Conheça a obra “Doma: saberes negros e enfrentamento ao racismo”, organizado por Cleyde Rodrigues Amorim e Vagner Gonçalves da Silva
Conheça a obra “Doma: saberes negros e enfrentamento ao racismo”
Cleyde Rodrigues Amorim | Vagner Gonçalves da Silva
cleyde.amorim@ufes.br | vagnergo@usp.br
O livro “Doma: Saberes Negros e Enfrentamento ao Racismo” reúne os trabalhos desenvolvidos pelas/os pesquisadoras/es participantes do curso “Tópicos de Antropologia das Populações Afro-brasileiras: Discussões sobre identidades raciais, educação e povos tradicionais de matriz africana”, ministrado por Cleyde Rodrigues Amorim, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, como parte de suas atividades de pós-doutoramento junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo, realizado entre 2020 e 2021, sob supervisão de Vagner Gonçalves da Silva, intitulado: “Povo de Axé na pós-graduação”.
O objetivo do livro é mostrar a produção recente de jovens pesquisadores em diferentes estágios da carreira acadêmica evidenciando tendências e preocupações que fazem dessa produção representativa não apenas de uma contribuição ao debate teórico, como também da necessidade sentida pelos/as autores/as de interferir no próprio processo de formulação das epistemologias acadêmicas como sistemas de poder nem sempre eficazes no sentido de transformar a realidade social sobre a qual se debruçam.
Nesse sentido e sob o olhar dessa nova geração, teorização e transformação das condições de iniquidade social (aqui vistas em termos dos diversos marcadores sociais da diferença: sexo, gênero, raça etc.) não se deslindam do fazer etnográfico, nem da militância em prol dos grupos com os quais se pesquisa de forma dialógica.
A comissão editorial responsável pela edição da coletânea foi dirigida pelos dois organizadores, composta por um grupo de participantes do curso que leram os trabalhos e retornaram a seus autores com críticas e sugestões. Compõem esta comissão, além de nós, Andréa Silva D’Amato, João Mouzart de Oliveira Junior e José Batista Franco Junior, que também apresentam artigos.
Esse processo de construção coletiva da obra durou cerca de um ano e proporcionou muitos aprendizados quanto aos temas abordados e ao formato de publicação.
Para atender a diferentes públicos e proporcionar acessibilidade, o livro está disponível de forma impressa, comercializado pela editora, e em formato de e-book com acesso livre pelo Portal de Livros Abertos da USP. Os lançamentos estão sendo programados para eventos acadêmicos da temática.
Capa do livro: “Doma: saberes negros e enfrentamento ao racismo”
Os 21 artigos que compõem a coletânea foram agrupados em núcleos temáticos apenas para facilitar o fluxo de leitura. Indicamos aqui apenas a temática geral de cada um deles, já que o leitor poderá encontrar no início de cada artigo um resumo do conteúdo, e constatar que muitos temas se cruzam entre os núcleos, possibilitando uma leitura transversal e complementar dos artigos entre si.
Em “Comunidades tradicionais de matriz africana, cosmopolíticas e resistências”, os artigos procuram focar as experiências culturais e religiosas geradas nos terreiros como orientadoras de políticas públicas para a reivindicação de respeito e cumprimento dos direitos das populações negras. Entre eles, o de existir sem ataques derivados da intolerância religiosa e do racismo estrutural.
Nesse sentido, desempenham um grande papel as leis educacionais antirracistas, que focam na diversidade étnico-racial brasileira, e a produção acadêmica feita em diálogo com os grupos etnografados, que se tornam partícipes da representação que sobre eles é construída por meio de textos e imagens.
Em “Territorialidades e instituições de ancestralidades negras”, os textos destacam a existência e a importância das comunidades negras, como as irmandades católicas, os quilombos e os terreiros, entre outros, na produção de lugares de sociabilidade e resistência, nos quais se verificam formas culturais alternativas de organização espacial, manifestações religiosas, reconstrução dos laços de pertença para além da exclusão da população negra da paisagem urbana e rural, típica da sociedade brasileira.
Em “Estéticas, saberes e fazeres (re)construídos nas comunidades negras”, os artigos abordam as expressividades e performances produzidas sobretudo no âmbito de campos artísticos, no sentido mais amplo, como no teatro, literatura, carnaval e outras expressões, nas quais as trajetórias de homens e mulheres negras acionam os seus repertórios de saberes entrelaçados com as formas subjetivas e sensíveis de se colocar no mundo, segundo mapas de afetos particulares e coletivos.
Esses corpos negros, na qualidade de produtores de narrativas, pensamentos, ações, gestos, arte, enfim, formas de ação e resistências, questionam e desfiam o efeito perverso da invisibilidade com que costumeiramente a sociedade mais ampla lhes imputa.
Em “Por uma educação antirracista”, os artigos retomam o tema do combate ao racismo no contexto educacional por meio de transformações curriculares, como a Lei 10.639/2003, a renovação teórica e a desconstrução da epistemologia dominante pela utilização de teorias decoloniais, entre outras, e o uso de insumos pedagógicos antirracistas. Nesse sentido, educar é também um fator importante na luta contra o epistemicídio científico e cultural, que não considera a relevância dos saberes e fazeres das comunidades negras.
E, finalmente, em “Racismo e seus enfrentamentos”, os artigos apresentam um debate sobre os racismos institucionalizados e seus meandros, os quais produzem entraves, dificultando e inibindo a ascensão de pessoas não brancas a lugares de poder em ambientes diversos, tais como as Forças Armadas e as universidades, entre outros. Apresentam, ainda, a produção de conhecimento científico de jovens pesquisadores acerca da questão étnico–racial e os meios pelos quais o debate vem ocupando espaços no enfrentamento do racismo nas instituições.
Como se vê, o espectro de temas e discussões é amplo e complexo, mas a exemplo dos Doma ou Soma, conhecedores ou produtores africanos de conhecimentos indicados no prefácio do livro, um saber pode ser específico ou amplo, mas nunca será visto como parcial ou genérico porque nas filosofias tradicionais não existe a parte sem o todo e se aprende a olhar longe quando se sabe olhar perto.
Acesse a versão digital em:
AMORIM, C. R.; SILVA, V. G. (Coord.). Doma: saberes negros e enfrentamento ao racismo. Rio de Janeiro: Telha; São Paulo: Universidade de São Paulo. Faculdade de Educação, 2023. (Coleção Viramundo). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786554122320 . Acesso em 7 novembro. 2023.
Sobre os autores
É professora do Departamento de Educação, Política e Sociedade, no Programa de Pós-Graduação de Mestrado Profissional em Educação e no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Espírito Santo . Atua com temas relacionados à comunidades tradicionais de matriz africana, educação das relações étnico-raciais e religiões afro-brasileiras.
Doutora em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo. Desenvolveu o pós-doutorado pela Universidade de São Paulo. Bacharela em Ciências Sociais – Antropologia pela Universidade Federal de Goiás.
É professor do Departamento de Antropologia, no Programa de Pós Graduação em Antropologia Social e no Programa de Pós Graduação em Estética e História da Arte. Dedica-se à produção de conhecimentos junto às populações afro-brasileiras, enfocando temas como religiosidades e suas relações com a cultura nacional.
Doutor, Mestre e Bacharel em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo. Desenvolveu o pós-doutorado junto à Harvard University, onde foi fellow do W.E.B. Du Bois Institute for African and African American Research e pela City University of New York (Graduate Center) onde também foi professor visitante como bolsista do Fulbright Scholar Program.
Redação: Cleyde Rodrigues Amorim e Vagner Gonçalves da Silva
Foto: Cleyde Rodrigues Amorim
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro