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v. 2, n. 5, maio 2024
Desafios da oferta do Curso de Biblioteconomia na modalidade EaD na Amazônia Ocidental, por Tatiana Fernandes

Desafios da oferta do Curso de Biblioteconomia na modalidade EaD na Amazônia Ocidental, por Tatiana Fernandes

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Desafios da oferta do Curso de Biblioteconomia na modalidade EaD na Amazônia Ocidental

Tatiana Brandão Fernandes

tatybrafer@ufam.edu.br

A Educação a Distância (EaD) se apresenta como uma modalidade de educação mediada pelo uso de tecnologias de informação e comunicação, por meio da qual professores e alunos interagem separados no espaço e/ou tempo (Alves, 2011). Também é possível encará-la como uma modalidade que provoca questões pedagógicas específicas com novos desafios para as dinâmicas da aprendizagem contemporânea (Barros, 2013).

No Brasil, a EaD não é recente. Além disso, quando falamos na oferta de cursos de graduação em Biblioteconomia, é possível rastrear tais discussões à década de 2000, com o Decreto Nº 5.800/2006 — que instituiu o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) — mas, sobretudo, vale mencionar a aprovação da Lei Federal 12.244 de 24 de maio de 2010, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino brasileiras, conhecida popularmente como Lei das Bibliotecas Escolares.

Não resta dúvidas de que a aprovação da Lei das Bibliotecas Escolares foi um marco, mas ao mesmo tempo também trouxe à tona o déficit no número de profissionais formados para atuarem nesses espaços. Diante deste cenário, o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) constituiu uma parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio da UAB, a fim de ofertar em âmbito nacional o curso de Bacharelado em Biblioteconomia na modalidade EaD, cuja criação foi aprovada pelo Ministério da Educação (MEC) em 2010 (Rozados; Barbalho, 2015).

Partindo dessa iniciativa, as Escolas de Biblioteconomia distribuídas nas diferentes regiões do país foram convidadas a ofertar o curso. Na Região Norte, tal oferta seria um desafio ainda maior devido às características da região no que tange à sua dimensão geográfica, bem como suas particularidades logísticas e tecnológicas. Apesar disso, seria imprescindível levar a formação em Biblioteconomia para a Região, especialmente sob o argumento da interiorização, expansão e democratização da oferta de ensino superior público em regiões distantes da Capital, tal como preconizava o projeto de criação da UAB em 2005, além do déficit de profissionais da Região.

Nesse contexto, o curso ofertado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em convênio com a UAB e Capes, foi criado por meio da Resolução Nº 059 em 2018. A primeira turma teve início em 2021 com 200 alunos matriculados em 10 Polos distribuídos em 4 Estados na Amazônia Ocidental: Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia.

O primeiro desafio enfrentado pelos alunos da EaD se deu pela dificuldade do acesso à internet em algumas localidades e pela dificuldade com o uso do Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem (AVEA). Embora fosse oferecido um treinamento de nivelamento tecnológico presencial em cada polo, o período da pandemia da COVID-19 dificultou tal oferta, sendo necessário mudar a dinâmica da oferta para a modalidade remota, o que acabou impactando no desempenho dos alunos quanto ao uso da plataforma e, consequentemente, acarretando desistências.

Todavia, nos semestres seguintes, os alunos começaram a ganhar maior familiaridade com o uso da plataforma e de outras ferramentas tecnológicas utilizadas como apoio ao processo de aprendizagem. A autonomia na condução dos horários de estudo e planejamento de elaboração de atividades, conforme calendário de avaliações, passou a fazer parte da rotina dos estudantes que se habituaram também à participação em encontros síncronos e eventos complementares à formação.  Adicionalmente, a atuação de tutores presenciais e a distância no atendimento individual, além de encontros síncronos com professores e coordenação do curso, foi fundamental para garantir maior aproximação dos alunos diminuindo a evasão nos períodos subsequentes.

Cabe pontuar, nessa medida, que a modalidade EaD se caracteriza por um aprendizado que ocorre de forma autônoma, em que o aluno é tanto protagonista quanto diretor dos papéis que deve desempenhar. As salas de aula são elaboradas previamente com todo o conteúdo e orientações de modo que o discente seja capaz de conduzir seu processo de aprendizado por meio do acesso ao conteúdo, análise, interpretação e desenvolvimento da capacidade de realizar inferências e produzir seu conhecimento, caracterizando um processo de aprendizagem independente e flexível (Barros, 2013).

Alicerçada nessas etapas de sucesso, a disciplina Estágio se tornou um novo desafio que tomou conta das discussões do Núcleo Docente Estruturante (NDE). Prevista no Projeto Pedagógico Nacional do Curso de Biblioteconomia na modalidade EaD, a disciplina de Estágio encontra-se a partir do quinto período da grade curricular e deve ocorrer preferencialmente em diferentes tipologias de bibliotecas sob a supervisão do profissional bibliotecário.

