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v. 2, n. 2, fev. 2024
Desinformação na Pandemia: análise da influência nas declarações de Bolsonaro

Desinformação na Pandemia: análise da influência nas declarações de Bolsonaro

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Desinformação na Pandemia: análise da influência nas declarações de Bolsonaro

Estudo da UFPB examina efeitos da desinformação durante a COVID-19 no Brasil

Estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) explora a influência da desinformação durante a pandemia de COVID-19 no Brasil, com foco nas declarações do Presidente Jair Bolsonaro entre 2020 e 2022.

A pesquisa aborda a evolução das formas de comunicação e informação ao longo da história humana, destacando a influência do contexto sociocultural e político-econômico. E enfatiza a interação entre poder, informação e conhecimento, observando como práticas orientadas pela acumulação de capital podem negligenciar valores essenciais, como respeito e empatia.

“O questionamento ou relativização da ciência e da história permitem a consolidação de novas versões de fatos sem o compromisso com a argumentação e a comprovação destes, possibilitando o desenvolvimento de uma cultura de ódio e ignorância”, afirma Juliana Marques, egressa do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFPB e autora do estudo.

Nesse contexto, a pós-verdade, marcada por falácias e desinformação, influencia processos de informação por meio de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) e plataformas sociodigitais.

A “engenharia do caos”, com manipulação do silenciamento e alinhamento a interesses político-econômicos, desconsidera princípios éticos, destacando-se em eventos como Brexit e eleições nos EUA (2016) e no Brasil (2018).

A desinformação, incluindo as fake news, busca lucro ao distorcer informações e propagar preconceitos. Potencializada pelas TDIC, explora o apelo emocional e crenças para obter amplo alcance, revelando-se como um negócio estratégico e lucrativo.

“A definição de fake news torna-se relativa devido à sua vulgarização, sendo interpretada conforme o interesse de quem a utiliza. Mesmo informações factuais e científicas podem ser rotuladas como fake news se não estiverem alinhadas aos interesses individuais e estratégias de legitimação de discursos manipulativos”, relata a pesquisadora.

A pesquisa aponta que existem diversas formas de desinformação que incluem deep fakes, testemunhais falsos, teorias da conspiração, discursos de ódio, fake sciences (informações falsas relacionadas à ciência) e hiperinformação (oferta excessiva de dados).

Rede conceitual da desinfodemia, desenvolvida pela pesquisadora (Marques, 2023, p. 76)

Essa realidade em constante evolução gera novas categorias e atualizações sociotécnicas. Algumas pessoas utilizam essa informação e desinformação, bem como as relações de poder resultantes, para desenvolver estratégias políticas, empregando artifícios como teorias de conspiração, algoritmos, bots e fake news.

A pesquisadora ainda explica que esse tipo de estratégia de propaganda-desinformação não é algo novo, pois é “exemplificado pelo regime nazista que usou meios como rádio e cinema para construir uma imagem positiva. Essa estratégia encobria atrocidades, destacando a desinformação como genocídio político. Na contemporaneidade, o cenário tecnológico permitiu uma maior velocidade na propagação da informação, transformando os cidadãos comuns em produtores de informação e desinformação”, destaca Juliana.

No contexto brasileiro, a gestão da pandemia de COVID-19, pelo Governo Federal foi marcada por uma significativa disseminação de desinformação. Isso inclui a propagação de informações que desacreditaram órgãos de saúde e autoridades científicas, abordando temas como a gravidade da doença, eficácia de vacinas e indicação de medicamentos sem comprovação de eficácia. 

“A responsabilidade do governante durante uma pandemia é crucial, não apenas para orientar a população e transmitir um discurso alinhado com a seriedade do vírus, mas também para implementar ações efetivas, liberar recursos financeiros e apoiar outras instâncias da gestão pública”, alega a autora.

Elementos de um regime de desinformação, elaborado pela pesquisadora (Marques, 2023, p. 112)

Durante a pesquisa, com a persistência da desinformação, o Brasil enfrentou a perda de mais de 630 mil vidas para a COVID-19. Nesse período, vacinas foram desenvolvidas, medidas para conter a doença foram divulgadas, e denúncias de corrupção e negligência no governo Bolsonaro foram amplamente publicadas. A instauração de uma CPI da COVID-19 resultou em diversos indiciamentos, incluindo a responsabilização do Presidente Jair Bolsonaro pela crise.

Após a pesquisa, o Brasil teve eleições presidenciais, com a derrota de Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva. O relatório da transição do novo governo destacou que a Emenda Constitucional 95/2016 causou perdas de cerca de 60 milhões de reais no SUS. A gestão Bolsonaro foi acusada de deixar os serviços de saúde pública sob responsabilidade do governo federal em risco de colapso, afetando a compra de insumos, incluindo vacinas e medicamentos.

“E com relação ao triste capítulo da história mundial, que é a Pandemia, esta deve servir não apenas ao lamento, mas, para que se desenvolvam nossas condutas e marcos em diversos campos para o combate à desinformação”, aponta Juliana.

Para combater a desinformação, o estudo propõe a implementação de políticas de transparência nas plataformas sociodigitais, juntamente com um controle mais rigoroso na gestão dos dados. Destacando a necessidade de submeter a lógica política e capitalista desse cenário às regras do bem viver, ética e cidadania. 

Além disso, diversas democracias implementaram legislações de regulamentação informacional e punição para casos de desinformação, como o Código de Prática da União Europeia sobre Desinformação em vigor desde setembro de 2018, que envolve empresas como Facebook, Twitter, Google, Microsoft e Mozilla.

Atualmente, o Brasil não possui uma legislação específica para enfrentar a desinformação, recorrendo a regulamentações existentes adaptadas à realidade atual. A Lei de Imprensa (Lei n.º 5.250, de 09/02/1967) é a primeira legislação que aborda o combate à veiculação de notícias falsas. 

O Marco Civil da Internet, implementado em 2014, estabelece princípios para o uso da Internet no país. A Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, apesar de promissora, enfrentou morosidade e alterações durante a tramitação, tornando sua eficácia incerta.

Além das propostas de marcos regulatórios, a Ciência da Informação, sob a perspectiva da Competência Crítica em Informação (CCI), surge como aliada no combate à desinformação. Inspirada por pensadores como Marx, Freire e a Escola de Frankfurt, a CCI considera o contexto histórico e social, permitindo a apropriação crítica das informações. Com uma função emancipatória, essa abordagem é uma vertente crucial no enfrentamento da desinformação.

A responsabilidade social e o ativismo acadêmico nas ciências sociais exigem a retomada do papel de autoridade para pesquisadores comprometidos com o desenvolvimento da sociedade. As universidades brasileiras, por meio de ensino, pesquisa e extensão, têm potencial para enfrentar a crise informacional, fortalecendo a consciência cidadã. Reconhecendo o impacto da desinformação em várias esferas, investir em educação é crucial para preparar a população diante desse desafio contínuo.

Acesse a tese em:

MARQUES, Juliana. Das práticas desinformacionais ao regime de desinformação: as narrativas do governo Bolsonaro na pandemia de Covid-19. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/27112 .  Acesso em: 23 de novembro de 2023.


Redação: Vanessa Forte

Revisão: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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