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v. 2, n. 1, jan. 2024
Do mar Caribe à beira do Madeira: contribuição afro-antilhana na constituição do Estado de Rondônia e município de Porto Velho, por Cledenice Blackman

Do mar Caribe à beira do Madeira: contribuição afro-antilhana na constituição do Estado de Rondônia e município de Porto Velho, por Cledenice Blackman

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Do mar Caribe à beira do Madeira: contribuição afro-antilhana na constituição do Estado de Rondônia e município de Porto Velho

Cledenice Blackman

cledenice.blackman@unir.br

A região territorial, atualmente conhecida como Estado de Rondônia foi palco durante o século XIX e início do século XX de uma história repleta de nuances em duas tentativas frustradas da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré até a sua efetivação durante o período de 1907/1912. Diante disso, a História de Rondônia é cercada por fatos trágicos, dramáticos e sinistros nas suas primeiras tentativas expedicionárias. Isso é o que demonstram alguns autores regionais: Tomlinson (1912), Craig (1947) e Ferreira (2005).

Nesse contexto, o estado de Rondônia surge, por intermédio, de uma configuração da junção territorial interligada anteriormente ao estado do Mato Grosso e Amazonas. Sendo criado em 13 de setembro de 1943 o Território Federal do Guaporé e no ano de 1956 o Território Federal do Guaporé foi alterado para Território Federal de Rondônia.

O estado de Rondônia está situado na região amazônica brasileira, precisamente, ao norte do território brasileiro, “[…] Rondônia faz fronteira com os estados do Amazonas (ao norte), Mato Grosso (a leste), uma pequena faixa com o Acre (a oeste), além do país boliviano (a oeste). Esse território estadual possui dois terços cobertos pela floresta Amazônica” (Francisco, 2019, p. 1). Esta localidade nortista possui uma área territorial de 237.765,240 km², 52 municípios, número de habitantes estimados de 1.796.460”. Porto Velho, a capital, possui uma área territorial de 34.090,952 km²; população estimada de 539.354 pessoas; escolarização de 6 a 14 anos, 94,5 % (IBGE, 2020).

Rondônia é um estado efervescente, característica que traduz a multiculturalidade. Na atualidade, temos a presença de comunidades tradicionais, ribeirinhos, populações indígenas (Gaviões, Mura, Suruí, Pacaánova, ou Oro Wari, Cinta Larga, Isolados, Karipuna, Kaxarari, dentre outras populações originárias), remanescentes dos quilombolas, descendentes afro-antilhanos(as), nordestinos, sulistas e outros que compõem o caldeirão multicultural em Rondônia.

Já a cidade de Porto Velho surgiu antes da criação do Território Federal do Guaporé, ou seja, foi “oficialmente fundada em 02 de outubro de 1914” data de criação do município de Porto Velho, região que tem o Rio Madeira e a Estrada de Ferro Madeira Mamoré como fontes de incentivos ao surgimento do município e, consequentemente, do futuro Estado de Rondônia que foi criado em 22 de dezembro de 1981, através da Lei Complementar nº. 41, de 31/12/1981 acontecendo à instalação do Estado de Rondônia em 04 de Janeiro de 1982, há 42 anos, sendo o território estadual criado recentemente.

O município de Porto Velho nasceu sobre o signo de uma região cosmopolita desde o seu surgimento, nesse preâmbulo, podemos considerar um caldeirão multicultural, formado por migrantes e imigrantes de várias localidades do mundo, assim temos, influências afro-antilhanas dos negros e negras advindos(as) do Caribe Inglês de ilhas como: Barbados, Granada, Trinidad and Tobago, São Vicente, Guiana Inglesa e outras ilhas de colonização inglesas que chegaram a região amazônica durante os fins do século XIX e início do século XX – Do mar do Caribe à beira do Madeira -, árabes, japoneses(as), nordestinos, sulistas dentre outras localidades.

É relevante destacar que a comunidade afro-antilhana (imigrantes das diversas localidades do Caribe Inglês), conforme tenho pesquisado desde 2007 até hoje, serviu de base social para o surgimento da nascente Porto Velho, ssim sendo, configurou-se uma categoria importante no processo inicial de formação da referida cidade, desde o ano de 1910. Estes(as) imigrantes afro-antilhanos(as) chegaram a fundar um bairro denominado: Barbadian Town / Bairro do Barbadianos que havia escola bilíngue e até trilíngue, musicalidade, cinema, arquitetura, cultura, comércio… Este bairro pluricultural existiu até o ano de 1943, coincidentemente até o advento, ou seja, a criação do Território Federal do Guaporé, quando a população afro-antilhana foi banida do Barbadian Town, de acordo com as pesquisas anteriores.

