Editorial: Mulheres Negras na Ciência: uma Jornada de Resistência e Representatividade, por Marcele Pereira
Editorial: Mulheres Negras na Ciência: uma Jornada de Resistência e Representatividade
Marcele Pereira
marcelle.pereira@unir.br
O panorama étnico-racial se posiciona como um pilar crucial de desigualdade em nossas sociedades, onde as mulheres negras, muitas vezes, se encontram na interseção de múltiplas marginalizações. Enfrentando tanto racismo quanto sexismo, essas mulheres trilham caminhos pontuados por inúmeros desafios, mas também permeadas por conquistas notáveis e uma resiliência inspiradora.
Bell Hooks, uma proeminente feminista e ativista, seguida por várias pesquisadoras, ressalta que “a verdadeira aprendizagem só pode ocorrer num clima de total liberdade”. A academia, infelizmente, ainda precisa criar esse ambiente de liberdade para muitas mulheres negras, que frequentemente experimentam o isolamento e a exclusão em suas trajetórias acadêmicas. Contudo, seu papel nas ciências é de suma importância, pois, ao ingressar nesse campo, não só desafiam normas condicionais, mas também enriquecem o conhecimento com perspectivas e abordagens únicas.
É um fato incontestável que o racismo institucionalizado, seja aberto ou sutil, continua a perpetuar estereótipos e a criar barreiras para a inclusão plena das pessoas negras no mundo acadêmico.
A falta de representatividade em posições de liderança e a ausência de vozes negras em pesquisas e descobertas científicas não apenas limitam o alcance da ciência, mas também perpetuam uma narrativa incompleta do mundo.
Para desafiar e mudar esse cenário, é crucial que mais jovens negras e negros vejam a ciência como um campo acessível e acolhedor. A representatividade é fundamental para inspirar e encorajar gerações futuras. As instituições acadêmicas precisam se tornar ambientes onde a diversidade seja celebrada, onde haja uma luta ativa contra o preconceito racial e onde o valor da inclusão seja reconhecido.
É essencial que os jovens vejam exemplos de mulheres negras triunfando nas ciências, não apenas como uma fonte de inspiração, mas como uma prova tangível de que é possível alcançar grandes alturas, mesmo diante das adversidades que impõem limites marcantes. Ao mesmo tempo, as contribuições destas mulheres para a ciência desafiam e expandem a narrativa tradicional, introduzindo novas perspectivas e metodologias.
Bell Hooks também nos lembra da importância da educação como prática dessa liberdade desejada. O mundo acadêmico e a ciência, em particular, devem ser espaços onde essa liberdade se manifesta em sua plenitude, onde todas as vozes são ouvidas e onde a curiosidade e a busca pelo conhecimento não são limitadas pela cor da pele ou pelo gênero.
A jornada das mulheres negras na ciência é, portanto, uma história de resistência, mas também uma promessa de um futuro mais inclusivo. Ao reconhecer, valorizar e amplificar suas vozes, não estamos apenas celebrando a diversidade, mas também garantindo um progresso científico mais rico e multifacetado. Afinal, a ciência se beneficia da multiplicidade de vozes, e a sociedade como um todo se beneficia de uma ciência verdadeiramente inclusiva.
Sobre a autora
Professora Adjunta do Departamento Acadêmico de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia, eleita e empossada Reitora em 2020.
Doutora em Sociomuseologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – ULHT. Mestre em Museologia e Patrimônio pela Universidade do Rio de Janeiro. Bacharela em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Redação e Foto: Marcele Pereira
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro