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v. 1, n. 8, out. 2023
A Literatura de Cordel na Ciência da Informação, por Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque

A Literatura de Cordel na Ciência da Informação, por Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque

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A Literatura de Cordel na Ciência da Informação

Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque

ebaltar2007@gmail.com

A Literatura de Cordel é um gênero literário que recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, em 2018. Teve sua origem no Brasil, nas regiões Nordeste e Norte, entretanto, encontra-se difundida em todo território nacional, atestando sua relevância cultural. Como fonte e campo de pesquisa, vem atraindo a atenção de estudiosos da Literatura Popular e da Ciência da Informação, o que nos motivou a desenvolver estudos deste tipo de literatura e pelo seu tratamento para recuperação nos acervos das bibliotecas, em um intercruzamento de projetos desenvolvidos, como apresentamos a seguir:

Em 2012, submetemos ao CNPq o projeto intitulado “Na memória da tradição: vida e obra dos poetas populares brasileiros”, resultante de uma ação conjunta de Grupos de Pesquisas consolidados, de pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/UFPB), cujos objetivos 

foram: a) desenvolver ações integradas de pesquisa junto às bibliotecas e institutos de pesquisa no Brasil cujos acervos contemplem a literatura popular com vistas a mapear os poetas populares brasileiros e promover a democratização e acesso à arte e à cultura popular; b) contribuir para a preservação da literatura popular de cordel no Brasil; c) desenvolver um banco de dados sobre vida e obras dos poetas populares brasileiros com acesso pela Internet; d) preservar a memória da vida e obra dos poetas populares brasileiros.

A pesquisa fundamentou-se em um levantamento de cento e vinte poetas populares, cujas obras passaram a ser preservadas, na implantação do site “Memórias da Poesia Popular”, considerando que a preservação e a disseminação de conteúdos informacionais, sobre vida e obra de poetas populares brasileiros, auxiliam na transmissão da cultura, de geração a geração e na apropriação do sujeito dos aspectos do patrimônio cultural.

No período de 2015 a 2016, foi realizada a pesquisa de estágio pós-doutoral, intitulada “A cultura dos cordéis: mapeamento temático e territorial no Brasil”, cujo objeto de estudo contribuiu especificamente para a área da Representação Temática da Informação.

Os temas tratados na literatura de cordel foram analisados a partir de um corpus selecionado aleatoriamente de 2.187 (dois mil, cento e oitenta e sete) folhetos de cordel, equivalentes a 10%, dos 21.870 (vinte e um mil oitocentos e setenta) folhetos de cordel identificados na pesquisa. Cabe ressaltar que esta totalidade de folhetos de cordel não estava disponível em acervos de bibliotecas e em sites de poetas. Deste corpus foram analisadas obras de autoria de 554 (quinhentos e cinquenta e quatro) poetas, configurando 30,8% dos 1.798 (um mil setecentos e noventa e oito) poetas, cujos Estados foram identificados em cada região do território brasileiro.

Assim, motivados por este interesse, submetemos ao CNPq (2015-2017) o projeto intitulado “Memória da cultura popular: poetas da literatura de cordel no Brasil”, em que foram elaboradas as sínteses biográficas de 122 (cento e vinte e dois) poetas populares, e identificados os temas de 578 (quinhentos e setenta e oito) folhetos de cordel.

O projeto de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UFPB) intitulado “Indexação de folhetos de cordel: construindo temas” (2018/2019) teve como objetivo analisar, do ponto de vista dos procedimentos semânticos de tematização e figurativização, os temas utilizados nos folhetos de cordel disponíveis no sítio “Memórias da Poesia Popular”. Diante disso, observamos que 1.912 (mil novecentos e doze) folhetos já estão cadastrados no sítio com as suas respectivas capas. Entretanto, desse total, constam apenas 352 (trezentos e cinquenta e dois) folhetos com os seus respectivos temas, os quais estão cadastrados no sítio abaixo das capas dos folhetos de cordel. Em face do exposto, verificamos que ainda não foram cadastrados os temas concernentes a 1.560 (mil quinhentos e sessenta) folhetos cadastrados. Observamos também que 705 (setecentos e cinco) capas não estão cadastradas. Esse mapeamento foi necessário, para dar início ao processo de identificação dos conceitos atribuídos aos folhetos de cordel cadastrados no sítio “Memórias da Poesia Popular”, Projeto PIBIC/CNPq/UFPB (2019/2020), cujos resultados apresentam a indexação de 140 (cento e quarenta) folhetos de cordel, o que possibilitou identificar 68 (sessenta e oito) temas.

Em 2018, submetemos o projeto “Tesauro em Literatura de Cordel: um instrumento de representação da cultura popular” à chamada Universal MCTI/CNPq nº 28/2018, e concluído em 2021, cujo objetivo foi “Desenvolver ações integradas de pesquisa junto a bibliotecas e institutos de pesquisa no Brasil cujos acervos contemplem a literatura popular, com vistas a estabelecer a estruturação conceitual, ação caracterizada como o primeiro momento para elaboração do Tesauro em Literatura de Cordel”. Foram indexados 3.198 folhetos de cordel e identificados 294 temas.

