta, a Capoeira tem a responsabilidade de honrar o passado junto aos Mestres e difundi-lo no presente, a fim de que as novas gerações preservem com seriedade essa expressão afro-brasileira.

A Roda do Chafariz não é apenas um local para a prática da Capoeira, mas também um ambiente que valoriza a cultura popular. Nos espaços onde a cultura popular é promovida, se o acesso for livre, gratuito e houver inclusão social, com a presença de uma diversidade plural e acolhedora, valorizando uma expressão cultural de determinadas coletividades, ocorre uma valorização concreta.
A pesquisa estabeleceu uma conexão entre a defesa dos direitos humanos, a luta contra o racismo e um patrimônio cultural: a Capoeira. Além dos elementos de luta, a Capoeira possui a responsabilidade de honrar o passado em conjunto com os Mestres e de difundi-lo no presente, a fim de que as novas gerações preservem com seriedade essa expressão afro-brasileira.
Uma roda de capoeira, em muitos casos, é considerada diferente da cultura erudita, como concertos e óperas, que geralmente são apreciados pelas classes dominantes ou pelos próprios integrantes da chamada classe média, sendo considerada como cultura popular.

A Roda do Chafariz se estabeleceu como um local que valoriza e expressa a cultura popular de Porto Alegre, sendo reconhecida em âmbito nacional. Em 2023, ela celebrou seu 20º aniversário, consolidando-se como uma referência para as Rodas de Capoeira no estado do Rio Grande do Sul, sendo reconhecida até mesmo por Mestres de outras regiões, como da Bahia, berço da Capoeira, e São Paulo.
O espaço enaltece a cultura popular ao receber regularmente renomados Mestres e Mestras expoentes da Capoeira Angola no país, além de contar com a presença constante de referências de Mestria no Rio Grande do Sul.
A pesquisa enfatizou a importância desse evento como um elemento de inclusão social, valorização da cultura popular e promoção dos direitos humanos. A Roda de Capoeira do Chafariz tem sido um catalisador de integração, oferecendo um espaço de encontro para pessoas de diversas origens e classes sociais, fortalecendo a identidade cultural e promovendo a igualdade e a diversidade.
“Ao mencionar a importância da preservação da Roda de Capoeira do Chafariz da Redenção, foco principalmente na tarefa imediata, além das questões relevantes já mencionadas anteriormente: vamos fortalecer cada vez mais esse espaço aos domingos, envolvendo capoeiristas e a população em geral”, conclui Rafael.
Acesse a dissertação em:
BORTOLI, Rafael Berbigier. Roda de capoeira do chafariz da redenção: inclusão social e valorização da cultura negra. Dissertação (Mestrado em Museologia e Patrimônio) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2023. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/257018 . Acesso em: 17 de junho de 2025.
Redação: Vanessa Forte e Pedro Ivo Silveira Andretta
Foto: Arquivo da Escola de Capoeira Angola Raízes do Sul, Alan Silva, Bruno Machado e Rafael Bortoli.
Revisão: Pedro Ivo Silveira Andretta
Diagramação: Marcos Leandro Freitas Hübner









