Entrevista com Naiane Ferreira Cavalcante sobre sua pesquisa que propôs um catálogo para organizar obras xilográficas
Entrevista com Naiane Ferreira Cavalcante sobre sua pesquisa que propôs um catálogo para organizar obras xilográficas
Naiane Ferreira Cavalcante
naianecavalcante94@gmail.com
Sobre a entrevistada
Em 2022, a bibliotecária Naiane Ferreira Cavalcante defendeu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA), sob orientação da Profa. Dra. Ariluci Goes Elliott.
Natural de Jaguaribe, no Ceará, Naiane gosta de ouvir músicas, ler, andar de bicicleta, tomar cervejas artesanais e ir ao pagode. Na área profissional, atua como auxiliar de biblioteca do Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro do Norte-CE.
Sua dissertação, intitulada “Representação da informação e do conhecimento no laboratório de ciência da informação e memória: catálogo de obras xilográficas” propôs a organização, a partir de um catálogo, das xilogravuras do Laboratório de Ciência da Informação e Memória (LACIM) contribuindo para a representação memorialística da região do Cariri Cearense. Sua pesquisa resultou em um catálogo memorialístico propício ao processo de análise de dados eficiente para pesquisas de recuperação de informações.
Convidamos Naiane para nos relatar, sua experiência no mestrado e os desdobramentos de sua pesquisa.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da dissertação?
Naiane Cavalcante (NC): Me inscrevi no processo seletivo em 2019, final da graduação e meus professores me incentivaram bastante, não acreditava que passaria em um processo tão difícil, mas as professoras Ariluci Goes, Cleide Bernadino, Denise Sampaio, Vitoria Gomes acreditaram em minha capacidade, estudei e passei.
DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?
NC: Pesquisadores que trabalhem com representação da informação, cultura regional e que tenham interesse em xilogravura.
DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade?
NC: Representar uma imagem principalmente xilogravura não é um processo fácil, acredito que fazer esse trabalho facilita o entendimento de pesquisadores ou pessoas que querem saber mais sobre o processo e quem fabricou a xilogravura, gosto de pensar que uma pessoa que não entende o processo de representação de imagens possa olhar meu trabalho e entender o que está sendo representado.
DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?
NC: Informação, Cultura e Memória. Meu trabalho abrange totalmente a linha que segue, pois traz a importância da Informação, Cultura e Memória. Diria que um pouco mais de cultura e memória.
DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?
NC: O livro Madeira matriz de Gilmar de Carvalho que me norteou durante o processo de escrita da minha dissertação, pois neste livro o autor fomenta a cultura da xilogravura da região do cariri cearense. A tese de Raimunda Fernanda Santos “indexação de xilogravuras à luz da semântica discursiva e das pontecialidades da folksonomia”. E Johanna Wilhelmina Smit, “A representação da imagem”, foram dois trabalhos indispensáveis.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
NC: Pesquisa bibliográfica, exploratória, qualitativa e análise documental.
DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?
NC: Encontrar autores que falassem sobre o meu tema, apesar de não ser um tema novo existem pouquíssimas obras sobre o assunto.
DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?
NC: Posso dizer que 70% veio do apreço que tenho pela xilogravura, e os outros 15% da vivência ativa junto ao LACIM, onde tive a oportunidade de estagiar durante a minha graduação na UFCA os 15% restantes ao trabalho belíssimo dos xilógrafos.
DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?
NC: Minha maior queixa é o processo solitário de escrita, visto que ocorreu durante a pandemia da covid-19, o que dificultou o acesso ao LACIM, a distância da família e a incerteza que tínhamos sobre tudo.
DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?
NC: Não foi dos melhores, estava distante sem poder visitá-los por causa da covid-19, no entanto recebi apoio total de meus entes queridos, visto que sou a primeira da minha família a fazer um mestrado.
DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
NC: Sugiro que busquem conhecer um pouco mais sobre a cultura de juazeiro do norte, berço de uma vastidão de artistas e autores, conhecer também a lira nordestina, antiga tipografia São Francisco, onde consta toda a história da xilogravura em juazeiro.
DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
NC: Não foi das melhores, mas eu não conseguia escrever, minha cabeça era um turbilhão de emoções pelo fato da incerteza que tínhamos perante a covid-19, isso dificultou muito a escrita de artigos e projetos.
DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?
NC: Iniciei uma especialização em bibliotecas públicas e escolares, para aprimorar meu conhecimento e aplicar no meu trabalho.
DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?
NC: Sim. Quero continuar trabalhando com xilogravuras, cultura e memória. No entanto, quero trabalhar com as xilógrafas negras de Juazeiro do Norte.
DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
NC: Acredito que com o conhecimento adquirido durante esta jornada da dissertação e se tivesse tido a chance de ser fora do período pandêmico, poderia ter tido um aprofundamento maior diretamente com xilógrafos desta região.
DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?
NC: Fiz minha obrigação de aluna, o programa em si foi muito assíduo, me ajudou com todas as minhas dúvidas, acredito que não só comigo os demais alunos obtiveram o mesmo atendimento.
DC: Você por você:
NC: Falar sobre mim sempre me emociona, muitas vezes esquecemos de onde viemos e às vezes achamos que não iremos conseguir, pois bem. Sou filha de um agricultor do vale do Jaguaribe e uma auxiliar de serviços gerais. Vim de uma família com vulnerabilidade socioeconômica e tive que sair do leito de minha família para conseguir algo melhor. Mudei de cidade, fiz faculdade e durante a graduação dependi das políticas públicas, sem elas jamais teria conseguido terminar a graduação. Através dessa rede de apoio comecei a sonhar com o mestrado e consegui. Hoje sou a primeira mestra da família e acho importante ressaltar que somos negros; e que me reconheci negra na graduação, antes era apenas parda.
Entrevistada: Naiane Ferreira Cavalcante
Entrevista concedida em: 15 maio 2023 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
Fotografia: Naiane Ferreira CavalcanteDiagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro