• contato@labci.online
  • revista.divulgaci@gmail.com
  • Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho - RO
v. 3, n. 7, jul. 2025
Paradoxos do esquecimento: uma coletânea que tensiona as memórias do golpe de 1964, por Icléia Thiesen e Fabrício Silveira

Paradoxos do esquecimento: uma coletânea que tensiona as memórias do golpe de 1964, por Icléia Thiesen e Fabrício Silveira

Abrir versão para impressão

Paradoxos do esquecimento: uma coletânea que tensiona as memórias do golpe de 1964

Icléia Thiesen e Fabrício José Nascimento da Silveira
icleiathiesen@gmail.com | fabrisilveira@gmail.com


Em 2023, um grupo de pesquisadores de diferentes universidades e de diversas especialidades aceitou a proposta de produzir e tornar pública uma coletânea abordando temas que tangenciam o fenômeno da memória e suas relações com a história, priorizando o esquecimento e os paradoxos que ele impõe em nossa sociedade atual. A ideia foi revisitar o golpe de 1964 às vésperas dos 60 anos de instauração do regime militar, bem como analisar seus impactos na história do país, marcando, ainda, a celebração dos 10 anos de publicação do Relatório da Comissão Nacional da Verdade (2014). 

Tendo por guia esses objetivos, cientistas da informação, sociólogos e historiadores debruçaram-se sobre questões que assinalam os efeitos da violência de Estado, traduzida em tortura, mortes e desaparecimentos, muitos ainda hoje não esclarecidos em sua totalidade graças à Lei da Anistia promulgada em 1979, que protegeu os crimes cometidos e não julgou os torturadores, impondo, assim, um silêncio perverso que ressoa no desconhecimento sobre o passado por amplos setores e segmentos populacionais do país.

Icléia Thiesen é pesquisadora e Professora Titular de Ciência da Informação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Em termos de sua estrutura, a coletânea é composta por 16 capítulos e um testemunho (Lucia Hussak van Velthem), além de uma apresentação (Icléia Thiesen e Fabrício Silveira), do prefácio escrito por Nilmário Miranda – Assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) – e de textos que figuram nas orelhas e quarta capa escritos por Pablo Gomes, professor do Instituto Federal do Maranhão (IFMA).

Colaboraram com a obra 24 autores e autoras vinculados a 13 instituições distintas (CEFET-RJ, Fiocruz-RJ, Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro, Museu Paraense Emilio Goeldi, UERJ, UFAM, UFMG, UFPA, UFRJ, UFRN, UNB, UNIRIO e USP). Em seus textos, cada pessoa pesquisadora buscou compreender os modos de produção, mediação e circulação da informação e do conhecimento no/e sobre o pós-regime de exceção (a ditadura civil-militar brasileira), questionando o passado sombrio que nos torna irreconciliáveis enquanto sociedade, interrogando o esquecimento a fim de revelar não só fatos ocorridos no período ditatorial, mas, também, as intenções que tendem a induzir grupos e instituições a ocultarem e até mesmo impedirem deliberadamente a emergência de um passado histórico ainda não devidamente esclarecido.

Em face disso, o título da coletânea coloca em evidência os “Paradoxos do esquecimento”,  a fim de ressaltar que, se as tentativas de ocultamento e falsificação do passado perduram de forma mais ou menos duradoura na linha do tempo do pós-ditadura, as lutas políticas pelos direitos humanos – nelas incluídos os compromissos com a memória, a verdade e a justiça – trazem de volta ao campo social as discussões sobre esse passado agora revisitado, cujas disputas tem se dado o (re)enquadramento da memória histórica e sua reparação.

Fabrício José do Nascimento da Silveira é professor junto à Universidade Federal de Minas Gerais

Isso implica dizer que na coletânea, o esquecimento é abordado e tensionado em suas múltiplas faces. Para além da anistia imposta aos brasileiros em 1979 – um esquecimento decretado, conforme indica Paul Ricoeur (2007) – são consideradas sua expressão na forma de silêncios, apagamentos e distorções. Ou seja, tanto como categoria analítica quanto problema inadiável a ser enfrentado por indivíduos, grupos e instituições comprometidos com a consciência histórica em prol do fortalecimento de políticas de memória que sejam capazes de obstruir e de lançar luzes sobre as amarras sombrias do nosso passado recente.

Referências

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.

Adquira o livro em:

THIESEN, Icléia; SILVEIRA, Fabrício José Nascimento da. Paradoxos do esquecimento: memória, história, informação. Rio de Janeiro: 7Letras, 2023. Disponível em: https://7letras.com.br/livro/paradoxos-do-esquecimento/. Acesso em: 06 de julho de 2025.

Sobre os autores:

Icléia Thiesen

Professora Emérita aposentada da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Atua como pesquisadora e professora junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. É coordenadora científica adjunta da Rede Franco-Brasileira de Pesquisadores em Mediações e Usos Sociais dos Saberes e da Informação – Rede MUSSI. Líder do Grupo de Pesquisa Memória e Espaço. Coordenadora do Laboratório de História Oral, Informação e Documentação (LAHODOC).

É doutora e mestre em Ciência da Informação pelo convênio entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui graduação em Museologia pelo Museu Histórico Nacional e em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Santa Úrsula. Realizou estágio pós-doutoral em Ciência da Informação na Université Paul Sabatier – Toulouse III, na França. Pesquisadora bolsista junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Fabrício José do Nascimento da Silveira

Professor do curso de graduação em Biblioteconomia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais.

É doutor e mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais. Possui graduação em Biblioteconomia pela mesma instituição. Desenvolve, atualmente, pesquisa de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em História da Federal do Estado do Rio de Janeiro.


Redação: Icléia Thiesen e Fabrício José do Nascimento da Silveira

Fotografia: Icléia Thiesen e Fabrício José do Nascimento da Silveira

Diagramação e Revisão: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

0

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »