Pessoas e encontros na Ciência da Informação, por Isa Maria Freire
Pessoas e encontros na Ciência da Informação
Isa Maria Freire
isafreire2011@gmail.com
Cheguei ao Mestrado em Ciência da Informação em março de 1982. O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) estava instalado no espaço do Observatório Nacional, em São Christovão, no Rio de Janeiro. Fui levada pelas mãos das professoras Vania Maria Rodrigues Hermes de Araújo e Hagar Espanha Gomes, coordenadora do Mestrado.
A biblioteca era um presente para docentes e discentes, o sorriso da bibliotecária Ilce Cavalcanti e a boa vontade de Sebastião Silva na xerox me incentivavam a passar o dia buscando informações. Quando defendi minha dissertação o Ibict tinha sido transferido para Brasília, mas o Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP) ficou no Rio de Janeiro, ocupando um espaço do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, compartilhando a área verde do campus Praia Vermelha, da UFRJ.
Também fui para Brasília, pouco tempo depois, e lá tive oportunidade de trabalhar para a Organização dos Estados Americanos, na produção de um manual de fontes de informação, e para a UNIDO, a agência da Organização das Nações Unidas para o desenvolvimento industrial.
O professor Jaime Robredo era o coordenador do projeto, e nessa experiência aprendi a escrever com simplicidade, colocando em prática a “consciência possível” para transmissão da informação tecnológica. No início de 1988 fui nomeada Tecnologista do Ibict.
Voltei ao Rio de Janeiro em 1994, para fazer parte da equipe e cursar o doutorado, recém aprovado pela Capes. Os pesquisadores do Ibict, a maioria com doutorado no exterior, formavam o grupo mais consolidado da área de Ciência da Informação no Brasil. Para minha sorte, em 1995 celebrava-se os 25 anos da Pós-Graduação do Ibict e o Departamento de Ensino e Pesquisa organizou uma edição especial1 da revista Ciência da Informação com artigos de convidados e dos pesquisadores: Aldo de Albuquerque Barreto, Rosali Fernandez de Souza, Heloisa Tardin Christovão, Lena Vania Ribeiro Pinheiro, Maria Nélida González de Gómez, Gilda Maria Braga, Regina Maria Marteleto, Maria de Nazaré Freitas Pereira, Nice Figueiredo, Sarita Albagli, Helena Maria Martins Lastres, Gilda Olinto do Valle Silva, Vania Maria Rodrigues Hermes de Araújo, e eu.
Foi Carmelita do Espírito Santo2 quem me trouxe o modelo do regime de informação, que aplicamos na sua pesquisa do Mestrado, e logo Roberto José Gervasio Unger3 e Claudia Regina Delaia4 também aplicaram, com sucesso, a abordagem a suas respectivas dissertações. Os artigos derivados das pesquisas são citados regularmente na literatura e sou grata por tudo que aprendi com esse trio maravilhoso!
Entretanto, o momento da aposentadoria se aproximava e iniciei o treinamento para essa nova etapa da vida.
Naquele momento o Ibict estava conveniado com a Universidade Federal Fluminense, e lá busquei meu aprendizado como docente na graduação, em Biblioteconomia e Arquivologia. Sou profundamente grata às professoras Nanci Gonçalves da Nóbrega e Sandra Borges Badini, que me receberam em suas respectivas disciplinas e foram de inestimável ajuda nesse processo, e à professora Vania Araújo, que discutiu os resultados e escreveu o artigo5 conosco. Mas não fiquei apenas nessa experiência: por cortesia do professor Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, participei de suas aulas na graduação e co-orientei um Trabalho de Conclusão de Curso6, do bibliotecário Anderson Morais Chalaça, sobre o tesouro de conhecimentos de um bairro chamado Maré.
Ainda no Ibict, tive a ideia de criar um periódico secundário para nossa área, no Brasil, e recebi todo o apoio institucional, além da inestimável ajuda dos professores Vania Araújo (um anjo onipresente!) Gustavo Henrique de Araújo Freire: nascia a Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia (PBCIB)7, que publica seu 19º volume neste ano de 2024.
Em 2008 me aposentei e tomei o rumo do Nordeste, onde mamãe me aguardava feliz da vida, e um concurso para docente na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) me atiçava o ânimo. Em julho fui contratada para o Departamento de Ciência da Informação e logo depois credenciada para o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, que coordenei por dois anos.
No projeto apresentado à banca do concurso delineei os primeiros traços do que seria o Laboratório de Tecnologias Intelectuais – LTi, para cujo modelo operacional foram imprescindíveis as contribuições dos professores Guilherme Ataíde Dias e Gustavo Freire. Ambos fazem parte da equipe do projeto, bem como os professores Edvaldo Carvalho Alves, Emeide Nóbrega Duarte e Julio Afonso Sá de Pinho Neto; desde então, muitos companheiros de docência e pesquisa passaram a contribuir, como se pode observar na página Equipe do LTi8 na internet.
