
Rede Moara: infraestrutura aberta para compartilhamento de códigos-fonte na pesquisa científica brasileira, por Bernando Vechi, Rebeca Moura e Milton Shintaku

Rede Moara: infraestrutura aberta para compartilhamento de códigos-fonte na pesquisa científica brasileira
Bernardo Dionízio Vechi
Rebeca dos Santos de Moura
Milton Shintaku
bernardovechi@ibict.br | rebecamoura@ibict.br | shintaku@ibict.br
Introdução
A ausência de um ambiente público nacional dedicado ao compartilhamento de códigos-fonte tem limitado a visibilidade e a reutilização de tecnologias produzidas por pesquisas no Brasil. A Rede Moara1 surge como resposta a essa lacuna, promovendo um sistema de informação voltado ao depósito, documentação e circulação de softwares livres desenvolvidos no âmbito científico.
Desenvolvida no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), a Rede Moara integra-se às políticas públicas de apoio à Ciência Aberta, oferecendo uma infraestrutura tecnológica composta por ferramentas colaborativas. Seu nome, derivado do Tupi, significa “aquele que ajuda no nascimento”, que, assim, simboliza o papel da plataforma na difusão de tecnologias abertas, encorajando a criação e o compartilhamento coletivo.
Estrutura da Rede Moara
A arquitetura da Rede Moara foi concebida para assegurar interoperabilidade, transparência e participação colaborativa. O ecossistema é sustentado por softwares livres amplamente reconhecidos, articulados em um ambiente integrado que compreende:
- GitLab: ambiente principal para o gerenciamento e depósito dos códigos-fonte, com suporte a controle de versão, documentação e colaboração entre desenvolvedores.
- Portal WordPress: site agregador com páginas dedicadas a cada software hospedado, organizadas conforme a taxonomia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), facilitando a navegação e a indexação dos conteúdos.
- Fórum (Discourse): espaço de interação entre pesquisadores, desenvolvedores e usuários, promovendo a troca de experiências e o suporte mútuo.
- Wiki Ibict: canal colaborativo para documentação técnica, orientações de uso e registros de atualizações, permitindo acesso aberto ao conhecimento produzido.
- Portal de Documentação Técnica: repositório de publicações científicas e relatórios institucionais relacionados aos softwares hospedados.

Além desses elementos, a Rede estabelece conexões com outras iniciativas do Ibict, como a Rede Cariniana, rede brasileira de suporte à preservação digital, e o BrCris, acrônimo para Current Research Information System, base para integração e prospecção de dados, e articula-se com agências de fomento e unidades de pesquisa, reforçando seu caráter estratégico.
Concepção jurídica e metodológica
O desenvolvimento da Rede Moara envolveu a análise de diferentes marcos legais, incluindo as Lei de Direitos Autorais, Lei de Software, Lei de Acesso à Informação e o uso da Licença Pública Geral GNU (GPL 3.0) como base para as diretrizes de compartilhamento. A plataforma busca equilibrar a proteção da autoria com os princípios da livre circulação do conhecimento, oferecendo suporte normativo à disponibilização dos códigos.