Atualmente o curso caminha para o sétimo período, de modo que os Estágios I e II têm ocorrido em ambientes nos quais sua realização é possível, uma vez que existem lugares que não possuem o profissional com formação, como é o caso do município de Santa Isabel do Rio Negro no Amazonas. Para casos como este, o NDE discutiu o formato remoto da disciplina, realizado em 4 etapas distribuídas em Estágio I, II, III e IV com atividades que envolvem o conhecimento da comunidade onde estão situadas as escolas e bibliotecas escolhidas pelos alunos (embora não haja o profissional), a observação do ambiente, o planejamento da gestão, estrutura e proposta de serviços. 

Diante disso, há uma preocupação de que a disciplina de Estágio no formato remoto possa retirar a oportunidade do aluno de executar a prática sob a supervisão e orientação de um profissional, e que isso possa comprometer o aprendizado. No entanto, a experiência tem sido satisfatória, e seus resultados têm mostrado que os alunos não apenas são capazes de relacionar os conteúdos teóricos das disciplinas a uma análise do ambiente em que estão realizando as atividades, como conseguem, em simultâneo, pensar em propostas inovadoras aos ambientes estudados.

Em virtude de todas essas considerações, a oferta da formação em Biblioteconomia na Amazônia Ocidental na modalidade EaD, ao mesmo tempo em que evidencia problemas que podem comprometer a qualidade do ensino, também mostra que a educação a distância amplia o acesso à educação de qualidade em locais distantes e isolados geograficamente que não possuem instituições de ensino superior gratuitas. Outro ponto positivo é a facilitação do acesso às pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida a adentrarem o ensino superior. Ademais, amplia a oferta de formação para as pessoas que não possuem o perfil e os requisitos para realizar o curso presencialmente por falta de tempo e obrigações da vida adulta.

Quanto ao corpo docente, a modalidade EaD tem agregado novos elementos ao processo de ensino, não substituindo a figura do professor, mas potencializando o seu trabalho. No que concerne às relações humanas, com a mediação da tecnologia podem tornar-se mais próximas e mudar de formato, mas sempre continuarão sendo relações humanas. A diferença reside, portanto, na autonomia do aluno que precisa ser capaz de buscar informação e tecer inferências na produção do seu conhecimento (Provenzano, 2013).

Para a Região Norte, a oferta Curso de Biblioteconomia na modalidade EaD, embora desafiadora, tem contribuído para uma democratização mais célere do ensino superior em localidades distantes e isoladas e continuará contribuindo, no futuro, para a mudança e melhoria de vida nestes locais com a presença do profissional bibliotecário, que será um importante ator no desenvolvimento da Educação Básica assim como em outras frentes.

Referências: 

[1] ALVES, Lucineia. Educação a distância: conceitos e história no Brasil e no mundo. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, [s. l.], v. 10, 2011. Disponível em: https://seer.abed.net.br/RBAAD/article/view/235. Acesso em: 24 abr. 2024.

[2]  BARROS, Daniela Melaré Vieira. EAD, Tecnologias e TIC: Introduzindo os aspectos didáticos e pedagógicos do tema. In: YONEZAWA, Wilson Massashiro; BARROS, Daniela Melaré Vieira. EAD, Tecnologias e TIC. [S. l.]: Faculdade de Filosofia e Ciências, 2013. p. 35–49. Disponível em: https://ebooks.marilia.unesp.br/index.php/lab_editorial/catalog/book/55. Acesso em: 24 abr. 2024.

[3] BRASIL. Decreto nº 5.800, de 8 de junho de 2006. Dispõe sobre o Sistema Universidade Aberta do Brasil – UAB. Diário Oficial da União, 9 jun. 2006. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5800.htm. Acesso em 20 de abril de 2024.

[4] BRASIL. Lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010. Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12244.htm. Acesso em: 20 de abril de 2024.

[5] PROVENZANO, Maria Esther. A mediação docente sob o olhar dos cursistas. In: YONEZAWA, Wilson Massashiro; BARROS, Daniela Melaré Vieira. EAD, Tecnologias e TIC. [S. l.]: Faculdade de Filosofia e Ciências, 2013. p. 51–68. Disponível em: https://ebooks.marilia.unesp.br/index.php/lab_editorial/catalog/book/55. Acesso em: 24 abr. 2024.

[6] ROZADOS, Helen Beatriz Frota; BARBALHO, Célia Regina Simonetti. Graduação a distância em biblioteconomia: a parceria do CFB com a UAB. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação. São Paulo, v. 11, n. especial, p. 447-464, 2015. Disponível em:   https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/521 . Acesso em: 24 abr. 2024.

Sobre a autora:

Tatiana Brandão Fernandes

Professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas e coordena o curso de Biblioteconomia na modalidade EAD. É pesquisadora e membro do grupo “Gestão da Informação e do Conhecimento na Amazônia” da Universidade Federal do Amazonas. 

Doutora em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia em convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestra em Ciências da Comunicação pela Universidade Federal do Amazonas. Especialista em Monitoramento e Inteligência Competitiva pela Universidade Federal do Amazonas. Bacharela em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Amazonas.


Redação e Foto: Tatiana Brandão Fernandes

Diagramação: Jônatas Silva dos Santos

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