O professor Marckson Roberto Ferreira de Souza e Jayro Pita Brito, Mestre em Ciência da Informação pela UFPB, contribuem com a gestão do Portal LTi na internet, onde estão acessíveis inúmeros dispositivos e artefatos de informação de interesse para nossa área.
Começamos a trabalhar com os alunos da graduação através do Programa de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq e UFPB. Estão na equipe, até agora, Pablo Matias Bandeira, Editor Executivo da PBCIB, cursando o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), e Niedja Nascimento Barros, Editora Adjunta do blog De olho na CI9, Mestre em Ciência da Informação pela UFPB. Em 2010 produzimos o primeiro evento do Simpósio Brasileiro de Ética da Informação, que vem tendo continuidade no espaço do Congresso Internacional em Tecnologia e Informação – TOI, criado e coordenado pelo professor Francisco Carlos Paletta na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Em 2013 tive a alegria da comunicação10 sobre a mandala das virtudes dos profissionais bibliotecários, escrita na boa companhia das professoras Alba Lígia de Almeida Silva e Geysa Flávia Câmara de Lima Nascimento, ter sido escolhida como melhor trabalho apresentado ao XXV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação. Minha alma bibliotecária vibrou!
Muitos anos se passaram desde que cheguei ao Ibict para fazer o Mestrado. Em cada um deles recebi da vida a oportunidade de aprender e compartilhar o aprendizado. Continuo fazendo pesquisa e compartilhando os resultados, por achar que nossa área é necessária à organização e comunicação da informação, agora em rede.
Sou grata à vida por cada um desses companheiros de viagem, cada um dos eventos em que estive presente, e aguardo a chegada de novos colaboradores, vindos de todas as áreas com as quais a Ciência da Informação dialoga. Especialmente aqueles interessados em transmitir a informação para quem dela necessita, mesmo que não saiba que necessita. Simples assim.
[1] CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Brasília: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, v. 24, n. 1, 1995. Disponível: https://revista.ibict.br/ciinf/issue/view/53 Acesso em: 08 fev. 2024
[2] SANTO, C. DO E., FREIRE, I. M. “Quissamã somos nós!”: construção participativa de hipertexto. Ciência Da Informação, Brasília, v. 33, n.1, p. 155-168, jan./abril 2004. Disponível em: https://doi.org/10.18225/ci.inf.v33i1.1080 . Acesso em: 08 fev. 2024
[3] UNGER, R. J.; FREIRE, I. M. Sistemas de informação e linguagens documentárias no contexto dos regimes de informação: um exercício conceitual. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 4, n. 2, p. 102–115, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.20396/rdbci.v4i1.2038 . Acesso em: 08 fev. 2024
[4] DELAIA, C. R.; FREIRE, I. M. Subsídios para uma política de gestão da informação da Embrapa Solos – à luz do regime de informação. Perspectivas Em Ciência Da Informação, Belo Horizonte, v. 15, n. 3, p. 107–130, 2010. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/22697 . Acesso em: 08 fev. 2024.
[5] FREIRE, I. M.; NÓBREGA, N. G; BADINI, S. B.; ARAUJO, V. M. R. H. Ação de informação para cidadania: Biblioteca e Arquivo Escolar. Perspectivas em Ciência Da Informação, Belo Horizonte, v. 14, n. 1, p. 117–130. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/23586 . Acesso em: 08 fev. 2024.
[6] CHALAÇA, A. M.; FREIRE, I. M; MIRANDA, M. L. C. O tesouro de conhecimentos de um bairro chamado maré: pessoas como fontes de informação. Encontros Bibli, Florianópolis, v. 12, n. 24, p. 92–110, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2007v12n24p92 . Acesso em: 08 fev. 2024
[7] PESQUISA BRASILEIRA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2006- . ISSN: 1981-0695 versão online. Disponível em: https://pbcib.com/index.php/pbcib/index . Acesso em: 08 fev. 2024.
[8] LABORATÓRIO DE TECNOLOGIAS INTELECTUAIS. Equipe. De olho na CI. Disponível em: https://www.deolhonaci.com . Acesso em: 08 fev. 2024.
[9] LABORATÓRIO DE TECNOLOGIAS INTELECTUAIS. De olho na CI. Disponível em: https://www.deolhonaci.com . Acesso em: 08 fev. 2024.
[10] FREIRE, I. M.; SILVA, A. L. A.; NASCIMENTO, G. F. C. L. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 78-93, jan./jun. 2015. Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/347 Acesso em: 08 fev. 2024.
Professora aposentada do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, onde coordenou o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Coordena o Laboratório de Tecnologias Intelectuais – LTi, que criou em 2009 com apoio do CNPq. Editora Científica do periódico Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia.
Doutora e Mestra em Ciência da Informação pelo convênio entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Com pós-doutoramento na Escola de Comunicações e Artes da Universidade Federal de São Paulo. Bacharela em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Redação e Foto: Isa Maria Freire.
Revisão: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
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