Esse processo demandou o estabelecimento de políticas institucionais específicas, como as relacionadas à titularidade, formas de licenciamento, documentação mínima exigida e critérios de curadoria técnica. Tais medidas visam garantir a qualidade da informação disponibilizada e fomentar práticas responsáveis de desenvolvimento e compartilhamento.
Impactos esperados
A atuação da Rede Moara se alinha à agenda nacional de Ciência Aberta, com impactos relevantes em múltiplas dimensões:
- Reutilização e replicabilidade: ao facilitar o acesso ao código-fonte, promove a validação independente de métodos científicos e incentiva a replicação de resultados;
- Eficiência e economia de recursos: evita a duplicação de esforços ao permitir que tecnologias já desenvolvidas sejam adaptadas a novos contextos;
- Democratização do acesso à tecnologia: amplia as possibilidades de uso e apropriação das soluções produzidas em pesquisa;
- Fortalecimento da soberania tecnológica: reduz a dependência de softwares proprietários estrangeiros e valoriza a produção nacional;
- Estímulo à colaboração interdisciplinar: propicia o surgimento de redes de cooperação entre pesquisadores, desenvolvedores e instituições públicas.
Considerações finais
A Rede Moara constitui um sistema de informação voltado ao compartilhamento de códigos-fonte no contexto da pesquisa científica, estruturado com base em ferramentas livres e integradas. Sua proposta supera o modelo de repositórios tradicionais ao incorporar mecanismos que favorecem a interação, a documentação e a organização das tecnologias desenvolvidas no âmbito da CT&I.
O público-alvo da Rede é composto por pesquisadores, programadores, bolsistas, analistas de sistemas, técnicos e estudantes que atuam no desenvolvimento ou na aplicação de soluções computacionais voltadas à pesquisa. Em geral, esse grupo enfrenta obstáculos para divulgar os códigos gerados em projetos científicos, seja pela ausência de canais apropriados, seja pela falta de diretrizes claras sobre licenciamento e documentação. A Rede Moara busca suprir essa demanda, ao disponibilizar uma estrutura acessível para registro, descrição e circulação de softwares científicos de forma articulada com os princípios da Ciência Aberta.

O funcionamento da Rede requer o envolvimento de instituições públicas e agências de fomento, especialmente no reconhecimento do depósito de códigos como uma etapa relevante da comunicação científica. A integração da Rede Moara às políticas institucionais pode ampliar a visibilidade das tecnologias desenvolvidas com financiamento público e incentivar práticas colaborativas entre diferentes atores da comunidade de pesquisa.
Nesse sentido, a Rede Moara atua como um componente da infraestrutura pública voltada à abertura dos resultados científicos, oferecendo suporte técnico e normativo à disseminação de códigos-fonte produzidos no Brasil. Ao favorecer a circulação de tecnologias abertas, contribui para ampliar o acesso a soluções existentes, estimular o desenvolvimento coletivo e fortalecer a produção científica nacional.
Notas dos editores:
[1] Perfil no Instagram:
Rede Moara – IBICT. Brasília, 08 ago. 2025. Instagram: @redemoara.ibict . Disponível em: https://www.instagram.com/
redemoara.ibict/. Acesso em: 08 de julho de 2025.
Redação e Fotografia: Bernardo Dionízio Vechi, Rebeca dos Santos de Moura e Milton Shintaku
Diagramação e Revisão: Alex Sandro Lourenço da Silva
Sobre os autores:
Pesquisador no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade de Brasília.
Desenvolvedora Web e Assistente de Pesquisa no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
Mestre em Engenharia de Sistemas Eletrônicos e de Automação e Bacharela em Engenharia da Computação pela Universidade de Brasília.
Coordenador de Tecnologia para Informação (Cotec) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. Professor junto ao Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação da Universidade Federal do Paraná.
Doutor e mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília. Graduado em Ciências e Habilitação em Matemática pelo Centro Universitário de Brasília.










Muito orgulho de ver uma iniciativa nacional fortalecendo a Ciência Aberta! 💜
Iniciativa inspiradora✨ parabéns a todos os envolvidos
Trabalho muito relevante e a importância da iniciativa foi didaticamente explicada no texto. Parabéns IBICT.
Parabéns pelo trabalho! Iniciativas como a Rede Moara são de extrema importância para a pesquisa no Brasil, muito bom ver propostas que incentivam o compartilhamento de código na pesquisa científica. Execelente!
Parabéns pelo projeto, e exatamente o que o Brasil precisava para valorizar nosso software científico
Iniciativa inspiradora! ✨ Parabéns a todos os envolvidos.
Já conheço a Rede Moara e recomendo para todo pesquisador que desenvolve código-fonte!
Achei bem interessante o projeto e espero que ele receba a atenção e o desenvolvimento necessários para ampliação, uma vez que em tempos de crescimento de desinformação e conteúdos anticientíficos, precisamos fortalecer sobremaneira a produção científica nacional.
Relevante artigo! Parabéns aos autores!