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v. 1, n. 7, set. 2023
Inovação: A contribuição do escritório de comunicação científica nas bibliotecas universitárias brasileiras para o apoio ao pesquisador, por Eduardo Graziosi Silva

Inovação: A contribuição do escritório de comunicação científica nas bibliotecas universitárias brasileiras para o apoio ao pesquisador, por Eduardo Graziosi Silva

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A contribuição do escritório de comunicação científica nas bibliotecas universitárias brasileiras para o apoio ao pesquisador

Eduardo Graziosi Silva

eduardograziosi@gmail.com

A Ciência da Informação ocupa-se de várias questões relacionadas à informação e comunicação, dentre elas, a comunicação científica. Quando as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) ainda não estavam totalmente difundidas no meio científico, especialmente no que se refere à publicação de resultados de pesquisas, a comunicação científica era um processo mais fluido. 

Isso se deve ao uso de canais de comunicação científica formais amplamente difundidos, como o periódico científico, que é o canal de divulgação de novas pesquisas por excelência, e os eventos científicos, onde se conhecia o estado da arte de uma determinada área do conhecimento. No entanto, a partir de meados do século XX, esse cenário começou a ser alterado. O uso crescente das TICs tanto para a troca de informações como ferramenta para publicação de resultados trouxe diversas mudanças no processo de comunicação científica, tornando-a um processo mais difuso.

Esse novo cenário levou a uma mudança natural tanto na forma de comunicar-se como no próprio comportamento dos pesquisadores no processo de comunicação científica. Seja no momento de utilizar uma ferramenta para coletar dados ou na escolha de um periódico para a publicação dos resultados de sua pesquisa, os pesquisadores precisam, hoje mais do que nunca, de um suporte adequado para suas atividades acadêmicas. Assim, para além dos serviços tradicionais, a biblioteca universitária encontra nesse cenário um “oceano azul” de oportunidades para oferecer apoio, suporte e assessoria ao pesquisador em uma unidade na sua estrutura organizacional denominada escritório de comunicação científica.

O escritório de comunicação científica é um serviço localizado nas bibliotecas universitárias comumente encontrado em universidades estrangeiras, sobretudo norte-americanas e europeias (Helge; Tmava; Zerangue, 2019). Sua implantação decorre de novos papéis e funções que as bibliotecas universitárias vêm desenvolvendo para apoiar os pesquisadores em suas atividades de comunicação científica, tais como: advogar pelos direitos autorais e oferecer capacitação sobre contratos de publicação; gerir permissões de direitos autorais; divulgar publicações científicas da universidade; divulgar a produção científica no repositório; lutar por modelos sustentáveis de comunicação científica; e apoiar a gestão de dados de pesquisa institucional (Bell; Foster; Gibbons, 2005; Chan; Kwok; Yip, 2005; Kutay, 2014; Malenfant, 2010; United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, 2015).

Embora seja uma estrutura comum em bibliotecas universitárias estrangeiras, não se verifica na literatura de Ciência da Informação e nem nos sites das bibliotecas universitárias brasileiras uma estrutura semelhante. Daí surge uma pergunta importante: Como as bibliotecas das universidades brasileiras podem desempenhar um papel relevante na comunicação científica, oferecendo serviços e recursos que atendam às necessidades da comunidade acadêmica, tendo o escritório de comunicação científica como um ponto central para os pesquisadores?

Para responder a essa pergunta, considerou-se a ideia de que nas bibliotecas universitárias brasileiras os recursos relacionados à comunicação científica estão dispersos em diferentes setores. Com o intuito de explorar essa questão mais a fundo, foram estabelecidos os seguintes objetivos: i) Fazer uma análise ampla dos serviços e recursos oferecidos pelos escritórios de comunicação científica em algumas das principais bibliotecas universitárias ao redor do mundo e ii) Extrair elementos dos escritórios internacionais que apontam o escritório de comunicação como perspectiva de atuação para as bibliotecas universitárias brasileiras.

Para alcançar esses objetivos, foi utilizada uma abordagem específica. Primeiro, foi selecionada uma amostra de bibliotecas estrangeiras (Harvard University, University of Cambridge, University College London, Columbia University, Johns Hopkins University, Duke University, University of California – Berkeley, University of Toronto, University of California – Los Angeles, Northwestern University, University of Texas Austin, University of Illinois Urbana-Champaign, University of North Carolina at Chapel Hill e University of Washington) e brasileiras (Universidade de São Paulo e Universidade Estadual de Campinas) a partir de quatro rankings universitários: Academic Ranking of World Universities (ARWU), CWTS Leiden Ranking (CWTS), QS World University Ranking (QS) e Times Higher Education (THE). Em seguida, as informações disponíveis nos sites dos escritórios foram analisadas a partir de níveis de informação que identificam o tipo de conteúdo apresentado (link, informação, material de autoformação alheio, material de autoformação próprio, formação e assessoria) e categorias temáticas que abrangem os produtos e serviços oferecidos (acesso aberto, direitos autorais, gestão de dados de pesquisa, identificadores de autor, impacto da pesquisa, métricas, publicação e repositórios).

