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v. 2, n. 3, mar. 2024
Além da Técnica: Ciência da Informação e Tecnologia como motores da mudança social, por Delfina Lázaro Mateus

Além da Técnica: Ciência da Informação e Tecnologia como motores da mudança social, por Delfina Lázaro Mateus

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Além da Técnica: Ciência da Informação e Tecnologia como motores da mudança social

Delfina Lázaro Mateus

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Na interseção entre Ciência da Informação (CI) e tecnologia, nasce uma poderosa ferramenta com o potencial de moldar o presente e o futuro das comunidades, especialmente em contextos de países em desenvolvimento, como Moçambique, onde se deve substituir visão tradicional e meramente técnica da tecnologia para uma compreensão mais profunda. 

Deve-se pensar a tecnologia também como uma ciência social e um mecanismo para dotar os cidadãos de superpoderes na resolução de problemas cotidianos e na criação de oportunidades.

Em um contexto como o de Moçambique, onde dominar a “informação” e as “tecnologias utilitárias” é essencial, os profissionais da informação desempenham um papel crucial como guias para orientar os cidadãos na aquisição de novos conhecimentos. 

No entanto, tais conhecimentos não devem ser apenas técnicos, mas também imbuídos de outras dimensões do saber como o sociológico, antropológico e psicológico, a fim de permitir que os cidadãos desbloqueiem a forma como pensam e lidam com seus problemas.

E isso demanda sensibilidade por parte dos profissionais da informação para compreender os contextos em que as pessoas estão inseridas, a fim de propor caminhos que as auxiliem a localizar, avaliar, recuperar e utilizar informações e tecnologias de maneira prática e eficiente. 

Tomando como exemplo a situação das mulheres em Moçambique, frequentemente entre os grupos mais vulneráveis, a abordagem prática e social da CI torna-se essencial para superar barreiras como a pobreza extrema e normas de gênero tradicionais que limitam a participação comunitária, educacional e profissional das mulheres. Além disso, desafios como o casamento infantil, a violência contra a mulher e a gravidez precoce, persistentes na sociedade moçambicana, demandam soluções adaptáveis e orientadas para a mudança social, especialmente através do acesso à informação e da tecnologia. 

Nesse sentido, a interseção entre CI e tecnologia não deve restringir-se à transmissão de habilidades técnicas, mas, sim, à adoção de uma abordagem sociotécnica, a qual  deve atuar como um catalisador de transformação social. Baseados nessa abordagem, especialmente em cenários semelhantes aos de Moçambique, nos quais, por exemplo, uma parcela significativa da população enfrenta obstáculos ao tentar utilizar serviços online do governo para obter documentos essenciais, como o bilhete de identidade.

Assim, a possibilidade de utilizar serviços governamentais simples, porém essenciais, significa um ato de empoderamento e transformação da informação em um recurso palpável e concreto, impactando efetivamente o cotidiano dos cidadãos. 

As questões colocadas até então nos levam a pensar a CI como uma “casa da invenção” [1], o que implica entender que os desafios sociais não são obstáculos intransponíveis, mas oportunidades para inovação e progresso. Por isso, essa disciplina não se limita a identificar problemas; ela lança luz sobre questões que exigem soluções criativas e inovadoras e que não devem apenas impulsionar a criação de novas ferramentas e sistemas, mas também resolver problemas sociais, muitos dos quais se mostram mais sociais do que técnicos à primeira vista.

Ademais, por ser a CI um campo interdisciplinar e em transformação, é importante refletir que as necessidades das comunidades também estão em permanente mutação. Portanto, a capacidade de personalizar soluções é essencial, pois não existe uma abordagem única; cada comunidade tem necessidades específicas que requerem soluções adaptadas, tanto em informação quanto em tecnologias.

No cerne desse pensamento, é possível compreender que a CI não é apenas uma disciplina acadêmica, mas também um veículo para ação social que pode ajudar a sociedade a enfrentar os desafios como analfabetismo, acesso limitado à tecnologia e informações utilitárias, além de redefinir normas culturais e sociais que inibem o desenvolvimento e o empoderamento das pessoas, independentemente de gênero, idade ou outras características.

Para concluir, a CI não apenas reflete o estado atual da sociedade, mas também molda seu futuro, tornando-se uma força motriz para um desenvolvimento sustentável e inclusivo em Moçambique e além.

Nota dos Editores: 

[1] No Brasil, foi publicado o livro “A casa da invenção: bibliotecas, centro de cultura” por Luís Milanesi, que disserta sobre como a biblioteca pode ser centro de cultura e informação.

Delfina Lázaro Mateus

Professora do curso de Licenciatura em Biblioteconomia junto a Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique. Especialista em Gestão da Documentação e Informação do Hospital Central de Maputo. 

Doutora em Archivos, Bibliotecas y Documentación e Mestra em Bibliotecas y Servicios de Información Digital pela Universidad Carlos III. Mestra em Creación de Empresas, Nuevos Negocios y Proyectos Innovadores pela Universidad de Cádiz.


Redação e Foto: Delfina Lázaro Mateus

Revisão e Notas: Alex Sandro Lourenço da Silva

Diagramação: Alex Sandro Lourenço da Silva

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