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v. 2, n. 1, jan. 2024
Entrevista com Kleber Araújo sobre sua pesquisa com os quadrinhos de Mauricio de Sousa e a percepção desses conteúdos pelo leitor

Entrevista com Kleber Araújo sobre sua pesquisa com os quadrinhos de Mauricio de Sousa e a percepção desses conteúdos pelo leitor

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Entrevista com Kleber Araújo sobre sua pesquisa com os quadrinhos de Mauricio de Sousa e a percepção desses conteúdos pelo leitor

Kleber Soares Araújo

klrsoares@gmail.com

Sobre a entrevistada

O bibliotecário Kleber Soares Araújo, natural de São Paulo, defendeu em 2022 sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. Paulo Eduardo Ramos. Atualmente, aos 41 anos, é Bibliotecário-Documentalista no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus Campos do Jordão. 

Kleber gosta de aproveitar o tempo com sua esposa, assistir a filmes e séries, ler livros de ficção e HQs, viajar, e dedica-se também ao trabalho voluntário para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social. Além disso, está aprendendo a editar vídeos, a fazer ilustrações e se aprofundando nos conhecimentos de teologia cristã e da Bíblia.

Sua dissertação, intitulada “O suporte e o formato nos quadrinhos: um estudo sobre as revistas de Mauricio de Sousa“, teve como objetivo analisar como os formatos utilizados nas revistas influenciam a composição e a percepção do conteúdo pelos leitores. A pesquisa abordou a ideia de que o modo como nossa sociedade se comunica e se expressa é influenciado pelos meios utilizados, como livros, revistas, jornais, aplicativos, etc., e como cada meio escolhido indica uma intencionalidade e gera expectativas específicas em relação ao seu conteúdo.

Nesta entrevista, Kleber nos relata sua experiência com o programa de mestrado brasileiro e como se deu o desenvolvimento de sua pesquisa.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação

Kleber S. Araújo (KA): A necessidade de aprimoramento profissional, agregar uma perspectiva diferente ao meu olhar bibliotecário sobre os recursos que costumo tratar tecnicamente em bibliotecas e o meu gosto por adquirir conhecimento. Ao cursar o Programa de Pós-Graduação em Letras, eu tive contato com uma área desconhecida por mim e os estudos relacionados aos textos multimodais, que se apropriam de diferentes linguagens, me inspiraram a buscar um ponto comum entre a Biblioteconomia e os estudos linguísticos, o suporte das linguagens, ou da informação. A escolha pelas publicações de Maurício de Sousa se deve pela sua atuação no mercado editorial de histórias em quadrinhos, marcadas pela sua diversidade de gêneros dos quadrinhos e sua longevidade editorial.

DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?

KA:  Acredito que pesquisadores que estudam o texto e os seus múltiplos sentidos, como a área da Linguística Textual, pois muitos fenômenos textuais, aparentemente, não podem ser devidamente observados sem que se avaliem os seus suportes e vice-versa. Além disso, eu penso que a pesquisa possa ser relevante aos pesquisadores que estudam as HQ’s veiculadas em diferentes suportes (mídias) que permitem novas formas de interação entre o autor e o leitor.

DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade? 

KA: A construção de nossa sociedade é permeada pelo modo como compartilhamos as nossas crenças e valores e, se observarmos sob uma perspectiva histórica, os suportes (ou mídias) utilizados nos fornecem indícios sobre como as nossas ações são orientadas e como interpretamos a realidade. Assim, eu acredito que a pesquisa desenvolvida apresenta, respeitando as suas limitações, a importância dos suportes em uma sociedade que busca formas rápidas e interativas de comunicação. Além disso,  de forma mais específica, apresenta uma aplicação metodológica que pode ser aplicada aos estudos das HQ’s em diferentes suportes.

DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?

KA: O trabalho está inserido na linha de pesquisa Linguagem e Novos Contextos. O seu alinhamento se deve ao fato de apresentar como a linguagem é articulada para produzir sentido em um texto multimodal (as HQ’s) considerando o seu contexto de uso específico.

DC: Citaria algum trabalho ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

KA: O livro “A leitura dos quadrinhos” e a tese “Tiras cômicas e piadas: duas leituras e um efeito de humor”, ambas publicações do Prof. Dr. Paulo Ramos, foram imprescindíveis para mim em um momento em que eu não sabia como trilhar ou desenvolver uma pesquisa acadêmica utilizando como objeto de estudo as histórias em quadrinhos e a sua linguagem. Além disso, os trabalhos sobre o panorama histórico das HQ’s realizadas pelo Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro, também bibliotecário. No âmbito da Linguística, “A questão do suporte nos gêneros textuais” do Prof. Dr. Luiz Antonio Marcuschi, e a tese “A construção de um conceito de suporte…” do Prof. Dr. Antonio Távora.

DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

KA: De certa forma, eu busquei responder algumas questões que podem parecer simples: O que olhar? Qual a profundidade? Como olhar de forma adequada? Assim, após a definição do tema e o que eu gostaria de investigar, eu precisei encontrar os materiais para responder às questões levantadas, as revistas do Maurício de Sousa, e buscar o aparato teórico-metodológico que possibilitou uma investigação adequada, encontrada nos estudos de Antonio Távora sobre suportes de gêneros textuais.

DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?

KA: A pesquisa foi desenvolvida em um contexto de pandemia. Dessa forma, o meu projeto inicial, que contemplava uma análise documental e entrevistas, precisou ser alterado devido às restrições de circulação. Um outro fator importante foi a impossibilidade de acessar os recursos informacionais com os fechamentos das unidades de informação. Além disso, as perdas de familiares, o pouco convívio com outros pesquisadores  me afetaram muito.

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?

KA: Inspiração: 30% e Transpiração: 70%. Apesar dos meus gostos, eu tive que conhecer e me aprofundar em uma área nova para mim em pouco tempo.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?

KA: Eu só tenho motivos para agradecer. Eu fui bem assistido pelo Programa de Pós-Graduação, contei com a receptividade e empatia dos professores e o total apoio do meu orientador durante todo o processo.

DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?

KA: Eu tive algumas perdas na minha família durante o processo e a pandemia foi um fator determinante nesse período. No entanto, a minha esposa me apoiou incondicionalmente e fez todo o possível para que esse período, em que eu fazia mestrado e vivíamos o isolamento social, fosse menos desgastante. Sou muito grato pela companhia e compreensão da parte dela, pois, de certa forma, as circunstâncias causavam um duplo isolamento: um externo pela pandemia e outro interno pelo envolvimento nos estudos.

DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

KA: Que há muitos níveis e camadas que podem ser aprofundados neste tema, pois, assim como um iceberg, nós estamos apenas vislumbrando uma pequena parte da superfície tanto nos estudos de suportes (e suas relações com os gêneros) quanto no estudo das HQ´s. Além disso, com o avanço das tecnologias, há um terreno fértil para experimentação e que o pesquisador deve estar atento à intencionalidade nos processos comunicativos, nos fenômenos ocasionados pela interação e na construção de sentido.

DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

KA: Eu reconheço que deveria ter sido mais produtivo durante o mestrado no que diz respeito à publicação de artigos. Em 2021, eu publiquei um artigo intitulado “O formato das tiras no Instagram e a construção de sentido”, foi um trabalho decorrente de minha pesquisa de mestrado, mas com o enfoque em outro suporte e me auxiliou a entender como a linguagem dos quadrinhos pode ser explorada em suporte digital.

DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?

KA: Eu tenho me dedicado à minha atuação profissional em uma biblioteca considerada mista, escolar e universitária, e realizado diferentes cursos de aprimoramento. No momento, eu não tenho planos concretos, mas tenho pensado sobre a escrita de livros infantis.

DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?

KA: Não tenho essa pretensão no momento.

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

KA: Caso fosse possível e eu desejasse seguir a área acadêmica, eu utilizaria melhor a graduação como um ponto de partida para um programa de mestrado, pois otimizaria o tempo e aproveitaria os conhecimentos adquiridos e contatos feitos na graduação.  Eu faria um projeto que pudesse ser continuado, com perspectivas diferentes, no mestrado e no doutorado (criando uma linha editorial). Procuraria cursar disciplinas de meu interesse de pesquisa como aluno especial, pois elas permitem que você conheça o Programa e as linhas de pesquisa. Investiria tempo para adquirir conhecimento sobre organização pessoal e métodos de aprendizagem. Por fim, eu interiorizaria o fato de que tudo isso é parte de um processo e nada disso me define. 

DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?

KA: O Programa me permitiu conhecer excelentes profissionais e mestres que tornaram possível a aquisição de competências e conhecimentos. Ele me orientou sobre toda a jornada acadêmica e esteve presente em todos os passos apesar das circunstâncias pandêmicas que vivenciamos. A meu respeito, eu absorvi o máximo que eu pude em cada experiência e aulas, fui prestativo e responsável em todos os meus afazeres e prazos. 

DC: Você por você:

KA: Eu sou uma pessoa divertida, piadista, mas não costumo me mostrar aos outros com facilidade. Gosto de ler e aprender coisas novas, indigno-me com as inúmeras injustiças que vemos por aí e estou procurando formas de aproveitar melhor o meu tempo. Eu sou daqueles que ainda acreditam que a educação é o ponto de partida para uma sociedade melhor e que os nossos jovens precisam de orientação e bons exemplos.


Entrevistada: Kleber Soares Araújo

Entrevista concedida em: 23 out. 2023 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Pedro Ivo Silveira Andretta

Fotografia: Kleber Soares Araújo

Diagramação: Marcos Leandro Freitas Hubner

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