A partir do estudo das universidades estrangeiras, foi possível identificar e sistematizar as seguintes dimensões de atuação de comunicação científica para as bibliotecas universitárias brasileiras (Silva, 2023):

·Acesso aberto: Relaciona os assuntos sobre publicação, pesquisa, financiamento, licenças transformadoras, pesquisa aberta, recursos educacionais abertos, dentre outros.

·Direitos autorais: Envolve questões relacionadas a ambientes virtuais, contratos de publicação, licenciamento, permissões, fair use, ensino/instrução, mineração de dados de texto, política de direitos de propriedade intelectual, dentre outros.

·Gestão de dados de pesquisa: Abrange os temas plano de gestão de dados, políticas, ferramentas, treinamento, backup, formatos de arquivo, dados pessoais e especiais, preservação de software, refúgio de dados, dados de citação, dentre outros.

·Identificadores de autor: Inclui os temas ferramentas de autor, ORCiD, identificadores de pesquisadores, perfis de pesquisa, gerenciamento de reputação, dentre outros.

·Impacto da pesquisa: Inclui os temas relativos à programas de apoio, festivais de ciência, eventos de pesquisa, treinamentos, bolsa de estudos digital, gerenciamento de citações, ciência cidadã, transparência e reprodutibilidade, dentre outros.

·Métricas: Trata dos assuntos relativos às noções básicas de bibliometria, política de bibliometria, suporte, treinamento e orientação, tipos de métricas, métricas acadêmicas, dentre outros.

·Publicação: Inclui os tratados dos editores, adendo do autor, registro e upload de publicações, depósito de dissertação e tese, financiamento, publicação digital, alternativas de acesso aos grandes editores, políticas de publicação, serviço de hospedagem de revistas, dentre outros.

·Repositórios: Abrange os serviços de digitalização, uso, citação, depósito e solicitação de cópia de documento, aplicação para fundos de financiamento, termo de renúncia, alterações no contrato de publicação, tratados de editoras, DOI, política de remoção, dentre outros.

Verifica-se, assim, que a implementação de um escritório de comunicação científica nas bibliotecas universitárias brasileiras pode ser um passo importante não apenas para melhorar a visibilidade das pesquisas de uma instituição, mas também promover a necessária scholarly literacy dos pesquisadores. Assim, munidos da competência necessária para explorar o universo cada vez mais complexo da comunicação científica, os pesquisadores terão mais autonomia e conhecimento para desenvolverem suas atividades acadêmicas.

Referências

BELL, S.; FOSTER, N. F.; GIBBONS, S. Reference librarians and the success of institutional repositories. Reference Services Review, Bradford, v. 33, n. 3, p. 283-290, 2005.

CHAN, D. L. H.; KWOK, C. S. Y.; YIP, S. K. F. Changing roles of reference librarians: the case of the HKUST institutional repository. Reference Services Review, Bradford, v. 33, n. 3, p. 268-282, 2005.

HELGE, K. S.; TMAVA, A. M.; ZERANGUE, A. R. Sustaining and enhancing the scholarly communications department. Santa Barbara: Denver, 2019.

KUTAY, S. Advancing digital repository services for faculty primary research assets: an exploratory study. Journal of Academic Librarianship, New York, v. 40, n. 6, p. 642-649, 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.acalib.2014.08.006. 

MALENFANT, K. J. Leading change in the system of scholarly communication: a case study of engaging liaison librarians for outreach to faculty. College & Research Libraries, Chicago, v. 71, n. 1, p. 63-76, 2010.

SILVA, E. G. O escritório de comunicação científica como perspectiva de atuação para bibliotecas universitárias brasileiras. 2023. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Marília. 2023.

UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION. Scholarly communications: open access for researchers. Paris: UNESCO, 2015.

Sobre o autor

Eduardo Graziosi Silva


É bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela Universidade Federal de São Carlos. Doutor e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Atualmente é bibliotecário da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) onde atua como Chefe da Seção de Atendimento ao Usuário do Serviço de Biblioteca Prof. Dr. Sérgio Rodrigues Fontes. Tem experiência na área de Ciência da Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação científica, direitos autorais, biblioteca universitária e serviço de referência.


Redação: Eduardo Graziosi Silva

Fotos: Eduardo Graziosi Silva

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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