
O poder da Biblioterapia, por Fabyola Madeira

O poder da Biblioterapia
Fabyola Madeira
fabyola.madeira@camara.leg.br
Sempre me fascinou a maneira como uma simples história pode acender uma luz nos olhos de alguém, acalmar uma alma aflita ou inspirar uma nova perspectiva. A biblioterapia é exatamente isso: a arte e a ciência de usar a leitura – seja de livros, textos, contos, poemas, fábulas, imagens – e as reflexões e diálogos que ela provoca, como uma ferramenta para o bem-estar físico e emocional. Não é uma invenção de agora; é uma prática que se sustenta em estudos e pesquisas mundo afora, reconhecida por sua simplicidade e, ao mesmo tempo, por sua eficácia comprovada.
Um dos elementos fundamentais dessa prática é a escolha do texto, livro ou imagem que servirá como ponto de partida para o processo terapêutico. Esse material deve ser capaz de provocar emoção, inspiração, conforto ou reflexão, pois, na biblioterapia, a leitura ocorre de forma sequencial e experiencial — diferente, por exemplo, dos clubes do livro, onde há uma leitura prévia seguida por um debate agendado. Na biblioterapia, o texto em si atua como ferramenta de transformação, com potencial para ser motivacional, educativo ou emocional.
O processo pode acontecer de maneira individual, promovendo a reflexão intrapessoal, ou em grupo, permitindo trocas enriquecedoras entre diferentes perspectivas. Nesses casos, recomenda-se que os participantes registrem sentimentos, lembranças, conclusões e autorreflexões que surgirem durante a leitura, como parte do processo terapêutico.
Os efeitos da biblioterapia nem sempre são imediatos. Algumas leituras provocam reações sutis; outras, profundas. Silêncio, risos, lágrimas, confissões — tudo pode emergir. Mas uma coisa é certa: é impossível passar pela biblioterapia sem que alguma mudança interior aconteça.
A biblioterapia pode ser aplicada em praticamente qualquer lugar: parques, jardins, hospitais, escolas, bibliotecas, presídios, empresas, rodoviárias… A presença física enriquece o processo, mas, se necessário, encontros podem ocorrer por videoconferência — especialmente entre adultos, onde ainda é possível preservar um ambiente seguro e acolhedor.
Não é exigido que quem aplica a biblioterapia tenha formação específica. Ainda assim, considero fundamental uma boa preparação — por meio de estudo, leitura, cursos e pesquisa, além de conhecer minimamente o público atendido para escolher o material mais adequado.
Entre 2011 e 2018, participei como voluntária de um grupo de biblioterapia chamado Contadores de Histórias, em um grande hospital público de referência no Brasil. A diversidade do público era enorme: crianças, adultos, idosos, pessoas com diferentes níveis de escolaridade e situações de saúde — incluindo pacientes privados de liberdade. Essa experiência no Hospital de Base do Distrito Federal foi tão rica que resultou no livro O poder da Biblioterapia: amor em forma de histórias, publicado em 2019. Compartilho aqui algumas lições que considero essenciais:
- Todos são parte do processo terapêutico. O leitor e o ouvinte compartilham a experiência e aprendem juntos. Jamais se coloque em posição superior — você pode se surpreender com a profundidade do que o outro tem a ensinar.
- Conheça o material que vai ler. Você será o primeiro a ouvir, e isso pode provocar emoções inesperadas. Estar familiarizado com o texto ajuda a se preparar para possíveis reações.
- Adaptabilidade é chave. A biblioterapia pode ser feita de forma individual ou em grupo. Quanto mais homogêneo o grupo, mais específico pode ser o texto. Quanto mais diverso, mais genérico deve ser o material.
- Autoaplicação também funciona. A leitura silenciosa de textos terapêuticos pode promover reflexões e mudanças internas. Mesmo sem diálogo interpessoal, o texto fala diretamente com o leitor.
- Escuta empática é essencial. Saber quando silenciar, acolher e simplesmente estar presente faz toda a diferença. Muitas vezes, o silêncio é o espaço onde a verdadeira cura acontece.
Com crianças, tudo é diferente. Com o público infantil, o foco é o lúdico. Histórias divertidas e imaginativas ajudam a amenizar o sofrimento, permitindo que elas escapem, mesmo que por instantes, da realidade desafiadora.

Após esse período intenso de trabalho no hospital, minha vida passou por mudanças — com a gravidez dos meus filhos e a pandemia. O grupo de voluntários precisou se adaptar, e desde então venho praticando a biblioterapia de forma individual, especialmente comigo e com meus filhos. Foi nessa fase que descobri, com ainda mais clareza, os efeitos poderosos dessa prática.
Com essa certeza, aprofundei meus estudos e comecei a escrever contos que carregam os elementos mais relevantes da Biblioterapia. Essas histórias nasceram das narrativas que eu criava para o meu filho antes de dormir. Gostei tanto do resultado que decidi transformá-las em um livro. Ele será lançado em agosto de 2025 e terá ilustrações feitas pelo meu próprio filho, que se tornou o ilustrador oficial da obra.

Desde então, abraçamos juntos uma missão especial: criar um conto inédito por mês, acompanhado por uma ilustração original feita pelo meu filho, e oferecer esse conteúdo gratuitamente para todos que manifestarem interesse. Divulgamos e compartilhamos os contos pelo meu Instagram e, nesses quatro meses, já alcançamos um incrível público de crianças e adultos. Os feedbacks que recebo revelam que essas histórias realmente cumprem sua missão, tornando-se um acervo rico e sensível para a prática da biblioterapia — acessível e eficaz para pessoas de todas as idades e contextos.
A biblioterapia chegou à minha vida como um sopro suave de cura e propósito. Trouxe sentido, profundidade e conexão. Que ela também possa encontrar abrigo em outras vidas e continuar espalhando sementes de transformação.
Sobre a autora:
Bibliotecária da Câmara dos Deputados. Atuou como contadora de histórias no Hospital de Base do Distrito Federal, onde coordenou uma equipe de voluntários. Atualmente, é idealizadora do projeto “Histórias para dormir e acordar”, por meio do qual divulga mensalmente, no Instagram (@fabyolamadeira), contos ilustrados por seu filho Ricardo. Os textos também são disponibilizados em formato de áudio, com narração da própria autora, no canal do projeto no Spotify.
É Especialista em Gestão Pública pela Faculdade de Ciências de Wenceslau Braz. Especialista em Biblioteconomia pela Faculdade Internacional Signorelli. Bacharela em Biblioteconomia pela Universidade de Brasília.
Redação: Fabyola Madeira
Foto: Fabyola Madeira
Diagramação: Larissa Alves