Para produção investigativa afro-antilhana foi utilizado aspectos e ferramentas da Ciência da Informação/Biblioteconomia e dos Estudos Culturais sob a luz da perspectiva decolonial. Na linha das pesquisas que tenho desenvolvido a mais de dezoito 18 anos, consegui cartografar uma média de 96 imigrantes entre mulheres, homens, crianças, descendência advindas das diversas ilhas caribenhas inglesas, desmistificando suas nacionalidades / identidades / termos – além de elaborar a cartografia de mais de 30 mulheres entre imigrantes dessa população das Antilhas Inglesas ou Caribe Inglês. Essa pesquisa também apresentou e desmistificou estereótipos / termos preconceituosos entre outros apontamentos constantes nas bibliografias regionais, nacional e até internacional. Sobre as questões relativas à população advinda do Caribe Inglês e sua descendência podem ser verificadas na tese de doutorado intitulada: “A mulher afro-antilhana de Porto Velho e a sua anterioridade na educação” (Blackman, 2020)  que resultou no livro “Do mar do Caribe à beira do Madeira II: A diáspora afro-antilhana para o Brasil” (Blackman, 2022). Cabe destacar que o projeto bibliográfico foi premiado para produção do referido livro, sendo contemplado pela Lei Aldir Blanc através do Edital 31/2021/SEJUCEL-CODEC, 2ª Edição Marechal Rondon Prêmio de Produção Literária, Fonográfica e Digital para Difusão de Expressões Culturais, Eixo – I Publicação de Livros e Revistas Culturais – Categoria A – Publicação de livros inéditos – Individual. 

A pesquisa foi pautada no trabalho intenso de análise de fontes bibliográficas, documentais, audiovisuais como: ficha funcional, ficha batismal, edições do jornal Alto Madeira – 1917/1980, redes sociais, portal da transparência, cartas em inglês, processos judiciais e outras fontes documentais.

Capa do livro “Do mar do caribe à beira do madeira II”, resultado da pesquisa.

A produção do mapeamento identitário / nacionalidade / atividade profissional da comunidade afro-antilhana inglesa dentre outras abordagens inéditas possibilitou a saída da situação de invisibilidade social de uma média de praticamente mais de 100 pessoas entre mulheres, homens, crianças e a descendência oriunda das demais ilhas de colonização inglesa localizada no Caribe Inglês: Barbados, Granada, Jamaica, São Vicente, Guiana Inglesa e outras… que antes era conhecido / categorizado com sendo “barbadianos” de forma homogênea / uniforme sendo que o grupo é multicultural conforme o levantamento demonstrou.

Referências

BLACKMAN, C. A Mulher Afro-Antilhana de Porto Velho e sua Anterioridade na Educação. 2020. 163 f. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2020. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/202237 . Acesso em: 05 jan. 2024.

BLACKMAN, Cledenice. Do mar do Caribe à beira do Madeira II: a diáspora afro-antilhana para o Brasil. 1ª. ed. Florianópolis: Rocha Gráfica e Editora, 2022.

CRAIG, Neville B. Estrada de Ferro Madeira Mamoré: história trágica de uma expedição. Trad. Moacir N. Vasconcelos. Série 5ª. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1947.

FERREIRA, Manoel Rodrigues. A ferrovia do diabo. São Paulo: Melhoramentos, 2005.

FRANCISCO, Wagner de Cerqueria. Rondônia. Disponível em: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/rondonia.htm . Acesso em: 22 jan. 2019.

INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades e Estados. 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ro.html . Acesso em: 26

out. 2020.

TOMLINSON, Henry Major. The sea and jungle. 1912. Disponível em:

http://www.ibiblio.org/eldritch/hmt/hmt.htm . Acesso em: 04 jan. 2024.

Sobre a autora

Cledenice Blackman

Professora do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação  da Universidade Federal de Rondônia. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnologias GET/IFRO. Pesquisadora do Grupo de Trabalho Relações Étnico-Raciais e Decolonialidades  da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições. Membra efetiva da Academia Rondoniense de Letras.

Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista. Mestra em História e Estudos Culturais pela Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Mestra em História, Direitos Humanos, Fronteiras e Culturas no Brasil e América Latina pela Universidad Pablo de Olavide/Sevilla. Pós-Graduada em Gestão, Supervisão e Orientação Escolar pela Faculdade de Ciências Administrativas e Tecnologia de Rondônia – FATEC-RO. Bacharela em História e Biblioteconomia pela  Universidade Federal de Rondônia – Bacharela em Pedagogia pela Faculdade IBRA.


Redação: Cledenice Blackman

Revisão: Marcos Leandro Freitas Hubner

Foto: Saulo Sousa

Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta

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