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v. 2, n. 5, maio 2024
Editorial: Museus são lugares de educação e pesquisa, sim!, por Vera Mangas

Editorial: Museus são lugares de educação e pesquisa, sim!, por Vera Mangas

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Museus são lugares de educação e pesquisa, sim!

Vera Mangas

mangasvera@gmail.com

Qual o significado do museu na atualidade? Como olhar os museus no futuro? É de fundamental relevância debater a dimensão do papel dos museus enquanto espaços de construção de memória, saberes e fazeres. Eles guardam significados de diferentes tempos históricos e de agentes sociais e representam um direito fundamental de preservação da memória coletiva, uma das bases de formação da sociedade. 

Muito avançamos quanto ao que entendemos por museu. Em suas formas e proposições, sentidos e valores, práticas e usos. Se olharmos para apenas os últimos vinte anos, os museus vêm sendo provocados a se reinventarem diante dos avanços de novas tecnologias, pela ampliação de saberes e expectativas dos seus públicos e pelas dificuldades em se manterem sustentáveis, desafiando novas formas de gestão. 

Os museus não são mais a expressão de perpetuidade das tradições e heranças materiais e imateriais. Representam locais de luta material e simbólica, de construção de

memórias e narrativas, sejam estas individuais e/ou coletivas, visando o bem-estar, o respeito aos direitos humanos, o fortalecimento da cidadania e o reconhecimento do direito de todos os cidadãos à memória, à arte e à cultura.

Vale destacar que a ampliação do conceito de patrimônio é resultado não apenas de uma política pública para o setor como também do avanço das conquistas sociais, que se enxergaram e se empoderaram dos seus significados. Isso garantiu ampliar o olhar para o patrimônio para além das políticas de salvaguarda.

De acordo com a nova definição de museu, aprovada no ano de 2022 durante a realização da 26ª Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus (ICOM), na cidade de Praga (República Tcheca): “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos e ao serviço da sociedade que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Com a participação das comunidades, os museus funcionam e comunicam de forma ética e profissional, proporcionando experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimentos”.

Para se chegar a esta definição, percorremos um longo caminho de debates, escutas, consultas e sistematizações que foram realizados pelos Comitês Nacionais e Internacionais e conduzidos pelo Grupo de Trabalho ICOM Define.

Capa do livro “Um caminho com múltiplos olhares”, que aborda participação brasileira no processo da nova definição de museu

Ainda que a nova definição não tenha incorporado ao seu enunciado alguns conceitos-chave apontados na consulta pública realizada pelo ICOM Brasil – como, por exemplo, “antirracismo” -, avançamos com importantes conceitos/ações. Podemos citar a inclusão social, a acessibilidade, a garantia de práticas democráticas, a produção de conhecimento e a visão dos museus como espaços de comunicação com seus públicos e territórios.

A partir deste contexto, o ICOM elegeu, para o ano de 2024, um tema preciso para celebrar o Dia Internacional dos Museus, que acontece anualmente em 18 de maio desde 1977. “Museus, Educação e Pesquisa” será o tema da campanha para este ano, nos convidando a refletir sobre dois papéis estratégicos que garantem um diálogo entre os acervos e seus públicos – tudo o que os faz dar sentido à compreensão de seu alcance social. 

A temática anunciada pelo ICOM ganha alcance no Brasil com uma ação nacional que dura uma semana, a Semana Nacional de Museus, coordenada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), autarquia federal responsável pela política pública de museus. Museus, espaços de memórias e cultura, em todas as regiões do país, participam com inúmeras atividades, como exposições, debates, rodas de conversa e outras ações. 

O tema deste ano nos provoca a refletir sobre o papel dos museus enquanto espaços de ação educativa e de produção de conhecimento. Para além das atividades de preservação, conservação e comunicação de seus acervos, é por meio da ação educativa que os museus exercem seu papel na transformação social e na interpretação da cultura e da memória.

Por outro lado, reconhecer os museus como locais em que também se realiza pesquisa é uma oportunidade de inseri-los num contexto de construção ativa do conhecimento. No Brasil, podemos apontar inúmeros museus que se destacam no campo da pesquisa e que compreendem a importância do estreitamento com as universidades e demais instituições que desenvolvem estudos e pesquisas no campo dos museus, da museologia e áreas correlatas. Eles estimulam a produção de dados e indicadores que dialogam com a missão das instituições e que se debruçam na construção de estudos e pesquisas sobre acervos e públicos.

Assim, compreendemos que os museus têm uma posição estratégica no campo da cultura e do patrimônio. Retornamos ao tempo presente e olhamos o futuro com a garantia da importância em se recuperar e construir as memórias das nossas instituições. Estamos diante de um mundo mutante, em que a tecnologia nos desafia a rever nossas práticas, formas de comunicação e de se relacionar. Se partimos da ideia de que o patrimônio precisa construir laços de pertencimento com a sociedade, e que esta precisa se apropriar dos seus valores culturais para afirmar sua identidade, temos que estabelecer compromissos com as memórias dos fazeres, dos sentimentos e dos saberes que se interpõem a silêncios e esquecimentos.

Para isso, a educação e a pesquisa se tornam ações estratégicas para os museus. Por meio dessas ações, dialogamos com os nossos públicos e, assim, nos aproximamos da função social dos museus.

Sobre a autora

Vera Mangas

Ex-Presidente do Conselho Internacional de Museus (ICOM Brasil). Dirigente do Escritório de Representação Regional do Instituto Brasileiro de Museus, no estado do Rio de Janeiro. 

Doutora em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.  Mestra em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia e convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bacharela em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.


Foto: Vera Mangas

Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta e Jônatas Silva dos Santos

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