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v. 2, n. 6, jun. 2024
Entrevista com Gabrielle Araújo sobre sua pesquisa que abordou maternidades lésbicas e identidades de gêneros em contextos adversos

Entrevista com Gabrielle Araújo sobre sua pesquisa que abordou maternidades lésbicas e identidades de gêneros em contextos adversos

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Entrevista com Gabrielle Araújo sobre sua pesquisa que abordou maternidades lésbicas e identidades de gêneros em contextos adversos

Gabrielle Mansur Araújo

gabrielle1araujo@gmail.com

Sobre a entrevistada

Em 2022, a pedagoga Gabrielle Mansur Araújo defendeu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, sob orientação do Prof. Dr. Christian Muleka Mwewa.

Natural de Bilac (SP), Gabrielle é professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental e tem como hobbies ler, pintar, praticar pole dance e maratonar séries.

Sua dissertação, intitulada “Maternidades Lésbicas e Subversividades: Identidades de Gêneros em Contextos Adversos” buscou compreender a construção de identidades de gêneros das crianças de casais de mulheres trans e cis gêneros. Mais especificamente, o estudo buscou compreender como esse processo acontece a partir das ações dessas mulheres na educação identitária de seus filhos e filhas.

Convidamos Gabrielle para nos relatar como foi sua experiência no programa de mestrado e o desenvolvimento de sua pesquisa.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?

Gabrielle Mansur Araújo (GMA): Fazer mestrado sempre foi um sonho desde a graduação, todavia, não existia o curso no meu campus até o penúltimo ano da minha graduação. Comecei pesquisar o feminismo como tema do meu TCC, analisando por esse viés o livro “O conto de Aia”. Com toda tensão que o país, e principalmente, a comunidade LGBTQIA+ sofreu no ano da eleição do presidente Bolsonaro, tive interesse em pesquisar a temática voltada para a infância. Pensando em estratégias para alcançar as crianças, eu e meu orientador optamos por pesquisar famílias LGBTQIA+ para compreender o processo da educação identitária que acontecia nesse ambiente. Aqui na minha cidade existe o coletivo (Re)sistência que atuou como grande intermediário desse processo. 

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

GMA: Não sei se existe o principal beneficiado, acredito que a pesquisa buscou visibilizar famílias que são vistas como “marginalizadas”. O principal benefício é que a partir da pesquisa e da divulgação dos dados encontrados essas famílias se sintam valorizadas, pertencentes e importantes. Além de claro, mostrar ao leitor que essa configuração familiar é apenas mais uma como tantas outras, com o mesmo objetivo de todas elas: amar, proteger e educar seus filhos.  

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

GMA: A principal contribuição foi poder dar voz àquelas mulheres e famílias, tentando fazer com que a sociedade, de modo geral, se dispa de seus preconceitos e olhe para essa configuração familiar.  

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

GMA: Educação, infâncias e diversidades – pois se alinha ao meu tema.

DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

GMA: A ação decisiva que mudou drasticamente meu percurso durante a pesquisa foi conhecer e conseguir assistir aulas do programa de doutorado da UFSC, onde pude me aprofundar nos estudos feministas e de gêneros. Esses temas não eram abordados nas disciplinas do meu curso, inclusive, relato esse fato no texto da dissertação. 

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

GMA: Estudei muito antropologia da infância e etnografia, li relatos e pesquisas sobre o assunto, e fui buscando por meio da internet oportunidades que eu poderia usufruir. A intenção não era fazer uma pesquisa engessada, quis ter liberdade de ir mudando a metodologia conforme as necessidades e opções. 

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

GMA: Não tive muita dificuldade nessa parte, me aprofundei nos meus estudos e me apeguei em pesquisas parecidas para que a escrita da minha dissertação conseguisse sair (ainda que pouco) da formalidade acadêmica, para isso utilizei muitas ideias de Bell Hooks. 

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação? 

GMA: 100% em tudo, a inspiração que me fazia prosseguir e a transpiração, bom… faz parte. Quem não transpira fazendo um trabalho que julga importante? 

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

GMA: Não sei se seria desabafo, mas gostaria de agradecer meu orientador que durante o processo se tornou um grande amigo e parceiro de estudos. Tanto ele como eu precisávamos nos aprofundar mais em algumas temáticas para atingir a intencionalidade da pesquisa, ele topou fazer as aulas como aluno comigo na UFSC, procurou referências e professores(as) que poderiam nos auxiliar na temática. Claro, ele já estudava muito sobre o tema, mas do modo que eu queria que a pesquisa fosse, acredito eu que em alguns momentos fez com que ele deixasse de lado algumas concepções dele e me deu espaço para criar as minhas. 

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

GMA: Minha família me ajudou muito, durante a pandemia precisei retornar para a casa da minha mãe. Apesar dela não entender muito (completou apenas o ensino médio já grávida) sabia que era importante. Meu pai e meu marido foram meus maiores incentivadores, não me deixaram desanimar. E também meu amigo e irmão de alma, Leonardo, que sonhou junto comigo desde a graduação, e sonha até hoje.

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

GMA:  Que eles compreendam que foi um trabalho de uma menina que se agarrou ao que acreditava e buscou referências para isso. Durante a escrita eles vão perceber que além de um trabalho acadêmico e formal, foi também um trabalho que disse muito sobre mim e que eles possam utilizá-lo como referência de que a dissertação deles também pode dizer muito sobre eles, que é importante deixar que sua “doação” a essa longa trajetória seja repassada para os demais. Além disso, espero que eles também compreendam que não é preciso usar apenas referências coloniais e masculinas, que hoje, nossa temática é ampla e cada vez mais moderna, plural e potente.

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

GMA: Já publiquei um ou dois artigos, particularmente não gosto da burocracia das revistas e da escrita desse tipo de trabalho. Mas adoro participar de eventos nacionais e internacionais, neles valorizo as “conversas informais” que abrem portas novas perspectivas, pessoas e lugares.

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

GMA: Estou atuando como professora efetiva na rede pública de ensino da cidade de Três Lagoas – MS. Tirei 2 anos (contando com esse) para me recuperar, pensar em novos horizontes e enriquecer meu currículo. Penso em voltar para a academia para realizar o doutorado, mas hoje me sinto muito feliz em apenas deleitar livros, se é que me entende. 

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

GMA: Sim, sim. Novas estratégias para continuar estudando a educação familiar, tema o qual me apaixonei.

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

GMA: Nada, acredito que a imaturidade intelectual faz parte da trajetória e superar obstáculos, fazer novas descobertas, cobiçar sonhos e ter novas aprendizagens é importante para todo mundo, academicamente ou humanamente falando. É isso que me moveu durante todo o percurso do mestrado. 

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

GMA: Para ser bem sincera, meu PPGE não foi dos melhores, tive uma disciplina ou outra que de fato atendeu minhas necessidades. 

DC: Você por você:

GMA: Nós pesquisadores e pesquisadoras passamos tanto tempo estudando os outros, e não conseguimos falar de nós mesmos, não é? (risos). Eu sou só mais uma olhando tudo que acontece em volta e buscando explicar de alguma forma. Eu sou só mais uma que também tenta olhar tudo que acontece por dentro e busco explicar de alguma forma. Acredito que esses dois movimentos se encontram constantemente e me transformam todos os dias em uma nova pessoa, com novas ideias, novos sonhos, novos erros, novas aprendizagens…


Entrevistada: Gabrielle Mansur Araújo

Entrevista concedida em: 15 fev. 2024 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

Fotografia: Gabrielle Mansur Araújo

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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