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v. 2, n. 6, jun. 2024
Mulheres feministas negras e lésbicas e o protagonismo social

Mulheres feministas negras e lésbicas e o protagonismo social

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Mulheres feministas negras e lésbicas e o protagonismo social

Pesquisadora propõe discussão acerca da mediação da informação e o protagonismo social para combate às violências de raça, gênero e sexualidade

A informação e o conhecimento são importantes no desenvolvimento e satisfação de atividades humanas. Ao longo da história, a informação concentrou-se em um determinado perfil de pessoas, da elite econômica branca e dominante, tornando-se, assim, um instrumento de poder. A prática desse comportamento, que direciona o conhecimento, em todos os campos, a um grupo específico, provoca como efeito colateral o enfraquecimento do lugar de enunciação de uns e o empoderamento de outros, considerando os grupos prejudicados comumente os de vulnerabilidade socioeconômica.

Refletindo a respeito, a pesquisadora Aline Ferreira, em sua dissertação intitulada “Mediação da informação e o protagonismo social para mulheres feministas negras e lésbicas: combate às violências de raça, gênero e sexualidade”, aborda a importância da mediação da informação, tornando o protagonismo social de mulheres negras feministas e lésbicas uma realidade e dando a este grupo seu lugar de enunciação.

Durante muitos anos, mulheres negras e pertencentes à comunidade LGBTQIAP+ e grupos de vulnerabilidade social não eram representadas nos movimentos feministas. A pesquisa trata da temática da mediação da informação, e seu objetivo principal, sendo o protagonismo social, é identificar como podem ajudar as mulheres negras e lésbicas a superar os desafios e imposições da sociedade no âmbito de raça, gênero e sexualidade.

“Engana-se quem entende o feminismo como algo hegemônico e unificado. Dentro do movimento existem muitas singularidades, e tais diferenças acabaram gerando um conflito dentro do próprio movimento. Pois, o feminismo, o pensamento e a realidade da mulher branca e heterossexual, não é o mesmo pensamento e necessidade da mulher negra, indígena, lésbica, de baixa renda, entre outras”, pontua Aline.

Para a pesquisadora, a mediação da informação é entendida como meio para a apropriação do protagonismo e como base do processo de conscientização, domínio dos conhecimentos e do exercício da crítica, que são elementos fundamentais para a formação dos indivíduos protagonistas nestes grupos de vulnerabilidade, como apresenta o trabalho, mulheres feministas negras e lésbicas.

Segundo a autora, para a colaboração da coleta de dados, contou com a participação da Coletiva Visibilidade Lésbica Floripa – MUDIÁ, uma coletiva feminista que aborda pautas e movimentos que combatem injustiças a grupos vulneráveis de Florianópolis/SC e região, tendo como membros mulheres lésbicas, negras e brancas. A Coletiva está engajada nas demandas das mulheres lésbicas, buscando visibilidade, articulação e organização, com o intuito de divulgar, produzir e explorar soluções.

Um dado importante a considerar é que comunidades que têm acesso à informação relevante, de qualidade e no tempo certo ficam menos suscetíveis às violências, às desigualdades e mais bem posicionadas para erradicar a pobreza. Mostra-se que o melhor antídoto para sair da condição de subordinação social está na qualidade e acesso à educação, dignidade ao promover a saúde e a cultura e o acercamento à pesquisa e inovação.

A Agenda 2030 (Nações Unidas, 2023) considera, dentro da Ciência da Informação e da Biblioteconomia, o desdobramento de projetos alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Além disso, o acesso público à informação permite que as pessoas tenham a consciência de que podem melhorar suas vidas. Uma comunidade ciente de seus deveres e especialmente de seus direitos proporciona profundo impacto ao seu redor e acrescenta à totalidade da sociedade.

No entanto, a autora aponta a dificuldade ao longo da pesquisa para a coleta das entrevistas, pois, em sua maioria, as participantes que se declararam lésbicas eram mulheres brancas. Considera-se a hipótese de que mulheres negras se assumem como lésbicas em menor quantidade, justificado pela soma do enfrentamento do racismo, preferindo, portanto, ocultar tal dado.

“Considerando que o feminismo negro surgiu justamente pela desigualdade em relação aos grupos étnico-raciais presentes, é cada vez mais evidente essa segregação, sendo que, por serem negras, as opressões vêm com peso maior do que por serem mulheres e lésbicas, sendo a última uma característica que pode ser omitida”, pontua Aline.

O estudo traz luz para que sua temática seja mais bem explorada e faz um chamamento para que assuntos como esse sejam objeto de pesquisa mais presentes na área da Biblioteconomia e Ciência da Informação, de modo a fortalecer a discussão e buscar alternativas que diminuam as disparidades sociais. Deste modo, contribui para ampliar temáticas, enriquecendo discussões e promovendo ações de âmbito coletivo e individual.

“Pensar essa temática torna-se ainda mais relevante quando se vê a necessidade de mais estudos dentro da Ciência da Informação e da Biblioteconomia. Percebo que existem pouquíssimas pesquisas nas áreas sobre feminismo negro, mulheres negras, relações raciais, estudos de gênero e orientações sexuais”, pondera a pesquisadora.

Considerar a figura da pessoa bibliotecária para além da função de profissional da informação e dar a ela ferramentas para desenvolver sua função social fortalece ainda mais a comunidade. Tornando-se mediadora e facilitadora desses grupos, como também quem luta em conjunto para o desenvolvimento do protagonismo social, a partir de sua entrega, diferentes grupos podem construir suas próprias narrativas, com direito a representatividade e escuta em todos os lugares de direito, dever e nos quais desejem estar.

Primeira página da “Cartilha de Combate aos desafios de raça, gênero e sexualidade”, criada pela pesquisadora Aline Ferreira

Como resultado da pesquisa, foi desenvolvida uma cartilha para o fortalecimento da autonomia de mulheres negras e lésbicas, com o intuito de informar e combater violências e exclusões. Mediando tais informações, torna-se a discussão mais acessível e, portanto, possível para a comunidade.

Acesse a dissertação em:

FERREIRA, Aline. Mediação da informação e o protagonismo social para mulheres feministas negras e lésbicas: combate às violências de raça, gênero e sexualidade. 2023. 149 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade  do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2023. Disponível em: https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/8764/Disserta__o_Aline_Ferreira_PPGInfo_16956412067148_8764.pdf . Acesso em: 31 de maio de 2024.


Redação: Tânia Vieira Rangel

Revisão: Pedro Ivo Silveira Andretta

Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta

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