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v. 1, n. 8, out. 2023
Tecendo mediações entre cultura e mídia: relato de uma experiência, por Luiz Tadeu Feitosa

Tecendo mediações entre cultura e mídia: relato de uma experiência, por Luiz Tadeu Feitosa

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Tecendo mediações entre cultura e mídia: relato de uma experiência

Luiz Tadeu Feitosa

tadeu.feitosa62@gmail.com

Completados 26 anos de existência, os “Seminários Cultura e Mídia” – SC&M (1996-2022) são atividades promovidas pela disciplina CULTURA E MÍDIA, ofertada pelo Curso de Biblioteconomia e desde 2016 com ações de ensino e pesquisa no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, da Universidade Federal do Ceará – UFC. Coordenado por este pesquisador e que tem ensejado diversas ações de ensino, de pesquisa e de extensão no âmbito da graduação e do mestrado, os referidos seminários funcionam como espaços democráticos de reflexões sobre temas e fenômenos da cultura, da mídia e suas mediações, notadamente as culturais.

Com temas escolhidos a partir dos interesses dos alunos sobre fenômenos culturais e midiáticos contemporâneos, os seminários têm como objetivo analisar esses fenômenos e as teorias que se debruçam sobre suas investigações, sobre os conceitos e as propostas metodológicos que ancoram suas ações nos âmbitos e nos contextos nos quais esses fenômenos acontecem.

No âmbito das ações, atividades e manifestações culturais e midiáticas que produzem eventos, exploram linguagens artísticas ou não, lidam com estéticas e promovem ações culturais, os seminários exploram, ainda, as suas ambiências de produção, difusão, circulação e recepções pelas demandas e públicos-alvo. Assim, a relação entre teorias e práticas se dão ouvindo-se os seus produtores, os intelectuais e pesquisadores que os analisam, as demandas que atendem e as instituições que os abrigam ou os estimulam, além das recepções e audiências, com o fito de analisar, ainda, as formas e os contextos de apropriação desses produtos e informações.

O que motiva os seminários no âmbito da disciplina de graduação que os abriga e aos mestrandos do nosso PPG é proporcionar o encontro das epistemologias, teorias, conceitos e das metodologias dos campos científicos estudados na disciplina Cultura e Mídia com os fenômenos, processos e atividades práticas nos contextos culturais (cotidianos) e midiáticos (produtos, serviços e demandas da mídia). As reflexões sempre foram ensejadas pelo viés e opção teórica, conceitual e epistemológica interdisciplinares, uma vez que as dinâmicas que movem os fenômenos culturais e midiáticos são complexas e incertas (Morin, 2011) as suas formas de aferição.

O que sempre motivou os Seminários Cultura e Mídia ao longo desses 26 anos foi fazer uma leitura da cultura, da mídia e dos seus processos de mediações, de modo que se contemplasse uma leitura do mundo cultural e midiático a partir das muitas imbricações que se estabelecem como “teias de significação” (Geertz, 1989), complexas, diversas, plurais e de sotaques e dicções multiformes. Teias cujos elos funcionam como mediações complexas, impossíveis de se entender pelos paradigmas hegemônicos de leituras lineares, por axiomas cristalizados, mas, sobretudo, tomando as partes pelo todo e vice-versa, dando aos próprios fenômenos a oportunidade de eles se nos apresentarem como são, com suas complexidades e não como gostaríamos que eles fossem.

Isso foi decisivo para demonstrar teórica e metodologicamente como as disciplinas interdisciplinares que se debruçam sobre as mediações culturais, midiáticas e infocomunicacionais são importantes e decisivas para entendermos como e por que motivo os fenômenos se interligam; como não podemos arbitrar modelos funcionais ou meramente racionais de leitura do mundo; de como não podemos descartar aspectos do devir das mediações em lide sem analisarmos minuciosamente os seus processos de produção, de circulação e de recepção (Thompson, 1999; Ferrara, 2015).

Assim, este projeto de ensino que ensejou desde sempre pesquisas e extensões vem analisando como fenômenos culturais (costumes, crenças, valores, identidades, tradições, memórias, imaginários, dogmas e mais aqueles fenômenos ligados às linguagens artísticas – música, literatura, dança, cinema, teatro etc.) em seus meios de produção, difusão e recepção são modificados e ressignificados pela mídia e seus processos de mediações e reconstruções de sentidos.

Olhar para esses caleidoscópios cultural e midiático implica se debruçar sobre teorias e meios investigativos interdisciplinares (Morin, 2011), mas, também ouvir atores sociais, pesquisadores, intelectuais, artistas e pessoas do povo que constroem seus cotidianos pelas artes e artimanhas de seus fazeres (Certeau, 1994), de suas mediações, do modo como eles tecem seus cotidianos sob o viés das mediações culturais e midiáticas (Ferrara, 2015).

Esse olhar complexo implica uma reordenação conceitual, teórica e epistemológica que recebe a luxuosa contribuição da antropologia cultural (Geertz, 1989; Laraia, 2010) na elucidação dos processos de construção de sentidos que se estabelecem das trocas culturais (Feitosa 2011; 2016) que se estabelecem entre cultura, mídia e seus processos contemporâneos de mediação. Assim, no devir desses 26 anos de seminários, transitamos pela chamada cultura de massa e pela gradativa entrada na chamada cultura midiática digital ou “cultura das mídias” (Santaella), o que implicou tecer interações teóricas, discursivas e metodológicas para entendermos o caleidoscópio cultural e midiático de que se falou acima.

A relação dessas transformações pelas quais vêm passando as mediações culturais e midiáticas na contemporaneidade justificam associá-las aos fundamentos do pensamento complexo de Edgar Morin (2011). Não apenas a complexidade da cultura e da mídia como fenômenos, mas, sobretudo, a complexidade dos conflitos que se estabelecem nas relações de mediação, nas trocas simbólicas, nas interfaces e nos intermeios dos processos, dos mecanismos e das ações decorrentes desses encontros entre cultura e mídia e das mediações nesses contextos e cenários.

Do farto material empírico de pesquisa sobre os SC&M nestes 26 anos, temos um banco de centenas de vídeos, de fotografias, de cartazes dos seminários, de materiais de mídia sobre eles, que renderam centenas de portfólios de alunos, um documentário, um álbum digital de itinerário memorial dos SC&M, além de podcasts, vídeos temáticos, materiais para redes sociais em produção e em edições finais. Desse devir de ações, a certeza de que as mediações entre cultura e mídia ensejadas por discussões de ensino também potencializam, promovem e difundem mediações entre o ensino, a pesquisa e a extensão para a produção de conhecimento.

Referências

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994.

FEITOSA, Luiz Tadeu. Mídia, espelho da cultura. Revista Passagens, v. 1, p.16-31. 2011.

FEITOSA, Luiz Tadeu. Complexas mediações: transdisciplinaridade e incertezas nas recepções informacionais. Revista Informação em Pauta. v.1, n.1. Fortaleza: UFC/PPGCI. Jan/Jun 2016, p. 98-117.

FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Comunicação, mediações, interações. São Paulo: Paullus, 2015.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 10.ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 4.ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.

MORIN, Edgar. Para além do Iluminismo. Revista Famecos. Porto Alegro, n.26, abril 2005. p.24-28.

THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

Sobre o autor

Luiz Tadeu Feitosa

Professor Titular do Centro de Humanidades e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará. Editor chefe da Revista Informação em Pauta.

Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Possui Pós-doutorado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho.


Redação e Foto: Luiz Tadeu Feitosa

Diagramação: Marcos Leandro Freitas Hübner

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