Estudo da UFC apresenta o panorama do exlibrismo no Brasil e destaca contexto histórico do Ceará
O livro é um dos materiais mais conhecido por guardar conhecimento. De fato, esse objeto, constituído impressa e digitalmente de diversas maneiras — lembremos, na contemporaneidade, temos do livro do artista ao livro acadêmico —, possui a característica principal de expor conteúdos inscritos em suas páginas a fim de transmiti-los adiante e ser consultado posteriormente. Entretanto, um livro pode ser mais do que apenas um objeto que nele constam palavras e ilustrações, é um documento acumulador de marcas de uso, como anotações, de propriedade, como os carimbos das bibliotecas ou mesmo assinaturas de seus donos.
Um livro — impresso — com uma dedicatória escrita de uma pessoa para outra distingue-se de outro exemplar. O volume que está na biblioteca, com as marcas de propriedade e uso da instituição, e de seus usuários, é diferente daquele presente na vitrine de uma livraria.
Essa concentração de marcas possui nomes específicos e a pesquisadora Hanna Sandy de Oliveira tratou de uma delas em sua dissertação de mestrado, o ex-libris, marca de proveniência que documenta a origem e propriedade de livros.
Ex-libris comemorativo da 1ª Exposição Cearense de Ex-Libris (1959)
Fonte: Fundação Biblioteca Nacional
Desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação na Universidade Federal do Ceará, a pesquisa de Hanna buscou entender a história do exlibrismo no estado do Ceará, quem eram os donos dessas marcas e qual a importância desses registros para a história do Estado.
A materialidade do livro nesta pesquisa não é tratada, somente, como suporte para o que está registrado. Para além disso, o livro é uma fonte específica de estudo, além do conteúdo nele exposto. Isso significa dizer que o livro registra a história, também, a partir do uso que é feito dele. A forma que é lido, as palavras que são marcadas e sublinhadas pelos leitores podem indicar quais assuntos foram de maior interesse dentre os tantos veiculados de forma imprensa em determinada época.
As fontes para tratar desse assunto utilizadas por Hanna possuem origens na História do Livro e na Bibliografia material. Autores de destaques são Roger Chartier e David Pearson, que versam sobre a história das instituições organizadoras de documentos. Principalmente estes autores são os que baseiam a primeira parte da pesquisa. Numa segunda parte, a pesquisadora versa sobre o que encontrou nos acervos das bibliotecas históricas do Ceará nas quais buscou pelos ex-libris.
Elementos do ex-libris
Fonte: Oliveira, 2022, p. 99.
A descrição dos ex-libris encontrados e analisados por Hanna seguem a rigor um formulário de identificação, ou melhor dizendo, a catalogação dessas pequenas peças de arte encontradas nas folhas dos livros. Dados como: o nome do proprietário, data, cores, formatos, fontes, entre outros detalhes tipográficos, são buscados e registrados para análise.
Ex-libris de Eurico Facó
Proprietário: Eurico Facó Tipografia do nome do proprietário: Caixa fonte alta e baixa Mancha gráfica: Preto e branco Elementos compositivos: Imagem e texto Suporte: Papel Texto da divisa: n/a Idioma da divisa: n/a Tipografia da divisa: n/a Modo de produção/processo de impressão: Gravado Processo de inserção no livro: Impressão – Colado Dimensões: n/a Categoria temática: Simbólico – Paisagístico Elementos temáticos: Sol – Mar – Jangada – Forte Data da(s) obra(s) a que pertence o ex-líbris: 1622
Fonte: Oliveira, 2022, p. 151-152.
Destaca-se dessas descrições uma classificação realizada pela pesquisadora dos mais comuns ex-libris encontrados em seu mapeamento. Categorias como “abstrato”, aqueles que contêm figuras geométricas sem representação direta da realidade; “eróticos”, aqueles que apresentam cenas sensuais; “macabro”, refere-se principalmente à morte; “profissional”, ex-libris que representam a profissão do dono.
Dividida, portanto, em duas partes, teórica e prática, a dissertação de mestrado de Hanna apresenta a história dos objetos, ou melhor, das marcas dos principais objetos nos quais o ser humano registrou seus conhecimentos.
Embora a literatura brasileira sobre marcas de proveniência, em especial os ex-libris, ainda tenha muito a maturar, tal como aponta a pesquisadora, é seguro dizer que a dissertação de Hanna Oliveira traz uma verdadeira ilustração atualizada do tema. Uma referência para os pesquisadores que buscam tratar do livro enquanto objeto sócio-histórico.
Acesse a dissertação em:
OLIVEIRA, Hanna Sandy de. Os ex-libris do Ceará: marcas de proveniência e história cultural. 2022. 179 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2022. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/70785 . Acesso em: 05 ago. 2023.
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