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v. 2, n. 4, abr. 2024
Entrevista com Natasha Coutinho sobre sua pesquisa que investigou as práticas informacionais do Grupo de Apoio a Mães de Autistas de Maricá, Rio de Janeiro

Entrevista com Natasha Coutinho sobre sua pesquisa que investigou as práticas informacionais do Grupo de Apoio a Mães de Autistas de Maricá, Rio de Janeiro

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Entrevista com Natasha Coutinho sobre sua pesquisa que investigou as práticas informacionais do Grupo de Apoio a Mães de Autistas de Maricá, Rio de Janeiro

Natasha Coutinho Revoredo Ribeiro

natashacrribeiro@gmail.com

Sobre a entrevistada

Em 2023, a bibliotecária Natasha Coutinho Revoredo Ribeiro defendeu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia em convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob orientação da Profª. Drª. Regina Maria Marteleto.

Natural do Rio de Janeiro (RJ), Natasha, de 25 anos, vive com sua mãe e pet, e tem como hobbies ler, assistir séries e passear, principalmente à praia, como uma legítima carioca.

Em sua dissertação, intitulada “Redes sociais, mediação e práticas de informação: o Grupo de Apoio a Mães de Autistas de Maricá, RJ (GAMAM)”, Natasha teve como objetivo compreender como os processos de mediação, as interações e as práticas de informação do grupo se organizam para apoiar, construir conhecimentos, promover a cidadania das mães que compõem o Grupo e para favorecer o acesso ao tratamento, cuidado e inclusão dos autistas do município de Maricá.

Nesta entrevista, Natasha nos conta sobre sua experiência no mestrado e os detalhes do desenvolvimento de sua pesquisa.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação

NC: Na graduação, apaixonei-me pela pesquisa e, assim que me formei, sabia que queria seguir na área acadêmica. No meu TCC, estudei sobre os benefícios que a biblioterapia poderia proporcionar a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, no mestrado, quis continuar a estudar sobre o TEA. Em uma palestra que dei sobre o meu TCC conheci o GAMAM e algumas de suas fundadoras e tive contato com as ações desenvolvidas por essas mães para proporcionar melhores condições de vida para seus filhos e decidi, então, fazer um estudo de caso sobre o grupo.

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

NC:  Acredito que o próprio GAMAM, pois espero que a pesquisa traga visibilidade para o grupo e suas ações. Além disso, a dissertação apresenta um olhar de fora – de uma pesquisadora que não faz parte do grupo –, o que pode ajudar o GAMAM a reconhecer seus pontos fortes e identificar o que pode ser aprimorado.

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

NC: A dissertação destaca o papel central que as mães de autistas desempenham ao serem mediadoras de seus filhos perante a sociedade e a força que elas possuem ao se organizarem em redes sociais. Também descreve algumas das principais dificuldades pelas quais essas mulheres passam, podendo ajudar a despertar a empatia das pessoas. Na área da Ciência da Informação, a pesquisa destaca a centralidade de pensar a informação enquanto um elemento de ação social para transformação da realidade.

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

NC: Meu trabalho está inserido na Linha de pesquisa 2: Configurações Socioculturais, Políticas e Econômicas da Informação do PPGCI/IBICT-UFRJ, uma vez que convoca a Ciência da Informação a pensar a informação em relação direta com a sociedade, ao relacionar os conceitos de redes sociais, mediação e espaço informacional para pensar o GAMAM e de trabalhar com os conceito de práticas de informação, conhecimento e cidadania.

DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

NC: Muitos trabalhos e autores foram fundamentais para a minha pesquisa, mas um que, em especial, me ajudou muito, foi a tese da minha orientadora Regina Marteleto, intitulada Cultura, educação e campo social: discursos e práticas de informação.

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

NC: O primeiro passo foi a submissão do trabalho ao Comitê de Ética em Pesquisa. Após a aprovação, entrevistei 19 mães que fazem parte do grupo: 9 mães da liderança, ou seja, as organizadoras do grupo e 10 mães participantes. As entrevistas foram semiestruturadas: eu utilizei um roteiro, mas tinha a flexibilidade de inserir questões de acordo com o andamento das conversas. Depois de realizar as entrevistas, fiz a transcrição de todas e realizei uma análise temática, agrupando os assuntos que apareceram nas entrevistas em temas para que pudesse discorrer sobre eles.

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

NC: Quando entrei no PPGCI, eu precisei reformular meu projeto, pois por conta da pandemia da Covid-19 e do “pouco tempo” do mestrado, não teria como eu desenvolver o que eu havia pensado inicialmente. Então, pensar em um novo projeto já dentro da pós foi desafiador. A parte das entrevistas também foi um desafio. Primeiro porque o local em que eu realizaria as entrevistas (Casa do Autista de Maricá, RJ) ficou sem luz por um mês aproximadamente, então eu tive que adiar essa parte da pesquisa. Conseguir marcar um encontro com as entrevistadas também foi difícil, o que me levou, inclusive, a realizar algumas entrevistas online pois, do contrário, eu não conseguiria realizar todas as entrevistas a tempo. E a própria análise temática foi bastante trabalhosa, pois eu tive um corpus de dados gigantesco.

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?

NC: É difícil mensurar, pois ambos acabaram se mesclando no processo. A dissertação me exigiu muita “transpiração”, pois fiz muitas entrevistas, então fiquei muito tempo em campo e analisei um grande corpus de dados. Na parte final na dissertação, em especial, precisei me dedicar integralmente à pesquisa, renunciando a fins de semana e a noites de descanso. Em contrapartida, a própria análise dos dados me exigiu muita inspiração e criatividade para apresentar os dados de uma forma que fossem entendidos não só por especialistas, como por pessoas leigas, e essa foi uma das razões de eu ter escolhido ilustrar minha análise em mapas mentais. Além disso, toda a parte teórica da pesquisa exigiu bastante trabalho intelectual.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

NC:  Apesar dos desafios e de ter sido um período turbulento, sou muito grata aos aprendizados que tive no mestrado, aos professores com quem tive aula no PPGCI, aos membros das bancas de qualificação e defesa e à minha orientadora. No fim, eu fiquei muito feliz e satisfeita com a minha dissertação e foi muita gratificante o retorno que tive da banca de defesa.  

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

NC: Quando estamos na pós, acabamos deixando algumas partes da nossa vida de lado, por conta da demanda, e comigo não foi diferente. Mas minha mãe sempre me apoiou muito e me deu todo o suporte possível para que eu conseguisse fazer o mestrado.   

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

NC: Ao estudar redes sociais e suas práticas, procure sempre entender o funcionamento do grupo, o que levou a sua criação, seus objetivos e formas de atuação. E, ao lidar com pais de pessoas neuroatípicas tenha um olhar empático. 

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

NC: Eu considero que fui produtiva, mas eu gostaria de ter publicado mais. Em 2022, apresentei um resumo expandido no XXII Enancib, que ganhou o primeiro lugar da categoria no GT3. A partir desse resumo, escrevi e publiquei o artigo Grupos de Familiares de Autistas na Reivindicação de Direitos:

RIBEIRO, N. C. R.; MARTELETO, R. M. Grupos de Familiares de Autistas na Reivindicação de Direitos. Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 16, p. 1-25, 2023. Disponível em: https://revistas.ancib.org/index.php/tpbci/article/view/605 . Acesso em 06 abr. 2024.

Também publiquei o artigo O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais enquanto um dispositivo info-comunicacional:

RIBEIRO, N. C. R.; MARTELETO, R. M. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais enquanto um dispositivo info-comunicacional. Encontros Bibli, Florianópolis, v. 28, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2023.e90801  . Acesso em 05 abr. 2024.

Ainda não publiquei um artigo com os resultados da pesquisa, mas dei uma palestra sobre no 9° Fórum sobre Competência em Informação: pesquisas e práticas no Rio de Janeiro, em 2023. 

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

NC: Desde a defesa tenho me focado em estudar para concursos públicos na área da Biblioteconomia. 

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

NC: Pretendo fazer doutorado também em Ciência da Informação, mas ainda não decidi sobre o que irei pesquisar: se vou seguir na mesma linha da dissertação ou se vou estudar uma temática diferente.

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

NC: Teria participado de mais bancas de qualificação, para entender melhor o processo. E teria levado o mestrado com mais leveza, sem tantas cobranças internas.

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

NC: O PPGCI – e aqui incluo os docentes, a coordenação e os colegas discentes – contribuiu para a realização da minha pesquisa e para meu amadurecimento enquanto pesquisadora. Por causa do programa também tive a oportunidade de apresentar um trabalho no XXII Enancib. Em contrapartida, trabalhei no XXI Enancib, que foi organizado pelo PPGCI/ IBICT-UFRJ e acredito que minha pesquisa e publicações também agregaram ao PPGCI. 

DC: Você por você

NC: Meu nome é Natasha, tenho 25 anos e sou carioca. Moro com minha mãe, que é a pessoa mais importante da minha vida, e com um dálmata de quase 3 anos que alegra meus dias (e me estressa um bocado também haha). Sou apaixonada por livros e pelo poder que eles têm de nos transportar para dentro de suas páginas, e essa foi uma das razões que me fizeram escolher a Biblioteconomia. Esse amor pela leitura foi inspirado pelo meu pai, que sempre gostou de ler e que me incentivou muito, sempre comprando gibis para mim e livros curtos quando eu era criança; ele faleceu quando eu tinha 11 anos. Por ser uma pessoa que gosta de aprender coisas novas, de estudar e de exercitar a criatividade, desde a graduação me interessei pelo universo da pesquisa acadêmica, o que me levou a fazer o mestrado. Além de ler, gosto muito de assistir séries e de passear e, em especial, de ir à praia, como boa carioca que sou.


Entrevistada: Natasha Coutinho Revoredo Ribeiro

Entrevista concedida em: 14 fev. 2024 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Pedro Ivo Silveira Andretta

Fotografia: Natasha Coutinho Revoredo Ribeiro

Diagramação: Marcos Leandro Freitas Hübner

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