O projeto de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UFPB) intitulado “MEMÓRIAS DA POESIA POPULAR: recuperando conteúdos de folhetos de cordel” (2020/2021), teve como objetivo implementar estratégias de recuperação de conteúdos temáticos e descritivos de folhetos de cordel no sítio “Memórias da Poesia Popular”. Foram implantadas 27 (vinte e sete) Classes Temáticas e 170 (cento e setenta) temas constantes em 899 (oitocentos e noventa e nove) folhetos de cordel. Entretanto, dado o volume de folhetos de cordel no sítio, há necessidade de darmos continuidade ao projeto visando a recuperação por assunto em sua totalidade. 

O projeto Recuperação de conteúdos temáticos de folhetos de cordel no sítio “Memórias da Poesia Popular” (Edital PIBIC/CNPq/UFPB – 2021-2022), teve como objetivo geral recuperar conteúdos temáticos de folhetos de cordel no sítio “Memórias da Poesia Popular”. Foi realizado o levantamento dos temas dos folhetos de cordel cadastrados nas respectivas classes temáticas e a recuperação dos mesmos no sítio, além do cadastro das demais capas dos folhetos de cordel indexados, de acordo com os temas.

Considerando que a indexação, o armazenamento e a recuperação, são as etapas principais de um Sistema de Recuperação da Informação, no caso do folheto de cordel, o usuário necessita que esse item informacional esteja descrito conforme os padrões de organização de forma a permitir a sua localização e recuperação.

Com o desenvolvimento e experiências dos projetos acima relatados, as inquietações permaneceram. Chegou o momento de trabalharmos uma outra faceta da Literatura de cordel: o universo feminino (Edital PIBIC/CNPq/UFPB – 2022-2023), cujo objetivo geral é mapear tematicamente a produção das poetisas da literatura de cordel. Esta pesquisa encontra-se em desenvolvimento, que numa versão parcial, foi realizado o levantamento dos folhetos de cordel de Poetisas no sítio “Memórias da Poesia Popular”; mapeamento das poetisas de cordel cadastradas no sítio, no qual constatou que: 70 Poetisas estão cadastradas; 41 folhetos estão indexados, 200 Folhetos de Cordel cadastrados, entretanto, 159 Folhetos de Cordel não estão indexados; e levantamento dos folhetos de cordel do acervo da Biblioteca do Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular – NUPPO/UFPB

 Nesta etapa, em andamento, foram localizados 320 folhetos de cordel das Poetisas: 200 cadastrados no sítio e 120 pertencentes ao acervo do NUPPO|UFPB, que serão em outra etapa, indexados, ou seja, identificados os temas dos folhetos e cadastrados no sítio “Memórias da Poesia Popular”.

Iniciamos nossos estudos e pesquisas em Literatura de Cordel, em 2007, quando ingressamos no Curso de Doutorado em Letras na Universidade Federal da Paraíba. Nestes 16 anos não paramos mais. A Literatura de Cordel se tornou uma das nossas paixões. São 26 produções científicas em literatura de cordel, individual e em coautorias publicadas na área da Ciência da Informação, entre artigos de periódicos, livros, capítulos de livros, anais de congressos, orientações de teses e dissertações, além das pesquisas citadas.

Destes estudos e pesquisas resultaram dois sites, dos quais nos orgulhamos em mantê-los atualizados, disseminando a Literatura de Cordel:

1 – Memórias da Poesia Popular: informação sobre vida e obras de poetas populares brasileiros (criado em 2014, com 480 mil visualizações, além do Brasil, por mais 102 países no mundo) – https://memoriasdapoesiapopular.com.br 

2 – Plataforma da Literatura de Cordel (criado em 2021, com 5745 mil visualizações, além do Brasil, por mais 37 países) – https://literaturadecordel.ccsa.ufpb.br/literaturadecordel/index.php/DCI/ 

Por que apresento estes números?

Ariano Suassuna, escritor e dramaturgo paraibano, dizia: “Sou a favor da internacionalização da cultura, mas não acabando as peculiaridades locais e nacionais”. E não acabou! Acabamos de provar!

Além de escritor renomado e um dos maiores do Brasil, Ariano foi professor e idealizador do Movimento Armorial que valorizou as artes populares.

Nesse movimento, os artistas tinham o intuito de criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste.

Segundo ele: “A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares”, e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados” (Jornal de Semana, 20 de maio de 1975).

Destacamos ainda que Ariano Suassuna, autor do Auto da Compadecida, considerada sua obra prima, adaptada para o cinema e televisão, foi inspirada em quatro folhetos de cordel: Proezas de João Grilo (João Ferreira de Lima), O cavalo que defecava dinheiro e O Testamento do cachorro (Leandro Gomes de Barros) e O castigo da Soberba (Silvino Pirauá de Lima).

Não tivemos a graça divina de saber escrever versos, mas a trabalharmos com os versos de cordel, porque a LITERATURA DÁ ASAS À IMAGINAÇÃO, título do folheto da Poetisa e Bibliotecária cearense Maria Luzinete Fontenele:

Você pode ser doutor

Ou quem sabe professor

A minha condição

É começar a ser leitor

Toda boa leitura

É uma fonte de prazer

Quem bebe dessa água

De sede não vai morrer

Sobre a autora

Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque

Professora Titular do Departamento de Ciência da Informação e do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba.

Pós-doutorado em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo. Doutora em Letras pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Pernambuco. Bacharela em Letras pela Universidade Católica de Pernambuco.


Redação e Foto: Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque

Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta

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